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Copa América: argentinos de história no futebol chileno

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Barrios (Colo-Colo), ex-Borussia Dortmund. Montillo (Universidad de Chile), ex-Cruzeiro. Pratto (Universidad Católica), hoje no Atlético Mineiro: futebol chileno de exportação argentina ao Brasil e Europa

Não é de hoje que o Chile, cujos técnico atual é argentino (Jorge Sampaoli) e seus dois antecessores (Marcelo Bielsa e Claudio Borghi) também são, tem bastante influência vizinha em seu futebol. Os hermanos marcam presença histórica desde os primórdios do campeonato local, com casos antigos até em que ele e não o Argentinão serviram de trampolim à Europa – e modernos também, vide Lucas Barrios e Franco Di Santo. O Brasil vez ou outra também se reforça de argentinos importados do Chile, ainda que para cada Walter Montillo haja um Ezequiel Miralles e um Sergio Gioino.

Com sete estrangeiros permitidos por time, há argentinos como nunca. A próxima temporada terá quatro vizinhos como técnicos dentre os quinze clubes, praticamente um terço: Ariel Pereyra no Unión La Calera, Mario Sciacqua no San Luis, Pablo Guede no Palestino e Pablo Sánchez no O’Higgins, o nanico de Rancagua que foi campeão pela primeira vez no ano passado sob o comando de outro hermano, Eduardo Berizzo – cujo sucesso levou-o a treinar o Celta de Vigo, na liga espanhola; e com outros quatro deles no time titular (um, Pedro Hernández, virou chileno). O mais recente campeão, o Cobresal, foi treinado por Dalcio Giovagnoli em um igualmente inédito título.

O trio de ferro também teve seus maiores êxitos com suores argentinos. O próprio técnico atual da seleção, Jorge Sampaoli, credenciou-se pelos êxitos seguidos em uma Universidad de Chile semifinalista de Libertadores e campeã da Sul-Americana alternando Montillo, Matías Rodríguez, convocado pela Argentina como jogador de La U, ainda que não tenha sido usado; Gustavo Canales, que por sua vez passou a defender o Chile; o veterano Diego Rivarola, maior artilheiro da história do clube; além de Guillermo Marino e Gustavo Lorenzetti.

La U virou a simbiose mais fresca na memória, mas vale dar uma ideia geral da dimensão histórica (o enfoque é este; a moderna é mais facilmente acessível na internet) argentina neste e em outros clubes – afinal, os três homens que efetivamente já defenderam a Albiceleste vindos do futebol chileno vieram de outras equipes:

COLO-COLO: Obdulio Diano foi o bom goleiro do Boca nos anos 40, vencedor da Copa América em 1947. Chegou ao Boca não da base ou de um nanico argentino, mas sim do Cacique, onde integrou o terceiro título nacional do maior campeão chileno. Walter Jiménez era o líder da única taça erguida entre 1961 e 1969, anos dominados pela Universidad de Chile. Em outra década complicada, Ramón Ponce, veterano ídolo do Boca dos anos 60, foi protagonista do título de 1979, a encerrar jejum de sete anos, o maior vivido pelos alvinegros no último meio século.

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Jiménez, ídolo dos anos 60. Barticciotto (com Batistuta atrás), protagonista de título na Libertadores. Espina, usado pela Argentina como colocolino. Borghi, vitorioso jogador e ainda mais como técnico

Mas a grande marca hermana deu-se nos êxitos internacionais, com os únicos títulos do futebol chileno na Libertadores e na Recopa. Marcelo Barticciolotto (autor de dois gols nos 3-1 que eliminaram o Boca de Batistuta nas semifinais) era o ponta, Daniel Morón o goleiro e Ricardo Dabrowski, o homem-gol colocolinos naquela Libertadores de 1991. Na Recopa, sobre o Cruzeiro, estiveram presentes Héctor Adomaitis e Claudio Borghi, que retomava um pouco do brilho dos tempos de Argentinos Jrs campeão da Libertadores 1985. Borghi seria o antecessor de Sampaoli como técnico do Chile após novos sucessos no Colo-Colo: quatro títulos seguidos entre o Apertura 2006 e o Clausura 2007.

Este tetra foi inédito para o clube e para o campeonato. Veio no embalo dos gols de Lucas Barrios, primeiro argentino artilheiro do torneio pelo Colo-Colo. Barrios, que se naturalizaria paraguaio após ser sondado pela seleção chilena, foi o homem que mais gols fez por um campeonato nacional, já em 2008, emendando a boa fase no Borussia Dortmund. Marcelo Espina, nos anos 90, também conseguiu quatro títulos, a ponto de ser (o único) usado na seleção argentina como colocolino. Falamos há duas semanas do homem que deixava David Trezeguet no banco do Platense: clique aqui. Já o armador Matías Fernández é o argentino que mais vezes defendeu o Chile e foi revelado desde a base alvinegra.

