Seleção

Tata Martino vai chamar Tévez e pensa também em Icardi

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Atual técnico da Argentina, Tata Martino veio a público para falar o que pensa e mais uma vez se mostrou diferente da maioria dos treinadores brasileiros. Falou sobre sua passagem pelo Barça, sobre a forma de jogar da Seleção Argentina e acerca de alguns jogadores que podem aparecer nas suas convocações. Nome certo é Tévez, que pode competir com Higuaín pela camisa 9. Um outro é Mauro Icardi, que tem se notabilizado por escândalos fora de campo e por muitos gols dentro dele. Vejamos as ponderações do atual comandante do banco albiceleste.

O Cargo da Seleção Argentina

“A proposta de assumir a Seleção chegou num momento justo. Eu havia descansado por três meses e se a proposta não aparecesse, eu descansaria um pouco mais. Contudo, se demorasse ainda mais para ela aparecer, eu corria o risco de dizer um “basta!” definitivo à minha carreira de técnico de futebol. Até confesso a minha surpresa pelo convite, já que eu fizera muitas críticas à AFA. Deixo claro que não modifiquei e nem modificarei a minha opinião. Justamente por estar aqui agora é que eu devo manter a visão crítica que tenho da AFA. Além disso, se estou aqui, posso dar minha contribuição no sentido de modificar alguma coisa. Mas sigo afirmando que River e Newell´s não podem entrar em campo no dia em que a Seleção vai jogar com o Brasil; se isto continuar é claro que a prioridade, da parte de todos, há de ser dada aos clubes.”

Estilo de jogo da Seleção

“Estou convencido de que a equipe pode jogar como o Newell´s. Jamais estive de acordo com os técnicos de seleções que dizem que não há tempo para o trabalho. Temos bem menos tempo que um técnico de um clube, mas não é tão menos assim. O mais importante é a otimização desse tempo, o que nem sempre é feito. Agora teremos 10 dias para o operativo de outubro; haverá outros 10 para o de novembro. Basta juntar aí uns seis bons treinamentos em torno de um grupo de 25 a 30 jogadores que entendam bem a ideia que o treinador quer passar”.

“Além disso, cada jogador tem uma forma de desempenar o seu jogo no clube. É preciso que tiremos dele o máximo, mas nunca perdendo de vista que ele precisa oferecer algo semelhante ao que sempre oferece em sua equipe. Desta forma, fica tudo mais fácil. Mas precisamos dar o toque da Seleção nesses jogadores, pois o futebol que se joga hoje configura o atleta para um tipo de jogo que não me agrada, voltado excessivamente para o resultado. Outro dia eu vi o Banfield jogar e lamentei profundamente os resultados insatisfatórios da equipe. Mas era muito animador ver o futebol praticado pelo bom time de Almeyda”.

“Para mim, importa ter jogadores valentes para que eu consiga levar adiante uma proposta que implica riscos”, afirmou, deixando claro que pretende uma propor uma mescla de time entre a seleção do Paraguai, sob seu comando, e o Newell´s, time de seu coração e também treinado por ele. Sobre o técnico criar um elenco de valentes ele disse que “vejo isso em Almeyda e em outros poucos treinadores”. Implícito na declaração estava que o Martino pretende ter jogadores com esse naipe em sua Seleção. Tata disse que “a partida contra a Alemanha “me mostrou que os jogadores identificam o caminho pelo qual seguiremos”. Vale lembrar que quando Martino se refere à síntese entre Paraguai e Newell´s, está falando do jogo de pressão, do primeiro, e do jogo organizado e de toque de bola, do segundo.

O atual técnico da Albiceleste não perde de vista o jogo bonito, tão natural ao futebol apresentados por várias gerações do futebol local e da Seleção. E até para cativar a atenção do povo em torno para a Albiceleste recorda da passagem de Bielsa em 2002. “Pensar que aquela seleção (a de Bielsa) não conseguiu um bom resultado no Mundial é algo que parece uma loucura. Felizmente há treinadores que não necessitam que as coisas vão bem para mostrar a grandeza de seu trabalho. O caso de Bielsa é clássico neste sentido”.

“No tempo de Bielsa, os torcedores se deslocavam de várias distâncias do país, lotando peruas, só para ver os jogos da Seleção. Espero contribuir para reencaminhar as coisas nessa direção. É muito importante que as pessoas voltem a ser torcedores de seu selecionado principal.

Espírito coletivo

“Aquela partida (contra a Alemanha) deixou claro que o mais importante para formar uma equipe é a ideia de grupo. Não vejo isso na Europa. Salvo exceções, o que impera é o individualismo”, disse Martino, provavelmente aludindo aos clubes europeus e não à maioria das seleções do Velho Continente.

A doação que Martino espera dos jogadores pode de fato ser vista no Newell´s que ele dirigiu e que mesmo eliminado pelo Galo, nas semifinais da Libertadores, segue a ser uma das equipes mais recordadas equipes da edição 2013. Todavia, um grupo muitas vezes não se forma tão bem quando várias arestas não são aparadas. É o caso de Tévez e Icardi, por exemplo.

