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Ricardo Gareca dará certo no Verdão?

Não. Não vai dar certo. Ao menos esta é a nossa visão, embora não seja a nossa torcida. Trata-se de um tapa na cara da mesmice. É também um tapa na cara de gente no naipe de Mano Menezes, Muricy, Autuori, Roth e muitos outros. E também daqueles que parecem “grandes”, mas que não passam de cópias reduzidas e até imperfeitas dos “professores” citados acima: Vágner Mancini, Ney Franco, Jorginho´s e outros. Mas, ainda assim, Gareca não dará certo no Verdão. Por quê?

Porque não assinou com “La U”, após estar 99% acertado com o clube chileno. Ocorre que bastou detalhes grandes, mas também minúsculos para que o acerto não fosse feito. Um deles foi a redução repentina do salário prometido pelo mentiroso presidente Heller, de “La U”. Um outro foi a percepção rápida de que “Los Azules” já não priorizam tanto a canteira como na época de Sampaoli. Ou seja, Gareca é detalhista e inflexível com um contexto de problemas sem solução. Não bastasse isto e tem ainda sua dificuldade de digerir atitudes e ideias antiquadas e boçais de alguns dirigentes. Que a torcida do Verdão nos desculpem, mas esses dirigentes estão no Parque Antárctica.

Vale dizer que foi grande. Gigante até a atitude da diretoria do Verde. Indiscutível, sem dúvida, e irredutível até mesmo se considerarmos que a opção por Gareca não foi algo sério, mas apenas um nome a mais que se oferecia no mercado e com salários bem abaixo dos que percebem os “grandes nomes” dentre os técnicos tupiniquins. Contudo, se a falta de um projeto sério não reduz os méritos da contratação do “Tigre”, ela pode interferir no trabalho dele e de forma decisiva. Por quê?

Porque o ex-técnico do Vélez não entende um trabalho sem a conexão do time principal com todas as categorias de base. Falamos de interferência. Porém, não se trata de uma interferência maldita e destrutiva. É o contrario disso: é uma interferência com a cara da construção da equipe e de todos os profissionais envolvidos no clube. Mas vale a pergunta: “e quem se importa com isso?”. Se importam só com a interferência. E não vão desejá-la nem um pouco, principalmente quando o Tigre desprezar um jovem atleta da base apadrinhado por um grande empresário ou por algum cartola do Verdão. Duvidam disso?

Fogueira pura de vaidades. Um fogo “verde” que queima por dentro e que tem corroído a grandeza palmeirense contam muitos anos já. Eis o Palmeiras, hoje; clube de Ricardo Gareca. Então, esqueçam do Vélez, pois o trabalho não será do mesmo nível. Ou lembrem-se do Vélez e sonhem com a possibilidade remota de que a cartolagem do clube queria agir com a mesma cabeça aberta da cartolagem fortinera. E como é que isto acontecia?

No clube argentino, Ricardo Gareca preparava cada jogador conforme a necessidade da equipe. Sampaoli fazia o mesmo em “La U”. O atleta precisava ser polivalente. Não fosse assim e logo recebia um trato cabreiro para se adequar à polivalência. Assim, surge Peruzzi, que atua nas duas laterais ou no meio-campo. Verdade que isto ocorre em muitos clubes argentinos e o Lanús é exemplo até maior que o conjunto fortinero de Liniers. Mas o “El Tigre” ia além. Sampaoli também. Previam a venda de um atleta no prazo de um ano ou dois. E preparavam detalhadamente um ou dois garotos desde a base para atuar da mesma forma na equipe de cima. Após toda a preparação, esses meninos eram integrados aos treinamentos do time principal. Por vezes, o seu marcador era justamente o titular da posição. Curioso, inusitado e profundo. No Vélez era assim. No Palmeira vai ser? Tomara.

Que tal se a Sub-15 vai fazer um jogo qualquer e o seu treinador será auxiliado no banco pelo técnico da equipe principal? Tem isso também. Era o comandante principal conhecendo profundamente a garotada da base. Neste caso, convinha ao técnico da Sub-15 que não deixasse a vaidade comê-lo por dentro e ter ciúmes e raiva do mandachuva de cima. Era assim no Fortín. Vai ser assim no Palmeiras? Tomara.

Mente aberta era o caso. Em todos os sentidos. Então o técnico chegava para a diretoria e falava: “Vendam quem vocês quiserem, desde que me deixem trabalhar quem eu quero. Mas só quem eu quero”. E dizia mais: “Não contrate esse cara, pois ele tem nome, mas não tem a cara do time”. Disto resulta que Patos, Guerreros, Gansos, Kardecs, Ronaldinhos e outros não chegariam no clube, embora tenham nome, história e mídia advogando por eles. Serve não só pro Palmeiras, mas para todos: que cartola brasileiro aceita isto?

Não vamos tematizar aqui a suposta insatisfação do elenco palmeirense a Gareca, bem mesmo antes de ele ser anunciado. Desnecessário, embora saibamos o que isto significa em alguns casos. Contudo, se for um problema, ele ainda será construído. Vale mais apostar no Gareca e no seu trabalho no Verdão. Não raro erramos quando se trata das previsões que fazemos sobre profissionais argentinos que chegam aos clubes brasileiros (lembram do Facundo Albarqui?, o cara errado que o Verdão foi buscar no Sarmiento?). Todavia, deixamos claro: Vale muito mais nosso erro. Estamos torcendo por ele. Torcendo para que estejamos errados e que clube e novo treinador façam a gloriosa torcida alviverde parar de sofrer. Só.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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