Há exatamente 25 anos, o campeonato argentino chegou à última rodada disputado pelos arquirrivais rosarinos, algo que até hoje não se repetiu. Apenas os rivais do Superclásico, Boca e River, foram outros a terem disputado um torneio desses até o final. Quem pôde dormir eufórico em 2 de maio de 1987 foram os canallas, que tiveram assim o mais saboroso momento diante dos leprosos, em uma situação comparável apenas com o dia da palomita de Poy. Mesmo que ela tenha sido também a última vez que o Central tenha sagrado-se campeão nacional.
Para apimentar mais a situação, o campeão nacional da temporada 1986-87 era um recém-chegado da segunda divisão. O time fora duas vezes campeão argentino nos anos 70 e outra em 1980. Porém, depois de seguidas temporadas ruins após este último título, foi condenado por seus promedios ao fim de 1984, ano que marcou também a última ocasião de um jogador ter entrado para o grupo dos que defenderam a dupla de Rosario (amostra de como se trata de uma das rivalidades mais ferrenhas do mundo): o goleiro Juan Carlos Delménico, que passou também por Gimnasia y Esgrima e Estudiantes de La Plata, fora rebaixado pelo Rosario Central onze anos depois de ter deixado o Newell’s Old Boys.
Em uma segundona que continuava a ter o Racing, os auriazuis foram arrasadores, garantindo o título e a volta à primeira divisão a quatro rodadas do encerramento e terminando onze pontos à frente do segundo colocado, o pequeno San Miguel (quem ascendeu junto, porém, foi justamente o Racing, vencedor da repescagem que envolveu do segundo ao nono colocado pela outra vaga de acesso).
A conquista da segunda divisão de 1985, ainda disputada ao longo do ano e não em um calendário europeu (como já se dava na primeira a partir do campeonato de 1985-86), seria bisada com a da elite pela última vez na Argentina – e ainda a única, na era profissional. E teve quem participou do rebaixamento e desse raríssimo bicampeonato: Ariel Cuffaro Russo, Adelqui Cornaglia e Claudio Scalise estão entre os grandes ídolos centralistas. Mas a idolatria a eles, somada, não se compara à veneração ao meia Omar Palma, que entre idas e vindas ficou no clube entre 1979 e 1998.
Palma marcara um dos gols na vitoriosa decisão nacional de 1980 frente ao Racing de Córdoba. Outro na vitória sobre o Villa Dálmine que assegurou a volta à primeira divisão, dez anos antes de estar presente no épico título da Copa Conmebol frente ao Atlético Mineiro (quando os argentinos devolveram no Gigante de Arroyito o 0 x 4 que sofreram no Mineirão e, depois, acertaram mais pênaltis). Na campanha inesquecível de 1986-87, El Negro foi o artilheiro da competição, com seu vigésimo e último gol sendo também o do título.
O outro comandante foi Edgardo Bauza, colega de Palma no título de 1980. Trata-se de outro semideus canalla: foi um zagueiro-artilheiro, com 82 gols só pelo Central (mais, por exemplo, do que o próprio Palma e em menos jogos que ele). Nove deles foram em clássicos rosarinos, dos quais é o segundo maior artilheiro auriazul, à frente até de Mario Kempes (e só está atrás de Daniel Passarella, antigo concorrente na seleção, e do holandês Ronald Koeman entre os defensores goleadores do futebol). Também brilhou no clube como técnico, levando-o às semifinais da Libertadores de 2001; anos mais tarde, venceu a edição de 2008, com a LDU, trazendo a taça pela primeira vez ao Equador.
Em 1986, El Patón estava retornando ao Central, após dois anos no Atlético Junior, da Colômbia, e um semestre no Independiente. Além de ajudar a evitar gols adversários, Bauza marcou seis por seu time na temporada que se encerraria no ano seguinte. “Tinha uma segurança absoluta de que sairíamos campeões. Éramos uma equipe muito superior, muito bem postada”, declarou sobre a partida decisiva ante o Temperley.
Também teve destaque Roberto Gasparini, outro a ter saído do Junior de Barranquilla. Por sinal, fora um dos jogadores derrotados do Racing de Córdoba em 1980. Conduziu o meio-de-campo com Palma e marcou dez vezes, três deles justamente sobre sua ex-equipe cordobesa. Outro especialmente lembrado pelo título é o goleiro Alejandro Lanari, equivalente argentino de Sócrates (apenas) no sentido de que igualmente desenvolveu a carreira futebolística enquanto graduava-se em medicina, não por acaso também sendo apelidado de Doctor.
O arqueiro também experimentara o acesso à primeira divisão em 1985, mas pelo Deportivo (atualmente, Sportivo) Italiano, coincidentemente o time que pegaria o Newell’s na rodada final de 1986-87. Foi contratado após a subida, mas só assumiria a titularidade já em 1987, após seguidas falhas do então dono da vaga, o uruguaio Jorge Fossati (que acabaria vendido ao Avaí; voltou ao Brasil recentemente, tendo sido o técnico que comandou o Internacional no início da Libertadores 2010, a ser vencida pelo Colorado já sob Celso Roth). Lanari ficaria no Central até 1991, ano em que foi reserva de Sergio Goycochea na Argentina campeã da Copa América depois de 32 anos.
