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Um tributo a Rubén “Panadero” Díaz, vencedor nos sofridos Racing e Atlético de Madrid e querido além

A última terça-feira foi de muita lamentação esportiva na Argentina, sendo possível encontrar no twitter diversos suspiros de usuários por três fatores. Inicialmente, pelo falecimento do lateral Rubén Osvaldo Panadero (“Padeiro”) Díaz, seguida pelo fechamento, a apenas um ano do centenário, da revista El Gráfico. Houve quem usasse a imagem que abre a matéria como uma bela homenagem conjunta. Por fim, veio a confirmação da aposentadoria de Ronaldinho Gaúcho – que, como mostramos ontem, foi o último brasileiro a estampar como protagonista a capa da revista, tamanho o carisma.

Sobre Panadero Díaz, pode tratar-se de um personagem menos conhecido no Brasil. Mas sua morte foi lamentada até no twitter do Independiente, às portas de um clássico de verão com o Racing, onde Díaz foi ídolo. Era o lateral da Equipo de José, a equipe do técnico Juan José Pizzuti, campeã argentina de 1966 no embalo de um recorde de 39 jogos seguidamente invictos (marca só superada pelo Boca de Carlos Bianchi) e, sobretudo, vencedora da única Libertadores e único Mundial do clube, ambos em 1967. Foi também o primeiro Mundial do futebol argentino. Díaz, promovido da base em 1965, já era meteoricamente o titular, mas uma distensão após o primeiro jogo contra o Celtic o tirou dos seguintes, deixando a vaga para o uruguaio Nelson Chabay.

À direita, buscando o cabeceio na final da Libertadores de 1967, contra o Nacional uruguaio

Díaz é o segundo remanescente daquele elenco a falecer pouco após as celebrações pelos cinquenta anos da façanha mundial, completados no início de novembro do ano passado. A El Gráfico publicada naquele mês, em homenagem ao título, reuniu alguns outros, e mencionou que a ausência do atacante Jaime Martinoli (reserva nos títulos internacionais em função de uma lesão, mas goleador na campanha campeã nacional em 1966; em 1967, sua vaga acabou ocupada pelo brasileiro João Cardoso) devia-se ao fato de atravessar “um momento em que deve cuidar-se mais que de costume”. Ao fim do mês, ele faleceu.

Na imagem que abre a matéria, de maio de 1967, curiosamente, Díaz e o colega Roberto Perfumo (falecido por sua vez em 2016) resmungam contra La Copa (como os argentinos chamam a Libertadores) que terminariam ganhando em agosto. Para Perfumo, ela os estaria matando. A declaração poderia referir-se tanto à maratona de jogos internacionais cumulados ao do campeonato argentino em uma época em que isso ainda era uma novidade, como a algo mais literal: em março, os racinguistas passaram por um grande susto em voo em Medellín. Tamanho que o João Cardoso, em entrevista ao Futebol Portenho, confessou que, uma vez aposentado, jamais voltou a um avião.

Na El Gráfico que lembrou os cinquenta anos do Mundial, em novembro de 2017, o atacante Humberto Maschio relembrou que a forte e repentina turbulência fez ele, que não estava com o sinto afivelado, dar de cara no teto. E que “flutuava tudo, os paletós, as gravatas! El Panadero Díaz, que estava no banheiro, quando saiu não entendia nada”. Sobre Díaz nesse momento, Perfumo, em 2002, havia comentado que “a única coisa que fazia era xingar os dirigentes por nos fazer viajar nesse aviãozinho. Eu lhe dizia que não xingasse, que iam puni-lo. ‘Punir o quê, se aqui morreremos todos, imbecil!’, me gritou. Quando chegamos, beijávamos o chão. Pizzuti nos reuniu na confeitaria e pediu uísque para todos. (Juan Carlos) Rulli disse: ‘se passamos disso, seremos campeões’. E foi assim, sem mais”.

O lateral chegou a jogar dez vezes pela seleção argentina, entre 1970-72, estreando com um 2-0 no Beira-Rio sobre o futuramente tricampeão mundial Brasil. Em 1973, após um breve período no San Lorenzo, Díaz rumou ao Atlético de Madrid (que importou dos azulgranas também o zagueiro Rubén Heredia e o atacante Rubén Ayala), ficando até 1977. Foi personagem assíduo do último momento de conquistas contínuas no Atleti até a chegada de Diego Simeone como treinador.

Na Copa do Mundo de 1994, na comissão técnica com Reinaldo Merlo e Alfio Basile: é o terceiro da esquerda para a direita

Ainda não firmado na titularidade, Díaz esteve no plantel que, por segundos, quase venceu a Liga dos Campeões em 1974 e que ganhou em 1975 o Mundial Interclubes válido ainda por 1974 (uma indefinição sobre a participação do Bayern Munique atrasou a disputa até que os alemães desistiram e foram substituídos pelos vices madrilenhos). Como titular absoluto, o Panadero ganhou a Copa do Rei em 1976 e a liga espanhola em 1977.

Naqueles tempos, os rojiblancos ainda portavam-se como principais rivais do Real Madrid, tendo só um título nacional a menos que o Barcelona. Mas foi a última La Liga do clube até 1996. Simeone, que é torcedor do Racing, prestou condolência em plena coletiva, e o Atlético foi outro a lamentar a perda de Díaz, com a bandeira colchonera sendo hasteada a meio pau no estádio Wanda Metropolitano – além de pedir um minuto de silêncio antes da partida contra o Sevilla pela Copa do Rei.

Como assistente técnico, foi vitorioso na seleção (foto do segundo ciclo do parceiro Basile) e no Boca

Díaz, que pendurou as chuteiras em volta ao Racing em 1978, também foi lamentado no Boca. Era o fiel auxiliar técnico de Alfio Basile, ex-colega de Racing, nos reiterados títulos nacionais e internacionais erguidos pelos xeneizes entre 2004-06. Como auxiliar de Basile, Díaz também ganhou a Supercopa de 1988 pelo Racing, primeiro título da Academia desde o Mundial de 1967; e as Copas América de 1991 e 1993, os últimos títulos da seleção em competições adultas.

Vale ainda a curiosidade de que, naquela célebre cena do oscarizado filme O Segredo dos Seus Olhos, a narração informa ter sido de Panadero Díaz o chute racinguista que bateu no travessão do Huracán, ainda que isso tenha sido um erro anacrônico.

Esta matéria e a de ontem não serão as únicas em tributo à El Gráfico. Aguardem.

A última aparição pública, nos 50 anos do Mundial do Racing, em novembro: Nelson Chabay, Alfio Basile, Humberto Maschio, Fernando Parenti, o nonagenário técnico Juan José Pizzuti, Juan Carlos Cárdenas, Rubén Díaz e o capitão Oscar Martín 

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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