A volta de Tevez e a possível convocação de Icardi

Martino sabe bem dos motivos por que o “Apache” não foi chamado por Sabella. Ao contrário do que muitos noticiam, não foi por causa de Messi, mas pelas confusões que Tevez arrumou dentro dos vestiários. Esse problema já vinha da passagem de Sabella pelo Corinthians, como assistente técnico de Passarella. Outro capítulo ocorreu no intervalo de uma partida na qual o ex-craque do Boca reagiu de forma violenta às críticas do grupo pelo seu individualismo dentro de campo. Na ocasião, foi justamente Messi quem se colocou à frente do grupo e talvez até tenha impedido o atacante da Juventus de levar uma surra. Prova disso é que Tevez jamais criticou Sabella por não ter sido convocado. No íntimo, ele sabia que tanto o Pachorra quanto vários atletas tinham suas razões.

“Muitas coisas foram ditas sobre Tevez e algumas são corretas e outras não. Na verdade, isso importa pouco. A meu ver, há questões que o grupo pode apresentar ao treinador e cabe a ele dizer sim ou não. Afinal, há coisas que têm lógica e outras não. Às vezes, convém bancar o que propõe o grupo e outras vezes nem tanto, isso é natural. Não é porque 4, 5 ou 6 jogadores têm um entendimento sobre determinado assunto que eu tenho de concordar sempre. Mas é necessário que eu apresente os argumentos para dizer: ‘garotos, vocês têm razão ou não’; ou dizer ‘estão equivocados’. Se não for assim, jamais vamos terminar com essa história de que são os jogadores que determinam quem deverá ser convocado ou não”.

Portanto, tudo indica que os tempos são outros. Tevez parece bem mais maduro e pronto a receber um perdão. Se isto acontecer, ele será chamado para disputar uma vaga de camisa 9 com Higuaín e Agüero. “Pela maneira que gosto de jogar, entendo Tevez como um típico camisa 9, não há um melhor lugar para ele na formação”.

Porém, se Tevez parece com as portas abertas, Martino vai precisar abrir uma outra para Mauro Icardi. O jogador é considerado um traíra por inúmeros colegas de profissão. Isto ocorre pela maneira como Icardi respondeu a Maxi López pelo carinho, recepção em sua casa e ajuda na sua adaptação ao futebol italiano. Icardi se envolveu com Wanda Nara, então esposa de Maxi e gerou a separação do casal. Não bastasse isso e ainda tatuou as imagens de Wanda e os filhos do casal no seu próprio corpo. Além disso, durante muito tempo, fez piadas sobre o sofrimento que Maxi López teve com os acontecimentos. Ainda hoje, Icardi, já casado com Wanda, sempre que pode faz alusão debochada ao jogador diante do qual, quando era garoto, chorou uma vez ao pedir e receber um autógrafo.

Para Martino, “me parece complicado considerar um jogador que apresenta certos problemas longe dos gramados. Se esses problemas ocorrem, fora de campo, convém que eles, por outro lado, não envolva o futebol de uma forma ou de outra. Se querem minha opinião, eu digo que prefiro que os futebolistas sejam futebolistas. E quando exageram em algo, que o façam dentro de campo, assim como Icardi fez outro dia, ao anotar três gols. Mas quem sou eu para julgar as questões pessoais dos indivíduos. Este é um caso que, chegado o momento, teremos que tomar uma decisão”, completou Martino, dando a entender que vai gerar pressão no atacante da Inter no sentido de que ele mesmo pavimente o seu caminho rumo à Seleção Argentina.

Quanto a Romero, o treinador manifestou preocupação com a falta de continuidade do titular de Sabella. “Estar jogando significa que o atleta está apurando sua condição. Isto não quer dizer que ele não possa ser chamado por ser um reserva. Mas claro que desejamos quaisquer atletas tenham continuidade”.

Lio Messi

Martino revelou que Messi é um dos jogadores que mais sofre com sua pesada autocrítica. “Eu sei como ele é e como reflete o sofrimento dos torcedores com os resultados adversos. Sinto que ele se entrega todo à Seleção. Eu aprendi, com o passar do tempo, que com 30 anos um atleta pode ser um garoto ainda. Eu dirigi garotos com 36, 37 anos que ainda seguem jogando e que se sagram campeões com essas idades”, disse Tata, aludindo à idade de Lio Messi, na Copa de 2018.

Sobre os jogadores locais, e outros que não foram chamados, Martino deixou claro que está de olho em Kranevitter, Lucas Romero, Maidana, Funes Mori, Mercado, Vangioni, Mancuello e Milton Casco. Desse grupo, Casco leva vantagem pela sua polivalência, já que pode atuar nos dois lados do campo, como lateral e ala, em várias posições no meio e até no ataque. Pode até aparecer com a camisa titular da Argentina, futuramente.

Outros possíveis novos convocados são: Lucas Orban e Otamendi, do Valência; Banega do Servilla; Lisandro López, Enzo Pérez, Eduardo Salvio e Gaitan, do Benfica; Santiago Vergini, do Sunderland e Fede Fazio, do Tottenham.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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