Colaboraram Caio Brandão, Júnior Marques e Alexandre Silva
Praticamente em todas as listas de convocados para a Copa do Mundo ocorre uma surpresa. Na Argentina não é diferente. Contudo, alguns nomes chegam a surpreender os torcedores e a população em si.
Casos como o de Ariel Garcé, em 2010, e de José María Basanta, em 2014, são os mais icônicos, muito por conta do avanço das redes sociais, que protagonizaram alguns “memes” a respeito com as respectivas convocações, já que eles viajariam apenas para viajar – por isso do ‘traé Alfajores’. Mas desde os primórdios das convocações houveram sentidas ausências, nomes estranhos e outros “causos”.
Abaixo nós listamos, Copa a Copa, cada uma das peripécias dos treinadores argentinos durante toda a história dos Mundiais. Vale ainda, como complemento, a leitura da matéria que publicamos ainda em março sobre as previsões furadas da Panini para a seleção argentina para os álbuns da Copa – muitas delas, prejudicadas por algumas dessas convocações estranhas (hoje sabemos que Ramiro Funes Mori, Enzo Pérez e Mauro Icardi foram as baixas da vez).
2018
Quatro nomes chamam atenção para a convocação de Sampaoli. O primeiro, por méritos: Franco Armani ganhou a briga com Nahuel Gúzman. Mais do que justo, não só pelo que vem fazendo com a camisa do River, como também fez pelo Atlético Nacional, da Colômbia. Se não fosse lembrado, possivelmente estaria na lista de José Pekerman, na seleção cafetera.
Outros três são insólitos. Cristian Ansaldi, do Torino, ganhou a vaga entre os defensores. Muito por jogar nas duas laterais. Ganhou a vaga sobre Leandro Paredes, que esteve presente em todas as convocações de Sampaoli e não vai à Copa; inicialmente, somente seis jogadores defensivos estariam na Copa. Talvez por isso o nome de Ansaldi.
Outro nome é o de Maxi Meza, jogador do Independiente esteve apenas em uma convocação. Isso mostra que Sampaoli não adota o critério de merecimento por conta de outras situações. Para aumentar o êxtase do torcedor do Rojo, nem os racinguistas Lautaro Martínez e Ricardo Centurión (este último dado como nome praticamente certo) vão para a Rússia.
Por fim, Gonzalo Higuaín. Grande vilão da Argentina nas últimas três competições internacionais, o atacante da Juventus ganhou a queda de braço contra Mauro Icardi. Curiosamente, o atacante não marcou um gol sequer desde que Sampaoli assumiu. Vai por ser amigo do Messi?
2014
O principal nome icônico foi o de Basanta. O jogador começou a ser convocado em março de 2013, para um duelo contra a Bolívia, em La Paz, pelas eliminatórias. Por ser versátil, podendo também jogar na lateral esquerda (como ocorreu na partida contra o Uruguai, também pelas eliminatórias), acabou ocupando o lugar de Nicolás Otamendi.
Os argentinos não perdoaram, zombando da convocação com mensagens de ‘Basanta, Traé Garoto”, uma alusão que viria ao Brasil apenas a passeio e para comprar chocolates (parodiando piada já usada na Copa anterior, com Garcé e seus alfajores). Antes da Copa do Mundo, foram dez partidas. No Mundial, entrou no lugar de Marcos Rojo, lesionado, durante a prorrogação do duelo contra a Suíça. Justamente na lateral-esquerda.
Enzo Pérez também foi surpresa de Sabella, principalmente por ter entrado no lugar de Éver Banega, um dos poucos que todos os veículos de imprensa davam como certo. Isso porque Pérez havia jogado apenas 15 minutos durante toda a Eliminatória. Tal convocação, a princípio, pegou muita gente de surpresa, inclusive, internamente, já que Lionel Messi era tido como um dos principais amigos do volante.
Antes criticado, Enzo Pérez calou a boca dos críticos durante a Copa do Mundo e fez um excelente Mundial, sendo uma das figuras no meio campo. Ao lado dos também questionados Rojo e Sergio Romero (com Agustín Marchesín e Willy Caballero ambos em boa fase na época e ignorados), acabou sendo um dos principais coadjuvantes daquela equipe, que acabou com o vice-campeonato Mundial.
