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Tata Martino é o novo técnico do Barça. Por que isto aconteceu?

Na tarde de hoje, o nome de Gerardo Martino foi confirmado como o novo técnico do Barcelona. Vários nomes estavam indicados, várias razões eram consideradas pelos cartolas culés; vários problemas se impunham na escolha de um ou outro. No fim, deu Martino. Conheça alguns dos motivos.

Conta ainda poucos dias que Tito Vilanova se foi do Barcelona, pois se dera conta de que para entrar no ringue contra o câncer não mais poderia seguir dividido. Suas força haveriam de se concentrar apenas na debilidade que o acomete incessantemente e que não lhe oferece a mínima trégua. O futebol deixava de ser importante, assim como o Barcelona, clube de seu coração. Desde então, Rosell se viu na obrigação de agir rápido, pois o Barça de hoje não é mais o mesmo de temporadas atrás. Da mesma forma, o prestígio do cartola recebe golpe após golpe, desde que ele resolvera jogar sujo contra Johan Cruijff, ídolo do clube e infinitamente mais importante para o Barça do que ele, Rosell.

Nomes então apareceram aos montes. Dentre eles, destacaram-se os de Valverde, Luis Enrique, Laudrup, Villas-Boas, Bielsa, Gerardo Martino e outros. Quando a escuridão ameaçou se apoderar do momento, nomes como os de Jupp Heynckes e Guus Hiddink também foram ventilados. No início, a ideia era a de que um perfil caseiro fosse contratado de imediato. Quase que simultaneamente, a preferência recaiu sobre o perfil de técnico jovem e com trabalhos de recentes destaques. Esses dois perfis eram os preferidos do cartola-mor, Sandro Rosell.

Então, críticas caíram feito tempestade sobre o cartola, pois a paciência à sua gestão tem sido menor que antes, nos bastidores do clube blaugrana. Então, caíram nomes como os de Villas-Boas e Valverde. E quando o de Laudrup pareceu ganhar forças, o próprio Rosell tratou de anulá-lo, já que ele seria um dos preferidos de Cruijff. Simultaneamente, o próprio comandante do Swansea tratou de se afastar da disputa, dando a entender que também não tolera a gestão Rosell.

Habilidoso, o cartola-mor conseguir seguir com o nome de Luis Enrique, que seria uma espécie de meio-termo entre os perfis caseiros e os de jovens treinadores de destaque, embora o atual técnico do Celta não tenha realizado grandes coisas, fora do Barça. Paralelamente, outros candidatos corriam por fora, como Marcelo Bielsa e Gerardo Martino. Bielsa, assim como Heynckes e Hiddink, tinha a vantagem das costas largas, que supostamente desviariam ou, em último caso, amenizariam os ataques a Rosell, caso os insucessos dentro de campo aparecessem.

Na prática, Bielsa incomodava até mesmo muitos daqueles que gostariam de ver profundas mudanças no Barcelona. A personalidade de “el Loco“, assim como sua dignidade, coragem e disposição de apontar o dedo para qualquer grande cartola blaugrana incomodavam. Exemplo vinha do Bilbao, onde não “abaixou os punhos” diante das tentativas dos dirigentes bascos de desgastar sua imagem e seu comando da equipe. Assim, o que era entendido como “um técnico radical” poderia trazer problemas para os dirigentes. Melhor portanto que seu perfil não fosse aprovado. Restou Martino, de um lado, e Luis Enrique, de outro.

Rosell precisava convencer os dirigentes do clube sobre a coerência em se pagar uma multa de 3 milhões de euros ao Celta para ficar com Enrique. Isto foi um problema, mas não foi o principal. Vozes em prol de argentino começaram a surgir de Puyol e principalmente de Messi. Entre os dirigentes ligados a Cruijff, o nome do rosarino também agradava, em razão de seu estilo, muito parecido a tudo que o “futebol total” de Michels e Cruijff impuseram ao Barcelona e que Guardiola tão bem soube herdar. Embora Rosell não gostasse desse candidato, Martino começou a ganhar projeção sobre Enrique.

O principal motivo, indubitavelmente, foi a manifestação de Messi quanto à sua preferência pelo conterrâneo de Rosário. Para Rosell, desagradar a Messi, no atual momento do Barça, pareceu excessivo. Seu prestígio vem decaindo dia-a-dia não só pelos seus negócios escuros, mas pela tentativa de varrer dos Barça todas as influências deixadas pelo holandês que ele odeia como ao próprio diabo. Vale lembrar que por causa da forma abjeta com que o cartola tentou “eliminar” o antigo ídolo da seleção holandesa que muitos se afastaram do clube, inclusive Guardiola, aliado incondicional e irrecuperável de Cruijff.