UNIVERSIDAD DE CHILE: antes de encantar entre 2010-12 com as boas campanhas internacionais e o outro único tetra seguido no campeonato chileno, o clube causou deslumbramento com o apelido de Ballet Azul ao ganhar seis dos dez torneios anuais realizados entre 1959 e 1969. Até então, havia sido campeã uma única vez, em 1940 (com o zagueiro Eduardo de Sáa, primeiro argentino a jogar pela seleção chilena), para ficar a apenas três títulos do já recordista Colo-Colo, originando assim o Superclásico chileno. Foi naturalmente base do Chile 3º colocado na Copa de 1962.

Ao Chile em 1962 faltou os goleadores de La U: Ernesto Álvarez, maior artilheiro do clube antes de Diego Rivarola, e Oscar Coll eram argentinos. Jorge Ghiso e Juan Carlos Oleniak também integraram os anos de ouro, que evaporaram com o golpe de Pinochet. Associada à esquerda, a Universidad de Chile entrou em decadência com direito a décadas sem títulos e rebaixamento da elite. O jejum acabaria em 1994 com um bicampeonato. No gol, Sergio Vargas, que defenderia o time por dez anos e também a seleção chilena. No meio, Leo Rodríguez (da Copa 1994), Oscar Acosta, Cristian Traverso (futuramente no Boca de Carlos Bianchi). E no ataque, Juan Carlos Ibáñez. O goleador-mor Diego Rivarola apareceria na década passada, fazendo boa dupla com Sergio Gioino – eis porque o Palmeiras contratou-o em 2005.

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Álvarez, líder do Ballet Azul base do Chile bronze em Copa do Mundo. Traverso, figura do renascimento de La U. Rivarola, maior artilheiro do clube. E o técnico Sampaoli, dos êxitos internacionais

UNIVERSIDAD CATÓLICA: a terceira força foi a que mais demorou para ser campeã. A taça, disputada desde 1933, veio enfim em 1949, ano em que os cruzados adquiriram a lenda José Manuel Moreno, descrito pelos hermanos mais antigos como mais habilidoso que Maradona: clique aqui. Foi colega do zagueiro Rodolfo Almeyda, que defenderia o Chile em três Copas América. O meia Miguel Montuori foi estrela do segundo, em 1954. Vendido à Fiorentina, fez dupla com Julinho Botelho no primeiro dos dois títulos italianos dos violetas. Foi vice da Liga dos Campeões de 1956 e jogou pela Itália.

A Católica foi quem mais deu combate ao Ballet Azul de La U, conseguindo seus dois títulos seguintes nos anos 60, com o atacante Ricardo Trigilli e o meia Néstor Isella. Também enfraqueceu-se nos anos Pinochet, ainda que nem tanto quando o rival do Clásico Universitario, segundo maior do país. A ponto de em 1997 encerrar jejum de dez anos, em total embalo argentino: Alberto Acosta (usado pela Argentina como cruzado), Néstor Gorosito e Ricardo Lunari marcaram os três gols da final com o Colo-Colo, e o artilheiro do campeonato foi outro hermano, David Bisconti.

O jejum teria durado pela metade se a Libertadores de 1993 não ficasse no vice. Juan Almada descontou no fim o 5-1 sofrido para o então campeão São Paulo no Morumbi. Ele e Lunari assustaram ao marcarem ambos antes dos 15 minutos no Chile, mas a reação terminou ali. Sergio Vázquez era o outro argentino titular e foi o outro cruzado convocado pela Argentina, indo à Copa de 1994. No time que poliu Lucas Pratto, Darío Bottinelli (presentes no último título, em 2010) e Darío Conca, outro argentino que se destacou foi o goleiro José Buljubasich: colega de Conca no título anterior, de 2005, passou mais de 1.300 minutos da campanha sem levar gols, sexta maior invencibilidade registrada a nível mundial. Naquele ano, foram semifinalistas da Sul-Americana.

OUTROS: Florencio Barrera, que jogou pelo Chile, esteve presente nos últimos anos bons do Magallanes, primeira potência nacional e que não é campeão desde 1938. Salvador Nocetti, convocado pela seleção chilena mas sem jogar, ganhou o único título do Santiago Morning, em 1942. Bem mais recente, Daniel Pérez passou pelas duas Universidades e vários outros, com sucesso maior no Cobreloa: esteve no último título do quarto maior campeão, em 2004, e foi mais um a defender o Chile. Pablo Abdala, que jogava pela seleção palestina, foi fiel por seis anos aos laranjas, cujo técnico no bivice da Libertadores era Vicente Cantatore. O quinto maior campeão é a Unión Española, vice da Libertadores de 1975 com o atacante Jorge Spedaletti, campeão também com o Everton em 1976 (único título da equipe de Viña del Mar entre 1952 e 2008, este por sua vez tendo o futuro gremista e santista Ezequiel Miralles de protagonista). Foi outro a jogar pela seleção chilena.