2010
‘Garcé, Traé Alfajores’. A brincadeira com o jogador do Colón de Santa Fé gerou inúmeras gozações. Pode se dizer que o bom humor dos torcedores – pelo menos que viralizaram – começou naquele ano. Curiosamente, ele entrou na vaga que poderia ter sido de Javier Zanetti, recém-campeão com a Internazionale na única tríplice coroa do futebol italiano (com o time de Milão encerrando jejum de 45 anos na Liga dos Campeões). El Pupi não foi ao Mundial após as apresentações contra Brasil e Paraguai, nas Eliminatórias, que abriram a crise do time de Maradona.
Em entrevista ao site ‘La Página Millionaria”, em 2017, Garcé revelou os motivos de ter sido convocado para a Copa do Mundo na África do Sul. A única convocação antes do Mundial foi em um amistoso contra o Haiti, em Neuquén. “Os haitianos estavam com gorros e luvas e não queriam jogar (por conta do frio). Nós ficamos ali em silencia e eu comecei a falar. Disse que aquele momento era como se fosse um jogo de Copa do Mundo, que era a Argentina jogando, que seria uma boa oportunidade”. Isso teria animado os rivais, que decidiram ir para o jogo.
Outros nomes também foram insólitos em 2010. Jonás Gutiérrez, ainda que fosse uma figura certa entre os convocados por Maradona, não tinha a credibilidade da torcida (e “roubou” lugar de Esteban Cambiasso, outro daquela Inter vitoriosa). Martín Palermo, idem. Só foi ao Mundial por ter feito o gol contra o Peru, pelas eliminatórias da Copa do Mundo, na penúltima partida, com direito a peixinho de Maradona na comemoração. Pior para Ezequiel Lavezzi.
2006
O torcedor argentino se questiona até hoje o porquê de Juan Román Riquelme ter sido substituído por Julio Cruz na partida contra a Alemanha, nas quartas de final daquele Mundial. Principalmente por ter o ainda garoto Lionel Messi no banco de reservas. Cruz é justamente um dos personagens da Copa da Alemanha.
Segundo lembra a Revista El Gráfico, o jogador da Inter de Milão não vinha sendo lembrado por Pekerman, ainda que viesse de bons momentos como goleador. Além disso, havia renunciado à seleção anos antes, desgostoso com a não convocação para 2002. Mas ao fim, acabou sendo lembrado para 2006, para a decepção de muitos. Lionel Scaloni, meia do West Ham, foi outra surpresa, principalmente por ter jogado apenas seis vezes pela Seleção.
O fato é que vários outros nomes também não foram convocados, como Javier Zanetti, Martín Demichelis, Juan Sebastián Verón e Andrés D’Alessandro. A ausência de Germán Lux, até então titular da Seleção, também surpreendeu, ficando fora, inclusive, da lista dos 23 jogadores, dando lugar ao jovem Oscar Ustari, que nunca havia sido convocado. Lux havia acabado de sofrer com o suicídio de um irmão.
2002
Carrasco do Brasil na Copa do Mundo de 1990, Claudio Caniggia pintou como o nome mais insólito daquele Mundial. Após uma Eliminatória praticamente perfeita (sem o veterano), com apenas uma derrota em 18 jogos – perdeu por 3×1 para o Brasil, no Morumbi (Alex e dois de Vampeta; Almeyda) – ninguém esperava uma surpresa na lista. Mas a Argentina tinha como técnico Marcelo El Loco Bielsa.
Caniggia atuava pelo Rangers, da Escócia, quando foi convocado por Bielsa para os amistosos contra País de Gales e Camarões. E acabou ganhando a vaga. Nomes como Javier Saviola, até então em boa fase em um Barcelona meia-boca, e Juan Román Riquelme, do Boca bi da Libertadores, acabaram sendo preteridos. Na Copa do Mundo, Caniggia conseguiu ser expulso, no banco de reservas, e viu a Argentina cair na fase de grupos da Copa.
