Categories: Especiais

Rubén Bravo: Botafogo já teve o maestro do Racing

Até a Recopa 2025, a ausência de qualquer duelo que não fossem dois amistosos revela muito: até redenções recentes, Botafogo e Racing tiveram anos e anos de história bastante marcada pela “dor de já terem sido e não mais serem”, para parodiar versos celebrizados pelo ilustre torcedor racinguista Carlos Gardel. Exceto pela década de 60 e pela catarse continental de 2024, foi raríssimo algum momento em que as duas torcidas pudessem comemorar simultaneamente: quando os dois não estavam em jejum, ao menos um lado vivia seca. O sofrimento se impregnou tanto na identidade que as duas equipes chegaram a constar no Top 13 de clubes mal-assombrados catalogados em 2007 pela revista argentina El Gráfico, em matéria que repercutiu no Brasil ao notar-se que até os hermanos já estavam sabendo que hay co­sas que só­lo pa­san en el Bo­ta­fo­go.

Uma dessas coisas que só acontecem com o Botafogo foi como um celebrado centroavante argentino, embora tivesse talento reconhecido em General Severiano, terminou aquém do esperado. Pode-se dizer que o único fracasso da carreira de Rubén Norberto Bravo foi o time carioca: antes, brilhou na terra natal; depois, brilhou no Chile e foi campeão francês. Como técnico, foi o primeiro adversário do iniciante jogador Maradona – e ganhou. Um dos famosos fãs de Bravo foi o superartilheiro Luis Artime, que sempre foi torcedor assumido do Racing embora ironicamente fosse carrasco frequente do clube, inclusive pelo rival Independiente. Segundo depoimento dado em 2014 por Artime, Bravo cabeceava “como os deuses”. E dizia já em 1980 que “o ideal seria que todos os gols do futebol fossem tão bonitos como os que vi garoto fazer meu ídolo, Rubén Bravo”.

Em 1969, pelos vinte anos do primeiro título de um histórico tricampeonato do Racing, a revista El Gráfico assim descreveu El Maestro – ou El Troesma, para os íntimos, em humorística inversão (de sílabas) como na do músico belga Stromae: “como jogava Rubén? Como os anjos. Tinha os pés alados, o peito do pé acolchoado para repousar a bola, esbofeteá-la suavemente e despedir-se dela em uma carícia. E na testa tinha outro peito do pé. Uma década antes de Pelé, chegou a fazer realidade o que Vicente Feola disse um dia do genial moreno do Santos: ‘dribla com a cabeça’. Porque EL TROESMA tinha um domínio de jogo de cabeça tão admirável que com a bola ali acima fazia de tudo: gols, passes, condução, até drible aéreo”.

O melhor atacante argentino de 1950

Embora algumas fontes apontem que o filho de Francisco Bravo e María Genevois teria nascido em Rosario ou em Santa Fe, Rubén Bravo veio ao mundo no interior cordobês mesmo. Nascido em 16 de novembro de 1923 na cidade de Cruz Alta, começou em um dos principais clubes dela, o Everton. Pôde jogar nesse time (que revelaria também Darío Franco e Eduardo Berizzo, ambos vice-campeões de Libertadores com o Newell’s, e Juan Pablo Vojovda) até os 16 anos, chegando a participar de jogos sub-18. A família veio a se instalar em Rosario e Bravo, incorporado pelo Rosario Central. Que utilizou-o por três partidas no sub-19, suficientes para notar o diamante bruto que chegara em Arroyito. Bravo não seria apelidado de El Maestro à toa.

Visto brasileiro de Rubén Bravo esclarece que nasceu na cordobesa Cruz Alta

Ele estreou em 27 de abril de 1941 (portanto, com 18 anos ainda incompletos) pela equipe adulta do Central, já como titular. A precocidade só demorou dois minutos para ser avalizada: foi quando o adolescente abriu o placar sobre o Tigre, pela 5ª rodada do campeonato argentino daquele ano. No lance, concluiu cruzamento de outro cordobês, Juan Carlos Heredia, pai de futuro ídolo do Barcelona naturalizado pela seleção espanhola. O adversário jogava em casa e virou para 4-1, mas a estrela de Bravo não se mostrou fortuita: aos 36 minutos do segundo tempo, marcou o outro gol rosarino, descontando para honroso placar final de 4-2. No jogo seguinte, estreou sua arma mais famosa, o cabeceio, para aproveitar uma catada de borboletas do goleiro do Independiente, embora novamente não evitasse derrota; o Rojo venceu por 3-2 em jogo de duas viradas no placar.

Exigir que aquela andorinha ainda sem maioridade fizesse verão no inverno que (literalmente) se avizinhava era demais. No decorrer da temporada, o Central acabou sofrendo seu primeiro rebaixamento; sintomaticamente, a estrela internacional Raimundo Orsi (campeão carioca com o Flamengo após ter vencido a Copa de 1934 pela Itália) perdera quatro dos cinco jogos em que foi tolerado como treinador auriazul. Bravo, ao menos, deixou seis gols (e duas assistências) em treze partidas, sendo o vice-artilheiro do plantel. O artilheiro fora Waldino Aguirre. No século XX, El Torito Aguirre foi o único profissional a superar Mario Kempes em gols pelo Central. Mas ali precisara de 28 jogos para somar dez golzinhos.

O retorno foi imediato. Bravo mais fez gols (foram 18) do que jogou (16 vezes) e sua equipe embalou com goleadas como 12-1 para cima do Nueva Chicago ou 9-0 sobre o Duck Sud para ser campeã da segundona de 1942 com rodadas de antecedência e oito pontos de vantagem (em tempos em que vitórias valiam dois, e não três pontos), em supremacia que fez a AFA autorizar que o Temperley cedesse sua condição de mandante para a rodada final com os canallas – travada em Rosario mesmo, tal como no primeiro turno. Na reaparição na elite, em 1943, El Maestro ainda era menor de idade pela legislação argentina na época, mas se mostrava gente grande: em 26 jogos, despejou dezesseis gols (sendo o artilheiro da sua equipe) e oito assistências. Elas de fato incluíram algumas de cabeça, como nos 3-3 com o San Lorenzo ou em derrota de 6-3 para o Gimnasia. Foi também dele o passe – do jeito “normal”, com os pés – para o único gol de Clásico Rosarino vencido dentro da casa do Newell’s.

Em 1944, Bravo foi novamente o artilheiro centralista, agora com dezenove gols (e três assistências) em 28 jogos. O problema é que o time custava a se dar bem na primeira divisão: lanterna em 1941, apenas 11º de dezesseis times em 1943, 9º em 1944 e então 12º em 1945, quando a ameaça de novo rebaixamento foi palpável. Nessa luta, Bravo contribuiu com oito gols e sete assistências em 21 jogos, com um desempenho especial para cima do Racing, ao marcar duas vezes em goleada de 4-1. O time de Avellaneda era, por sinal, uma de suas vítimas frequentes: ainda em 1941, o atacante já havia marcado (de cabeça) para abrir um 2-1; em 1943, dera o passe para Waldino Aguirre fechar um 2-0 no primeiro turno e, no segundo turno, marcado gol e fornecido duas assistências em maluca derrota de 5-4 fora de casa; e em 1944, dera passe para gol em outra derrota, de 2-1.

