AcessoPrimeira Divisão

Radiografia da nova B Nacional, o chamado “Torneo de Transición”

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No próximo dia 09 de agosto começa a nova temporada da B Nacional, a segunda divisão do futebol da Argentina. Trata-se de uma competição ímpar na história da categoria. Novidades são muitas e as oportunidades de acesso nunca foram tão generosas como agora. Uma rara oportunidade para clubes tradicionais do interior e da Grande Buenos Aires voltarem à elite do futebol local. Esses elementos podem fazer desta temporada uma das mais competitivas de todos os tempos. Vejamos.

A reorganização do futebol argentino prevê que novos torneios sejam disputados a partir de 2015 em todas as divisões. Contudo, se fez necessário que um período de transição ocorresse no período que vai do fim da temporada, antes da Copa do Mundo, até o final de 2014. Para tanto, em todas as divisões teremos competições recheadas de novidades. Um dos torneios com mais modificações é a B Nacional, a segunda divisão da Argentina. E elas aos tradicionais participantes da categoria, já que as oportunidades de acesso jamais foram tão generosas.

No total, 22 equipes disputarão o chamado Torneo de Transición. Serão 10 acessos no fim do ano e não haverá descensos. Sendo assim, as equipes terão a tranquilidade para trabalhar pela promoção à elite argentina. Serão dois grupos, chamados de Zonas. Cada uma reunirá 11 equipes, que jogarão entre si nos papéis de anfitrião e visitante. No fim, os cinco primeiros de cada zona serão promovidos para o inchado campeonato argentino de 2015, com 30 equipes. Eis a composição de cada uma das Zonas.

Zona 1 (ou A)

1 Aldosivi
2 Argentinos Juniors
3 Boca Unidos
4 Colon de Santa Fe
5 Douglas Haig
6 Ferro Carril Oeste
7 Gimnasia Jujuy
8 Guarani Antonio Franco)
9 Instituto de Córdoba
10 Nueva Chicago
11 San Martin San Juan

Zona II (ou B)

1 All Boys
2 Atlético Tucumán
3 Crucero del Norte
4 Huracan
5 Independiente Rivadavia
6 Patronato de Paraná
7 Ramón Santamarina
8 Sarmiento de Junín
9 Sportivo Belgrano de San Francisco
10 Temperley
11 Union Santa Fe

A grande oportunidade de acesso para equipes tradicionais

Possível que muitos cartolas da 2ª divisão estejam acendendo uma vela para Grondona até agora, pelo verdadeiro presente que o falecido “Chefão” deixou para eles. Contudo, convém que um mínimo de trabalho decente seja feito de forma que o “regalo” não vire presente de grego. Isto ocorre pelo seguinte: a forma como os clubes planejam a temporada da B Nacional consideram o nível altamente disputado da competição. Todavia, a competitividade do recente torneio está no mesmo grau da oportunidade. Disto decorre que se não houver um bom trabalho é provável que o acesso não ocorra.

Os cinco favoritos da Zona I

Tudo indica que uma das vagas seja do Bicho. O clube da Paternal montou um verdadeiro esquadrão para retornar à elite argentina. Riquelme chama a atenção e recebe todo o foco da mídia, mas uma equipe sólida tem se formado sob o comando de Borghi. Foram inúmeros reforços importantes, que se somam às boas promessas que quase ascenderam a equipe, ao fim da temporada. A situação é tão confortável que Claudio Borghi pode atuar com vários esquemas de jogo, além de contar com mais de um bom reserva para cada posição.

Instituto de Córdoba deve mesclar jogadores experientes com uma vasta gama de jovens que brotou das canteiras de Alta Córdoba. A equipe deve apresentar boas promessas do futebol argentino nesta temporada. La Glória perdeu 18 jogadores, mas se recompôs com 11 reforços, além de alguns bons garotos que subiram à equipe dirigida por Daniel Jiménez. Além disso, a pré-temporada foi feita com muita seriedade. Colón de Santa Fe deve ficar com uma das vagas. O conjunto santafesino perdeu 12 jogadores, mas contratou 11. Além disso, o Sabalero deve apostar na fórmula que tem resultado numa mínima reestruturação institucional: a promoção de jovens das canteiras e a venda de alguns deles, ao fim da temporada. No total, 15 atletas foram promovidas à equipe principal desde o início do ano.

Gimnasia Jujuy, San Martín San Juan, Aldosivi e Ferro Carril devem brigar pelas duas outras vagas. Neste bloco, Gimnasia e San Martín apresentam uma melhor preparação. A vida não será fácil para equipes como Nueva Chicago, Guaraní António Franco e Boca Unidos. Suas torcidas precisarão se contentar em manter os promédios em alta, já que eles serão somados aos da próxima temporada, em 2015.

