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Vélez: um adversário duro para o Furacão

Jogadores do Vélez em trajes de gala para a viagem a Curitiba

Atlético-PR e Vélez fazem um jogo decisivo hoje em Curitiba. As duas equipes dividem a liderança do grupo 1 da Libertadores, e a partida pinta como uma verdadeira final que decidirá o vencedor da chave. Mas, se tem a vantagem de jogar em casa, o Furacão também tem de se preocupar, já que se não vencer terá de decidir a vaga na altitude contra o The Strongest, enquanto o Fortín receberá o fraquíssimo Universitário, que sequer pontuou na competição. Uma vitória seria, portanto, importantíssima para os paranaenses. Mas é preciso cuidado: o rival é complicado, ainda que não viva seu melhor momento nos últimos anos.

Estive no estádio José Amalfitani no último sábado, acompanhando, da tribuna da imprensa, a partida do Vélez contra o Estudiantes. Claramente é uma equipe em fase de reorganização, após perder Ricardo Gareca, treinador que ficou  mais de cinco anos no clube e venceu quatro títulos nacionais em Liniers. Mas ainda assim, disputa a liderança do torneio local, tem tudo para avançar aos mata-matas da Libertadores e seria um rival duro para qualquer equipe do continente. Qual o segredo do Vélez para se manter por tantos anos competitivo, enquanto os clubes grandes do país, com muito mais torcida e recursos, sofrem até para ser protagonistas dos torneios locais?

Aproveitei minha ida ao estádio do clube no último sábado para tentar ouvir explicações sobre o fenômeno. E o que ouvi foi: o Vélez é um dos poucos clubes saudáveis do país. Não que esteja isento de problemas, mas os barras tem pouca influência no clube, se comparado ao padrão atual do futebol argentino; os dirigentes têm história no clube; os treinadores em geral são pessoas que conhecem bem o Vélez, foram jogadores e são torcedores do clube, conhecem o que se espera deles; e as categorias de base são levadas a sério. Há alguns meses um especialista no assunto me disse que os três clubes que trabalham mais a sério a base na América do Sul são o Internacional de Porto Alegre, o Defensor do Uruguai e o Vélez. O que explica a equipe se manter no topo mesmo enfrentando a saída de inúmeros jogadores importantes.

E nos últimos anos, a equipe tem um padrão típico de jogo, desenvolvido por Ricardo Gareca e seguido por Turu Flores. O Vélez gosta de ter a bola, trocar passes, atacar. Assim, é pouco provável que a equipe apenas se defenda em Curitiba, apostando em chutões para a frente, como infelizmente vários clubes argentinos da atualidade fazem. Naturalmente deverão ser tomados cuidados defensivos, já que o adversário também é forte e joga em casa. Mas quando recuperar a posse da bola, certamente o Fortín tentará fazer seu jogo.

A equipe tem uma defesa muito entrosada, com o uruguaio Sosa no gol, o capitão Cubero e Papa fazendo as laterais, e Tobio e Dominguez na dupla de zaga. O ataque é um dos melhores do continente, com Zárate e o excelente Pratto. Mas Zárate será poupado por dores musculares, e não enfrentará o Atlético. Disputam a vaga o experiente Nanni, com um perfil mais de armador, e o jovem Correa, habilidoso e muito agressivo, um xodó da torcida fortinera.

O grande problema atual do Vélez é o setor de criação do meio campo. Allione e Canteros ainda não conseguiram ser os jogadores que se imaginava quando despontaram, e Cabral sofre com suas limitações, enquanto Desábato é jogador mais de marcação. Assim, cabe a Romero tentar armar a equipe, geralmente em companhia de Pratto, que tem recuado bastante para buscar o jogo e armar a equipe desde o meio campo. O que cria um problema, já que a equipe acaba vendo seu principal atacante longe demais da meta rival. Sem a presença de Zárate, que, diferentemente de Correa e Nanni, é um atacante nato, o problema deverá ser ainda maior.

Esse é o rival que o Furacão terá de superar. Um time com um treinador novato, que ainda busca sua melhor formação e com claros problemas no setor de organização ofensiva. Mas também uma equipe entrosada, com jogadores que estão no clube há anos, muitos dos quais criados em casa e que usam a camisa mais vencedora do futebol argentino nos últimos anos. Um rival de respeito para qualquer adversário.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

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