1998
O nome de Abel Balbo pode ser considerado como uma das principais surpresas em convocações da Seleção Argentina nos últimos anos (tudo bem, não supera Garcé). Isso por conta do largo período fora das convocações de Passarella. E especialmente por ter renunciado em 1996, irritado após diversas viagens com conexões para ser relacionado e não entrar em campo.
O atacante da Roma, mesmo terminando exatamente na temporada 1997-98 pela primeira vez sem ser o artilheiro do elenco (e sim um jovem Totti), acabou ganhando a vaga de Christian Bassedas, que esteve presente em várias listas anteriores; e de Caniggia, que vinha de várias boas partidas por um Boca em má fase. Com a convocação, Balbo foi para a sua terceira Copa do Mundo, atuando por apenas 30 minutos.
1994
Na Copa do Mundo em que ficou marcada pela saída de Maradona ao lado da enfermagem para o exame antidoping, um jogador poderia ter ajudado a Argentina após o baque do corte do ídolo argentino. Darío Franco esteve praticamente em todas as convocações de Alfio Basile, sendo, inclusive, o autor do primeiro gol do ciclo do treinador.
Era uma peça chave, com direito a dois gols no Brasil na Copa América de 1991. Até que uma entrada do boliviano Marco Sandy o tirou da Copa América de 1993. Já em 1994, chegou a ser titular na derrota para o Equador, por 1-0, e também contra Israel – o adversário cabalístico da seleção. Contudo, no dia 2 de junho, acabou sendo cortado por Alfio Basile. Até viajou para os Estados Unidos, mas para ser mero sparring nos treinamentos.
Em seu lugar, um velho conhecido do futebol brasileiro: o então jovem Ariel Ortega, que entrou na lista. Aquela que foi a primeira de três Copas do Mundo na qual disputou o meio-campista, ícone do River. Há quem diga que ele também colaborou para a ausência do lateral Carlos Mac Allister, do Boca; o atual ministro dos esportes do país, de retrospecto invicto pela seleção (três partidas no fim de 1993, incluindo as duas da repescagem, o suficiente para coloca-lo no álbum da Copa), levou um baile do Burrito em Superclásico no primeiro semestre – o Millo venceu na Bombonera pela primeira vez em oito anos.
1990
Ao final de maio de 1990, Jorge Valdano era um nome certo na lista dos 22 jogadores que foram à Itália em busca do tricampeonato. Detalhe: ele havia parado de jogar ainda em 1987. Mas ante à safra ruim e à insistência da dupla Maradona/Carlos Bilardo em ignorar Ramón Díaz (de bom desempenho no Monaco e na Inter campeã italiana em 1989 com um recorde de pontuação nos anos dourados da Serie A), El Filósofo foi convencido em retomar a forma especialmente para jogar a Copa.
Foram seis meses de treinamento que todos os argentinos viam como certo o nome do atacante para a Copa do Mundo. Chegou a disputar alguns amistosos e aparecer no álbum, mas acabou sofrendo uma lesão na perna esquerda, o que colocou em xeque a sua participação. A certeza veio mesmo no dia 20 de maio, quando Bilardo anunciou o corte, com Gabriel Calderón como titular. Se no Brasil, a expressão “nadou, nadou e morreu na praia” é comum, na Argentina, é quase certo, principalmente entre os mais velhos, atribuir essa frase ao hoje dirigente do Real Madrid.
Outra ausência foi a de Julio César Falcioni, do América de Cali. O narcofútbol colombiano era forte na época e fornecera Sergio Goycochea, do Millonarios de Bogotá, como terceiro goleiro. Aí o reserva imediato Luis Islas, irritado com a titularidade de Nery Pumpido, pediu para sair. E o próprio Pumpido foi cortado após fraturar-se na segunda partida. E nem assim o experiente Falcioni entrou, a despeito de alguns amistosos pela seleção na virada de 1989 para 1990: Goycochea foi acompanhado por Fabián Cancelarich (Ferro Carril Oeste) e Ángel Comizzo (River), dois dos jogadores que, a despeito de convocação a um torneio, jamais defenderam a seleção em campo.