Como mascote com a bola no Everton de Cruz Alta, em 1938. E com a bola em 1943 no Rosario Central, junto a Waldino Aguirre e Ernesto Vidal, futuro vencedor da Copa do Mundo de 1950

O Racing, em jejum desde 1925, então contratou um pacote do Rosario Central para 1946: Bravo chegou à Academia juntamente com Héctor Ricardo, já goleiro da seleção, e o zagueiro Saturnino Yebra. Na 2ª rodada, já marcava seu primeiro gol, com os cabeceios de sempre aproveitando rebote do goleiro para vazar as redes do Huracán (de Alfredo Di Stéfano) aos 14 minutos do primeiro tempo e assim abrir vitória de 3-2. Apenas três minutos depois, também forneceu sua primeira assistência como racinguista, em tabelinha com Roberto D’Alessandro. Profissional, fechou com estilo um 3-1 dentro de Arroyito sobre o Rosario Central: foi de voleio. Ao todo, foram 21 gols e dez assistências em 29 jogos. No Clásico de Avellaneda, abriu um 2-0 na casa rival. O novo clube, porém, não deu combate a um imparável San Lorenzo campeão com o melhor ataque da década, ficando com o 4º lugar – embora o Racing pudesse vencer até a seleção mexicana, por 4-2, já em janeiro de 1947.

Em 1947, quando o Racing ficou somente em 6º, Bravo voltou a brilhar nos dérbis com o Independiente: marcou duas vezes em 3-2 em casa no primeiro turno e fez o da virada de 2-1 na casa rival pelo segundo. Mas esteve menos afiado no geral: 27 jogos, treze gols e três assistências eram números razoáveis, mas abaixo da produção que a revelação Di Stéfano fizera com o campeão River. Se as campanhas periclitantes do Central foram o entrave para Bravo ser incluído nas Copas Américas ocorridas em janeiro de 1945 e em fevereiro de 1946, a concorrência forte também pesou para não ir à travada em dezembro de 1947. A Argentina vivia uma geração dourada que pôde vencer seguidamente essas três Copas América anuais mesmo alterando ano a ano o time-base, com somente um jogador titular nas três.

Para 1948, o jejum do Racing parecia que ia terminar. Logo na rodada inicial, Bravo marcou os dois primeiros gols de um 4-1 dentro da Bombonera sobre o Boca. O clube fechou o primeiro turno na liderança, no embalo de sete vitórias seguidas. A cinco rodadas do fim, seguia líder, com 35 pontos, embora os 34 do Independiente e os 32 do River não dessem sossego. Até ali, Bravo, em 24 jogos, produzira quatorze gols e gerara outros seis diretamente, com as cinco assistências e um pênalti sofrido. Foi quando a categoria dos jogadores entrou em greve prolongada. Os cartolas foram intransigentes: o torneio prosseguiu, preenchido com juvenis, amadores e/ou não-sindicalizados (estes, normalmente estrangeiros, como o ídolo botafoguense Heleno de Freitas, a seguir jogando pelo Boca). La Academia murchou e o título em Avellaneda terminou comemorado justamente pelo Independiente, cujos pibes puderam assegurar o troféu com uma rodada de antecedência.

Aquela greve teria novos desdobramentos na carreira de Bravo. A reação dos principais astros foi se mandar para ligas financeiramente atraentes, notadamente a do chamado Eldorado Colombiano (como o próprio Di Stéfano e muitos outros) e a da Itália. O Racing soube segurar seus astros, muito deles nomeados pelo ministro Ramón Cereijo (braço político que favoreceu a construção do Cilindro, em 1951, um favorecimento governamental retribuído com o nome oficial da cancha ser Presidente Juan Domingo Perón) a empregos públicos no Ministério da Fazenda – Bravo, por exemplo, era bibliotecário lá. A AFA, que não convocava quem atuasse fora da Argentina, ficou receosa de ser representada na Copa do Mundo de 1950 com um elenco secundário e não ir longe, tal como ocorrido em 1934. Em agosto, ela chegou até a anunciar em setembro uma pré-convocação de 44 jogadores. Ao difundir essa lista, a imprensa brasileira classificou Bravo como “a ciência jogando football“.

Acróbata, Bravo era excelente no jogo aéreo. Cansou-se de fazer gols e até dar assistências com a cabeça (fotos de 1947 e de 1950)

As eliminatórias da Conmebol, ainda sem a fórmula todos-contra-todos, seriam para a Argentina reduzidas a duelos protocolares contra Chile (ainda saco de pancadas) e Bolívia (mais ainda). Em outubro, porém, a AFA, sem ver como viável o título mundial, abriu mão até mesmo das eliminatórias. Em paralelo a essa neurose dos cartolas, o Racing enfim encerrava em 1949 seu pior jejum até então. Bravo chegou a contribuir mais de uma vez com três assistências em um só jogo: isso se deu nos 4-2 sobre o Huracán, nos 5-2 sobre o Independiente em Clásico de Avellaneda ocorrido no campo rival (o dia mais brilhante daquele Racing, segundo o próprio Bravo) e em 6-2 sobre o Boca, duelo onde também marcou duas vezes. Ao todo, ofereceu ainda outras seis assistências. Quando o hat trick foi de gols mesmo, teve como mais memorável os 3-1 no Newell’s: pela primeira vez, sua esposa ia assisti-lo no estádio e ele prometera-lhe ao menos um gol. No mais memorável dos três feitos em cima do futuro flamenguista Eusebio Chamorro, conseguiu um de cabeça… mesmo de fora da área!

O total de gols na campanha campeã de 1949 foi de dezenove em 32 partidas, inclusive na do jogo do título, contra o Boca – que concorria contra o rebaixamento e, ao sofrer de El Maestro o gol da virada de 2-1 a dez minutos do fim, revoltou-se contra um suposto impedimento de Ezra Sued, autor do passe. A partida foi suspensa e seus minutos pendentes, disputados em outro dia. Nele, o placar não se alterou e La Acadé deu sua primeira volta olímpica profissional na liga argentina. Detalhe não menor é que a taça veio mesmo sem estádio próprio, com o Cilindro ainda em obras (o time mandou muito de seus jogos na Bombonera e ocasionalmente no San Lorenzo e em times menores)! Para comemorar, foi feita excursão à Europa. Bravo marcou gols em vitórias de 5-3 no Valencia, de 2-1 no Atlético de Madrid e duas vezes em 5-3 sobre a seleção belga. Mas o causo mais recordado foi extracampo; o goleiro Antonio Rodríguez lembraria dali a vinte anos que “estávamos no quarto com Rubén e precisávamos de sabonetes. Como el Troesma ia sair, lhe pedi que fosse ele quem pedisse ao camareiro. Fez isso com seu francês de então e não com o que aprendeu mais tarde. Vá saber o que o homem entendeu, pois apareceu com dois conhaques!”, no que o atacante completou: “e o que íamos fazer, dar bronca nele? Não, mandamos os dois conhaques adentro e boa noite”.

A estreia de Bravo pela seleção se deu em 1950. Por conta da greve e seus desdobramentos, a Albiceleste não entrou em campo entre o fim da Copa América de 1947 e a data de 25 de março de 1950, na qual houve o primeiro de dois jogos contra o Paraguai pelo troféu binacional Copa Chevallier Boutell. No Monumental, Bravo abriu o placar de um duro 2-2, em que o oponente chegou a virar. O mesmo estádio recebeu a revanche, quatro dias mais tarde, com Bravo saindo do banco com o placar já em 4-0 aos donos da casa. Pouco convencida, a AFA não voltaria a pôr a seleção em campo por outros quatorze meses; pelo restante de 1950, a consagração alviceleste de Bravo foi mesmo o bicampeonato seguido do Racing; em 23 partidas, marcou doze vezes (incluindo o segundo de 3-1 no Independiente) e gerou diretamente outros quatro gols – três por assistência e outro por pênalti sofrido.

