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Todos os argentinos da história do Botafogo

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Fischer (que fez dois nos 6-0 no Flamengo) e Herrera, os estrangeiros que mais defenderam o Botafogo

O Botafogo, que hoje celebra os 20 anos de seu último título nacional, acaba de contratar o vigésimo argentino de sua história, o zagueiro Joel Carli. É bom que os torcedores não esperem muito. Não só pelo que explicamos sobre o desempenho do novato (clique aqui), como pela estatística de hermanos no clube, não tão favorável. Por outro lado, as exceções foram marcantes: uma chegou a ser eleita para o time botafoguense dos sonhos mesmo jogando menos de 20 partidas com a Estrela Solitária. E outra foi simplesmente o primeiro jogador utilizado pela seleção argentina a partir de um time estrangeiro!

Nos anos 10, houve registros de um Luis Monti e de um Eduardo Beheregaray, sem consenso se tratavam-se de argentinos ou uruguaios. Eustachio Ruiz, atacante que aparecera em 1924, teria sido o primeiro sem dúvidas argentino, mas foi igualmente obscuro. Os argentinos voltariam com tudo somente nos anos 40 e 50, época do Platinismo, onde tantos títulos da Albiceleste e goleadas suas sobre os brasileiros inspiraram diversas contratações de vizinhos por aqui. Em 1939 e em 1940, ela calou temporariamente o orgulho brasileiro pelo bronze na Copa 1938 ao ser bi na Copa Roca, com direito a um 5-1 em pleno São Januário, abrindo a porteira para diversos hermanos em times tupiniquins.

Se em diversos outros clubes mesmo argentinos veteranos ou de segunda linha faziam grande sucesso (como Agustín Valido no Flamengo, Luis Rongo no Fluminense, Antonio Sastre no São Paulo, José Echevarrieta no Palmeiras ou José Villalba no Internacional), aquelas coisas que só acontecem com o Botafogo impediram maior reconhecimento daqueles que se tornaram alvinegros. Afinal, entre 1935 e 1957 o Fogão foi campeão apenas uma vez, em 1948. Uma estiagem de títulos que ajudou a levar seu ídolo máximo na época, Heleno de Freitas, justamente à Argentina.

Os primeiros reforços, aliás, vinham de brilho nos rivais: o volante Carlos Santamaría (ídolo no River, onde foi titular na primeira taça profissional do Millo, em 1932) havia sido bi estadual no Fluminense em 1937-38 e foi o mais longevo no ciclo, atuando de 1941-44; e o atacante Alfredo González, refugo do Boca, havia sido campeão no Flamengo em 1939 e passara também pelo Vasco. Ficou de 1942-43, marcando em todos os clássicos e sendo o maior artilheiro estrangeiro do clube até outro argentino superá-lo, nos anos 70. Mas seria no Bangu que González conseguiria novo título carioca (em 1966, como técnico, na última edição não vencida por um dos quatro grandes). Com eles, o Fogão perdeu por um mísero ponto o campeonato de 1942.

Em 1943, então, General Severiano virou de vez uma colônia. À dupla acima se juntaram o atacante José Díaz (que no Jornal dos Sports virara “Zé Díaz” antes mesmo de chegar, noticiado que “shoota como Rongo”), do Racing, e o técnico Mario Fortunato, tricampeão treinando o Boca nos anos 30. Fracassaram e o time ficou em 7º, sua pior campanha no Estadual até então. Mas o sotaque argentino ainda imperou com um novo quarteto em 1944: Santamaría recebeu os defensores Héctor Papetti e Luis Laidlaw e o atacante Roque Valsecchi. O primeiro, revelado no Gimnasia LP, já jogava no Brasil, até marcando gol pelo Bahia em um 7-2 no Vitória em 1940. Os outros eram refugos do Boca.

Santamaría (em pé, à esquerda) e González (agachado) foram bem em 1942, inspirando as vindas fracassadas de Díaz e do técnico Fortunato em 1943

Valsecchi até deixou sua marca em um clássico famoso. Mais lembrado nos tempos de Boca por deflagrar uma batalha campal contra o Lanús que resultou nas primeiras mortes registradas de torcedores (alvejados por um policial quando invadiam o campo), marcou em um 5-2 no Flamengo recordado como o dia em que os rubro-negros, em protesto, sentaram após levarem o quinto gol, que julgavam irregular. Mas dois pontos escaparam para o título, vencido pelo próprio Flamengo. Novos vices vieram em 1945 e em 1946, ano em que o único argentino foi o volante Américo Spinelli, revelado no Almagro e que passara seis anos no Fluminense (onde havia sido bi em 1940-41).

Foi só em 1950 que apareceu o primeiro argentino a ficar realmente ídolo em General Severiano: o zagueiro Oscar Basso. Não foi campeão e nem chegou aos vinte jogos pelo clube. Mesmo assim, Basso foi até comparado a Domingos da Guia em eleição promovida pela Placar para eleger em 1994 o time dos sonhos do Glorioso, tendo votos das autoridades Nilton Santos, Zagallo e Armando Nogueira. Revelado no San Lorenzo (esteve no time campeão de 1946 para o delírio do jovem Papa Francisco, que afirma ter visto todos os jogos que o time fez em casa ali), vinha da Internazionale.

Na nova década, Rubén Bravo veio do Racing em 1952, com passagens recentíssimas na seleção nos dois anos anteriores. Era um atacante consagrado no clube de Avellaneda e também no Rosario Central, mas também não vingou no Rio de Janeiro, ao contrário do sucesso que colheria também no futebol francês (especialmente no Nice de Just Fontaine), posteriormente.

