Racing vence o Independiente no clássico de Avellaneda
Do Cilindro de Avellaneda – Todo bairro tem seus costumes, suas tradições. Tem seu mercadinho típico, sua padaria que também serve como ponto de encontro, sua pracinha e o principal de tudo isso: a sua vizinhança. Às vezes vivem em perfeita harmonia, em outras oportunidades não se toleram. Mas é indiscutível que vizinhos necessitam uns dos outros para bem e para mal, para compartilhar e para criticar e por isso estão Racing e Independiente, escrevendo suas histórias numa total dependência um do outro.
O encontro, que já se faz antagônico desde o claro contraste do vermelho com o celeste, é uma espécie de clássico dos clássicos. Recheado de anedotas, na manhã deste domingo Academia e Rojo colocaram mais um capítulo neste rico almanaque. Hoje a alegria ficou reservada aos donos da casa, categórico 2 a 0 que não deixou margem para questionamentos.
AMBIENTE DO CLÁSSICO
Inicialmente marcada para sábado, a partida precisou ser adiada em função das fortes chuvas que deixaram o campo de jogo encharcado. Decidiu-se por jogar neste domingo de sol em um horário pouco usual, às onze da manhã. Assim mesmo era intenso o movimento de torcedores que se animaram em pular cedo da cama para acompanhar o tradicional encontro entre os vizinhos de Avellaneda.
As duas torcidas só concordavam quando entoavam uma canção em particular: “El que no salta, se va a la B”. Insólito escutar de que ambos os lados faziam questão de marcar a perigosa posição do rival na tabela quando o próprio time está a apenas alguns passos da zona da degola.
Na chegada dos torcedores do Independiente o clima era de total confiança. O histórico credencia uma vantagem do time sobre o seu eterno rival. Além disso, no amistoso de inverno realizado no mesmo estádio semanas atrás e apenas com a presença de público local, o Rojo conseguiu se fazer presente. No momento em que as equipes entraram em campo naquele dia, a torcida do Racing fez a sua já tão conhecida festa com muito papel picado, sinalizadores e fumaça. Mas uma delas lançava na atmosfera totalmente acadêmica do Cilindro, um nítido vermelho inconfundível. Logo foi sufocada e levada para longe, mas as câmeras já havia registrado tudo e o estrago estava feito. Mais um motivo para gozação dos torcedores Rojos com seus vizinhos.
Hoje os racinguistas prometiam apagar a má impressão deixada naquele dia e antes mesmo da partida começar, os celestes localizados na geral logo embaixo de onde permanece a torcida visitante, acionaram todo um estoque de fumaça azul que rapidamente subiu até o setor onde ficavam os torcedores do Rojo. Foram “engolidos” pelo intenso azul e por alguns minutos literalmente “desapareceram” do estádio! Quando a fumaça se dissipou lá estavam os fãs do Independiente, prometendo mais uma surpresa para o final de jogo. E os do Racing também.
Clima perfeito para que a partida pudesse ter seu início.
O JOGO
O Racing entrou como favorito, jogou como favorito e como favorito venceu com sobras do início ao final da partida. Em nenhum momento teve sua vitória ameaçada e foi apenas questão de tempo e de paciência até que Sand abrisse o placar aos 29 minutos da etapa inicial. Num veloz contra-ataque pelo lado direito, Centurión deu belíssio passe para Hauche que cruzou para o meio da área. O defensor do Rojo escorregou e o camisa 9 da Academia teve tempo de dominar, acomodar-se melhor e finalizar para o fundo das redes, 1 a 0.
Mas mesmo antes disso o próprio Sand já havia perdido outra clara chance de gol. E antes que terminasse o primeiro tempo, levou perigo mais uma vez como uma bela cabeçada defendida por Navarro. Também vale ressaltar a impecável partida que jogou o jovem Centurión. Rápido e habilidoso, foi o encarregado de acionar as ações ofensivas da Academia e em mais de uma oportunidade, tirou para dançar os defensores do Independiente que distribuíam pernadas para tentar pará-lo.
Em uma dessas, Morel viu a bola passar por baixo das suas pernas enquanto Centurión corria pelo outro lado para buscá-la já dentro da área. Não pensou duas vezes e deu um carrinho que atirou o atleta da Academia no chão. Os torcedores pediam pênalti, mas se contentaram ao ver que Morel recebia o vermelho pelo lance.
Os times vão para o intervalo sem que o Independiente tivesse criado uma única jogada de perigo ou dado um chute contra o gol de Saja.
Na etapa complementar, além da efetividade do nome do jogo, Centurión, viu-se um Racing mais sólido na linha de meio campo com Camoranesi jogando uma partida de alto nível técnico. Boa recuperação e grande visão de jogo na hora de distribuir as saídas de bola. Porém enquanto do lado celeste sobravam nomes para servir de destaque, no Independiente fazia falta alguém que chamasse a responsabilidade e pudesse dar algo de criatividade para este time.
E assim, totalmente perdido em campo, sofreu o segundo gol. Outra boa jogada de Centurión desta vez pelo lado esquerdo, a bola que fica viva dentro da área do Rojo e é rolada para Sand, marcar o segundo dele no jogo, o 2 a 0 e colocar a última pá de terra na cova do Rojo.
Com a partida liquidada a torcida da Academia fazia a sua festa. Muitos torcedores passaram a vestir fantasias de fantasmas em alusão ao fantasma do descenso que agora ronda o Independiente mais de perto. Está na zona de rebaixamento direto com apenas dois pontos. É bem verdade que ainda falta todo um campeonato pela frente, mas se não repensar sua postura de jogo, não haverá muita luz no caminho do Rojo.
Na tarde quase perfeita do Racing, o único detalhe a se lamentar foi a lesão de Saja. O goleiro sentiu um estiramento e precisou ser substituído aos 33 minutos da etapa final. Certamente deverá ser desfalque para os próximos jogos, mas ainda não há um exame sobre a gravidade da lesão.
Com o apito final, os racinguistas comemoravam o triunfo sobre o rival e a garantia de poder tripudiar até pelo menos o próximo campeonato, quando se enfrentarão na cancha do Independiente. Os torcedores do Rojo antes de deixarem o estádio, fixaram uma faixa que fazia referência a agora já famosa “fumaça vermelha” que os torcedores do Racing soltaram num dia de clássico com presença de torcida única, racinguista.
FICHA DO JOGO
Racing (2): Saja (36′ ST De Oliveira), Pillud, Ortíz, Cahais, Corvalán, Pelletieri, Villar, Camoranesi (39′ ST Zuculini), Centurión (43′ ST Guedes), Hauche e Sand. Técnico: Luis Zubeldía.
Independiente (0): Navarro, Russo, Tula, Tuzzio, Rodríguez, Vargas, Santana, Mancuello (33’ST Ferreyra), Rosales, Leguizamón (22’ST Benítez) e Farías. Técnico: Cristian Diaz.
Gols: 28’PT – Sand e 29’ST – Sand.
Árbitro: Germán Delfino
Muito bom texto. Muito bom e criativo a torcida racinguista vestida de fantasma.