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Só um homem fez 4 gols em um único Boca-River. Há exatos 40 anos

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Para o desconsolo do River, marcando o gol da vitória em outro Superclásico, do Nacional de 1974

Pode ter sido a estreia mais espetacular de um jogador por seu clube. Ninguém antes ou depois conseguiu algo alcançado há exatos 40 anos por Carlos María García Cambón: quatro gols em um único Superclásico. Naquele 3 de fevereiro de 1974, debutava pelo Boca e o carregou em um 5-2 no River, sobre outro estreante do dia, o goleiro rival: ninguém menos que Ubaldo Fillol.

García Cambón começara no pequeno Chacarita Juniors, cuja barrabrava odeia a do Boca, como já contou Iarley em entrevista ao Futebol Portenho: “É algo muito mais que o River! Em termos de nervosismo no jogo, confusão, de rivalidade de torcida, briga entre eles… Quando falavam “ó, vai ser o jogo contra o Chacarita”, nossa! Ficava todo mundo nervoso, policiais, todo mundo, o clube, aquela tensão… Então, achei isso muito diferente” (clique aqui). Rafa Di Zeo, polêmico líder da barra boquense, La 12, foi preso por emboscar barras do Chacarita, não os do River.

Mas essa inimizade só começaria a partir de 1984, dez anos depois da transferência do atacante. Na época, as torcidas eram amigas e até sorriram juntas quando o Chaca foi campeão argentino pela única vez, em 1969: a final foi justo contra o River, que podia ter encerrado ali seu maior jejum (desde 1957), mas a seca só acabaria em 1975.

Cambón estava no elenco funebrero campeão; debutou no futebol exatamente naquele campeonato, ainda que não tenha jogado aquela final. Se eternizou no clube como o maior artilheiro (8 gols) sobre o maior rival, o Atlanta (o primeiro deles, justo naquela campanha campeã), com quem o tricolor realiza o chamado Clásico de Villa Crespo, bairro do oponente e que sediava também o Chacarita antes da mudança deste à cidade de San Martín, na Grande Buenos Aires.

E foi por gols que ele cravou seu nome em um dos maiores dérbis do mundo. Os rivais estreariam um contra o outro no Metropolitano de 1974. A decisão do técnico boquense  Rogelio Domínguez (curiosamente, ex-jogador do River) de incluir Cambón chegou a ser inicialmente criticada: embora fosse hábil com os dois pés, inteligente e oportunista, não era exatamente um centroavante, posição em que o escalaram.

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Ainda no Chacarita, a receber de Beckenbauer uma flâmula do Bayern Munique em 1971 (o Chaca venceu por 2-0, pelo Troféu Joan Gamper!) e marcando seu último gol no dérbi de 40 anos atrás

Mas em dois minutos o novato já tirava o peso da camisa sobre o novato rival, Fillol, que o River acabara de comprar do Racing. Os Millonarios empataram, mas ainda no primeiro tempo novamente García Cambón aumentou os barulhos na Bombonera, agora de cabeça, aproveitando tentativa desastrada de Fillol em cortar um cruzamento.

Mesmo sem marcar, foi decisivo no terceiro gol, já no início do segundo tempo: tabelou com Potente, que sofreu pênalti após receber passe de calcanhar do reforço. A cobrança foi convertida por Ferrero. O River, também de pênalti, chegou a encostar.

Mas não tardou muito e aos 21 e aos 26 do segundo tempo, García Cambón enfim entrou para a história, marcando mais duas vezes. O último, uma pintura, agora com Potente fornecendo de calcanhar para Cambón encarar Coll, driblar Fillol e completar para o gol vazio.

O que todo torcedor auriazul poderia sonhar, curiosamente, não era sequer remota ambição do artilheiro do dia naquela ocasião (“nem desejava. O que desejava era jogar bem”), que só começou a se dar conta do que fez ao ver o pai, homem sério, ficar quase desencarnado ao ouvir todo o estádio gritar o sobrenome García Cambón – ambos herdados dele, como o atacante frisou (nos países de língua espanhola, o comum é o segundo sobrenome ser de origem materna).

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García Cambón na época e em foto recente

O Boca arrancou com tudo no torneio, mas caiu de rendimento e o título ficaria com o Newell’s (o primeiro dos rubronegros de Rosario). Inclusive perdeu para o River no returno, com Carlos Morete quase alcançando o feito de 40 anos atrás, mas marcou “só” 3 vezes nos 3-1.

Cambón ainda voltaria a roubar a cena em outro Superclásico daquele 1974, já pelo Torneio Nacional, marcando o único gol do jogo. Ele manteria o fôlego até o ano seguinte, em que foi o maior goleador do Boca na temporada. Porém, quando o time enfim foi campeão, em 1976, ele já estava em baixa e acabaria rumando logo depois ao Unión de Santa Fe.

Ele, que já tinha um lugar no coração xeneize, conseguiu outro também na história: o time de Carlos Bianchi alcançou em 1999 a maior invencibilidade seguida do futebol argentino, 40 jogos. Nos 6 primeiros, o time ainda era treinado por García Cambón, que assumiu interinamente entre a demissão do antecessor Héctor Veira e a contratação de Bianchi.

FICHA TÉCNICA – Boca: Rubén Sánchez, Roberto Mouzo e Alberto Tarantini; Vicente Pernía, Marcelo Trobbiani (Claudio Casares) e Roberto Rogel; Ramón Ponce, Jorge Benítez, Carlos García Cambón, Osvaldo Potente e Enzo Ferrero. T: Rogelio Domínguez. River: Ubaldo Fillol, Horacio Coll, Héctor López; Pablo Zuccarini, Reinaldo Merlo (Edgardo Di Meola), Hugo Pena; Ernesto Mastrángelo, Enrique Wolff, Carlos Morete, Norberto Alonso e Jorge Ghiso. T: Néstor Rossi. Árbitro: José Barreiro. Gols: García Cambón (2/1º), Ghiso (16/1º), García Cambón (37/1º), Ferrero (1/2º), Wolff (16/2º) e García Cambón (21 e 26/2º)

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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