Relatos da primeira (e única) vez do Futebol Portenho no Uruguai
Não me recordo a data precisa. Acredito ter sido um 15 de outubro de 2009. Foi a minha primeira e única viagem para o Uruguai nesses meus quase 32 anos. Eram outros tempos. O Futebol Portenho era apenas um embrião que contava com alguns amigos e um sonho maluco de colocar o futebol argentino em evidência de maneira distinta do que vinha sendo pregado. A questão é que fui para Montevidéu apenas para cobrir Uruguai e Argentina nas Eliminatórias da Copa do Mundo, em um jogo recheado de histórias nas quais eu passo a relatar.
Dias antes, fazia a minha segunda cobertura da Seleção Argentina, em Buenos Aires. Um dia bonito, que depois foi marcado por um dilúvio em pleno Monumental de Núñez. Sim, refiro-me aquele jogo do qual o Palermo marcou o gol e o Maradona comemorou com um peixinho um tanto quanto patético. Gol que ainda dava a Argentina a sobrevida na competição. Jogo que me fez perder o único binóculo que comprei na vida, pois esqueci na tribuna de imprensa.
Parti para Montevidéu de avião. Burrice. Era melhor ter ido por aqueles barcos que atravessam o Rio da Prata. Sempre recomendo aos meus amigos que têm a oportunidade de visitarem a Argentina de fazer tal roteiro, mesmo não sabendo se é realmente legal. Lembro-me, já no Uruguai, que eu deveria ir a sede da Associação de Futebol Uruguaio para pegar o meu crachá. Pena que não tenho em mãos no momento em que escrevo esse texto. Era um crachá sem corda, mas com alfinete para colocar na roupa. Nunca vi isso, nem mesmo no futebol de Brasília. E o pior, tive que dividir o espaço em meio ao monte de guris, das categorias de base, que também pegariam uma credencial não-sei-para-o-que.
Conheci pouco da cidade, um dos arrependimentos que tive. Tanto que nem me lembro os nomes dos lugares a que realmente fui. Conheci alguns pontos turísticos, tomei uma Patrícia – não, não é garota, é uma cerveja – e comi algumas carnes boas daquela região, sem o sal em excesso que colocamos por essas bandas brasileiras.
No dia do jogo, cheguei cedo ao estádio, com receio de atraso. Cedo até demais. No meu posto, era eu, algumas rádios uruguaias esportivas e uma rádio argentina. Comecei a conversar com os argentinos e eles quiseram me colocar ao vivo. Foi uma das maiores vergonhas que passei na minha vida como jornalista. Não conseguia falar ou entender absolutamente nada do que o camarada falava por Skype – por mais que estejamos falando de 2009, a Internet e a qualidade daquela época era uma desgraça. Ainda assim, participei e fiquei ‘brother’ do camarada argentino que não sei o nome. Só sei que foi assim.
Lembro-me que ao invés da cerveja, proibida de ser vendida nos estádios, havia o tiozionho do café. Estava frio demais e eu decidi tomar algumas doses para ver se me esquentava. E olha que estamos falando de outubro – frio de verdade eu senti na Copa América e essa é uma história que fica para depois. Outros companheiros da imprensa brasileira apareceram, nos falamos um pouco e começamos a assistir ao jogo.
Não vou ser hipócrita: não me lembro de todos os detalhes e de como foi o jogo em si. Recordo-me, apenas, do gol de Bolatti, aquele que veio para o Internacional, para o Botafogo e não rendeu muita coisa. Foi aos 40 minutos. O jornalista argentino, do qual eu havia conversado, me viu comemorando e veio me abraçar. Em meio a vários uruguaios indignados com a possibilidade de ver o seu time jogar a repescagem. Mais uma vez. E eu, com medo de apanhar. A Argentina estava no Mundial.
Claro, a cena dos jogadores após a partida, comemorando a classificação com cânticos ofensivos a imprensa, puxados por Carlos Tévez, também marcou. Sem contar da loucura de Diego Maradona na entrevista coletiva. Todos os jornalistas argentinos que tinham a palavra, recebiam insultos do então técnico da Seleção. O curioso foi quando os dois únicos brasileiros fizeram uma pergunta, eu e o Plihal, da ESPN, Maradona foi dócil como nunca havia sido com alguém do lado de cá. Chupa, Branco!
Aquela foi a última vitória da Argentina em solo uruguaio, quebrando um jejum de 24 anos. Passaram-se quase oito anos daquele jogo marcante para mim e para o Futebol Portenho. Desde então, a Argentina jogou ali apenas uma vez, pelas Eliminatórias de 2014, com derrota por 3×2. Quem sabe a Argentina não consiga espantar a crise na atual classificatória com uma vitória sobre os eternos rivais? Assim como naquele ano. A diferença é que não estarei por lá desta vez para passar vergonha e relatar tudo o que aconteceu naquela ocasião.