O que o Atlético Mineiro fez contra Corinthians e Flamengo foi espetacular e nos inspirou a relembrar grandes feitos do tipo protagonizados por clubes argentinos, um deles vitimando o próprio Galo, aliás. Para preparar nossa lista, resolvemos abranger o maior número de times possível, selecionando apenas um triunfo por equipe. Nem todos, na realidade, foram propriamente viradas, mas valem pelas circunstâncias. Priorizamos à frente aquelas que demandaram 90 minutos ou menos em vez de 180, e as travadas em fases eliminatórias sobre as de pontos corridos.
10) Platense 3-2 River, torneio de 1987: o Temperley teve seu grande momento em meados dos anos 80. Foi terceiro colocado nacional em 1983, mas isso havia passado em 1987. Ainda assim, a última rodada parecia de festa. Receberia em casa o Rosario Central e um empate favorecia ambos: dava o título aos rosarinos e garantiria os celestes na elite caso o concorrente direto contra o rebaixamento, o Platense, não vencesse o River no Monumental. Temperley e Central ficaram no 1-1 e as torcidas até confraternizavam: o River vencia seu jogo por 2-0 a meia hora do fim. Só que nessa meia hora para o fim o Platense virou, graças a um reserva: Miguel Ángel Gambier, autor dos três gols. Ao saber disso, o técnico do Temperley, o recém-falecido Roberto Motta, desmaiou.
Os resultados não rebaixavam diretamente o Temperley, mas forçariam um tira-teima entre os dois em que o embalado Platense levaria a melhor. Fica em 10º pois há quem suspeite dos méritos dos calamares: há quem diga que o River se deixou perder para dar um troco no Temperley, que pedira no tapetão os pontos que perdera dele no jogo em que o atacante do Millo Ramón Centurión foi flagrado em antidoping. Suspeita reforçada por um dos gols do Platense, em pênalti após Américo Gallego pôr a mão na bola. O Temperley nunca voltou à elite. Aguardou 27 anos, mas teve revanche: venceu os marrons (tradicionais participantes da elite no século XX embora não a ocupem desde 1999, revelaram Trezeguet) nos pênaltis pela última vaga de acesso à segundona na última temporada. Saiba mais.
*Atualização em 25-11-2014: um semestre após subir à segundona em 2014, o Temperley conseguiu novo acesso, enfim voltando à elite após 27 anos. Saiba mais.
9) Huracán 3-2 San Lorenzo, torneio de 1950: o Huracán já virou para 4-3 sobre o poderoso River de 1998 no Monumental, mas caiu ao fim daquela temporada 1998-99. Assim, escolhemos uma virada menor, mas que, além adiantar para efetivamente salvá-lo de uma queda, foi no clássico. O Globo só não caíra em 1949 por certa ajuda da arbitragem no tira-teima com o Lanús. Em 1950, fez outra campanha pobre onde voltou a precisar de um tira-teima pelo mesmo número de pontos com o penúltimo, o Tigre. Não chegaria lá se não tivesse vencido fora de casa o grande rival na 20ª rodada.
A quem não sabe, o retrospecto do Huracán no clássico com o San Lorenzo é dos mais desvantajosos, com menos vitórias até quando joga em casa. Mas soube superar isso e estar perdendo parcialmente por 2-0 na casa rival. Os três gols da virada vieram num espaço de vinte minutos e foram todos anotados pelo obscuro José Vigo. E aí mora outro elemento extra da façanha: na rodada anterior, o Huracán tivera todos os seus jogadores suspensos após briga generalizada com o Vélez. Assim, precisou jogar aquele clássico com os jogadores reservas. Ah, sim: e o San Lorenzo era o líder…
8) Gimnasia LP 3-0 Atlético de Rafaela, Promoción de 2009: o Gimnasia LP foi forte entre 1993-2005, sendo ele no período e não o Estudiantes (que até foi rebaixado) a melhor equipe de La Plata. Isso se inverteu com a volta de Verón aos alvirrubros em 2006. Os alviazuis, na elite desde 1985, passaram a flertar contra a queda até não resistirem em 2011 apesar do esforço do veterano ídolo Guillermo Barros Schelotto, ícone seu naqueles anos 90. Quase caíra dois anos antes: o Lobo, que via o Estudiantes decidir a Libertadores, para não cair precisou jogar uma repescagem, a Promoción.
Extinta desde 2012, a Promoción opunha os dois penúltimos da elite contra 3º e 4º da segundona e era bem desvantajosa a estes: os times da elite jogavam pelo empate no placar agregado e faziam o segundo jogo em casa. O Rafaela então cuidou de “liquidar” o Gimnasia na ida, vencendo por 3-0. Só que, em uma tarde de epopeia em La Plata, os alviazuis devolveram. Detalhe: com nove em campo, com o primeiro gol aos 27 do segundo tempo e os outros dois gols após os 45, ambos de Franco Niell, ex-Figueirense. Fica em oitavo por ser mata-mata contra rebaixamento. Saiba mais.