1986
O bicampeonato mundial veio em 1986. Ainda que lembremos mais de Maradona do que dos outros 21, houve algumas convocações surpreendentes, como os nomes de Héctor Enrique e Miguel Zelada. Enrique nunca havia sido convocado antes. Zelada, por sua vez, vivia no México desde 1978 e jamais pensou em atuar pela Seleção. Terminou como anfitrião, pois a Argentina concentrou-se nas instalações do clube dele, o América.
Sorte deles, que hoje podem ser um dos poucos a poderem tocar na taça de campeão do mundo sem luvas. Por sua vez, Alejandro Sabella, Oscar Dertycia, Miguel Angel Russo, Enzo Trossero, Ubaldo Fillol (que experimentava o inverso de 1978) e Juan Barbas, presentes nas eliminatórias e/ou no grosso do ciclo pós-1982, não foram convocados.
A situação envolvendo Zelada foi tão bizarra, que a revista El Gráfico, em sua edição especial, colocou com letras destacadas: “Quem é Zelada?”. Trossero, capitão do Independiente campeão da Libertadores e do Mundial em 1984, também sentiu-se injustiçado, tanto que em outra manchete da revista disse que “Bilardo me enganou”.
1982
Menotti acabou fazendo Santiago Santamaría, em 1982, a voltar atrás de uma renúncia da seleção. O jogador foi um dos 22 jogadores daquele Mundial na Espanha, que marcou a estreia de Maradona em Copas do Mundo – foi cortado em 1978.
A curiosidade é que o jogador sequer havia entrado na lista dos 25 que iniciaram os treinamentos, já que havia deixado a seleção por conta de problemas particulares.
Pior para Enzo Bulleri, Jorge Gordillo, Edgardo Bauza e Raúl Chaparro, que foram cortados.
1978
Noberto Alonso, em 1978, foi uma surpresa positiva. Muito por conta da pressão popular e da imprensa pelo ídolo do River, a acumular uma montanha de gols no primeiro semestre de 1978 – enquanto a concentração dos pré-convocados, nos quais ele não se incluía originalmente, já havia iniciado desde fevereiro.
Alonso era capitão da Seleção em 1975, mas começou a ficar fora de algumas convocações, o que colocou a dúvida se ele estaria ou não.
Segundo o próprio atacante, houve uma pressão, inclusive, do vice-presidente da FIFA, o argentino Lacoste. Menotti, por sua vez, nega. E deverá levar essa negativa até o caixão. Pior para Maradona e Ricardo Bochini, que perderam para o “Beto” uma das vagas de meio-armador. Em compensação, outro nome do River desejado por público e mídia ficou de fora: Juan José López. Melhor para Osvaldo Ardiles, então longe do prestígio que viria a adquirir: foi um dos mais vaiados pelo público.
No gol, Fillol não jogava pelo país simplesmente desde 1974 e “furou” a fila para a titularidade; no ciclo pré-Copa, a posição era de Hugo Gatti. Ele sofrera lesão nos fins de 1977, mas já estava em plena atividade na época da competição e nem como reserva foi – assim como nenhum outro jogador do Boca, então campeão da Libertadores.
1974
Após não ter se classificado para a Copa do Mundo de 1970, a Argentina chegou em 1974 aos trancos e barrancos. Enrique Omar Sívori foi o responsável a levar o time ao Mundial, mas não comandou o time na Copa, como já prometera anteriormente. Assim, ficou ao cargo de uma junta técnica: Vladislao Cap, José Varacka e Víctor Rodríguez, que sequer se davam ao trabalho de entenderem entre si.
Após uma lesão de Roque Avallay durante o amistoso contra a Holanda, na derrota por 4-1, três opções surgiram para substituí-lo. Os favoritos eram Carlos Aimar ou Santiago Santamaría. Mais precisamente para o primeiro, que todos o viam como grande responsável por poder substituir Avallay.
