Quem defendeu Boca, River e Independiente?
No que se refere à expressão internacional, não há margens para discutir que o trio de ferro argentino é formado por Boca, River e Independiente, ainda que o Rojo esteja atrás do rival Racing na quantidade de títulos nacionais. Além das múltiplas Libertadores (distante da solitária conquista racinguista), cada um tem ao menos um Mundial e alguma conquista continental menor tanto por Supercopa e Sul-Americana como na Recopa. Jesús Méndez, que anunciou sua aposentadoria, é o nome mais recente a jogar nos três. Vale relembrar seus antecessores, em lista que preferimos incluir também quem só trabalhou como treinador em um ou outro. Ainda que, curiosamente, o pertencimento ao trio não necessariamente tenha sido um atestado de atleta ou comandante fora de série, como veremos.
Zoilo Canaveri: nascido no Uruguai, virou uma personificação do vira-casaca. À primeira vista, por defender a seleção argentina (duas vezes), e sempre contra o Uruguai natal, ainda que fosse filho de argentinos. Mas sobretudo pelos clubes em que atuou. Sua família tinha raízes em Avellaneda e ficaria associada ao Independiente e Canaveri estava no elenco vice-campeão de 1912. Dali atravessou o Riachuelo para um time do bairro portenho de La Boca: na época, o River, onde só jogou uma vez em 1913. De 1914 a 1917, o ponta-direita então defendeu o Racing no período do recordista hepta argentino seguido da Academia, época em que Canaveri chegou à seleção.
Ainda entre 1916 e 1917, defendeu o Boca em alguns amistosos, mas seguiu carreira primeiramente em um rápido retorno ao Rojo em 1918. Voltou ao Boca no biênio 1919-20, quando os xeneizes venceram pela primeira vez o campeonato. Marcou doze vezes em 32 jogos como auriazul, mas não se firmou diante da concorrência contra o primeiro grande ídolo do clube, Pedro Calomino. Voltou então ao Independiente para fazer história, defendendo-o até 1929 e participando dos primeiros títulos do clube, em 1922 e 1926, época em que surgiu o apelido de Diablos Rojos – inicialmente ao ataque que integrava e depois sinônimo do próprio time. Também foi o primeiro técnico da equipe no profissionalismo, de 1931-33 e de 1933-35, colhendo um vice em 1932. Dedicamos já esse Especial a Canaveri.
Agustín Lanata: outra figura dos primórdios do trio, era um marcador central que apareceu primeiramente no River, que defendeu de 1910 a 1915. Em paralelo, também jogou pelo Independiente entre 1912 e 1913, o que era possível pois os dois clubes estavam em ligas diferentes, surgidas de um cisma em 1912 e reunificadas em 1915. Após dois anos jogando pelo Columbian (equipe que daria origem ao atual Almagro), apareceu brevemente em sete jogos pelo Boca em 1918. Parou de jogar em 1924 após passar também por Quilmes e Banfield [acréscimo feito por indicação do historiador @PabloKeservan, no twitter].
Adolfo Pedernera: segundo Alfredo Di Stéfano, esse foi o maior jogador da história. Em uma época em que haviam cinco posições ofensivas (as duas pontas, as duas meias e de centroavante), Pedernera jogou em todas pela seleção. Foi o primeiro a exercer com notabilidade o papel de Falso 9 antes do termo existir, mudança de posição que originou a celebrada La Máquina do River, time que defendeu de 1935 a 1946, deixando Di Stéfano no banco. Cinco vezes campeão, também trabalharia como técnico dos juvenis millonarios. Como técnico de time principal, Pedernera trabalhou em duas passagens tanto no Independiente (sem títulos, em 1957 e 1969) e ficou de 1965 a 1967 no Boca, levantando um título especialmente comemorado em 1965 – em que os xeneizes ultrapassaram o rival (em jejum desde 1957 e que ainda duraria mais dez anos) em Superclásico na reta final. Pedernera esteve ainda em outra dupla rival, sendo jogador e técnico do Huracán nos anos 40 e 50 e técnico do San Lorenzo em 1978. Só lhe faltou o Racing! Dedicamos este Especial ao maestro quando faria cem anos, ano passado.
Vladislao Cap: de origem romena e polonesa, o defensor é outro a ter figurado tanto na dupla Boca e River como na dupla de Avellaneda. Seu primeiro grande foi exatamente o Racing, de 1964 a 1960 (sendo campeão em 1958). Após um ano de Huracán, passou ao River, pelo qual foi à Copa de 1962. Ficou no Millo de 1962 a 1965, vivenciando nada menos que três vices para o Boca no terrível jejum suportado em Núñez entre 1957-75. Já como treinador, venceu dramaticamente o campeonato de 1971 com o Independiente, título que permitiu ao Rojo disputar (já sem ele) a primeira das quatro Libertadores seguidamente vencidas pelo clube no anos 70. Um dos três técnicos da Argentina na Copa de 1974, El Polaco conseguiria uma marca única anos mais tarde: virar como técnico a casaca diretamente entre Boca e River. Foi em 1982, quando trabalhou no primeiro semestre em um Boca à deriva sem Maradona, emendando um trabalho no River encerrado tragicamente: um infarto fulminante o matou em 14 de setembro de 1982, com ele recém-chegado ao cargo. Só lhe faltou o San Lorenzo.
