Libertadores

Saiba como joga o Argentinos Jrs, adversário do Flu na Libertadores

O fato de o Argentinos Jrs. ter de conquistar um resultado favorável contra o Fluminense para seguir vivo na Libertadores fez com que muitos acreditem que a equipe de La Paternal vá partir para cima do tricolor carioca na partida decisiva do grupo. Mas isso não é uma certeza. O Bicho não é programado para atacar, mas sim para esperar e matar o adversário no contra-ataque.

Uma simples olhada para os números confirma isso. Pelo Clausura, em 10 jogos o Argentinos Jrs. marcou 8 gols (média de 0,8 por jogo), e sofreu apenas 4 (média de 0,4). O empate é disparado o resultado que a equipe mais obtém: foram 6, contra 3 vitórias e uma derrota. A equipe não foi vazada em 6 das 10 partidas, e não tomou mais de um gol nenhuma vez. Mesmo ocupando um discreto nono lugar, foi a última a perder a invencibilidade no Clausura, contra o Godoy Cruz no último sábado, quando poupou vários titulares.

O segredo da equipe é contra-ataque. O Argentino Jrs. gosta de esperar o adversário, plantando seus 3 zagueiros e 4 volantes para esperar o inimigo. A equipe não joga exatamente na retranca, mas marca no sistema de meia-pressão, buscando tomar a bola ainda na meia cancha para iniciar o contra-ataque mais perto do gol.

O coração da equipe é a dupla de volantes centrais formada pelo excelente Mercier e Basualdo ou Laba. São jogadores de alto poder de marcação, capazes de roubar a bola e fazer passes verticais, iniciando com qualidade o sistema ofensivo de sua equipe. Quem quiser vencer o Bicho terá de prestar atenção à dupla. Vale também observar os alas (Prosperi e Hernandez), que também marcam bastante, mas quando sua equipe retoma a posse da bola se lançam rapidamente pelos lados, buscando as costas dos laterais adversários. São sempre candidatos a receber os passes precisos dos volantes centrais, principalmente Mercier.

E quando avançam, os volantes do Bicho nunca estão sozinhos. No 3-4-3 da equipe, Niell e Rius são os atacantes pelos lados. Os dois velozes atacantes se juntam aos alas para aterrorizar as defesas adversárias no contra-ataque. Em particular a dupla formada por Rius e o chileno Hernandez pela esquerda é responsável pela maior parte dos gols da equipe. As tabelas entre Niell-Prosperi e Rius-Hernandez são responsáveis por alimentar o paraguaio Salcedo, o homem-gol da equipe.

Esse tipo de jogada deu ao Bicho 6 de seus 8 gols no Clausura, a maioria deles surgida em jogadas pelo lado esquerdo do campo, com Rius e Hernandez. Confira aqui e aqui gols marcados pela equipe no atual torneio a partir de contra-ataques, preferencialmente explorando o lado esquerdo de seu ataque. Aqui, a grande notícia para o Flu é a lesão de Hernandez, que deverá ser substituído por Escudero, ex-Corinthians, sólido na marcação mas com dificuldades no apoio.

Além do contra-ataque, a outra fonte de gols do Bicho é a bola aérea, que rendeu os outros 2 gols da equipe, em escanteios e as faltas laterais. O Bicho têm três zagueiros altos e bons cabeceadores, mas também possui sua arma secreta: Franco Niell. Com apenas 1,63, o atacante não chama a atenção. Mas nas bolas paradas se desloca velozmente para tentar alcançar a bola antes do primeiro pau. Com frequência a alcança, desviando-a na diagonal, aproveitando o fato de ocupar um espaço pouco vigiado. Atuando assim, marcou 4 gols de cabeça em 2011, um número muito alto, em particular por sua altura reduzida. Confira aqui um gol de Niell marcado dessa maneira.

O vídeo acima mostra, por outro lado uma fraqueza da equipe, que parece ser propensa a ser vítima de suas próprias armas. Contra Vélez (acima) e Godoy Cruz (aqui), a equipe tomou gols em contra-ataques, com sua defesa tendo evidentes dificuldades para reagir quando pega de surpresa. Quando o adversário consegue roubar a bola logo na saída de jogo do Bicho, seu sistema defensivo se vê em evidentes dificuldades. E como seus três zagueiros não são velozes e tem dificuldades em se deslocar lateralmente, tentar aproveitar os espaços nas costas dos alas também é uma alternativa promissora.

Além disso, o time não sabe jogar com a necessidade de agredir o adversário. Se o Fluminense se encontrar em situação de esperar o adversário terá grande vantagem. Quando isso acontece o Bicho pouco consegue fazer além de alçar bolas na área de qualquer parte do campo. Um bom sistema defensivo conseguirá conter essa estratégia sem maior dificuldade.

A principal forma de bloquear o Argentinos Jrs. é conter seu contra-ataque. Para vencer o Bicho é indispensável ter um bom sistema de cobertura, principalmente pelos lados. Como a equipe não tem nenhum armador, depende dos passes de Mercier e Laba para os alas e atacantes pelos lados. Assim, é imprescindível que quando o Fluminense perder a bola, seus meiocampistas imediatamente se atirem à marcação dos volantes adversários. Além disso, uma marcação forte pelos lados do campo (particularmente necessária uma que costuma jogar com laterais soltos) é  ainda mais essencial para vencer a equipe de La Paternal.

O Argentinos Jrs. treinou hoje com a equipe que deve enfrentar o Fluminense, na partida que vale o ano para o Bicho: Navarro, Sabia, Torren e Gentiletti; Prosperi, Mercier, Basualdo e Escudero; Niell, Salcedo e Rius.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

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