Soriano: Um goleiro à frente de seu tempo
Após complicações por uma cirurgia no quadril, ontem faleceu em Buenos Aires aos 93 anos o ex-goleiro do River, Banfield e Atlanta José Eusebio Soriano. O goleiro fez parte do lendário River Plate da década de 40, quando o time recebeu o apelido de “Máquina”, pelo poderio ofensivo de seus jogadores de ataque. Além disso, ajudou a fundar a Futbolistas Argentinos Agremiados (FAA), que defende os interesses dos jogadores argentinos.
Nascido no dia 19 de abril de 1917 na cidade peruana de Chiclayo, Soriano aproveitava seu 1,90 m de altura para jogar basquete. Fora das quadras, dedicava-se ao cultivo da cana-de-açúcar. Certo dia foi convidado para atuar no gol do modesto Afonso Ugarte de Chiclín, da segunda divisão, e de lá não saiu mais. E mesmo sem ter jogado por uma equipe da primeira divisão, foi convocado para defender a seleção peruana no Campeonato Sul-Americano de 1942, disputado no Uruguai.
Antes mesmo de atuar pela competição de seleções ele já havia chamado a atenção dos dirigentes do Independiente. O time capitaneado pelo lendário Arsenio Erico fez uma excursão pelo Peru em 1941 e, depois de ter atuado em Chiclayo, fez uma proposta para levar o goleiro para atuar na Argentina. A proposta foi recusada pelo goleiro, mas nessa época surgiu a amizade do goleiro com Fernando Bello. Mais tarde, essa amizade resultaria num ato que mudaria a história do futebol argentino.
No mesmo ano do Sul-Americano, o grande presidente do Banfield, Florencio Sola, fez uma proposta para levar o goleiro peruano. Segundo Soriano, o mandatário falou de uma forma tão comovedora que ficou impossível recusar. Assim, o goleiro saiu de seu país natal e jogou por dois anos no “Taladro”, de 1942 a 1944, fazendo 46 partidas pela equipe do Sul.
As atuações do peruano chamaram a atenção de outro inesquecível presidente, Antonio Vespucio Liberti. O mandatário do River Plate foi procurar Sola para saber por qual valor o Banfield cederia o jogador para o seu clube. Sola respondeu com um valor que passara na hora pela sua cabeça: 100 mil pesos. Nas semanas seguintes, o presidente do “Millo” trouxe o dinheiro e a negociação foi concretizada. Soriano só impôs uma condição: a de que ele não enfrentasse seu ex-time.
Já na época o arqueiro era conhecido por seu cavalheirismo e educação e, naturalmente, sempre era o escolhido para ser o capitão do time. Fazia questão de cumprimentar todos os jogadores no campo, o que às vezes retardava o início das partidas. Com isso, nascia o apelido que Soriano carregaria para sempre: “O Cavalheiro do Esporte”. Além disso, foi o precursor da técnica de diminuir o ângulo do atacante e da saída do gol para tirar a bola da área. Numa época onde os goleiros se limitavam a ficar embaixo das traves, foi um avanço formidável. Foi olhando a forma de atuar de Soriano que um jovem goleiro chamado Amadeo Carrizo se espelhou para, mais tarde, sucedê-lo no próprio River.
Soriano fez tanto sucesso no River que por mais de uma vez recusou os convites para se naturalizar argentino e assim poder defender a meta da “Albiceleste”. Em 1946, o goleiro resolveu fazer uma reunião na sua casa com os capitães de todos os times da primeira e da segunda divisão. Fernando Bello, que havia se encontrado com Soriano cinco anos antes, foi um dos presentes. E após a reunião, Soriano sem saber deu o pontapé inicial para a criação da FAA (Futbolistas Argentinos Agremiados). Tal fato contribuiu decisivamente para a saída de Soriano do River.
Assim, após um título conquistado – em 1945 – e 71 partidas no “Millo”, o goleiro foi para o Atlanta. Lá, fez companhia ao companheiro de River Adolfo Pedernera e outros grandes jogadores da época como o atacante Omar Higinio García, que faria sucesso pelo San Lorenzo posteriormente, e do meio-campo León Strembel, que depois brilhou no Lanús. Pela quantidade de bons jogadores, a equipe “bohemia” recebeu o apelido de “Dream Team”. No entanto, a equipe fracassou e em 1948 foi rebaixada à segunda divisão.
Nesse ano aconteceu a primeira greve dos jogadores profissionais argentinos, encabeçada pela FAA. Tal fato deu origem ao famoso êxodo de vários jogadores argentinos para a Colômbia, onde eram pagos melhores salários e oferecidas melhores condições de trabalho para os jogadores. A liga, conhecida como “Dimayor”, foi posteriormente desfiliada pela FIFA e passou a ser conhecida como “A Liga Pirata”.
Soriano, assim como Pedernera, Di Stéfano, Sastre, “Pipo” Rossi e outros foi procurado para atuar na Colômbia. Mas o goleiro decidiu encerrar a carreira com apenas 29 anos para dedicar-se à sua vida pessoal. Mesmo com a aposentadoria precoce, ainda é considerado como um dos 10 melhores jogadores estrangeiros da história do River Plate. E mesmo sem nunca ter atuado em jogos da primeira divisão peruana, foi considerado um dos melhores goleiros da história do país.
Eu li sobre ele no especial da El Gráfico sobre os 100 maiores jogadores do River. E o que me chamou a atenção foi justamente ele jogar adiantado, uma característica normalmente associada ao Carrizo. Cheguei a ligar os pontos e pensar se o Loco tinha se inspirado no peruano. Adicionarei essa informação no verbete dos dois na wikipédia em breve…
Os especiais deviam ser mais constantes, sem precisar de tragédias! hehehehehehehehehe
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