O fim de semana será fervente na elite argentina. Teremos a rodada extra do campeonato de 30 times, reservada a todos os clássicos possíveis, que serão sete – os jogos restantes foram selecionados por distância geográfica dos demais clubes. Gustavo Barros Schelotto tem experiência em seis desses dérbis e já teceu comentários a respeito em monólogo publicado na revista El Gráfico, em edição de 2013 (acesse a nota clicando aqui), mas pertinente na véspera dessa super rodada. Especialmente quando justamente os quatro principais dérbis envolvem a luta pela liderança!
A programação dos clássicos é a seguinte: o primeiro da série será o de Avellaneda, com o Independiente recebendo o Racing às 16h10 de sábado no estádio Libertadores da América – os alvicelestes têm um jogo a menos, interrompido antes do fim enquanto venciam, algo que caso se confirme os deixaria hoje a quatro pontos do líder. Em seguida, às 18h10 do sábado, o líder San Lorenzo visitará o Huracán no palácio Tomás Adolfo Ducó. Não perde do rival de bairro há cinco anos – ainda que a demorada última estadia dele na segundona, entre 2011 e 2014, tenha impedido mais encontros.
Os clássicos voltam no domingo às 15h10 com tudo: com a rivalidade mais ferrenha do país, com o 3º colocado Rosario Central, a cinco pontos do líder, defendendo no seu Gigante de Arroyito invencibilidade de oito anos perante o Newell’s. Às 16h00, La Plata se focará no embate entre Estudiantes e Gimnasia, com mando de campo dos alvirrubros. Às 16h40, Colón e Unión reviverão após dois anos o dérbi mais equilibrado do país, o de Santa Fe, no Cemitério de Elefantes, casa colonista.
Às 18h40 as atenções do país se voltarão ao Superclásico, com o River a desfilar no Monumental de Núñez a taça de campeão da América contra a vice-liderança do Boca, no primeiro reencontro após o literalmente apimentado dérbi passado, que custou aos auriazuis a eliminação no torneio continental. A série se encerra em La Fortaleza às 21h30, horário em que o Lanús, onde Gustavo Barros Schelotto trabalha atualmente, recebe o Banfield para mais um Clásico del Sur.
Nascido em La Plata, El Tiburón (“O Tubarão”) Gustavo não só foi revelado no Gimnasia como é fanático e filho de ex-presidente do clube. Estreou na melhor fase dos triperos, os anos 90, onde eram eles e não o Estudiantes a equipe mais forte da cidade (o Lobo foi cinco vezes vice-campeão entre 1995 e 2005). A estreia de Gustavo, em 1992, foi exatamente na primeira vez em que o clube recebeu uma partida da Conmebol, os 2-0 sobre os chilenos do O’Higgins pela extinta Copa Conmebol. Jogou sete vezes o clásico platense e só perdeu um. Marcou uma vez, um golaço no 2-0 pelo Clausura 1994, chutando de fora da área um rebote do goleiro. O arquirrival seria rebaixado.
Contratado junto do irmão gêmeo Guillermo pelo Boca em 1997, o ex-volante direito só realizou em janeiro de 1999 seu primeiro Superclásico, inclusive marcando na ocasião seu único gol em um Boca-River. Foram oito jogos, com três vitórias para cada – a mais especial, aqueles 3-0 pelas quartas da vitoriosa Libertadores de 2000, na véspera dos 60 anos da Bombonera. O triunfo teria sido ainda maior se um pênalti em Gustavo houvesse sido assinalado naquela mágica noite.
Naquela nota na El Gráfico, Gustavo declarou que “vamos dirigir o Boca alguma vez, e seguramente nunca dirigiremos Estudiantes ou River. (…) Sei que o Estudiantes não me viria buscar por meu passsado no Gimnasia (…). Com o River ocorre o mesmo: não vão me chamar, estamos muito identificados com o Boca”. Mas fez uma ressalva ao Superclásico: “é o maior clássico argentino, mas pela dimensão na quantidade de gente que acompanha, um país inteiro”.