Nenhum time havia sido tricampeão argentino no profissionalismo. No amadorismo, o último tri havia sido do próprio Racing, em meio ao heptacampeonato seguido de La Acadé entre 1913-19. No meio da temporada de 1951, porém, houve o retorno da seleção argentina, que passou pela primeira vez pelas Ilhas Britânicas. Foi em maio, na primeira vez que Wembley recebeu uma seleção não-europeia. Bravo lesionou-se nesse jogo, recordado pela brilhante atuação do goleiro Miguel Rugilo, que impedira uma goleada da Inglaterra e permitira aos hermanos sonharem: a Argentina abriu o placar e segurou a vantagem até o fim. Mas caberia à Hungria de Puskás ser a primeira seleção não-britânica a vencer em solo inglês os Three Lions, que puderam (em impedimento, reconhecido até pela imprensa brasileira, no segundo gol) virar para 2-1.

Juntado em 1949 (na imprensa e em publicidade de vinho) a Alberto Marcovecchio, remanescente do Racing heptacampeão nos anos 10

Aquela seria a terceira e última partida de Bravo pela seleção. Ao fim de 1951, o Racing lograria o histórico tricampeonato, mas já sem tanto protagonismo do ídolo, que não parece ter sido mesmo depois da lesão em Wembleu. Chegou a ficar sem jogar a partir de agosto: havia realizado oito partidas e marcado um só golzinho, ainda que com seu selo de qualidade: um cabeceio seu encobriu diversos jogadores do San Lorenzo até o goleiro adversário alcançar, já atrás da linha do gol, a bola. No decorrer do certame, o surpreendente Banfield igualou-se na liderança, forçando jogo-extra. Ainda sem Bravo, o Racing não saiu do 0-0 na primeira final, em 1º de dezembro. El Maestro foi requisitado para a segunda e ao menos foi pé-quente: um golaço de fora da área do colega Mario Boyé bastou para dar o tri ao então time mais vitorioso de Avellaneda.

Apesar da decadência, Bravo pôde chamar atenção dos cariocas no fim de janeiro de 1952, em duelo de Racing x Fluminense, deixando golzinho nos 3-2 dentro do Maracanã sobre um Flu que dali a uns meses se autoproclamaria “campeão do mundo” na segunda Copa Rio. No campeonato argentino de 1952, porém, o atacante só estreou já na 9ª rodada, em 1º de junho – registrando assistência para o gol de Juan José Pizzuti no 1-1 com o Estudiantes. Também esteve em campo na 10ª, 13ª (na qual deu outro passe para gol de Pizzuti em 1-1 com o Lanús) e na 14ª, esta em 6 de julho. Mesmo sem gols, naquele mês ele recebeu sua última convocação à seleção. Bravo, contudo, não voltou a entrar em campo pela Argentina. É que a convocação visava partidas que ocorreriam somente em dezembro. Mês em que Bravo já estava no Botafogo, em tempos em que a Albiceleste não usava quem atuasse no exterior.

A passagem pelo Botafogo

Ainda em agosto de 1951, o Palmeiras teria tentado contratar Bravo. Naquele biênio 1950-51,  clube alviverde emendou as chamadas “cinco coroas palestrinas”, que incluíram o seu autoproclamado Mundial, na primeira Copa Rio – tendo consigo, inclusive, outro hermano pré-convocado para 1950, Luis Villa (além de José Montagnoli, também argentino). Em paralelo, naquele segundo semestre de 1951 o Botafogo passava a usufruir de Oscar Basso, vindo diretamente da Internazionale para reluzir sua técnica na defesa alvinegra de jeito tão marcante que… mesmo breve e sem alcançar o título, esse zagueirão chegaria a ser duas vezes eleito para o time botafoguense dos sonhos (com votos de Nilton Santos, Zagallo, Armando Nogueira e Sandro Moreyra, dentre outros), em júris reunidos em 1982 e em 1994 pela revista Placar. Falamos disso, e mais da carreira de Basso, aqui.

Basso também era, justamente, o líder do sindicato dos jogadores na ocasião daquela greve de 1948. Foi outro dos astros debandados até ser anistiado pela AFA em 1952, sendo assim repatriado pelo San Lorenzo. Mesmo já de volta à Argentina, o zagueiro se dispôs a ser o intermediário para a contratação de Bravo, feita “na surdina”, nas palavras do Diario da Noite  de 17 de setembro. Em 19 de setembro, esse mesmo jornal detalhou que Bravo foi “alugado”, como se dizia na época sobre jogadores emprestados; por oito meses, no valor de 250 mil pesos (além de contextualizar que equivaliam a 300 mil cruzeiros, a moeda brasileira da época); e que teria salário fixo de 7 mil cruzeiros, eventualmente acrescido de “bichos” de 4 mil. Na mesmíssima data, o Jornal dos Sports noticiou como o Palmeiras seguia interessado: teria até oferecido 300 mil ao Racing em pesos mesmo.

As primeiras notícias de Bravo no Botafogo: transferência costurada por Basso, argentino que havia brilhado pelo clube em 1951

O Mundo Esportivo, também em 19 de setembro, deu outros detalhes: “não foi sem razão que o nome de Rubén Bravo ocupou as manchetes dos jornais argentinos, italianos e brasileiros. Porque o célebre ‘piloto’ da seleção argentina esteve na mira do Torino, que pretendia o seu concurso em troca de José Florio. O Racing daria seu acordo à transação e ainda daria Llamil Simes de contrapeso. Aconteceu que Florio foi para o Vasco e Bravo andou nas cogitações do Palmeiras. Eis, porém, que se sabe que não é o Palmeiras o clube brasileiro interessado e sim o Botafogo, do Rio, que incumbiu o zagueiro Oscar Basso (…) de encaminhar e fechar as negociações. Embora nada esteja resolvido, mantendo-se até sigilo em torno do ‘negócio’, é muito provável que Bravo venha a ser contratado, o que possibilitaria ao Botafogo vender Otávio ao Santos”. Vale contexto: ex-jogador de seleção e futuro arquiteto da concentração da CBF em Teresópolis, Otávio ainda é o terceiro botafoguense com mais gols sobre o Fluminense.

Bem, o argentino pousou no Rio de Janeiro pouco depois da 5ª rodada do carioca. Treinado por Sylvio Pirillo, que ainda jogava na temporada anterior, o Botafogo havia começado bem o torneio: vitórias sobre São Cristóvão (4-0) na estreia e Olaria (3-2) na 2ª rodada. Mas então ficara no 1-1 com o Canto do Rio, perdido de 3-2 no clássico com o Flamengo e sido surrado por 5-2 por um forte Bangu – o vice-campeão do ano anterior e com seu próprio argentino no beque Ramón Rafanelli. Na 5ª rodada, em 28 de setembro, vencera no aperto o Madureira, por 3-2. O argentino já estava no Rio para o duelo contra o America em 4 de outubro. Mas eram outros tempos; o encontro ainda tinha aura de clássico, com só três títulos separando os dois e proporção de torcidas também equilibrada na era pré-Garrincha.