7) Talleres 3-0 CSA, final da Copa Conmebol 1999: a mais insólita final sul-americana opôs uma potência argentina dos anos 70, mas decadente e jamais campeã de elite; e um clube da terceirona brasileira, que só participou porque os representantes brasileiros eram os campeões regionais e porque Vitória, Bahia e Sport, de campanha melhor no Nordestão, recusaram. A aventura alagoana chegou à final após duas vitórias nos pênaltis, contra Vila Nova-GO e o São Raimundo-AM.
Já o Talleres começou épico desde o início: em seu primeiro mata-mata, perdeu de 4-1 do Independiente Petrolero na Bolívia mas conseguiu um 3-0 em Córdoba e venceu-o nos pênaltis. A final seguiu roteiro parecido, mas sem a necessidade dos penais. Isso porque, em Maceió, La T descontou para 4-2 no finalzinho. Assim, um novo 3-0 em casa garantiu diretamente a taça. Mas não foi fácil: o placar só foi aberto aos 40 do primeiro tempo, um pênalti foi perdido e o segundo gol, do futuro ponte-pretano Darío Gigena, só veio aos 30 da segunda etapa. E o do título veio aos 45, com o futuro gremista Julián Maidana. O técnico era Ricardo Gareca, que passou recentemente pelo Palmeiras. Fica em sétimo pela desvalorização da Conmebol (encerrada naquele mesmo ano) e do adversário. Saiba mais.
*Atualização em 06-12-2019: clique aqui para ver Especial dos 20 anos dessa final.
6) Rosario Central 4-0 Atlético Mineiro, final da Copa Conmebol 1995: o Galo vivia bom momento há 20 anos. Ainda que por repescagens, foi semifinalista do Brasileirão de 1994 e contratou simplesmente o goleiro campeão do mundo e da seleção, Taffarel. O Rosario Central vinha de alguns anos de sofrimento: até 1987, tinha três títulos argentinos a mais que o rival Newell’s, que, no auge da história rubronegra, igualou essa conta em apenas cinco anos. Com o adicional de ter chegado a dois vices de Libertadores em 1988 e 1992. O Newell’s obtinha expressão internacional acima da do Central, inclusive também por simplesmente contratar Maradona em 1993.
A resposta canalla veio com aquilo que sempre escapou aos leprosos: uma taça continental. No Mineirão, os auriazuis levaram de 4-0, mas havia fé: faziam campanha tranquila até a final, sempre vencendo no placar agregado marcando cinco gols. Os rosarinos conseguiram a façanha de devolver o placar, mas, assim como o Talleres em 1999, também só o inauguraram no fim do primeiro tempo. O quarto veio aos quarenta do segundo tempo. O Central chegou a perder um pênalti na decisão por penais, mas os atleticanos, em frangalhos, perderam dois.
*Atualização em 19-12-2015: clique aqui para ver Especial dos 20 anos dessa final.
5) San Lorenzo 2-2 River, oitavas da Libertadores 2008: era o ano do centenário sanlorencista. O clube do Papa sonhava em encerrar da melhor forma o estigma de único grande argentino sem Libertadores. O sonho pareceu possível naquela ocasião. A ida foi na casa azulgrana, vitória por 2-1 com gol de pênalti aos 42 do segundo tempo. Mas, no Monumental, o River de Falcao García, Loco Abreu e do técnico Simeone abriu 2-0. O segundo, do próprio Abreu, já aos 17 do segundo tempo.
O San Lorenzo teria cerca de meia hora para buscar o empate que lhe classificaria e conseguiu. Por ter feito os dois gols, Gonzalo Bergessio foi eleito entre os cem maiores ídolos do clube pela revista El Gráfico em 2011, mesmo com a eliminação já nas quartas pela futura campeã LDU. O que torna o Monumentalazo ainda mais heroico é que a desvantagem em dois não se resumia ao placar: o Sanloré, com dois expulsos, estava com nove em campo quando o River vencia por 2-0.
*Atualização em 08-05-2018: clique aqui para ver Especial dos 10 anos desse jogo, marcado como a noite do “Silêncio Atroz”, na descrição do próprio millonario Oscar Ahumada em crítica à falta de apoio da torcida da casa…
4) Boca 4-1 Newell’s, final da Liguilla de 1986: entre 1986 e 1991, o calendário argentino voltou a apontar um só campeão por ano, que tinha vaga garantida na Libertadores. A outra vaga não ficava com o vice e sim com o vencedor da liguilla, repescagem disputada entre seis ou oito melhores abaixo do campeão. O vencedor dela até se dava ao direito de dar volta olímpica e tudo. O Boca atravessou os anos 80 de forma horrível e o próprio ano de 1986 seria amargo ao torcedor, pois ali o River conseguiria tríplice coroa: venceu o campeonato nacional e, pela primeira vez, a Libertadores e a Intercontinental. Mas a liguilla veio ao estilo raçudo e dramático bem ao gosto auriazul.
