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Técnico do Chile é argentino que já marcou gol sobre a seleção argentina

“Quando tomei a decisão, apostava que nunca aconteceria isso, mas são riscos que há de correr. Não foi nada agradável que acontecesse. Por sorte, não aconteceu em um Mundial”. A frase é de Juan Antonio Pizzi, mas não se refere ao último domingo, onde não inibiu sorrisos ao treinar o Chile bicampeão da Copa América sobre uma bivice Argentina, sua terra natal. Foi dita em 2011 e se referia a um jogo ocorrido em 1995, no qual Pizzi também estava por uma Roja – no caso, a Espanha, que venceu com gol dele por 2-1 um amistoso com a Albiceleste no estádio Vicente Calderón. Mas vale relembrar sua carreira muito além desse fato.

Pizzi nasceu em Santa Fe, filho de um ex-médico de um dos principais clubes da cidade, o Colón. Queria jogar lá, mas a instituição não passava por um bom momento no fim dos anos 80. Acabou começando no Rosario Central ao mudar-se para esta cidade para estudar medicina. Mesmo perdendo um rim em decorrência de um choque acidental com um jovem Roberto Bonano em partida juvenil, profissionalizou-se em 1988. Fez doze gols no campeonato de 1988-89 e quinze no seguinte. Passou ao Toluca e de lá ao modesto Tenerife, da Espanha. Mas lá daria seu grande salto.

O clube das Canárias formava uma colônia de argentinos, incluindo, curiosamente, Gerardo Tata Martino, técnico adversário de Pizzi no último domingo e antigo rival rosarino (Martino foi um emblema do Newell’s nos anos 80 e 90). Os mais notáveis eram o volante Fernando Redondo e o técnico Jorge Valdano. O Tenerife fez as melhores campanhas de sua história no início dos anos 90, lembradas menos pelas colocações entre os seis primeiros e mais por ter em duas temporadas seguidas vencido o Real Madrid na última rodada (em uma delas, virando para 3-2 derrota parcial de 2-0), permitindo que o Barcelona ultrapassasse o rival e terminasse campeão em 1992 e 1993.

“Foi incrível. Na primeira vez, nós brigávamos para nos salvar do rebaixamento (…) Me lembro de que na pré-temporada especulávamos e dizíamos: ‘nos vai tocar o Madrid de novo na última rodada’. (…) E pá, escutamos o sorteio e de novo o Madrid na última. E aconteceu exatamente o mesmo, eles chegaram líderes na última rodada, nós brigávamos por entrar na Copa da UEFA, lhes ganhamos e o Barcelona do Cruijff outra vez deu a volta olímpica por um ponto. A diferença foi que nessa segunda vez fomos muito superiores a eles em toda a partida e lhes ganhamos por 2-0”, lembrou Pizzi na mesma entrevista de 2011, fornecida à El Gráfico.

Pizzi como espanhol: contra a Argentina em 1995; com outro naturalizado, o brasileiro Donato; comemorando já em 1996 outro gol pela seleção; e na Copa de 1998

Incluímos aquele Tenerife em um Top 15 de melhores colônias argentinas no futebol europeu: veja aqui. Graças a essas vitórias, o colega Redondo foi jogar no próprio Real Madrid. Já Pizzi inicialmente rumou ao Valencia na temporada 1993-94. Outra temporada depois, voltava ao Tenerife e teve seu melhor momento individual, com a artilharia da liga espanhola. É o maior goleador geral do clube também, mas o feito não o levava à seleção argentina. E também declarou em 2011:

“Todos os argentinos sonhamos em jogar na seleção, mas vi muito difícil cumprir esse sonho, sobretudo depois de alcançar um pico de rendimento e não me convocavam. Aí disse: evidentemente, não sou do agrado do treinador. Foi na época de (Alfio) Basile. Então, como existia a chance de jogar uma Eurocopa e um Mundial pela Espanha, não duvidei. (…) Sou um agradecido do futebol espanhol e do povo espanhol, e quando me tocava representar a Espanha o fazia com muita paixão”.

Estreou pela Espanha em 30 de novembro de 1994, contra a Finlândia. Seu primeiro gol por ela veio logo aos dois minutos na partida seguinte, com ares de clássico sul-americano com o Uruguai: o outro gol espanhol foi do brasileiro Donato, ex-Vasco, no empate em 2-2 em La Coruña. Outro colega era o Nadal mais famoso da época, o volante do Barcelona, tio do tenista.

A sétima partida foi aquele amistoso contra a Argentina. Por volta dos 35 minutos, tentou o cabeceio em um cruzamento. Não alcançou, mas a bola sobrou aos espanhóis, que emendaram novo cruzamento. Aí, sua cabeça serviu para encobrir a defesa argentina. Julen Guerrero ampliaria já na metade do segundo tempo e no fim Ariel Ortega diminuiu. Pizzi esteve de fato na Eurocopa 1996 e jogou uma partida da Copa de 1998, no 0-0 contra o Paraguai, na última vez que defendeu a Furia.

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Os clubes argentinos de Pizzi como jogador: Rosario Central, em passagens nos anos 80 e 2000; e River

Se a Argentina o ignorava, o Barcelona não fez o mesmo e levou Pizzi em 1996. Já era benquisto na Catalunha pelo trabalho anti-madridista pelo Tenerife e aumentou o carinho na vitoriosa Copa do Rei, em duelo cardíaco com o Atlético de Madrid. O Atleti era detentor de ambos os títulos nacionais e após empate por 2-2 no Calderón (com dois gols do argentino) os alvirrubros abriram 3-0 em pleno Camp Nou. Chegaram a estar ganhando de 4-2, mas no fim Pizzi marcou o gol da virada por 5-4.

Embora concorresse com Ronaldo na primeira temporada, foi na segunda (na qual o brasileiro estava na Internazionale) que ele deixou os titulares. Ainda assim foi à Copa de 1998, mas após isso acertou com o River, que ainda respirava o auge de um tricampeonato argentino, uma Libertadores e uma Supercopa entre 1996 e 1997. Deu azar: o Boca, que acabara de contratar Carlos Bianchi, respondeu com dois títulos. Já na Libertadores, Pizzi e o River caíram para brasileiros campeões tanto em 1998 (Vasco) como em 1999 (Palmeiras).

Após uma temporada em Núñez, voltou ao Rosario Central, em alto estilo. Por bem pouco os canallas não venceram o Apertura 1999 (perdido por um ponto justo para o River). Também foram longe na Libertadores de 2001, eliminados na semifinais pela Cruz Azul. Essa ainda é a melhor campanha centralista no torneio e a eliminação foi descrita por Pizzi como o dia mais triste da carreira. Ele pendurou as chuteiras em 2002, na primeira onda argentina do emergente Villarreal.

Como técnico, começou no Colón, onde queria ter jogado. Quase tirou o Rosario Central da segundona em 2012, temporada em que ela contou com o River. Foi campeão no San Lorenzo em 2013, mas não ficou para a vitoriosa Libertadores (substituído pelo atual são-paulino Edgardo Bauza, ex-técnico do próprio Pizzi naquele Rosario Central semifinalista de 2001), indo ao Valencia. No Chile, suas credenciais para substituir Jorge Sampaoli vieram especialmente pelo título de 2010 da Universidad Católica, na única taça ganha entre 2005 e 2016 pela terceira força chilena.

Clique aqui para lembrar os outros argentinos que já marcaram gols sobre a Argentina, como Alfredo Di Stéfano. O de Pizzi pode ser visto por volta dos onze minutos do vídeo abaixo.

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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