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Moreno, o cracaço do 1º título. Vázquez e Acosta, usados pela Argentina vindos da Católica; e Buljubasich, de 14 jogos seguidos sem tomar gols, invencibilidade registrada a nível mundial

A Unión já vendeu um argentino ao Barcelona em 1956, Alejandro Mur, e teve em Emanuel Herrera o artilheiro do Apertura 2012. Gustavo Canales, pré-convocado pelo Chile à Copa 2014, foi campeão em 2013. A rival dos hispanos é o Audax Italiano, sexto maior vencedor. O clube que revelou Franco Di Santo, ex-Chelsea e pré-convocado pela Argentina à Copa de 2014, obteve em 1946 o segundo de seus quatro títulos no embalo de Hugo Giorgi, artilheiro do ano anterior. O terceiro veio em 1948, com Juan Zárate campeão e artilheiro. Sebastián Sáez conseguiu a artilharia com os itálicos em 2012. A rivalidade imigrante também é tripartite: envolve o Palestino, cujo ícone máximo é Oscar Fabbiani.

Tio do ex-River Cristian El Ogro Fabbiani, também revelado no clube, Oscar foi três vezes seguidas artilheiro do campeonato nos anos 70, liderando o segundo e último título do time, em 1978. O primeiro veio em 1955 e as grande figuras eram o já citado zagueiro Almeyda e outro atacante, Roberto Coll, ex-reserva de La Máquina do River nos anos 40. Já a taça de 1978 contou também com o meia Ricardo Lazbal. O Palestino, contudo, ainda tem menos taças que as quatro do Everton e as três do rival deste, o Santiago Wanderers, que na verdade é de Valparaíso. A primeira, em 1958, teve o atacante Nicolás Moreno. Quem fez os gols na segunda, em 1968, foi Mario Griguol.

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Barrera (Magallanes), Nocetti (Santiago Morning) e Zárate (Green Cross)

A presença hermana também ocorreu em tragédia. O Green Cross obteve seu único título em 1945, com Juan Zárate sendo outro argentino campeão e artilheiro. A equipe verde obteve em seguida novos sucessos na artilharia, sempre com hermanos: Félix Díaz em 1950, Nicolás Moreno em 1955 e o ex-são paulino Gustavo Albella em 1957 e 1958.

Dois ídolos do Boca, ambos jogadores da Copa 1958, vieram em seguida, o goleiro Julio Musimessi e o volante Eliseo Mouriño. Mouriño estava no acidente aéreo que vitimou parte da equipe em 1961. A fuselagem do avião só foi encontrada em fevereiro desde 2015. O clube fundiu-se com o Temuco até 1984, se extinguindo depois. Pelo Temuco, aliás, o goleiro Javier Di Gregorio defendeu a seleção em 2007.

Ironicamente, o argentino apelidado de El Matador não passou da segunda divisão: Mario Kempes, que nos anos 90 retomou brevemente a carreira no Fernández Vial. Artilheiros no Chile mesmo, além dos mencionados, foram José Profetta (do extinto Santiago National, em 1941), José Ríos (O’Higgins em 1959), Juan Falcón (Palestino, 1960), Héctor Scandalli (Rangers de Talca, 1965), Felipe Bracamonte (Unión San Felipe, 1966), Gustavo De Luca (La Serena, 1988), Alberto Acosta (Católica, 1994), Gabriel Caballero (Antofagasta, 1995 – jogou pelo México a Copa 2002), Mario Véner (Santiago Wanderers, 1996), Diego Rivarola (não por La U e sim pelo Santiago Morning em 2009), Matías Urbano (Unión San Felipe, 2011), Enzo Gutiérrez (O’Higgins, 2012), Javier Elizondo (Antofagasta, 2013) e Luciano Vázquez (Ñublense, 2013).

Por fim, eis os hermanos campeões como técnicos: Salvador Nocetti (no primeiro do Audax, em 1948), Martín García (primeiros do Everton, 1950 e 1952), José Pérez (primeiro do Wanderers, 1958), Miguel Mocciola (Católica, 1961), Alejandro Scopelli (La U, 1967), Cantatore (primeiros do Cobreloa, 1980 e 1982), Borghi (Colo-Colo no Apertura e Clausura 2006 e idem em 2007), Barticciotto (Colo-Colo, Clausura 2008), Hugo Tocalli (Colo-Colo, Clausura 2009), Juan Antonio Pizzi (último da Católica, 2010), Sampaoli (La U, Apertura e Clausura 2011 e idem 2012), Berizzo (primeiro do O’Higgins, Apertura 2013) e Galvagnoli (primeiro do Cobresal, Clausura 2015).

Veja também:

Argentinos de Chile, Colômbia, Uruguai e Brasil

Esnobado pela seleção argentina, Zárate defenderá a chilena

40 anos da 2ª parte do tetra do Independiente na Libertadores (foi sobre o Colo-Colo, em 1972)

A batalha de Santiago (a tensa semifinal entre Boca e Colo-Colo na Libertadores colocolina, em 1991)

Meia década do 3º e último título nacional do Argentinos Jrs (com conexões chilenas)

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Giorgi (Audax Italiano), Moreno (Santiago Wanderers), Spedaletti (Unión Española), Fabbiani (Palestino), Cantatore (Cobreloa) e Miralles (Everton): argentinos campeões e reis nos maiores abaixo do trio principal

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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