Inclusive, os rubros, treinados por Otto Glória, também eram notícia pela recente aquisição dos seus próprios argentinos (Ricardo Pepe e Raúl Sánchez), ambos vindos do Estudiantes “de Eva Perón”, como fora renomeada a cidade de La Plata sob o recente luto pelo falecimento de Evita. Pirillo, assim, foi precavido em não lançar Bravo na fogueira de um clássico pós-resultados ruins, pois o argentino não chegara com ritmo de jogo. Mesmo sem o astro, os alvinegros puderam golear por 4-1. O argentino já tinha atmosfera mais tranquila para estrear, ainda que o jogo seguinte (em 11 de outubro) fosse outro clássico, contra o Vasco; e mesmo com prognóstico de goleada para uma nau vascaína que ainda era o Expresso da Vitória.

Bravo saiu-se bem no clássico, dando o passe para o gol do Botafogo. Que vencia até Ademir arrancar, a dez minutos do fim, um placar final em 1-1 no dérbi alvinegro. Na avaliação do Jornal dos Sports, enquanto o técnico Pirillo desengasgava sarcasticamente “eis aí a goleada que se anunciava”, o argentino era descrito como “um atacante consciencioso e provou que é de fato um crack. Naturalmente, ressente-se de um período de adaptação, pois notou-se que que o player portenho procurou como que economizar para não se entregar quando a luta atingisse o seu clímax. Após as primeiras palavras, Rubén Bravo virou-se para afirmar: ‘hay que venir cosa mejor‘. E acrescentou: ‘que maravilla es la delantera de Vasco!‘”. Em outra página, o mesmo jornal ressalvava que Bravo era um jogador “cuja classe é indiscutível, mas que carece visivelmente de forma física”.

Bravo com o técnico Pirillo, e o anúncio de que o argentino, cautelosamente, seria poupado de duelo com o America: falta de forma, em tempos em que a partida ainda era um clássico equilibrado

Ainda assim, o lampejo exibido era promissor: autor do gol botafoguense, Zezinho recebera tão livre a bola que a jogada foi muito mais do que uma assistência – conforme a imagem logo abaixo, o Jornal dos Sports chegou a relatar que “marcou Zezinho, mas quem preparou foi Bravo”. Os primeiros gols propriamente do argentino vieram no compromisso seguinte, marcando duas vezes nos 3-0 sobre o Bonsucesso no dia 19 de outubro. Ao fim daquele mês, o Diario da Noite até já especulava que Bravo buscaria a contratação de outro atacante daquele Racing tricampeão, o ponta Ezra Sued (árabe e judeu, já falamos aqui e aqui sobre El Turco Sued). Os jornais cariocas precisaram se contentar em ter somente as colunas sociais de Ibrahim Sued mesmo. É que o hype do Maestro Bravo não tardaria muito a ser abalado.

O primeiro contratempo foi um pênalti perdido em derrota de 2-0 para o Fluminense, no jogo seguinte – em clássico cujo resultado deu ao rival o título do primeiro turno. Individualmente falando, Bravo até aparentou recuperação no compromisso subsequente, ao marcar duas vezes em 9 de novembro. Mas, como há coisas que só acontecem com o Botafogo, o jogo em questão foi um complicado 3-3 contra o lanterninha Canto do Rio. Naqueles dias, o cargo de técnico passaria de Pirillo a Martim Silveira, ícone dos anos 30 em General Severiano. Viria outro jogo em teoria fácil, ainda que de visitante, contra o São Cristóvão, vice-lanterna. E o time da casa fez valer o mando, vencendo por 2-1; autor de um dos gols da vitória suburbana, Humberto Tozzi iria à Copa de 1954 já como palmeirense.

Do lado botafoguense, a tarde infeliz em Figueira de Melo não se resumiu ao resultado. Como realmente há coisas que só acontecem com o Botafogo, seu mais recente astro, ainda lutando para recuperar forma plena, lesionou-se – em tempos em que não eram permitidas substituições, o centroavante seguiu em campo fazendo número na ponta. O Diario da Noite já assinalava, na crônica pós-jogo, que “a voz geral era de que a má sorte vem perseguindo o clube de General Severiano, não só nos lances do jogo propriamente ditos. As circunstâncias às vezes representam muito mais, e há fatores importantes e decisivos que antecedem a partida”.

A nota, de nome A contusão de Bravo, grande causa da derrota, prosseguia no mesmo tom sobre um elenco já “sem bom moral e ressentido de muito trabalho psicológico para se recuperar”, tanto nas palavras do novo técnico (“a contusão de Rubén Bravo foi a grande causa da nossa derrota. Não só pelo simples fato de termos que desloca-lo para a extrema, mas, principalmente, porque Ceci e Richard, que vinham se entrosando com ele, se perderam por completo”) como de outros jogadores (“a sorte continua madrasta conosco. Não há força capaz de superar a nossa má campanha”, declarara Gerson, que não era aquele – ao passo que o zagueiro Santos afirmara que “quando tudo indica que vai sair bem, surge o imprevisto. Ora, reagíamos e aí vem a distensão de Bravo e com ela decrescemos todos nós. Que se há de fazer?”).

A estreia promissora de Rubén Bravo: legenda do Jornal dos Sports destacando a assistência do argentino (o jogador mais à esquerda) no clássico com o Vasco

O Botafogo também não saiu do 1-1 com o Bonsucesso, em 22 de novembro, com Bravo poupado para recuperar-se. Uma semana depois, não havia como não escala-lo contra o Vasco: ruim com o argentino, pior o time se mostrava sem ele. O rival venceu por 1-0, mas o veterano foi elogiado (clique ao lado e, de brinde, leia matéria do saudoso botafoguense Leo Batista sobre um America x Bonsucesso!) como “um dos altos valores do prélio” pelo Sport Ilustrado: até marcou um gol, mas anulado – tudo porque o colega Zezinho teria ameaçado usar a mão ao dividir com Barbosa, o que pelas regras da época seria suficiente para invalidar o desdobramento da jogada. Mas ela mereceu menção honrosa: após Zezinho ter “de certa forma” atrapalhado o goleiro, “o couro passou para Bravo e o centroavante alvinegro matou-o com serenidade e colocou-o nas redes, com uma habilidade verdadeiramente estupenda. O juiz, porém, acertadamente, invalidou a conquista que seria a do empate”.

No mesmo tom, o Diario da Noite relatava que o desempenho na enganosa derrota para o líder dava mostras de reabilitação ao Botafogo e suspirava pelo “craque fabuloso que é Rubén Bravo”. Outro diário carioca, o extinto O Jornal ia mais longe: chegou a perguntar quando o futebol brasileiro conseguiria produzir “um craque do naipe de Rubén Bravo”, na edição do dia 5 de dezembro.

Com duas semanas de folga, o Botafogo voltou a campo somente em 13 de dezembro, contra o Fluminense. Dessa vez, Bravo deixou o gol dele. A matéria pós-jogo do Jornal dos Sports foi bem detalhista: já com cinco minutos, havia driblado “espetacularmente Edson” e cruzado para Zezinho, cujo arremate, mesmo violento, fora firmemente salvo por Castilho”. Com o placar ainda sem gols, o argentino, já aos 30 minutos, também teria dado uma de suas características cabeçadas para “fulminar” Castilho. Pena: “a pelota foi fora e chegou-se a ter a impressão do tento”. Pouco antes do intervalo, o Flu abriu o marcador e, logo no início do segundo tempo, ampliou.

