No terceiro dia de passeio aqui em Buenos Aires, começo a história de trás para frente. Foi na Capital Nacional del fútbol, alcunha que Avellaneda recebeu do governo argentino no fim de 2020, que pude ir ao meu terceiro jogo nesta viagem. Foi pelo Racing que vim para cá, pois imaginava que seria um grande jogo contra o Flamengo, pela terceira rodada da fase de grupos da Copa Libertadores. O confronto foi no Estádio El Cilindro (Presidente Juan Domingo Perón), que sem medo eu afirmo: é um dos mais lindos do mundo.
E sim, o jogo entregou tudo que se esperava. Emoção do começo ao fim. Tensão, pelo menos para mim, o tempo inteiro. Senti o mesmo nervosismo dos clássicos do meu time no Brasil. E pude ver, outra vez de perto, o quanto a fanática torcida do Racing apoia. Nos momentos mais difíceis a torcida cantava ainda mais. Tem algo no racinguista que é difícil para eu te explicar. Um sentimento intrínseco nessa gente.
O placar final, 1×1, ficou de bom tamanho para quem esteve por muito tempo com um jogador a menos. Quis o destino que um dos mais experientes do Racing, “El Demonio” Hauche, fosse expulso em dois lances seguidos. Conseguiu levar um cartão aos 25 do primeiro tempo, totalmente desnecessário, e outro aos 26, que foi justo. Quando o Flamengo fez 1×0 com Gabigol e tinha um homem a mais, pensei: “não é hoje que vou assistir a mais um gol do Racing em campo”. Porém, por uma dessas magias do futebol, o “pibe” Wesley (lateral-direito que havia sido amarelado no começo do jogo) foi expulso na metade do segundo tempo e, na sequência, um golaço de falta de Nicolás Oróz. Agradeço-te pela oportunidade, futebol!
Diferente dos jogos que fui antes, no Estádio do Huracán (terça) e no Estádio do Quilmes (quarta), para ver o Racing tive carona na ida e na volta. Foi algo bem VIP mesmo, nem o ingresso (4.100 pesos argentinos, ou seja, 45 reais) me deixaram pagar. Não me preocupei por nenhum segundo. Fui com dois racinguistas – Ezequiel e Turco – que são um capítulo à parte, e o filho de Eze foi junto.
Eze, 50 anos de idade, é o ex-presidente da filial Racing Brasil. Casado com uma brasileira e pai de um casal, de 15 e 12 anos, morou muito tempo na grande São Paulo. Fundou a filial e desde então trata todos os torcedores brasileiros do Racing (e os argentinos que vivem no Brasil) com o maior carinho do mundo. O clube é tão importante para ele quanto sua família. Faria tudo por eles, não importa o que for. E faz tudo para divulgar ao máximo o Racing, para um maior número de pessoas no mundo.
Em 2017 fiz contato com o jornalista Mauro Cezar Pereira para saber como ir ao duelo entre Corinthians x Racing, na Libertadores daquele ano. Ele só fez o básico: me passou o contato do Ezequiel e pronto, tudo já estava resolvido. Minha história com Racing só cresceria desde então. Ezequiel é o responsável por centenas de pessoas do Brasil serem apaixonadas pela “La Academia”. Simples assim.
Meu outro anfitrião foi o Turco. Até perguntei seu nome, mas não quiseram me falar. É conhecido como turco e assim é. Turco foi nosso motorista. Ele mesmo se auto apelidou de “recolector de brasileños”. Isso porque é sempre quem leva os brasileiros nos jogos do Racing. Foi por 8 anos gerente da loja do Racing na rua Lavalle, no centro de Buenos Aires.
Ele de fato também merecia um texto só dele. Mas, resumindo, assim como eu, o Turco é solteiro e não tem filhos. A diferença maior é que ele tem 49 e eu 35, mas me vejo muito nele. Sua maior paixão é seu clube e faz bastante (ou melhor, tudo) por ele. Diferente de mim, já foi “preso três vezes pelo Racing”. É algo difícil de explicar, o quanto esses dois amam seu clube. É algo na linha do “pelo Racing, tudo”. Começou a assistir futebol em 1987, um ano antes de eu nascer. Desde então, tem o Racing em sua mente para tudo.
Durante a partida, quando a Guardia Imperial se movimentava após o “recebimiento”, ou seja, as boas vindas que os torcedores dão ao seu time, Turco me explicou que o sentimento dele é de torcer tanto para o Racing, quanto para a Guardia Imperial. Foi a torcida organizada, que nos 35 anos sem títulos do Racing (1966 a 2001), manteve viva a paixão do clube na sua torcida, por não abandonar o Racing em momento algum. Em nenhum estádio. É um sentimento de gratidão enorme que ele tem pelo clube e pela sua torcida. Surreal mesmo.
Aos dois, Eze e Turco, meu muito obrigado. A tarde / noite de quinta-feira (04/05/2023) foi para lá de especial, ao lado de vocês dois, e também do pequeno Avner, filho de Ezequiel. Garotinho bom, ele! Ainda fomos jantar depois do jogo, em uma pizzaria que também era especializada em frutos do mar. Passeio completo, do começo ao fim.
Na outra metade do dia, fiz o que havia feito no primeiro dia de passeio pelos estádios argentinos. Aproveitei que precisava treinar pela manhã (tinha 12 km para correr no meu treinamento semanal) e fui correndo até os estádios do Defensores de Belgrano (Estádio Juan Pasquale), River Plate (Estádio Monumental de Núñez) e Excursionistas (El Coliseo del Bajo Belgrano).
No primeiro dos três, não tive nem como conversar com alguém para tentar entrar. Zero informação. No do River Plate, a receita é simples. Entrar no site e fazer a compra do passeio. Não fiz, porque estava, literalmente, correndo. E, no do Excursionistas, até que tentei. Conversei com um treinador lá do clube, que me mandou para o local errado. Chegando no local (entrada principal), não havia nada nem ninguém, além de um portão entreaberto. Entrei lá, tirei umas fotos do estádio e fui embora. Resumindo, os clubes daquela área de Belgrano e Núñez, não são dos mais simpáticos.
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