O roteiro foi semelhante ao que o Atlético-MG repetiu: derrota de 2-0 no jogo de ida devolvida com um 4-1 na volta. Mas o feito do Boca foi ainda maior, pois os 2-0 foram sofridos em plena La Bombonera, dois gols do atual técnico da seleção e ex do Barcelona, Tata Martino. E os rosarinos ainda abriram o placar em Rosario e em seguida ficaram com um homem a mais em campo após a expulsão do boquense Enrique Hrabina. Se os fãs do Newell’s são gozados de pecho fríos, esse jogo tem muito a ver. E o 3-1 não classificaria o Boca, sendo indiferente os gols fora de casa. Os dois últimos gols, ambos de Gustavo Torres, vieram nos últimos dez minutos.
3) River 5-4 Polônia, amistoso de 1986: poderia estar mais à frente se não fosse um amistoso. No lugar, poderia ser outro 5-4, mas em clássico com o Boca em 1972, onde conseguiu reverter um 4-1 parcial do rival. Só que no jogo contra a forte seleção polonesa da época os millonarios perdiam de 4-2 até os 38 minutos do segundo tempo! O craque Francescoli já havia marcado o que para ele, modesto, foi o melhor gol do dia, após tabela entre toda a equipe. Foi então que marcou outro. Aos 45, o já mencionado Ramón Centurión empatou. E nos acréscimos Francescoli marcou pela terceira vez naquela noite em Mar del Plata. De bicicleta. É o gol mais famoso de sua carreira.
*Atualização em 08-02-2016: clique aqui para ver Especial dos 30 anos desse jogo.
2) Estudiantes 4-3 Platense, semifinal argentina de 1967: batalha de La Plata, contra o Grêmio em 1983? Não. Até 1967 o Estudiantes nem sonhava em vencer três Libertadores seguidas entre 1968-70. Tinha expressão média mesmo na Argentina, não sendo campeão da elite desde 1913. E desde 1930 só cinco clubes vinham sendo campeões, os grandes: Boca, River, Racing, Independiente e San Lorenzo. O oligopólio do quinteto foi quebrado com aquele título de 1967 nada menos que sobre o Racing, que naquele mesmo ano venceu a Libertadores e virou o primeiro argentino campeão mundial.
Mas o ponto alto foi a semifinal. Todos focaram na outra, entre Racing e Independiente, o clássico de Avellaneda. Mas em matéria de emoção a final antecipada foi entre Estudiantes e Platense, treinado pelo mito Ángel Labruna. Em jogo-único na neutra Bombonera, o Platense vencia de virada por 3-1 e jogava com um homem a mais: no fim do primeiro tempo, o zagueiro alvirrubro Barale se lesionou e na época não eram permitidas substituições. O terceiro gol adversário veio já no início do segundo tempo e quase houve o quarto, salvo em cima da linha por Carlos Pachamé. Mas aos 16 da segunda etapa o placar já apontava Estudiantes 4-3. A virada-relâmpago veio com um cabeceio do craque Verón pai aos 8, em chutão de Bilardo aos 14 e em pênalti convertido por Madero aos 16. Saiba mais.
1) Independiente 3-2 Santos, semifinal da Libertadores 1964: o Santos era o bicampeão da Libertadores e da Intercontinental. O Independiente nem sonhava em ser o recordista de taças da Libertadores e na campanha do seu primeiro título precisou destronar o melhor time do mundo na época. E foi em pleno Maracanã, onde os alvinegros costumavam mandar seus jogos graças ao apoio de todas as torcidas cariocas, tamanho o prestígio. O Santos abriu 2-0 mas ainda no primeiro tempo o Rojo empatou. A virada veio aos 45 do segundo tempo. Os santistas podem dizer que Pelé não jogou, mas mesmo sem ele os praianos haviam vencido o Milan pelo mundial de 1963. E, com ele em campo, contra o mesmíssimo Independiente naquele 1964, levou de 5-1 em amistoso em Avellaneda.
Com ou sem Pelé, o feito dos 3-2 foi tamanho que a capa escolhida pela El Gráfico na edição seguinte ao título, sobre o Nacional, não retrata o Independiente celebrando sobre os uruguaios: escolheu-se foto do êxtase nos vestiários cariocas após aquele triunfo nos santistas. Tão histórico que na revista, criada em 1919, foi também a primeira capa com imagem alargada à última página. Saiba mais na nota dedicada ao título, onde se ressalta que a imprensa brasileira e o próprio técnico santista consideraram o resultado justo a despeito de problemas de arbitragem.
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