No reinício do jogo após o segundo gol rival, Bravo teve “oportunidade de ouro” ao ficar na cara de Castilho, mas furou. Recuperou-se logo: primeiramente, em cruzamento a Zezinho, que cabeceou para fora, e então com o gol do empate, aos 15 minutos: Braguinha cruzou pela linha de fundo, Zezinho fez corta-luz para enganar o adversário Píndaro… e, assim, o argentino reutilizou seus famosos cabeceios, mandando de peixinho às redes de Castilho. O lance chegou a animar os alvinegros rumo a um empate.

Craque sempre sem ritmo, Bravo ainda perdeu esse pênalti no jogo que deu o primeiro turno de 1952 ao Fluminense

Nesse ímpeto, registrou-se que Castilho precisou espalmar a escanteio um chute forte de Bravo. Mas então uma falta dura do botafoguense Gerson foi punida com sua expulsão pelo árbitro inglês Dickens. O Fluminense queria pênalti e o juiz deu falta, mas o azar botafoguense não havia terminado (algo inclusive enfatizado na nota): ainda tricolor na época, Didi executou uma de suas famosas folhas-secas para vencer o goleiro e matar o jogo. O rival ainda faria outro gol, mas invalidado pelo impedimento do autor, Villalobos.

Praticamente sem pausa natalina e de ano-novo, o Cariocão de 1952 teve jogo em 28 de dezembro e avançaria para janeiro do ano seguinte. No último jogo de 1952, o Botafogo venceu por 2-1 o Bangu, mesmo sem jogar bem, mas aproveitando-se de duas expulsões alvirrubras – a segunda delas, cavada por Bravo, após troca de pontapés com o oponente Vermelho. Apenas o adversário foi convidado mais cedo ao chuveiro pelo árbitro Sidney Jones (também inglês), revoltando-se tão logo o intérprete comunicou a decisão, a ponto de se fazer necessária a entrada de aparato policial em campo. Sobre a atuação de Bravo, o Jornal dos Sports também registrou uma das famosas cabeçadas, que terminou em bola fora, mas “levando grande perigo para a meta” banguense. Já a Tribuna da Imprensa noticiaria em 2 de janeiro um interesse do Corinthians por Bravo.

Em 4 de janeiro, Bravo marcou duas vezes em 4-1 sobre o Olaria. Para o dia 10, era a vez do clássico com o Flamengo. Por volta do dez minutos, Bravo simulou um de seus famosos saltos, mas fez corta luz para Zezinho ficar livre para aproveitar cruzamento de Paraguaio e fuzilar para abrir o placar. Mas a vantagem mal durou dois minutos, período em que Bravo teria perdido chance boa para ampliar (chutando “violentamente” para fora um contra-ataque) antes que Índio cobrasse bem uma falta – e contasse com o pulo atrasado do goleiro alvinegro Osvaldo – para empatar. Abriu-se assim a torneira para três gols adversários em um espaço de nove minutos, filme bem mais antigo do que as cenas de “apagão” que tão marcaram corações e mentes em 2023 por General Severiano: na saída de bola após o empate, o rival logo a roubou e, no decorrer do contra-ataque, o ainda flamenguista Zagallo cruzou para Adãozinho virar. Aos 19, então, Zagallo serviu Índio e este concluiu por baixo do corpo de Osvaldo, a cometer nova “falha clamorosa” no relato do Jornal dos Sports.

Ainda aos 27 do primeiro tempo, o Flamengo chegou ao 4-1 a partir de bola que roubaram de Bravo, embora o novo gol de Índio, além de descrito como indefensável, fosse marcado em impedimento não visto pelo juiz inglês da vez, Sydney Jones. O argentino teria perdido outra chance boa, cabeceando por cima da trave em cruzamento onde estava bem colocado. Recuperou-se aos 38, com assistência a um gol chorado com o qual Geraldo descontou. Nos primeiros 10 minutos do segundo tempo, o Botafogo teve um gol anulado, de um Zezinho verdadeiramente impedido, e perdeu outra boa chance – com Bravo habilitando Geraldo e o chute forte deste parando nas mãos seguras de Sinforiano García. A possível reação esfriou-se de vez com novo gol de falta (de Beto) em que Osvaldo, outra vez, teria pulado com atraso. Coisas que só acontecem com o Botafogo? Beto estava apenas fazendo número, após lesão minutos antes…

O famoso azar do Botafogo também se manifestou na inoportuna lesão de Bravo: o time perdeu para o vice-lanterna São Cristóvão

O placar virou 6-2 quando Rubens converteu pênalti sofrido por ele próprio. Ao longo do segundo tempo, os alvinegros se mostraram “um amontado de jogadores” (nas palavras do Jornal dos Sports), exceto por lance de quase-assistência de Bravo: ficou no “quase” porque a conclusão Zezinho, embora encobrisse García, terminou acertando a trave. Ainda haveria outra bola botafoguense na trave até que os alvinegros conseguissem aos 43 minutos um terceiro gol de honra, de Zezinho. Martim Silveira não ficaria para a temporada de 1953, com a diretoria alvinegra recorrendo a outra figura dos anos 30, Carvalho Leite.

Restavam dois jogos e a luta botafoguense era a de terminar na metade superior da tabela de onze times. Conseguiu o 5º lugar após vencer America em 17 de janeiro (3-0) e o Madureira em 20 de janeiro (5-3, com gol de Bravo). Outros três dias depois, o mesmo elenco que parecia mal assombrado dava mostras de sua qualidade ao vencer dentro do estádio Centenário um Peñarol repleto de vencedores do Maracanaço: Roque Máspoli, Víctor Rodríguez Andrade, Obdulio Varela, Alcides Ghiggia, Oscar Míguez, Juan Alberto Schiaffino e o técnico Juan López Fontana estavam todos do lado derrotado pelo Botafogo na rodada inaugural da “Copa Montevidéu”. A ocasião permitiu a Bravo reencontrar outros dois cordobeses ex-Rosario Central, ambos naturalizados pela Celeste: Ernesto Vidal, também campeão mundial de 1950, e Juan Hohberg. Conhecidíssimo, Bravo foi bem anulado pelos uruguaios em tarde de imagináveis “cenas lamentáveis” de um jogo que chegou a ser suspenso por vinte minutos e ter interferência policial até para cima de Varela.

O Botafogo também venceria o Dínamo Zagreb na 2ª rodada (3-2, em 25 de janeiro), o First Viena na 3ª (2-0, com Bravo abrindo o placar, em 28 de janeiro) e a equipe paraguaia do Presidente Hayes na 4ª, com Bravo fechando a goleada de 4-0 em 31 de janeiro. No dia 3 de fevereiro, o estádio Centenário então sediou um Clássico Vovô. Bravo precisou sair de campo aos 25 minutos, mas ao menos ali o infortúnio mostrou-se um acerto por linhas tortas: seu substituto Dino da Costa, futuro jogador da seleção italiana, marcaria ainda no primeiro tempo os dois gols do triunfo de 2-1 sobre o Fluminense pela 5ª rodada da Copa Montevidéu.

Àquela altura, somente o Botafogo ameaçava que o título não ficasse com a dupla Peñarol e Nacional. O outro gigante uruguaio foi o adversário seguinte e fez valer o fator casa, em 8 de fevereiro, pelo placar mínimo, encaminhando seu título naquele minitorneio de pontos corridos. Restou ao Glorioso um honroso vice-campeonato após duelo final com o Colo-Colo, no dia 11: estando duas vezes atrás no placar, em ambas Dino da Costa achou dois gols para empatar. Bravo havia jogado todo o primeiro tempo e dado lugar a Dino no segundo.