Em 1955, vieram o atacante Elger Alarcón, revelado no Newell’s e vindo do Eldorado Colombiano, do Deportes Quindío; e o goleiro Juan Lugano, um dos maiores ídolos do Guarany de Bagé. Lugano sobressaiu-se mais, especialmente na excursão pela Europa com direito a um 2-2 com o Real Madrid de Alfredo Di Stéfano, mas não ficou para o ano seguinte: o Fogão sequer esteve nos seis primeiros classificados aos mata-matas do estadual. Lugano faleceu na miséria, mendigando pela Urca. Alarcón ficaria até 1957, mas sumido no ataque de Paulinho Valentim, Quarentinha e Garrincha.

Os títulos brasileiros em série nas Copas do Mundo entre 1958-70 frearam o Platinismo e apenas no século XXI se voltaria a uma presença em maior escala de vizinhos, mais pela situação favorável da economia brasileira do que por observação atenta do futebol hermano. Depois de 1955 e até o fim do milênio, Rodolfo Fischer foi o único argentino no Fogão. Veio do San Lorenzo em 1972, participando da Taça Independência (torneio mundial que o Brasil sediou para celebrar os 150 anos do Grito do Ipiranga) já com transferência assinada. E El Lobo quase foi campeão nos dois países no mesmo ano.

Spinelli, vice estadual em 1946; Basso, já eleito melhor zagueiro do clube; e o goleiro Lugano, atrás de Garrincha, com a bandeira espanhola ao chão na celebrada excursão europeia de 1955

Nascido na província fronteiriça de Misiones e filho de um teuto-brasileiro, Fischer participara em 1972 da campanha do título sanlorencista no Torneio Metropolitano (já havia brilhado pelo mesmo torneio em 1968, quando os azulgranas, treinados pelo brasileiro ex-botafoguense Tim, se tornaram os primeiros campeões profissionais invictos na Argentina). No Brasileirão, seria vice com o Botafogo, marcando duas vezes nos celebrados 6-0 sobre o Flamengo. Ele ainda é o forasteiro com mais gols pelos alvinegros, e chegou a ser o maior artilheiro estrangeiro também do campeonato brasileiro. Mas acabou esquecido na convocação à Copa do Mundo de 1974, a primeira em que a Albiceleste convocou atletas do exterior (incluindo o capitão, o cruzeirense Roberto Perfumo). Jogaria ainda no Vitória.

O argentino seguinte, como os ídolos Basso e Fischer, também tinha bom passado no San Lorenzo: Raúl Estévez, autor do gol sanlorencista na final da Copa Mercosul 2001, sobre o Flamengo, primeiro título internacional da equipe do Papa. El Pipa (apelido comum a narigudos na Argentina; Gonzalo Higuaín é El Pipita pois seu pai, Jorge, também era um Pipa) vinha da reserva do Boca campeão de tudo em 2003. Já no Rio, foi um titular que conviveu com ameaça de rebaixamento em 2004, deixando o clube ainda no decorrer do péssimo Brasileirão.

O meia Jorge Artigas (naturalizado uruguaio, revelado no Cerro de Montevidéu) veio em 2006. Em 2008, foi a vez dos atacantes Luis Escalada, formado no Boca e que vinha de boa passagem na LDU Quito; Leandro Zárate, com cartaz de artilheiro da segunda divisão argentina pelo Unión de Santa Fe; e do defensor Alexis Ferrero, que por sua vez conseguira em 2007 acesso na segundona com o Tigre, bastante especial por ter sido sobre seus rivais Platense e Chacarita. Os quatro falharam. Quem acabou benquisto, mesmo sem unanimidade, foi o irregular Germán Herrera, campeão estadual em 2010.

Herrera é o único argentino campeão de um torneio oficial no clube, que viveu longos jejuns de 1912-30, 1935-48, 1948-57 e 1968-89 (Alarcón não jogou nenhuma partida no título estadual de 1957, nem Artigas no de 2006). Outro com passagem pelo San Lorenzo, mas esquecível, Herrera já era conhecido dos brasileiros como símbolo de raça no Grêmio e no Corinthians. Ficou três temporadas e é o terceiro estrangeiro com mais gols pelo Botafogo, atrás do recordista Fischer e do uruguaio Loco Abreu; e é o segundo forasteiro com mais jogos pela Estrela Solitária, atrás do Lobo Fischer.

O desempenho de Herrera foi fantástico se comparado com os hermanos seguintes: o volante Mario Bolatti e outro atacante, Juan Carlos Ferreyra, que vieram para o retorno botafoguense à Libertadores, em 2014. Do belo Huracán de 2009, quando fez o gol da dramática classificação argentina à Copa do Mundo, Bolatti tivera passagem razoável no Internacional. Já El Tanque Ferreyra havia sido vice da Libertadores anterior pelo Olimpia, conseguindo tanto o gol da classificação à final como escorregar no lance que poderia ter dado o título aos paraguaios. Ambos afundaram com a eliminação precoce na primeira fase, seguida de novo rebaixamento. Que Joel Carli tenha melhor sorte!

Já dedicamos especiais relacionados ao Glorioso. Clique abaixo para conferir:

Rodolfo Fischer, o “Lobo” de Botafogo e San Lorenzo

Elementos em comum entre Botafogo e San Lorenzo

Sobre argentinos nos outros grandes cariocas, clique para conferir os de America, Bangu,  Fluminense e Vasco.

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Estévez era figura importante para o clube não cair em 2004, mas o abandonou. Bolatti e Ferreyra caíram dez anos depois

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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