O técnico da seleção peruana, o uruguaio Sergio Markarián, não descartou utilizar jogadores argentinos naturalizados para melhor o nível técnico da equipe. Fora de um Mundial desde a edição de 1982 e sem grande relevância nas seleções de base, o Peru há tempos não apresenta uma seleção digna de seu passado futebolístico, que já teve craques do nível de Teófilo Cubillas, Héctor Chumpitaz e Alberto Gallardo.
A seleção do Peru está em Toronto, onde ontem venceu o Canadá por 2 x 0. Na terça-feira os incas voltarão a entrar em campo, dessa vez contra a Jamaica. Markarián, alto conhecedor do futebol peruano (foi vice-campeão da Libertadores com o Sporting Cristal em 1997) comentou numa entrevista coletiva: “Que sejam bem-vindos todos os jogadores peruanos. Tanto os que jogam aqui quanto aqueles que se naturalizam, embora não eu vá pedir para ninguém que o faça…”. Os jornalistas peruanos que estavam na entrevista ligaram imediatamente essa declaração aos jogadores argentinos que estão se destacando no Peru. Ao serem consultados, alguns jogadores gostaram da ideia, caso de Pablo Vitti (que joga no Universidad de San Martín de Porres, e já passou pelo Rosario Central, Banfield, Independiente, Chernomorets Odessa e Toronto FC), Leandro Fleitas (atualmente no Alianza Lima, e ex Argentinos Juniors e Olimpo) e Gustavo Rodas (que atua pelo León de Huánuco, e que já jogou pelo Newell’s, Tiro Federal, El Porvenir, Cúcuta Deportivo e Coronel Bolognesi).
Obviamente a proposta gerou polêmica no Peru. José Velásquez, o “Patrón”, último grande líder do futebol peruano, se manifestou totalmente contrário à ideia. Firme volante central, Velásquez esteve em campo com a seleção peruana em duas épicas partidas entre argentinos e peruanos: os eternamente polêmicos 6 x 0 que levaram os argentinos à final da Copa de 1978 e o empate por 2 x 2 em 1985, resultado que classificou os argentinos para a disputa da Copa de 1986. “Sempre é melhor que joguem peruanos. Os outros sempre podem fazer coisas…”, afirmou Velásquez em clara alusão aos argentinos naturalizados. Um dos argentinos naturalizados que jogaram pela seleção peruana é o goleiro Ramón Quiroga, duramente criticado por Velásquez: “Não gosto de falar sobre os outros, mas nunca gostei de Quiroga. Eu e mais seis jogadores falamos com o técnico Marcos Calderón um dia antes do jogo e pedimos a ele que não escalasse Quiroga. Ele respondeu que faria isso, mas no dia seguinte todos nós ficamos surpresos com a escalação dele. Não pudemos fazer nada pois isso veio de cima e outros decidiram”.
Quiroga por sua vez respondeu à altura: “Tenho minha consciência limpa. Sempre dei o sangue pelo Peru e se tivesse acontecido algo estranho não estaria morando no país até hoje. E já moro aqui há 40 anos. Já estou cansado de tudo isso e o babaca do Velásquez vem falar esse monte de bobagens…”. O ex-goleiro é hoje comentarista de televisão no Peru.
Teófilo Cubillas também foi ouvido sobre o assunto. Não foi tão contundente quanto Velásquez, mas concorda com o ex-volante, em entrevista à agência de notícias Andina: “Tivemos no Peru vários jogadores naturalizados, sobretudo goleiros, e foram bem. Mas creio que atualmente temos bons jogadores e não acho necessário naturalizar jogadores”. Ao que tudo indica, ainda vai demorar muito tempo para que algumas feridas cicatrizem.
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