Num primeiro momento, os dirigentes entraram em contato com Martino e Enrique para analisarem suas disposições. Ambos sinalizaram em prol de um acerto. Porém, rapidamente a preferência de Messi ganhou notoriedade no mundo inteiro e enfraqueceu as preferências de Rosell em torno de Enrique. Então, os cartolas sinalizaram com uma viagem a Buenos Aires com um objetivo de construírem um acordo. Martino se recusou a sair de Rosário para tratar do assunto. Por seu turno, Zubizarreta achou absurdo se deslocar a Rosário. O jeito foi tratar do acerto por vídeo-conferência. O acerto foi feito e Gerardo “Tata” Martino se converteu na data de 22 de agosto de 2013 no quarto técnico argentino a assumir o comando do banco azulgraná.

Um amante e seguidor de Marcelo Bielsa

Meio-campista brilhante, Martino atuou por 16 anos com a camisa do Newell’s Old Boys. Conquistou três títulos nacionais. Em duas dessas conquistas, teve Bielsa como o seu treinador. Sua admiração pelo trabalho de “el Loco” era tamanha que virar técnico de futebol foi algo previsível. A seu ver, Bielsa é excepcional por ter conseguido como nenhum outro sintetizar o melhor de dois mundos: os estilos de Menotti e Bilardo. José Yudica e Jorge Solari também inspiraram Martino. Mas Bielsa foi além.

A primeira lição tem a ver com o estudo incessante do futebol (o que rendeu a Bielsa a alcunha de “Loco“) e o estudo e detalhamento tático dos rivais. A segunda lição tem a ver com o estabelecimento de um estilo para a equipe. Estilo que jamais pode deixar de lado as estratégias peculiares para o enfrentamento com certos rivais. Outra lição considera o clube como o local privilegiado para se resgatar respeito e tradição. E uma das formas de fazê-lo é a de olhar para a base, incentivá-la, fortificá-la e dela retirar atletas identificados com a camisa que defendem. Mesmo após deixar o Newell’s, Martino foi visto assistindo treinos de juvenis do clube que dirigia. Parte dessas lições, Guardiola fora buscar em Rosário, anos atrás.

A liderança do técnico há de ser incontestável, mas ela se processa nas atitudes mínimas e nos exemplos oferecidos pelo treinador. No Bilbao, Bielsa era visto, todas às manhãs, saindo de sua casa e caminhando até o clube para treinar os jogadores. Depois de algum tempo, alguns começaram a deixar seus automóveis em casa e fazer o mesmo. Jamais Bielsa se atrasou e, em alguns momentos, chegou antes até do que certos funcionários, responsáveis pela preparação do campo de treinamento. No Newell’s, Martino teve uma atitude muito semelhante.

Posse de bola e passe perfeito são premissas de Bielsa que Martino também resolveu adotar. Mesmo com uma equipe limitada e em situação de perigo, o seu Newell’s não dava um chutão, contra o Atlético, no Independência. E embora a muito Bielsa pareça arrogante, a humildade é um de seus traços. Isto se materializa na ideia, defendida por ambos, de que os jogadores importam infinitamente mais do que quaisquer treinadores. São eles – os jogadores – que ganham ou perdem, mas quando a derrota acontece ela é de responsabilidade do comandante, que não soube ou tirar o melhor dos atletas ou não soube ter os melhores a seu lado.

E como vai jogar o Barça?

O esquema será o 4-3-3, com variações, de quando em quando, para se adaptar aos rivais. A posse de bola será valorizada como uma obsessão. Ritmo e velocidade serão uma marca a ser equilibrada com o trato no meio-campo e com jogo cadenciado, por vezes. Atletas cerebrais como Xavi e Iniesta seguirão como os maestros do meio-campo. Se preciso for, Martino vai desprezar a rapidez da equipe em prol do trato criativo na meia cancha. O trabalho com os laterais-alas será um caso à parte.

A ideia é a de que eles ataquem sempre. Contudo, muitas vezes poderão recompor o meio, para permitir que os meias ocupem os francos do campo. Triangulações serão uma obsessão, assim como o fator-surpresa; algo que o Barça precisa reinventar. Junto a isso, a torcida blaugrana verá um time muito semelhante ao de Guardiola, com a forte pressão no campo de ataque do rival; algo que, de certa forma, perdeu qualidade com Vilanova. Assim, a linha de 3, na frente, terá tanta importância na marcação de gols quanto na marcação.

Já a primeira linha de defesa, será adiantada quase ao meio-campo. Martino acredita, assim como Guardiola, que estando adiantados, até compondo o meio, os defensores não terão dificuldade para retornarem, nas poucas vezes que o rival recuperar a pelota e gear um contragolpe. Por fim, a ideia é a de valorizar o “falso 9”, posição que deverá ser ocupada por Messi, já que um atleta de inteligência superior, na opinião de Martino, é quem há de ocupar essa posição.

Além disso, vale lembrar que a chegada de Martino ao Barça significa a revalorização de atletas das canteiras. Contratações serão em número bem menores, a partir de agora. Por isso, os bons tempos do Barcelona de Guardiola estão de volta. Porém, revitalizados com o sangue argentino que o atual técnico do Bayern Munique foi buscar em Rosário muitos anos atrás.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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