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Racing vence a “final” contra River e fica perto do título

Atrapalhada total da zaga do Millo e Funes Mori guardou. Para o Racing
Atrapalhada total da zaga do Millo e Funes Mori guardou. Para o Racing

Jogo tinha a cara de final. Então, a festa estava presente, materializada na massa torcedora que foi ao Cilindro para apoiar sua equipe. Mas de festa o jogo só teve isso. Até por sua característica de final, a partida tinha tudo para não encantar tecnicamente. Não precisou, o que faltou de técnica sobrou de luta, disposição e sofrimento. Mesmo que a “meninada” do Millo tenha jogado bem, é impossível não destacar a alma do conjunto local. E foi esta alma que superou o que o River tinha de melhor. No fim, com um gol contra de Funes Mori, o Racing venceu e se colocou à cabeça da tabela. Tem de tudo para voltar à glória. Porém, terá de se acalmar nas últimas partidas. A próxima será em Rosáio, contra o Central; a última, no palco de hoje, no Cilindro. E poderá ser o jogo de uma festa sem precedentes em Avellaneda.

Jogo começou com a corda toda, com todo mundo correndo atrás da pelota. A garra parecia a principal personagem dentro de campo, principalmente do lado do Racing. E Gustavo Bou foi o símbolo disso, na primeira etapa, assim como fez numa disputa de bola com Barovero. Por pouco o artilheiro de “La Acadê” não roubou a pelota e anotou para o Racing. Só que nos primeiros minutos quem mandava mesmo no jogo era o Millo. De cara teve uma chance. E na confusão entre Driussi e Ferreyra, este último só não marcou pela intervenção providencial de Saja. Minutos depois, foi a vez de Driussi ficar com a redonda na cara do gol. Era só caprichar no arremate e guardá-la no arco. Fez feio: arrematou feito um bebê e presenteou a torcida com a redondinha na arquibancada.

Do nada o Racing apareceu no ataque. Contava já algo em torno de uns cinco minutos. Foi o suficiente para que a Academia entrasse no jogo. Não que modificasse o panorama que apontava o Millo como o dono da bola. Contudo, ao menos se acertou nas suas linhas e se acalmou um tatinho mais dentro da cancha. Efeito disso foi que logo teve a primeira chance, mas a disposição no ataque parecia excessiva por vezes, o que prejudicava gente como o maluco do Bou, que estava doidão para guardar uma pelota no arco de Barovero.

Relógio contava 15 minutos e mais uma jogada de linha de fundo. Cruzamento saiu forte e Bou arrematou de primeira. A redonda bateu em todo mundo e sobrou para Milito, que apenas deu uma raspada sem muito estilo. A pelota bateu nas duas pernas de Funes Mori antes de parar no arco de Barovero: 1×0 para o Racing e explosão da torcida racenguista.

O gol deu calma ao Racing, que recuou, aproximando suas duas primeiras linhas e se configurando para o contragolpe. Nos primeiros minutos até pareceu que a Academia poderia ampliar, mas logo a sua nova postura se mostrou ineficaz. Ela apenas deu campo para o Millo jogar. Tampouco o ataque visitante conseguiu se aproveitar da situação. Problema é que faltava calma também para o ataque do conjunto de Bajo Belgrano.

Na segunda etapa, o Racing pareceu que dominaria as ações desde o início. A vontade era grande, mas o futebol da equipe logo se revelou inadequado para a sua disposição gigante. Com isso, foi o River quem se fez novamente de valentão e dono da bola. A pelota passou a ser dominada pelo visitante, que a manejava bem de seu campo de defesa até o campo de defesa do rival. Problema é que quando chegava perto da área de Saja faltava categoria e um cérebro que soubesse trabalhar o jogo, recuando a pelota e a distribuindo mais pelos flancos. Então, o jogo do River ficava improdutivo, enquanto o do Racing se mostrava manco e sem saída eficiente para os contragolpes.

E por que isso acontecia? Nos dois casos pela falta de talento. Urribari até que fazia esse papel no Millo, mas somente do espaço após a primeira linha de defesa, o que se mostrava insuficiente, já que o lançamento era sua opção à impossibilidade do passe curto. Passar para quem se todo mundo se mandava para o ataque? Faltava gente para parar a redonda no meio-campo, acalmar a equipe e explorar os poucos espaços vazios que a defensiva do Racing deixava. Já na Academia, o problema passava pela opção de fazer lançamentos diretos a qualquer custo e a todo instante. Efeito disso é que a bola era facilmente recuperada pela defensiva millonaria, que a colocava novamente no ataque.

Somente aos 18 minutos da segunda etapa foi que o Racing teve uma chance de marcar. A bola sobrou para Milito que arrematou por sobre o arco de Barovero. Não pareceu importante. O que mais importava era a manutenção do placar. O jogo ficava com cara de final a cada minuto que passava. Neste sentido, o jogo era cada vez mais feio e emocionante no mesmo grau. E embora Videla seja aquele jogador que oferece um trato especial para a redonda, era a sua garra e disposição que encantavam. Aos poucos, o volante do Racing se transformava no nome entoado pelos cânticos emocionados da hinchada azul e branco do conjunto local. Na frente, Milito e Bou também simbolizavam a luta de uma equipe com cara de campeã, embora nenhum deles conseguisse jogar um pouco mais do que uma bolinha nota 3.

Solução para o problema do Racing viria de Centurión. Só que o meia-atacante foi um dos que mais sentiu a partida. Não conseguia jogar, estava nervoso, precipitado e sem posição. Muitas vezes era mais um defensor eficiente pelo flanco esquerdo; nada além disso. Quando precisava atacar, tinha de correr longas distâncias, o que favorecia o desgaste físico e a perda da bola para os defensores millonarios. Para atenuar a situação, Cocca mandou a campo Marcos Acuña e Acevedo. Cenário ficou do mesmo jeito. Neste caso, o que mais importava era que o tempo passasse. Aos 50 minutos, Néstor Pitana trina o apito pela última vez na peleja e decreta fim de jogo. A Academia finalmente passava à frente do River na tabela. Chegava à liderança e colocava ao menos uma das mãos no caneco do “Argentinão”.

Na próxima rodada, enquanto o River será anfitrião para o Banfield, o Racing será a visita do Central, em Rosário. Na última rodada, O Millo vai visitar o Quilmes, enquanto a Academia de Avellaneda será anfitriã para o Godoy Cruz Antonio Tomba. Exemplo do que foi a conquista do Racing na noite de hoje é que agora a equipe de Cocca depende apenas de suas forças para ficar com o título. Se isto acontecer, um jejum de quase 14 anos será quebrado. E o Cilindro, palco nobre da partida de hoje, será pequeno para sofrida e apaixonada torcida azul e branco da esquadra racenguista de Avellaneda.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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