Botafogo antes de novo clássico com o Fluminense, pelo segundo turno. Bravo, dessa vez, marcou gol

O brilho de Dino realmente pesaria para que a diretoria optasse por não estender o vínculo com o argentino para além do tempo contratado de empréstimo, conforme apurado pela Tribuna da Imprensa de 27 de fevereiro; a opção de compra definitiva foi descartada pelo preço de 600 mil cruzeiros ser considerado elevado demais, informara na véspera o jornal paulistano A Tribuna. Tão logo o empréstimo venceu, nos últimos dias de abril, o Botafogo comunicou a FERJ (na época, Federação Metropolitana de Futebol) para que esta repassasse à AFA a notícia de que o Racing já poderia regularizar de volta seu centroavante.

Coisas que só acontecem com o Botafogo: os muitos êxitos de Bravo na sequência da carreira

O campeonato argentino de 1953 começou justamente em abril, mas Rubén Bravo não chegou a entrar em campo: o Racing negociou-o com um modesto clube que estrearia naquele mesmo ano na primeira divisão do Chile.

E não é que, com Bravo consigo, o Palestino foi de imediato vice-campeão chileno? Em 2020, o clube da comunidade árabe local nomeou o argentino como um dos “elementos destacados” de uma temporada “que semeou as bases” do primeiro título do clube na elite, já em 1955.

Não parou por ali: o passo seguinte de Bravo foi brilhar no auge da equipe francesa do Nice – e isso que chegara sob inicial falta de forma, tal como no Botafogo.

Luis Carniglia, o argentino que iria treina-lo no Mediterrâneo, recordou em 1968: “em 1954, jogava minhas últimas partidas e o pessoal do Nice estava preocupado em encontrar substituto. Vim à Argentina (…). Falei com Rubén Bravo, que acabava de chegar do Chile, e resulta que estava inflado. Me convenceu, me disse que baixava de peso rápido, que estava há uns meses em jogar… fomos até Olivos e ali o fiz correr um momento; era um desastre. Mas como era com jogador e confiava nele, decidi leva-lo do mesmo jeito. Ao chegar a Nice e vê-lo tão gordo, todos me diziam que não era jogador de futebol, que era um comerciante. No princípio, não pegava na bola; depois se pôs no ritmo e cumpriu uma campanha destacada. Menos mal, porque em mim tinham tanta confiança que me deram um cheque em branco para vir à Argentina. E o enchi com 6 milhões de pesos”.

Terceiro agachado no Palestino que, estreante na primeira divisão chilena, foi logo vice-campeão em 1953

Já mesmo em 1954 o Sport Ilustrado criticara que o Botafogo teria usado “muito pouco” o centroavante – classificado nos anos 2000 por Aimé Jacquet, técnico da França campeã mundial em 1998, como “o melhor argentino que pisou nos campos de futebol franceses”. Em 1955, o Jornal dos Sports usara até mesmo a mesma expressão “campos franceses” para noticiar o sucesso de Bravo neles. Em 1956, foi a vez de A Tribuna relatar o êxito da panelinha sul-americana do Nice: o matador Just Fontaine era bem acompanhado por Bravo, pelo também argentino César González e pelo brasileiro Brandãozinho. Além do treinador Luis Carniglia, ainda havia mais hermanos, os reservas Alberto Muro e Juan Carlos Auzoberry.

Naquela temporada de 1955-56, o Nice venceu a terceira de suas quatro taças na Ligue 1. Bravo ficou no clube por mais uma temporada, de campanha honrosa na Liga dos Campeões: o veterano marcou um dos gols da vitória de virada sobre o Rangers pelas oitava-de-final, mas o campeão francês calhou de encarar nas quartas-de-final o dominante Real Madrid daqueles tempos. O técnico Luis Carniglia logo seria incorporado pelo próprio Real para vencer as duas Ligas dos Campeões seguintes. Já Bravo seguiu no futebol francês até 1962, quando enfim parou de jogar; após deixar o Nice em 1957, trotou em divisões de acesso por Grenoble, Aix, Rouen e Roubaix, clube pelo qual mereceu em 1961 a seguinte crônica no jornal carioca Ultima Hora – assinada por Albert Laurence, pai de Michel Laurence (criador da Bola de Prata da Placar) e avô de Bruno Laurence:

“Talvez ainda não seja muito tarde para evocar o resultado mais sensacional dos jogos de dezesseis-avos de final da ‘Copa da França’, recentemente disputados: a eliminação do poderoso quadro do Monaco, vencedor da Taça de 1960 e portanto detentor do título, e também atual líder do campeonato profissional de primeira divisão, pelo modesto onze do Roubaix, da segunda divisão, por 2-1. O que poderá interessar o leitor brasileiro no fato? É que o herói da façanha, meia-esquerda do quadro do Roubaix, meia de ligação e meneur de jeu, isto é, o ‘dono do onze’, foi um velho conhecido nosso: o veteraníssimo Rubén Bravo, argentino, antigo centroavante do Racing tricampeão da AFA e do selecionado argentino da última grande época portenha”.

Laurence prosseguiu assim – os parênteses são do texto original dele: “Bravo, que jogou a seguir no Botafogo carioca (muito bem apesar já do peso dos anos, como todos se lembram) está na França. Como será possível que um jogador dessa idade consiga brilhar e ser considerado o melhor homem no campo em prélios de profissionais? A explicação, é, evidentemente, que ele soube substituir o fôlego e a mocidade do organismo, que sumiram, pela experiência, pelo conhecimento profundo do jogo. E sua técnica individual, sempre perfeita, lhe permite, em três passes longos de mestre, produzir um rendimento mais útil e decisivo que qualquer jovem de qualidade mais modesta, com toda sua atividade constante, porém confusa”.

O sucesso do Nice de Rubén Bravo chegando à imprensa brasileira. À direita, ele agachado ao lado do superartilheiro Fontaine. González está logo atrás de Bravo e o técnico Carniglia é o último em pé

Tão logo parou de jogar no início de 1962, Bravo foi repatriado por seu Racing no segundo semestre, já para ser técnico bombeiro de uma temporada decepcionante – o clube havia sido campeão um ano antes como líder de todas as rodadas, mas caíra na fase de grupos da Libertadores e perambulava pela metade inferior da tabela no campeonato argentino; terminou somente em 9º lugar mesmo. Pelo ano de 1963 até meados de 1964, o ex-atacante treinou um ambicioso Gimnasia que chegara a cheirar o título em 1962, mas que não pudera se consolidar. El Maestro então saiu dos holofotes por um tempo, seja no Racing de Montevidéu (1965-66) ou em times colombianos (Cúcuta em 1967, Santa Fe em 1968 e 1969), seja empreendendo um hotel no centro de Buenos Aires.

Em 1970, foi então requisitado pelo ex-colega Juan José Pizzuti, então comandante de um Racing novamente vencedor, para ser seu assistente técnico. A Argentina havia sido desclassificada nas eliminatórias à Copa de 1970 e reagiu chamando exatamente Pizzuti para treina-la. A comissão técnica de ambos pôde sair-se vitoriosa dentro do Beira-Rio contra o próprio Brasil, em um dos últimos amistosos de Pelé e colegas antes do embarque canarinho ao México – o resultado pesaria para o então treinador João Saldanha cair (crucificando também os cruzeirenses Dirceu Lopes e Zé Carlos, barrados da Copa, e titulares que virariam banco como Ado, Edu, Baldocchi e Fontana) e abrir vaga para o botafoguense Zagallo assumir o cargo de técnico do Brasil. Além de assistente na seleção principal, Bravo também treinava as juvenis, função na qual foi medalha de ouro nos Pan-Americanos de 1971. Mesmo falhando no pré-olímpico para os Jogos de Munique, seguiu e foi vice em 1972 no Torneio de Cannes. O mais famoso dos garotos polidos nesses trabalhos, Daniel Bertoni, autor do último gol do primeiro mundial vencido pela Argentina, o classificaria “como um pai”.