Afinal, no quesito nível ferrenho de rivalidade o clássico rosarino é muito maior. “Central-Newell’s também foi muito importante na minha carreira. Estive dois anos em Rosario e o que se sente na semana anterior e posterior em uma cidade tão futeboleira também é algo muito inteso. Imaginava um clássico assim, mas há que vivê-lo. Estando aí, a pessoa se inteira da história que tem, que é riquíssima”. Gustavo integrou em 2003 o último elenco que classificou os canallas a uma Libertadores, com direito à maior goleada no século XXI no dérbi (um 3-0 no Clausura) e batizou uma das filhas de Rosario. “Na outra quis colocar (o nome de) Juana Central, mas não ficava bem”.
Chegado ao Boca em meados de 1997, o outro Barros Schelotto demorou um tempo para enfrentar o River pois no início de 1998 foi às vias de fato com o técnico xeneize, Héctor Veira, que para não perder autoridade sobre o elenco exilou no Unión o volante: “não lhe guardo rancor. Aquela discussão (…) foi um momento feio. Eu tinha razão, mas talvez não foi a melhor maneira de me expressar. Me equivoquei no momento. Era jovem e isso comete erros. Agora está tudo bem”.
Gustavo ficou um semestre no Tatengue, a tempo de disputar um clássico santafesino, um 2-2 no Clausura 1998. “Unión-Colón e Gimnasia-Estudiantes talvez eram os clássicos mais parecidos no contexto, são cidades mais pequenas e dependem do clássico local. Não se destaca-os tanto jornalisticamente a nível nacional, mas são de muita importância, e a cidade os vive de uma maneira muito particular e para o jogador são algo muito forte”.
Não chegou a falar diretamente sobre o clásico de Avellaneda, único onde ficou em desvantagem: 1-1 em 2001, derrota de 2-1 em 2002. Mas a passagem na cidade foi vitoriosa: “um dos momentos mais emocionantes da minha carreira, sem dúvidas, foi o campeonato que conseguimos com o Racing, em 2001. Rompemos o tabu de 35 anos sem títulos (nacionais). (Reinaldo) Merlo teve muito mérito, nos obrigou a jogar no limite, porque se essa equipe não jogasse no limite, não poderia ganhar (…). Gerou em nós e no povo uma onda positiva que nós pudemos pôr a favor dentro do campo. Era uma equipe que refletia o sentimento do povo. A qualidade não era a melhor, mas sim a atitude. Deixávamos a vida”.
“Voltaria a jogar todos os clássicos que joguei se tivesse a oportunidade. Não posso me decidir por um em particular porque sempre me senti muito identificado com o clube em que estava. Além disso, adorava jogar este tipo de partidas”, assinalou também. Dos sete clássicos do fim de semana, o único em que Gustavo não se envolveu foi o de Huracán x San Lorenzo.
Ele já trabalhava no Lanús na época da reportagem, em 2013, mas só foi vivenciar o clássico com o Banfield ano passado, quando o Taladro retornou da segundona – os comandados ganharam de 1-0 em 2014 e por 2-1 em 2015. O dérbi do sul da Grande Buenos Aires, aliás, terá reflexos do Superclásico: enquanto os grenás são treinados pelos gêmeos Barros Schelotto, antigas figuras do Boca, os alviverdes têm de técnico o ídolo riverplatense Matías Almeyda.
Sobre seu brilho ter sido ofuscado pela estrela bem maior do irmão, o ex-volante também comentou: “não me machuca que Guillermo ocupe um lugar mais importante que eu ante os jogadores, o resto do corpo técnico ou com os jornalistas. A mim o que interessa é estar cômodo no lugar onde estou e, sobretudo, trabalhar com liberdade. Sempre planejamos trabalhar juntos”. Uma declaração um tanto oposta à humorada peça publicitária abaixo, onde a mãe de ambos sugere que ele se passe em uma entrevista pelo gêmeo, com febre. Nela, Gustavo não perde a chance ao responder uma certa pergunta…
Abaixo, especiais mais recentes sobre os clássicos dessa rodada:
Elementos em comum entre Racing e Independiente
Conheça o clássico entre San Lorenzo x Huracán
110 anos do clássico rosarino, o mais ferrenho da Argentina (e do mundo?)
Estudiantes e Gimnasia fazem primeiro clássico em âmbito internacional
Colón x Unión: o equilibrado Clásico Santafesino
Maidana e Bertolo, os primeiros a vencer a Libertadores por Boca e River
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