Drama naquele campeonato, como não poderia deixar de ser, não faltou. Ao fim do primeiro turno, a dupla de Rosario estava empatada, com 23 pontos para cada um. Os dois clássicos rosarinos da temporada 1986-87 terminaram sem gols, mantendo uma invencibilidade de onze jogos dos futuros campeões. O NOB, vice também no ano anterior (mas ali um avassalador River Plate liquidara a fatura com cinco rodadas de antecedência e com dez pontos de vantagem), foi líder boa parte do certame, chegando a estar em três rodadas com até quatro pontos de diferença sobre o arquirrival, em época em que a vitória valia apenas dois pontos.
Uma ultrapassagem canalla em um ponto ocorreu na trigésima rodada, com os times se reigualando logo na seguinte e mantendo-se assim até a trigésima quarta, quando ainda faltavam outras quatro para o fim. Foi então que o Central contou com dois maus resultados seguidos do Ñuls fora de Rosario (após vencer dramaticamente por 5 a 4 o Independiente em casa, os leprosos perderam para o Instituto de Córdoba e empataram com o Ferro Carril Oeste) para acumular dois pontos a mais de diferença, em vitória sobre o Gimnasia y Esgrima La Plata na trigésima quinta.
Os rubronegros não se entregaram: enfiaram um 7 a 1 no outro clube platense, o Estudiantes, na rodada seguinte, e venceram fora de casa o Racing de Córdoba. Para o seu azar, o arquirrival também ganhou: 2 a 0 sobre o Argentinos Juniors em Buenos Aires e 2 a 1 no Unión no Gigante de Arroyito.
Com isso, o Rosario Central, com 48 pontos, chegou na trigésima oitava e última rodada podendo até empatar contra o fraco Temperley, na casa adversária. Ao Newell’s e ao Independiente, empatados com 46 cada, restavam vencer e torcer pela derrota do líder para forçar um tirateima (vale lembrar mais uma vez que a vitória, na época, só valia dois pontos). Em Avellaneda, o Rojo acabou empatando em 3 a 3 com o Vélez Sarsfield e terminou na terceira colocação.
Também em casa, no Coloso del Parque, Gustavo Dezotti (duas vezes), Juan José Rossi e Julio Zamora fizeram os gols da Lepra sobre o já rebaixado Deportivo Italiano, que marcou apenas uma vez, com Rubén Rojas (por acaso, integrante do Central que vencera a segunda divisão anterior). Porém, a pretensão ficou complicada quando, paralelamente, a expulsão de Óscar Aguilar deixou o Temperley com um a menos desde os 24 minutos do primeiro tempo.
Entretanto, na hora do intervalo, a taça ia ficando em Rosario, mas já não com o Central. O NOB vencia e comemorava o gol de Ricardo Dabrowski, que em cabeceio abriu o placar para o Temperley aos 43 minutos do primeiro tempo, para o nervosismo da maioria presente no Estádio Alfredo Beranger: a multidão canalla havia tomado-o de assalto. Houvera quem, para conseguir entrar, tornou-se no próprio dia sócio do pequeno clube celeste para usufruir dos benefícios de um.
A alegria dos jogadores comandados por Jorge Solari durou até os 17 minutos do segundo tempo: um defensor do Temperley precisou afastar com a mão a bola em cima da linha para evitar gol certo. Omar Palma converteria facilmente o pênalti, deslocando o goleiro Gabriel Puentedura, dando números finais ao último jogo do líder. O título era também a resposta ao que ocorrera treze anos antes, em que a Lepra levara a melhor no clássico que acabou decidindo o quadrangular final do Metropolitano de 1974 em favor dela (campeã argentina ali pela primeira vez).
Em 1987, foi a vez de ela ter de se conformar (ou não) com um vice-campeonato dos mais doloridos e as consequentes gozações. O trauma, na época, foi tamanho que Solari teve que desligar-se do cargo, com até sua honra sendo questionada: embora ele fosse ex-jogador do Ñuls, seu irmão Eduardo (pai de Santiago, meia do Real Madrid na década passada; o Futebol Portenho falou dessa família aqui) era consagrado no Central.
Não ajudou muito El Indio ter proclamado aquele 2 de maio de 1987 como El Día del Pecho Frío (“Dia do Peito Frio”, em tradução literal, mas “do Pé Frio”, se devidamente adaptada) ao rotular a própria barra do clube assim: “A este plantel jovem não se pode pedir mais. Há, sim, que pedir-se mais aos da arquibancada. São uns pé-frios. E se eles tivessem mudado em vez de virem insultar, (…) o Newell’s teria sido campeão por seis ou sete pontos. Assim de decisivos foram”.