Mas a vaga ficou mesmo com Carlos Babington. O meio-campista do Huracán chegou à Alemanha no mesmo dia em que o treinador confirmou os titulares para a partida contra a Polônia. Na verdade, o próprio Babington acabou entrando nessa lista dos 11, para surpresa ainda maior de todos. Pior para Carlos Guerini: autor do golaço que assegurou a classificação, sobre o Paraguai, Chupete mostraria adiante com três títulos espanhóis no Real Madrid que sua ausência teve doses extras de insensibilidade.
1970
Não disputou. Primeira vez que ficou fora da Copa por conta de uma Eliminatória, quando foi eliminado pelo Peru.
1966
As ausências de Alberto Rendo e Roberto Telch, destaques campeões da Copa das Nações dois anos antes; de Raúl Bernao e Vicente de la Mata, que vinham de dois títulos da Libertadores com o Independiente; além de Daniel Onega, maior artilheiro de uma edição da Libertadores naquele mesmo ano (em que foi encerrada ainda em abril) também surpreenderam na lista final. Talvez eles pudessem ter ajudado o time de Rattín a conquistar o título na Inglaterra. Para o gol, o jovem Miguel Sanotoro já tinha experiência de ser peça-chave em duas Libertadores vencidas pelo Independiente. Mas, mesmo, diante da lesão inoportuna do futuro vascaíno Edgardo Andrada, preferiram para a reserva de Antonio Roma quem já era reserva no próprio clube: Hugo Gatti.
Vale dizer que o técnico Juan Carlos Lorenzo, comandante de 1962, reassumiu a seleção a um mês da Copa de 1966 (Osvaldo Zubeldía, desentendido com a AFA, renunciara e focaria então somente no seu Estudiantes, revolucionando o clube na metade final da década), promovendo substanciais alterações em quem vinha sendo aproveitado no meio-tempo.
1958 e 1962
Após ausências em 1938, 1950 e 1954, a Argentina só voltou a um Mundial em 1958 – o primeiro desde 1930 para o qual, enfim, levaria força máxima… ou quase: as regras da época não permitiam a convocação de jogadores que atuavam no exterior. Por isso, nomes como Omar Sívori, Antonio Angelillo, Humberto Maschio (todos do ataque jovem, irreverente e arrasador da Copa América de 1957) e Alfredo Di Stéfano (sem comentários) não puderam estar presentes nem na Suécia e no Chile, na Copa de 1962, pelo país natal; no Chile, Sívori, Maschio e Di Stéfano foram convocados pelas seleções europeias que adotaram.
Outra ausência similar em 1958 foi a do goleiro Rogelio Domínguez, colega de Di Stéfano no Real Madrid. Ele esteve na de 1962, embora fosse no River reserva de Amadeo Carrizo, que por sua vez, traumatizado com as vaias de 1958, abdicou da convocação. Aliás, para 1966 a seleção chamaria novamente seu reserva no River (dessa vez, Hugo Gatti) e não o próprio Carrizo.
1954
Por não ter disputado a Copa América em 1953, ainda com resquícios de quatro anos atrás e por outros boicotes da AFA, também não disputou esse Mundial. Fontes sustentam que por proibição do próprio presidente Perón, receoso de um vexame sem astros ainda exilados. A política de não convocar quem atuasse no exterior era inquestionável.
1950
Voltou a não disputar, desta vez, em partes, por conta de uma briga com a CBD, a CBF da época, que impediu que clubes brasileiros enfrentassem os argentinos. Por conta disso, não jogou a Copa América de 1949, também no Brasil. Historiadores colocam esse como o marco da rivalidade entre as duas seleções, que ficaram dez anos sem se enfrentar depois de cenas lamentáveis na Copa América de 1946. Outra motivação seria a mesma de 1954: o receio de ir ao torneio sem muitos astros exilados no Eldorado Colombiano ou na Itália, destinos principais após o insucesso da famosa greve de 1948, e passar vexame.