Os cinco favoritos da Zona II

Huracán de Parque Patrícios deve ser o principal candidato ao acesso na Zona II. Kudelka se aproveitou da ótima renovação do elenco para montar um time experiente, mesclado com bons reforços jovens e com garotos da base, indicados com precisão pelo comandante do banco quemero. Germán Mandarino, Mancinelli, Santiago Echeverria e Carlos Arano formam uma primeira linha defensiva quase imbatível para os rivais da categoria. No banco, o polivalente Erramuspe será opção para qualquer defensor que não possa atuar. Uma segunda linha pode ser formada por Vismara, Villarruel e Patricio Toranzo, tendo Gonzalo Martínez, à frente, como enganhce. Esta segunda linha pode avançar Martínez um pouco mais nas partidas em que Kudelka prefira três atacantes.

O meio-campo pode ser formado ainda por quatro nomes, apresentando Favalli, Iván Moreno y Fabianesi ou Gabi Robledo, mais uma promessa das canteiras de Parque Patrícios. No ataque, o experiente Ramón Ábila pode vir a ser o artilheiro da competição. Augustín Torassa deve acompanhá-lo no setor. Atlético Tucumán era outro candidato certo para o acesso. Porém, embora o Decano tenha mantido “La Pulguita” Rodríguez, perdeu vários jogadores e não somou reforços. Dirigentes do clube forçam a barra em apostar que a tradição decana, além do apoio irrestrito de sua torcida, seguirão a ser suficientes para mais uma boa temporada. Isto pode acontecer, mas é improvável.

Unión Santa Fe, Sarmiento de Junín e Crucero del Norte se apresentam como favoritos quase certos para ascenderem à elite. O Tatengue realizou um planejamento ímpar para subir. Reforços foram buscados na medida e o técnico Leonardo Madelón tem o grupo nas mãos, além do respaldo de diretoria e torcida ao seu trabalho. O Verde de Junín pode chegar à elite e materializar uma realidade nova no futebol argentino e que também inclui o Colectivero: a predominância da organização institucional em relação à bagunça generalizada que abraça quase todos os clube no país. O Sarmiento é uma das instituições que mais investe numa base que compreende algo em torno de 500 garotos. Já o Crucero del Norte, é um caso ainda mais sintomático dos frutos que um trabalho institucional sério pode render.

Com apenas 25 anos de vida, o Colectivero pode chegar à elite do futebol local ao fim de 2014. Isto é um tapa na cara de diversas instituições centenárias da Argentina que não conseguem sair das últimas categorias do futebol local. E não há milagres no caso e tampouco grana excessiva. A empresa que patrocina o clube, e que lhe oferece o nome, recusa-se a injetar valores absurdos na equipe por causa do futebol. Desta forma, cabe aos cartolas o desafio de fazer o Colectivero funcionar. O fato de sempre subir de categoria nunca foi motivo para que o planejamento sério fosse abandonado. Caso a equipe não suba à elite, não haverá problema, já que seus dirigentes consideravam esta realidade apenas para 2016.

A outra vaga ficará entre All Boys e Independiente Rivadávia. Ramón Santamarina, Temperley e Patronato de Paraná não parecem em condição de ascender neste momento. Apenas uma surpresa, como aquela história de encaixe de time pode reverter essa realidade. E se isto acontecer, ela deve favorecer o Patronato, da belíssima cidade de Paraná.

Casos Insólitos, ou o real tamanho do presente

Banfield, Defensa e Independiente foram promovidos e poderão fazer a pior campanha da história que não serão rebaixados. Não retornarão à B Nacional na próxima temporada, pois não haverá rebaixamento. Além disso, All Boys, Argentinos Juniors e Colón fazem parte do curioso caso de equipes que perderam seus lugares na primeira divisão, mas que podem recuperá-los em um semestre. Porém, isto não é tudo. O pior são os casos das equipes que subiram à B Nacional recentemente. São os casos de Nueva Chicago, Temperley, Ramón Santamaria e Guaraní António Franco.

Na prática, essas equipes podem subir duas categorias em apenas seis meses. Chicago e Temperley vieram da B Metro, enquanto Ramón Santamarina e Guaraní António Franco, do Torneio Argentino A. No final do ano, essas quatro equipes podem chegar à elite do futebol argentino. Esse presente de Grondona não tem paradeiro na história do futebol local. O outro absurdo consiste em colocar rivais tradicionais em zonas diferentes. O principal caso envolve o Colón, na zona I, e o Unión Santa Fe, na Zona II. Desta forma, os hinchas dos dois rivais terá de torcer para a promoção de suas duas equipes, se quiserem ver o clássico, na próxima temporada.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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