O desempenho na francesa Cannes chamou a atenção do Monaco, então afundado na segunda divisão, para aquela antiga estrela da Ligue 1. Para a temporada 1972-73, o argentino dirigiu o acesso monegasco como 3º colocado da Ligue 2. A briga contra novo rebaixamento foi a tônica da temporada 1973-74, mas o time do Principado não só escapou como chegou à final da Copa da França. Em Monte Carlo, Bravo treinava uma panelinha argentina com Delio Onnis, que se sagraria o maior artilheiro até hoje do Francesão, o ponta Aníbal Tarabini e o então volante José Omar Pastoriza – futuro técnico campeão de Libertadores e Mundial Interclubes com o Independiente em 1984, Pastoriza exaltaria a facilidade com que Bravo explicava conceitos táticos.

Com cartaz crescente como treinador, Bravo foi contratado em 1976 por um Talleres no auge. Fez bonito: ganhou uma liga cordobesa (vencendo seguidamente os primeiros dezoito jogos!) então bastante valorizada tal como os Estaduais brasileiros; e, no Torneio Nacional, foi semifinalista, caindo em jogo único para um River que era base da seleção. Até hoje, Bravo tem a melhor porcentagem de aproveitamento de pontos dentre os técnicos tallarines. Uma dessas vitórias, em 28 de outubro, foi só por 1-0, mas entrou para a história do futebol mundial: fora de casa, contra o Argentinos Jrs, na estreia que um adolescente chamado Maradona fez no futebol adulto. Em 1977, o Talleres de Bravo venceria novamente a liga cordobesa. El Maestro pôde deixar pronta a base que, repleta de futuros convocados à Copa do Mundo de 1978, iria ainda mais longe no Torneio Nacional. Os alvizauis eram campeões até os sete minutos finais da decisão com o Independiente.

Primeiro em pé, como técnico do Monaco finalista da Copa da França em 1974. Os três últimos sentados também são argentinos: Onnis, Pastoriza e Tarabini

Bravo não estava naquela épica decisão (o treinador do Talleres era, por sinal, um ex-atleticano – Roberto Saporiti) e nem pôde ver Bertoni fechar a campanha campeã mundial da Argentina em 1978. Infelizmente, o coração de El Maestro inventara de parar de rege-lo ainda em 24 de agosto de 1977, na Guatemala, em plena excursão que La T fazia pela América Central em pausa da liga cordobesa. O técnico jogava um rachão com seus pupilos, que naquele dia enfrentariam a própria seleção guatemalteca, quando começou a passar mal. Mandou-os seguirem jogando enquanto “ia olhar margaridas”. À noite, com a impossibilidade de cancelamento da partida, eles perderam por 2-1 com a cabeça pensando apenas no mestre falecido ao meio-dia. Pastoriza, justamente o técnico que seria campeão nacional na epopeia do Independiente contra o Talleres, esteve no aeroporto de Ezeiza na recepção do corpo, velado na sede do Racing.

Outros elementos em comum entre Racing e Botafogo

O primeiro ano de título em comum é o de 1910, por muito tempo considerado o primeiro carioca da história alvinegra (inclusive virando verso na composição original do hino letrado por Lamartine Babo) até o reconhecimento oficial de conquista prévia em 1907. O Racing, por sua vez, venceu naquele ano a segunda divisão argentina, competição que todos os grandes argentinos precisaram disputar por ter sido criada ainda em 1899 – embora jamais rebaixado, o Boca, fundado em 1905, só livrou-se dela em 1913, por exemplo.

Em 1912, novo título carioca coincidiu com a conquista racinguista na Copa Honor, uma precursora da Copa Argentina. Também foi o ano que iniciou o primeiro jejum longo aos botafoguenses (só encerrado em 1930), enquanto o Racing engatava sua primeira fase áurea. Em 1932, o Fogão então ergueu o primeiro de seus quatro estaduais seguidos enquanto La Academia brigou até a penúltima rodada pelo título argentino. Não deu, mas comemorou uma precursora da Copa da Superliga, a Copa Beccar Varela. Era a vez do Blanquiceleste atravessar jejum comprido na primeira divisão, entre 1925 e 1949, enquanto o próprio Botafogo só vencia uma vez o estadual entre 1935 e 1957.

Assim, o ano seguinte tardou até 1961. Garrincha faturava o estadual enquanto o Racing sagrava-se campeão após liderar todas as rodadas do campeonato argentino. Em 1966, o título argentino de um (no embalo de um recorde de invencibilidade só quebrado décadas depois, diga-se) coincidiu com um Rio-São Paulo do outro. Curiosamente, também foi o ano dos únicos duelos, em um quadrangular de pré-temporada ainda em fevereiro, juntamente com o Independiente e o Sparta Praga (!). Mesmo em Avellaneda, Jairzinho e colegas bateram as duas forças locais, com 2-0 tanto na semifinal com o Rojo no dia 14 como na decisão com La Acadé no dia 16 pela chamada “Copa Carranza”. Houve revanche em 12 de outubro, um 0-0 em Mar del Plata.

Coincidência aprovada por Zagallo: tanto Racing como Botafogo elegeram time dos sonhos com treze jogadores mesmo…

Em 1967, o título carioca veio a General Severiano enquanto o Cilindro comemorava sua única Libertadores e o primeiro Mundial de todo o futebol argentino. E por quase seis décadas esse foi esse também o último ano de glórias em comum, até as redenções continentais de cada em 2024; é que os anos 70 e a quase totalidade dos anos 80 marcaram os jejuns mais famosos da dupla. Em 1983, o Racing se tornou o segundo gigante argentino a ser rebaixado (após o San Lorenzo em 1981), tal como o Botafogo viveria em 2002 (após o Fluminense em 1996 e 1997).

Além de Bravo, os seguintes outros nomes abaixo defenderam ambos:

Jenő Medgyessy: no Brasil, ficou mais conhecido como Eugênio Medgyessy ou ainda Eugênio Marinetti, imigrando da sua Hungria ao Brasil ainda nos anos 20 – inicialmente, no Botafogo. Após trabalhos também por Fluminense, Atlético Mineiro, Palmeiras (então Palestra) e São Paulo, foi à Argentina em 1933 para trabalhar inicialmente no San Lorenzo. O Ciclón terminaria campeão, mas com comandado por ele apenas no início; um atrito com os jogadores azulgranas levou-o a deixar o bairro de Boedo, acertando então com o Racing ainda em 1933. Curiosamente, terminou duas vezes campeão na temporada: enquanto o ex-clube era campeão argentino, Medgyessy era na Academia o treinador campeão da Copa Beccar Varela, aquela precursora da Copa da Superliga.

