Depois de sete anos, o futebol argentino voltava ao topo do mundo com a conquista do segundo título mundial do Independiente. O “bi” poderia ter chegado antes, em 1974. No entanto, a equipe de Avellaneda perdeu a final do Mundial Interclubes para o vice-campeão da Copa dos Campeões, o Atlético de Madrid. Até o final da década de 70, as decisões do torneio eram disputadas no sistema ida-e-volta.
Com o patrocínio da Toyota e uma nova fórmula de disputa (em jogo único), desde 1980 a decisão do torneio intercontinental passou a ser realizada no Japão. E o relato dessa vitoriosa campanha do “Rojo” começa com um dia que entrou para a história do clube: 22 de dezembro de 1983. Nesse dia, o Independiente entraria em campo para sagrar-se campeão do Torneio Metropolitano e, de quebra, rebaixaria para a segunda divisão o seu maior rival, o Racing. Por uma ironia do destino, o técnico do Independiente era José Omar “Pato” Pastoriza, que dois anos antes treinara a “Academia”.
Pastoriza montou um time muito respeitável. Contou com jogadores que já conhecia da sua primeira passagem pelo “Rojo”, como Enzo Trossero, Hugo Villaverde e, essencialmente, Ricardo Bochini, que nessa época tinha 29 anos e já era a grande estrela do clube. E também pôde contar com bons jovens como Néstor Clausen, Carlos Enrique, Claudio Marangoni, Ricardo Giusti, José Percudani e Jorge Burruchaga, um rápido ponta-direita que viera do Arsenal de Sarandí.
O Independiente representou a Argentina na Libertadores de 84 com o Estudiantes, que vencera o Campeonato Nacional no primeiro semestre. No Grupo 1, os dois argentinos enfrentaram os paraguaios Olimpia e Sportivo Luqueño. Com apenas uma derrota (para o Olimpia em Assunção), o Independiente venceu o grupo e passou à 2ª fase da competição, onde enfrentou o uruguaio Nacional, campeão do Grupo 4, e a chilena Universidad Católica, que foi a campeã do Grupo 2.
Depois de duas vitórias e dois empates, Pastoriza e seus comandados levaram o Independiente à final. Pela frente, ninguém menos que o atual campeão mundial e da Libertadores, o Grêmio. No primeiro jogo, em Porto Alegre, Burruchaga fez a diferença e calou o Olímpico com um gol aos 24 minutos do primeiro tempo. Na volta, em Avellaneda, um empate sem gols garantiu o sétimo título do torneio para o Independiente.
O adversário do “Rojo” na final do dia 9 de dezembro já era conhecido: o Liverpool. A equipe inglesa derrotara na final da Copa dos Campeões a Roma de Falcão, Cerezo e Bruno Conti. E, como não poderia deixar de ser, o confronto ultrapassou o campo de jogo e atingiu diretamente o orgulho (ferido) dos argentinos. Era a primeira vez que um time argentino enfrentaria um time inglês após a Guerra das Malvinas, ocorrida dois anos e meio antes.
Já sem Graeme Souness, que havia ido para a Sampdoria, o Liverpool também não contou com Mark Lawrenson para a decisão, por uma contusão sofrida nos treinamentos. O escocês Gary Gillespie o substituiu. Já o Independiente veio a campo com a mesma base que havia ganho a Libertadores. Mais de 60 mil pessoas foram ao Estádio Nacional de Tóquio para assistir o jogo. E logo aos seis minutos Marangoni deu um lindo passe do meio-campo para Percudani. Pela meia-esquerda, o jovem atacante saiu em disparada e tocou na saída de Bruce Grobbelaar. Tempos depois, Percudani ainda se emociona com o gol: “O gol que havia sonhado em fazer se transformou em realidade”.
Para evitar outra derrota no Mundial, já que havia perdido para o Flamengo três anos antes, o Liverpool saiu todo para o ataque e pressionou muito o “Rojo”. Na defesa, Villaverde anulava totalmente o temido galês Ian Rush. Trossero e Enrique se encarregavam da marcação em Kenny Dalglish e o goleiro uruguaio Carlos Goyén sempre foi bem quando solicitado.
Bem marcado, Bochini não rendeu tanto o que se esperava na final. Já Burruchaga levava pânico aos zagueiros do Liverpool e jogou muito bem pela direita. Os ingleses reclamaram bastante da arbitragem do brasileiro Romulado Arppi Filho, que não teria marcado dois pênaltis a seu favor. Por sua vez, os argentinos reclamaram de alguns impedimentos mal-marcados. Ainda assim, a partida transcorreu na mais absoluta normalidade e quem esperava que o confronto político invadisse o campo se decepcionou.
Quando Romualdo apitou o final da partida, Pastoriza não se conteve e invadiu o campo para comemorar. O “Rey de Copas” mais uma vez ganhava uma final e, ao menos no campo futebolístico, vingava o resultado da Guerra das Malvinas, já que foi o primeiro clube argentino a derrotar um inglês. Era o 12º título internacional do Independiente, que foi o primeiro da Argentina a conquistar o Mundial jogando no Japão.
Veja o gol de Percudani e a comemoração dos jogadores com a taça:
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OS BONS TEMPOS DO FUTEBOL ARGENTINO IRÃO VOLTAR!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
OS BONS TEMPOS DO FUTEBOL ARGENTINO IRÃO VOLTAR!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! [2]
Uma coisa que o Rey de Copas Oxidadas pode falar em voz alta é a importância desse título. A cobertura da imprensa japonesa foi desproporcional às demais edições anteriores e mesmo muitas posteriores, por conta do rescaldo da loucura bélica das Malvinas. Há de se ressaltar que as relações diplomáticas entre Argentina e Reino Unido permaneceram rompidas até 1990.
Hoje, ironicamente, quem parece mais disposto a botar lenha nessa fogueira são os britãnicos, acicatados por uma crise que ampliou para 1 milhão o número de jovens desempregados e um princípio de cisma cada vez mais forte com a União Europeia, que sempre viu os ilhéus como paus-mandados dos EUA.