O alento do Newell’s Old Boys não demoraria a vir: o time logo entraria na melhor fase de sua história, que duraria até 1992, com três títulos argentinos – um, já na temporada seguinte – e dois vice-campeonatos na Libertadores, retrospecto que os lançou como postulante a “sexto grande” (cada vez mais incompatível com o Huracán) e ajudando a atrair para si Maradona em 1993. Ao passo de que o Central, desde então, vem enfrentando um jejum de títulos nacionais. A Copa Conmebol de 1995 foi exatamente a única taça levantada em todo esse tempo, e desde 2010 ele está outra vez na segunda divisão (atualmente, encontra-se forte na briga para ascender).
Mas, um quarto de século atrás, o mais sério desde o Estudiantes de La Plata dos anos 60 e 80 a poder ser coroado com o tradicional rótulo do Huracán foi o Rosario Central. Era o quarto título argentino profissional da equipe de Arroyito, contra os então três dos pincharratas e um do rival citadino, do Globo e do outro (futuro) candidato ao posto, o Vélez Sarsfield. De fato, na ocasião, apenas os cinco grandes (Boca, River, Racing, Independiente e San Lorenzo) estavam à frente dos auriazuis no profissionalismo, enquanto hoje apenas o Huracán, destes nove, continua atrás.
Quem fez história há exatos 25 anos foi a escalação Alejandro Lanari; Hernán Díaz, Ariel Cuffaro Russo, Edgardo Bauza e Julio Pedernera; Roberto Gasparini (Juan José Urruti), Adelqui Cornaglia e Omar Palma; Osvaldo Escudero (Marcelo Toscanelli), Fernando Lanzidei e Hugo Galloni, treinados pelo técnico Ángel Tulio Zof, o canalla mais vencedor na função (conquistara o nacional de 1980 e levantaria também a Conmebol de 1995).
httpv://www.youtube.com/watch?v=iqRHMCpHk7c
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Bela história!
Mas o Fossati não teria passado pelo Mandiyú antes de ser vendido ao Avaí? Assim aparece na wikipédia
E teve algum outro time no mundo que venceu uma primeira divisão logo depois da segunda?
Valeu, André! Vamos lá:
1) pela wikipédia, o Fossati teria chegado ao Avaí só em 1988. Só que a Placar já punha ele em fichas de jogos do time da Ilha já em julho de 1987. Só se ele passou pelo Mandiyú nos dois meses e meio de intervalo entre esse jogo de 15 de julho do link a seguir e o da rodada final do campeonato argentino de 1986-87, em 2 de maio: http://books.google.com.br/books?id=brMTcwRfwQkC&pg=PA62&dq=Fossati+ava%C3%AD&hl=pt-BR&sa=X&ei=u0SkT7CdBYrp0QGv-5iDCQ&ved=0CEsQuwUwBA#v=onepage&q=Fossati%20ava%C3%AD&f=false
É o registro mais antigo dele no Avaí em 1987... nessa busca aqui, há outros nesse mesmo ano: https://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&tbo=p&tbm=bks&q=Fossati+ava%C3%AD&tbs=,bkt:m,bkms:1168684103302644737
Não que seja impossível, mas um tanto improvável que ele tenha defendido a equipe correntina antes: ela disputou a segunda divisão de 1986-87 (a primeira em que a segundona adotou o calendário europeu) até 16 de maio, data em que o Mandiyú foi eliminado pelo Huracán nos play-offs de acesso. O time só voltaria a jogar oficialmente em agosto, pela segundona de 1987-88 (que venceria), quando o Fossati já estava em Floripa.
A wiki, em geral, é lotada de erros... de qualquer forma, não foi em 1988 que ele chegou em SC.
2) Sei de outros três casos, incluindo um no amadorismo argentino (daí o cuidado nosso em dizer que o feito do Central foi único no profissionalismo): o Sportivo Dock Sud venceu a segundona amadora de 1932 e foi campeão da primeira em 1933. O campeonato profissional já existia desde 1931, mas um amador perdurou em separado até 1934.
O mais recente, provavelmente, foi o do Kaiserslautern, campeão da segundona alemã de 1997 e da Bundesliga de 1998. O outro que conheço é o Ipswich Town: venceu a segunda divisão inglesa em 1960 e a primeira em 1961 (logo quando esteve pela primeira vez nela). O técnico era Alf Ramsey, que acabou contratado pela seleção, a qual conduziu ao único título mundial da Inglaterra, em 1966.
Vamos canaya! :D este domingo a ganar...
Is it just me or does it feel weird to have a premiere for this with a big red capret and all? A screening maybe, something more subdue, ok, but not like this.Taking this in consideration, that makes Katy Perry even more OTT for me, it's just not right for the event to go so out there.Well, for once Paula Abdul doesn't look like a clown, but that dress is a bit too young for her. She should trade it with Miley, that wears some stuff that would be good for Paula and that is just perfect for Miley.I do like J.Lo, it's ver much her urban diva style. She even made me like a Hervc3a9 Lc3a9ger dress.But the best look here is Ashley Tisdale's. She made her homage look cool.