1938
Não participou por boicote à Fifa, já que queria ser a sede daquele Mundial, com o discurso de que deveria haver um revezamento entre Europa e América. Uma pena: sua única adversária nas eliminatórias seria Cuba, já na França, em Bordeaux – conforme sorteio realizado já em março de 1938, agendando a partida para 29 de maio. E os convocados prometiam: Juan Estrada e Francisco Fazioli (goleiros), Oscar Montañés, Lorenzo Gilli, Jorge Alberti e Segundo Ibáñez (zagueiros) a futura lenda são-paulina Antonio Sastre, José María Minella, Pedro “Arico” Suárez e Cecilio Martínez (volantes e laterais, Martínez passaria pelo Fluminense), Carlos Peucelle, Adolfo Pedernera, José Manuel Moreno, Alberto Zozaya, Enrique “Chueco” García, Arsenio Erico e os futuros vascaínos Bernardo Gandulla e José María Dacunto (meias e atacantes), sob batuta do húngaro Emérico Hirsch.
Maior artilheiro da história do campeonato argentino, Erico, curiosamente, era paraguaio – e jamais pisou em campo em jogos de seleções nacionais seja pela terra natal, seja pela Albiceleste. Zozaya ainda é o segundo maior artilheiro do Estudiantes, Moreno e Pedernera são vistos como os maiores craques argentinos antes de Maradona… Lamenta-se em especial pois posteriormente muitos deles já haviam se ausentado de 1934 e novos fatores extracampo impediriam que jogassem Copas nos anos 40. Apenas dois tiveram o gostinho, ambos ainda na seleção de 1930 – Peucelle (futuro descobridor de Di Stéfano, que por sua vez jurava que Moreno e Pedernera eram superiores ao próprio Maradona) e Suárez. A qualidade para 1938 seria tamanha que goleadores do naipe de Bernabé Ferreyra, Evaristo Barrera e Herminio Masantonio, com recordes respectivamente por River, Racing e Huracán, teriam se ausentado do mesmo jeito!
1934
Logo após a primeira Copa do Mundo, não faltam polêmicas e nomes estranhos à lista de convocados para um Mundial. Em 1934, por exemplo, a Argentina não conseguiu oficializar o profissionalismo a tempo. Assim, somente jogadores amadores foram convocados, fazendo a Argentina ter sua pior campanha em sua história em Mundiais: eliminada na primeira partida. Para ser ter uma ideia do nível não-condizente em qualidade disponível, somente um dos convocados defenderia a seleção nos anos seguintes – o lateral-esquerdo Arcadio López, que até passaria pelo Flamengo depois.
1930
Curiosamente, para a primeira Copa do Mundo, não houve tantas ausências marcantes. Há quem diga que Bernabé Ferreyra, maior goleador do futebol mundial na década de 1930, poderia estar presente na lista. Mas aquele era o seu primeiro ano com a camisa do Tigre – e a bem da verdade teve a oportunidade de um amistoso pré-Copa, que desperdiçou jogando muito mal após, sem avisar a ninguém, ter no mesmo dia doado sangue à irmã. Se não fosse pelo amadorismo da Associação Argentina, poderia ter jogado a Copa de 1934. Para a de 1938, ele já estava à beira da aposentadoria precoce, bichado após anos de pancadas (inclusive, ficou mesmo de fora da lista informada acima para aquele mundial).
Domingo Tarasconi, campeão da Copa América em 1925, 1927 e 1929 e artilheiro das Olimpíadas de 1928, na qual fora medalha de prata, também poderia ter jogado. Goleador do Boca, marcou 193 gols na carreira e obteve cinco artilharias no campeonato argentino, algo só igualado por Maradona. Mas lesões pesaram para a sua ausência em 1930. Outro superartilheiro dos anos 20 e carrasco do Brasil na Copa América de 1925, Manuel Seoane já estava em descrédito com a seleção por ter desistido de ir àquelas Olimpíadas por ciúmes que sentia da esposa, que ficaria em Buenos Aires. Mesmo que depois dos Jogos de Amsterdã conseguisse um hat trick sobre o Barcelona (em jogo não-oficial da seleção, vencido por 4-1) e anotasse o do seu Independiente em 1-1 com o Chelsea ainda em 1929.
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