José Díaz e Mario Fortunato: estiveram ambos em 1943. “Zé Díaz”, como o volante já era apelidado pelo Jornal dos Sports antes mesmo de chegar, era aguardado como atacante feito Luis Rongo, já imortalizado no Fluminense. Chegara em 1938 a Avellaneda, vindo do Dock Sud, e foi emprestado ao Botafogo antes de ser vendido em 1944 ao Chacarita. Fortunato, por sua vez, era um ícone do Boca como jogador nos anos 20 e treinador nos anos 30. Em 1939, apareceu rapidamente no Racing. Nenhum deles se sobressaiu muito em Avellaneda. E nem no Rio: o Fogão fez sua pior campanha até então, com mero 7º lugar no estadual.

Silva Batuta: curiosamente, ele também esteve no Botafogo de Ribeirão Preto, onde despontou em 1959. Ao fim da carreira, esteve no Botafogo que disputou o triangular final do Brasileirão de 1971, mas como opção de banco. Seu auge fora mesmo nos anos 60, com bons momentos por Corinthians, Flamengo, Santos e até uma passagem pelo Barcelona e pela Copa do Mundo de 1966 antecedendo o brilho intenso que teve em 1969 no Racing. Ali, ficou mais conhecido pelos dois sobrenomes, “Machado da Silva”. E se tornou nada menos que o único brasileiro a obter a artilharia do campeonato argentino, em 1969. Sua média impressionante de gols renderam idolatria eterna mesmo com poucos jogos – foram cerca de trinta partidas, mas vinte bolas na rede pelo time eliminado no finzinho da semifinal contra o futuro campeão Chacarita. Mas, com saudades do Brasil, preferiu transferir-se ao Vasco em 1970 (e foi pé-quente, regendo o fim de jejum cruzmaltino de doze anos), mesmo sendo assumido flamenguista. Já dedicamos ao Batuta este Especial em 2020.

Silva Batuta, o outro ídolo do Racing a passar pelo Botafogo

Raúl Estévez: na Argentina, El Pipa (apelido comum a narigudos) associou-se mais ao San Lorenzo, camisa pela qual deu uma alegria aos botafoguenses – foi dele o gol na final da Copa Mercosul 2001, sobre o Flamengo, que forçou disputa por pênaltis. Reserva do reserva no Boca campeão de tudo em 2003, Estévez chegou ao Botafogo no meio da temporada do centenário, em 2004. Mas não ficou até o fim da dramática fuga de rebaixamento, acertando com o Colón. Dali cavou transferência ao Racing para a temporada 2005-06, pouco digna de nota: o clube vinha de um honroso vice-campeonato no Clausura da de 2004-05 e despencou para o antepenúltimo lugar no Clausura 2006. O atacante terminou escondendo-se na Académica de Coimbra.

Mario Bolatti: volante de um superlativo 2009 por um Huracán quase campeão após 36 anos, Bolatti cavou lugar na Copa do Mundo de 2010 também por ser o herói da complicada classificação argentina em Montevidéu. Mas as altas expectativas que gerava não se cumpriram. Em 2011, veio à panelinha argentina do Internacional, onde foi razoável inicialmente. Mas em 2013 já começava a ser emprestado: primeiramente, a um Racing que prometia muito e terminou em penúltimo no Torneio Inicial; e então, em 2014, a um Botafogo devolvido à Libertadores no primeiro semestre… e que terminou devolvido à segunda divisão no segundo. Para 2015, o cordobês voltou à cidade natal para defender o Belgrano.

Egidio Arévalo Ríos: o uruguaio veio com moral ao Botafogo, em janeiro de 2011, após a boa Copa de 2010 por sua seleção. Mas a parceria alvinegra com o conterrâneo Loco Abreu durou pouco: após vencer a Copa América de 2011, Arévalo Ríos acertou com o futebol mexicano. No Racing, esteve na temporada 2017-18, sem se firmar. Em um dos jogos como titular, Arévalo esteve em derrota em casa para os reservas do Independiente, que priorizava em paralelo a reta final da vitoriosa Sul-Americana…

Gatito Fernández, por sua vez, foi o xodó botafoguense a ter passado pelo Racing

Roberto Fernández: El Gatito dispensa apresentações aos botafoguenses, seja pela fase vivida entre 2017 e 2018 (sobretudo como pegador de pênaltis), pela fidelidade após o rebaixamento de 2020 ou por mostrar-se um reserva empenhado e até efetivo quando foi posto em campo no redentor 2024. Em 2025, voltou para onde tudo começara, o Cerro Porteño. Fora ainda como iniciante no clube paraguaio que o goleiro esteve no Racing, emprestado na temporada 2010-11. Ameaçado de rebaixamento nos promedios, o time até fez temporada digna, com 6º lugar no Apertura e 5º no Clausura, mas para 2011 a diretoria preferiu importar Diego Saja da Grécia.

Renzo Saravia: lateral-direito formado no Belgrano, Saravia foi à Copa América de 2019 no embalo do título argentino com o Racing na Superliga de 2018-19. A fase rendeu transferência ao Porto, mas Saravia não completou seu salto europeu. Já em 2020, começou a peregrinar pelo futebol brasileiro. Chegou do Internacional ao Botafogo em 2022, perdendo a titularidade após lesionar-se. Para 2023, passou o Atlético Mineiro. Calhou de estar do lado alvinegro derrotado na Libertadores 2024. No banco.

Óscar Romero: no Brasil, esse meia é conhecido como o gêmeo talentoso do esforçado atacante Ángel Romero, xodó corintiano. Fora daqui, é justamente Óscar o irmão Romero mais celebrado. Calhou de defender o Racing justamente no período sem títulos entre o Transición 2014 e a Superliga 2018-19, mas teve seus momentos no Cilindro – sobretudo, em 2-0 em 2015 que rendeu a primeira vitória racinguista em Clásicos de Avellaneda desde 2011 (e a primeira desde 2004 na casa rival, quando esta ainda não era o Libertadores de América e sim a antiga Doble Visera), comemorada como título por valer pela final da liguilla pre-Libertadores. Na Argentina, o paraguaio virou ainda o primeiro estrangeiro a defender ao menos três grandes, com passagens posteriores por San Lorenzo (junto ao irmão) e Boca. No Botafogo, chegou da Turquia exatamente em 2024. Mas seria um dos patinhos feios da glória eterna, escanteado na reserva por problemas disciplinares. A ver se a “lei do ex” ocorre na Recopa!

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

Recent Posts

Elementos em comum entre Huracán e Vélez, que revivem a “final” de 2009

Com agradecimentos especiais à comunidade "Coleccionistas de Vélez Sarsfield", no Facebook; e aos perfis HistoriaDeVelez…

2 meses ago

Do bairro para o mundo: há 30 anos, o Vélez vencia seu Mundial, sobre o Milan

Originalmente publicado nos 25 anos, em 01/12/2019 - e revisto, atualizado e ampliado O ícone…

3 meses ago

O Papa é Copa: 10 anos da canônica Libertadores do San Lorenzo

"Porque isto é algo mais do que uma simples partida, bastante maior do que uma…

6 meses ago

Apostas no Futebol: crescimento e oportunidades internacionais

As apostas no futebol estão em franco crescimento no Brasil, impulsionadas pelo aumento das casas…

6 meses ago

Elementos em comum entre River Plate e Talleres, bases da seleção de 1978

A seleção de 1978 teve como principal celeiro o River Plate: foram cinco convocados e…

6 meses ago

Relembre Mario Kempes, que hoje faz 70 anos

Originalmente publicada pelo aniversário de 60 anos, em 15-07-2014 Segundo diversos sites estrangeiros sobre origens…

7 meses ago

This website uses cookies.