Embora tão vizinho da Argentina, o Rio Grande do Sul só recebeu até hoje três jogos da Albiceleste – mesma quantidade de Salvador e menos até que Goiânia (que só pela Copa América de 1989 sediou quatro). Mas é na capital gaúcha que a seleção argentina tem melhor retrospecto no Brasil, considerando só as cidades que receberam mais de um jogo. Foram duas vitórias, uma delas nada menos que sobre o Brasil de 1970, a três meses da Copa do México. Aquele jogo foi um dos últimos do polêmico João Saldanha como técnico do Brasil e ajudou a derruba-lo.
Os canarinhos já haviam perdido para o Atlético Mineiro e, embora a Argentina fosse vencida quatro dias depois no Maracanã, Saldanha caiu após empate com o Bangu. Dos derrotados naquele 4 de março de 1970, os cruzeirenses Zé Carlos e Dirceu Lopes acabariam não indo à Copa do Mundo e a maior parte dos outros iria à reserva.
Dos vitoriosos, alguns jogariam no Brasil: Cejas foi ídolo no Santos, Perfumo foi multicampeão estadual no Cruzeiro, Madurga foi campeão brasileiro no Palmeiras, Fischer (que era filho de um gaúcho) se tornaria o estrangeiro com mais gols no Botafogo. Pastoriza seria técnico do Fluminense por um mês em 1985 (havia sido contratado para a Libertadores após tê-la vencido no ano anterior pelo Independiente sobre o Grêmio, por sinal, mas desentendeu-se com a cartolagem das Laranjeiras).
Do lado argentino, aquele triunfo elevou um pouco sua auto-estima, em crise: os hermanos não haviam se classificado à Copa, na última vez em que se ausentaram do mundial e na única em que isso se deu por eliminação em campo. Perderam a vaga para o Peru do brasileiro Didi: leia aqui. Depois de 1970, os argentinos só voltariam a vencer o Brasil treze anos depois, em 1983 (com gol do atual técnico palmeirense, Ricardo Gareca), mais longo tempo de jejum de vitórias da Albiceleste sobre o rival.
Em 1999, as seleções fizeram dois amistosos, cada um em seus domínios. No Brasil, o jogo em Porto Alegre valeu pela Taça Zera Hora, ofertada pelo jornal gaúcho homônimo. Aquela que talvez foi a maior exibição do trio Rivaldo (melhor do mundo naquele ano), Ronaldo e a revelação Ronaldinho Gaúcho também marcou a última vez em que o elegante volante Redondo defendeu a Argentina – ele mesmo pediu dispensa da seleção. O resultado ofuscou um dos mais belos gols do driblador Ortega, a fazer miséria na grande área rival já no fim da partida. A três anos da Copa 2002, Bielsa já tinha sua espinha-dorsal: fora Redondo, só não convocaria Vivas por lesão e Barros Schelotto à Ásia.
O jogo de 1999 foi arbitrado pelo mesmo Oscar Ruiz que apitou os dois últimos encontros no Brasil entre os rivais pelas eliminatórias, ambos em Belo Horizonte, lembrados no especial anterior. A outra única vez em que a Argentina esteve em Porto Alegre foi pelo torneio que os brasileiros organizaram para celebrar os 150 anos da independência tupiniquim. Oscar Más, que fez um dos gols de 1970, voltou a marcar (ele também faria o do título da primeira Copa Pelé, em 1987, mundial de veteranos de grande sucesso na época) e fez o único da partida contra o Uruguai do superartilheiro Morena.
As três partidas foram todas no Beira-Rio, mesmo palco a ser usado contra a Nigéria. Só foram considerados jogos oficiais, contra outras seleções:
04-03-1970
ARG 2-1 BRA.
Amistoso, Beira-Rio.
ARG: Agustín Cejas, Oscar Malbernat, Roberto Perfumo, Roberto Rogel e Rubén Díaz, Norberto Madurga, José Omar Pastoriza e Miguel Brindisi, Marcos Conigliaro, Rodolfo Fischer e Oscar Más. T: Juan José Pizzuti.
