Última rodada: Lanús x San Lorenzo na final, Argentinos Jrs rebaixado e fim de sonho no interior
Não será em 2016 que o título argentino conhecerá novas fronteiras além da Grande Buenos Aires, La Plata e Rosario, historicamente os três polos na qual a competição se concentrou. O Godoy Cruz tinha chances de chegar em grande estilo à final, se vencesse justamente um clássico da região de Cuyo. Perdeu e o co-líder San Lorenzo, que só empatou, terá chances de ser campeão pela 16ª vez e assim igualar-se ao Independiente. Outra tristeza no interior deu-se em Tucumán, com o Atlético perdendo as chances inéditas de Libertadores. A rodada marcou ainda as despedidas de Diego Milito, de Ramón Ábila no Huracán e do Argentinos Jrs na elite.
Enfim resta apenas o epílogo de mais um monstrengo da AFA, este campeonato de trinta times disputado em um só semestre: resta apenas a final, no próximo fim de semana, entre San Lorenzo e Lanús, duelo atrativo entre equipes campeãs continentais recentemente, e o jogo pelo bronze. O Lanús já estava classificado há semanas e poupou-se. Em casa, os titulares grenás parecem ter sido escalados apenas para manter algum ritmo de jogo. Perderam por 3-1 para o instável Huracán. Com menos de meia hora de partida em plena La Fortaleza, o líder disparado do grupo B já perdia por 2-0.
O jogo marcou bela despedida do grande ídolo do ressurgimento huracanense, Ramón “Wanchope” Ábila, autor de dois gols. O habilidoso tanque de guerra ainda não anunciou onde deve jogar, mas confirmou que, por hora, despede-se do bairro de Parque de los Patricios. O outro gol da vitória foi de Mauro Bogado.
Os respectivos rivais de Lanús e Huracán, Banfield e San Lorenzo, também se enfrentaram no fim-de-semana. Se o Lanús descansou, o outro líder passou sufoco. O uruguaio Santiago Silva abriu o marcador para os alviverdes em pleno Nuevo Gasómetro. No fim do primeiro tempo, um chuveirinho fez a bola chegar a Sebastián Blanco, que acreditou para definir sem ângulo pela direita.
Blanco reencontrará o Lanús, onde fora ídolo: campeão do único título argentino grená, em 2007, quase campeão em 2009 e um dos pré-convocados pelo então técnico Diego Maradona para a Copa do Mundo de 2010. Por outro lado, o San Lorenzo não deverá contar com um de seus líderes, Néstor Ortigoza. O paraguaio saiu lesionado e é dúvida até para a Copa América.
O inesperado empate caseiro do San Lorenzo ensejaria esperanças em Mendoza. Uma caravana alviazul rumara à província vizinha de San Juan para o mais próximo de um clássico de elite que há por aquelas bandas, ambas na região do Cuyo. Os donos da casa do San Martín, porém, mereciam cuidado. Faziam um campeonato honroso que ao fim lhes deixou numa 7ª colocação, mas a só dois pontos do 4º colocado no grupo B. Houve tensão desde antes, com projéteis caindo no gramado. Ao fim da partida, houve tumulto entre jogadores.
O San Martín abriu o marcador logo aos doze minutos, em cabeceio de Matías Escudeiro em falta precisa lançada para ele, sozinho. No fim, quase deu reviravolta na partida dos líderes, que jogavam no mesmo horário: aos 42 minutos do segundo tempo, Zuchi teve tudo para empatar para o Godoy Cruz, mas o goleiro Ardente salvou a meta verdinegra. Já aos 46 minutos no Nuevo Gasómetro, o banfileño Sporle cabeceou para fora a dois metros do gol vazio.
Se ambas as bolas entrassem, era Godoy Cruz na final; se uma entrasse, os mendoncinos ao menos teriam a sobrevida de um jogo-extra com o San Lorenzo. Nenhuma entrou e o Godoy Cruz, que revivia seu ótimo momento de meia década atrás (indo a duas Libertadores seguidas) ainda levou o segundo gol, já aos 49 minutos. Junta-se aos times interioranos que chegaram tão perto da taça, casos de Talleres (1977), Unión (1979) e Racing de Córdoba (1980), todos finalistas, além do Colón vice em 1997.
A reviravolta da rodada se deu no sábado e foi na luta contra o rebaixamento. O Argentinos Jrs conseguiu vencer fora de casa por 2-0 o Atlético de Rafaela e escapava. Mas não contava com o Sarmiento de Junín marcar aos 47 minutos do segundo tempo o gol de sua vitória, também fora de casa, contra o Olimpo. O campeão da Libertadores de 1985 é rebaixado pela segunda vez em dois anos. Havia sido salvo outras duas vezes sob o comando de emergência do folclórico técnico Ricardo Caruso Lombardi, especialista antirrebaixamento que dessa vez estava do lado concorrente, no Sarmiento.
A outra luta se dava pelo segundo lugar no grupo B. Isso porque os segundos colocados de ambos os grupos também se enfrentarão, valendo uma vaga na próxima Libertadores. O copeiro Estudiantes era seguido de cola pela surpresa Atlético Tucumán. Recém-ascendidos da segundona, os alvicelestes brilharam e chegaram até a liderar o grupo em dado momento, incluindo uma vitória sobre o Boca na Bombonera (relembre). Faltou pouco para o ápice da longa história do Decano.
Um ponto atrás dos platenses, as chances do Atlético eram estas: teria chances de Libertadores se vencesse e o Estudiantes perdesse. Se os tucumanos empatassem, teriam sobrevida se o concorrente perdesse, o que forçaria jogo-extra entre eles. Era esse o cenário que se desenhava até os cinco minutos finais. Em visita ao decepcionante Newell’s, o Atlético arrancou um empate aos 25 minutos do segundo tempo. Já o Estudiantes perdia de 1-0 do Unión em Santa Fe.
Contudo, aos 40 minutos Rolando García Garreño emendou um cabeceio potentíssimo no ângulo para empatar. Ciente disso, o Atlético partiu para o ataque em Rosario. Levou a pior: aos 44 minutos, no contragolpe de um escanteio, Daniel Mancini foi acionado tendo ao alcance só um adversário além do goleiro, que galopou até o meio-campo para buscar o chutão. Mancini o chapelou e com alguma tranquilidade liquidou a disputa. O Estudiantes enfrentará o Godoy Cruz pela vaga.
Dos jogos que nada valiam para a tabela, o mais chamativo, sem dúvida, foi o de Racing x Temperley. Com a desclassificação racinguista na Libertadores, essa seria última partida oficial da vitoriosa carreira de Diego Milito (ainda haverá, claro, um amistoso comemorativo). O que rodou o mundo foi a imagem de dois garotos apoiando-se nas muletas de um deles, que não tem uma das pernas, para ter uma boa visão da partida.
Milito havia sido pai na véspera e coroou seu fim de semana marcando seu último gol, na vitória por 2-0. Ao fim, El Príncipe mal conseguia erguer a cabeça, como se não quisesse despedir-se do público do Cilindro. Seu significado à Academia foi bem resumido neste Especial após o título de 2014.