BRA: Ado, Carlos Alberto, Baldocchi, Fontana e Marco Antônio, Piazza (Zé Carlos), Gérson e Dirceu Lopes, Jairzinho, Pelé e Edu. T: João Saldanha.
Juiz: Armando Marques (BRA).
Gols: Más e Conigliaro.
06-07-1972.
ARG 1-0 URU.
Taça Independência, Beira-Rio.
ARG: Miguel Santoro, Enrique Wolff (Jorge Dominichi), Osvaldo Piazza, Ángel Bargas e Ramón Heredia, Miguel Raimondo, Alejandro Semenewicz e José Omar Pastoriza, Ernesto Mastrángelo, Rodolfo Fischer (Roque Avallay) e Oscar Más. T: Juan José Pizzuti.
URU: Alberto Carrasco, Luis Ubiña, Baudilio Jáuregui, Juan Masnik, Ricardo Pavoni, Julio Montero Castillo, Alberto Cardaccio, Víctor Espárrago, Pierino Lattuada, Francisco Bertocchi e Fernando Morena. T: Hugo Bagnolo.
Juiz: Keith Walker (ING).
Gol: Más.
07-09-1999.
ARG 2-4 BRA.
Amistoso, Beira-Rio.
ARG: Roberto Bonano, Nelson Vivas (Claudio Husaín), Roberto Ayala, Walter Samuel e Javier Zanetti, Fernando Redondo (Diego Simeone), Juan Sebastián Verón (Guillermo Barros Schelotto), Kily González (Marcelo Gallardo) e Juan Pablo Sorín, Ariel Ortega e Hernán Crespo (Claudio López). T: Marcelo Bielsa.
BRA: Dida, Cafu, Antônio Carlos, Scheidt e Roberto Carlos, Emerson, Vampeta (Marcos Assunção), Rivaldo, Zé Roberto (Juninho Pernambucano), Ronaldinho Gaúcho (Élber) e Ronaldo. T: Vanderlei Luxemburgo.
Juiz: Oscar Ruiz (COL).
Gols: Rivaldo, Rivaldo, Ayala, Rivaldo, Ronaldo e Ortega.
Atualizações após a matéria:
25-06-2014.
ARG 3-2 NIG.
Copa do Mundo de 2014, Beira-Rio.
ARG: Sergio Romero, Pablo Zabaleta, Federico Fernández, Ezequiel Garay e Marcos Rojo, Fernando Gago, Javier Mascherano e Ángel Di María (Lucas Biglia), Lionel Messi (Ricky Álvarez), Gonzalo Higuaín (Lucas Biglia) e Sergio Agüero (Ezequiel Lavezzi). T: Alejandro Sabella.
NIG: Vincent Enyeama, Efe Ambrose, Joseph Yobo, Juwon Oshaniwa e Kenneth Omeruo, Ogenyi Onazi, John Obi Mikel, Ahmed Musa e Michel Babatunde (Michael Uchebo), Peter Odemwingie (Uche Nwofor) e Emmanuel Emenike. T: Stephen Keshi.
Juiz: Nicola Rizzoli (ITA).
Gol: Messi, Musa, Messi, Musa e Rojo.
23-06-2019.
ARG 2-0 QAT.
Copa América de 2019, Arena do Grêmio.
ARG: Franco Armani, Renzo Saravia, Juan Foyth (Germán Pezzella), Nicolás Otamendi e Nicolás Tagliafico, Rodrigo de Paul, Leandro Paredes e Giovani Lo Celso (Marcos Acuña), Lionel Messi, Lautaro Martínez (Paulo Dybala) e Sergio Agüero. T: Lionel Scaloni.
QAT: Saad Al-Sheeb, Bassam Al-Rawi, Boualem Khoukhi e Tarek Salman, Ró-Ró (Hamid Ismail), Hassan Al-Haydos, Salem Al-Hajri (Abdullah Al-Ahrak), Abdulaziz Hatem e Karim Boudiaf, Akram Afif e Almoez Ali. T: Félix Sánchez.
Juiz: Julio Bascuñán (CHI).
Gol: Martínez e Agüero.
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