José Varacka: dedicamos em 2017 este especial a Varacka, falecido no fim do ano passado após 86 anos. De origem eslovaca, o defensor teve uma carreira marcada pela fama de pé-frio: defendeu o Independiente de 1952 ao início de 1960, ano em que, já sem ele, o Rojo encerrou jejum de doze anos. A seca não o impediu de ser ídolo local nem de ir à Copa de 1958. Chegou ao River como contratação mais cara do futebol argentino até então, mas padeceu de infortúnios semelhantes ao de Cap, seu colega. Em 1966, El Puchero ainda foi à Copa do Mundo como recém-contratado do San Lorenzo, onde também não foi campeão. Esteve no Boca já como treinador, em 1972, parando nas semifinais exatamente no Superclásico. Acompanhou Cap como outro dos três técnicos da seleção de 1974 e foi quem o substituiu no River após o falecimento inesperado do ex-colega. Estava trabalhando no Huracán antes, sendo vira-casaca também nessa rivalidade com o San Lorenzo. Só lhe faltou o Racing. As glórias ficaram no futebol colombiano, como treinador dos dois primeiros títulos do Junior de Barranquilla, em 1977 e 1980.
Francisco Sá: nome histórico no futebol como jogador recordista de títulos na Libertadores. Zagueiro revelado no Huracán Corrientes, esteve primeiro no River, subaproveitado entre 1969 e 1970. Mas ali conheceu o lateral Roberto Ferreiro, antiga bandeira do Independiente que intermediou sua transferência ao Rojo. Pancho Sá ganhou em Avellaneda o título argentino de 1971 e esteve em todo o tetra da Libertadores erguido entre 1972 e 1975, sendo o único daquele elenco a ser titular da seleção em Copa do Mundo (na de 1974). Também ganhou o primeiro Mundial do time, em 1973. Depois ergueria também as duas primeiras Libertadores do Boca, no bi de 1977-78, e igualmente no primeiro Mundial xeneize, pela edição de 1977. Foi auriazul de 1976 a 1980. Também foi técnico interino do Boca em 1996 e do Independiente em 2010, em uma partida da campanha campeã da Sul-Americana – conquista que quebrou quinze anos de jejum continental e oito de jejum geral. Dedicamos este outro Especial a Sá.
Carlos Salinas: o ponta não foi apelidado de El Loco à toa. Como jogador do River, não escondia ser torcedor do Boca, chegando certa vez a ir treinar em Núñez com camisa do clube do coração, levando cartolas à fúria. Ficou por lá de 1974 e 1975, integrando como reserva o título que encerrou o jejum millonario de dezoito anos. Após ser defenestrado ao Chacarita, foi protagonista no Boca, onde esteve de 1978 a 1980 como integrante ativo da segunda Libertadores e do primeiro Mundial, deixando seus gols nessas duas finais. Ainda assim, foi repassado ao Argentinos Jrs como um dos contrapesos ao empréstimo de Maradona em 1981. E foi de Salinas o gol de pênalti que na última rodada decidiu o confronto direto contra o San Lorenzo pelo rebaixamento, provocando a primeira queda de um gigante na Argentina. O ibope rendeu uma transferência ao Independiente, onde esteve de 1981 a 1982 sem deixar tanta marca.
Osvaldo Pérez: outro jogador do quarteto principal, El Japonés Pérez integrou primeiramente o River dos anos finais de jejum, de 1970 a 1974. Notabilizou-se mais no All Boys, pelo qual chegou a ser um raríssimo convocado à seleção pelo clube da Floresta. Esteve em dois títulos nacionais do Independiente entre 1977 a 1980, rumando diretamente ao Racing, onde ficou no biênio 1981-82. Pérez passou ainda pelo Platense no segundo semestre de 1982 antes de aparecer no Boca no início de 1983. Só jogou dez vezes como xeneize. Atualmente ele trabalha no Independiente como técnico do time B, em dupla com Ricardo Pavoni.
Carlos Morete: promovido ao time principal do River junto com Japonés Pérez em 1970, Morete ficou um pouco mais em Núñez e foi premiado. Embora criticado pela falta de técnica inclusive pela própria torcida, tinha faro de gol, especialmente diante do Boca, e foi o artilheiro do torneio em que o Millo enfim quebrou seu jejum em 1975. O feito rendeu a El Puma uma transferência imediata ao futebol espanhol. O Boca o contratou do Sevilla em 1981, mas a fama passada inibiu que caísse nas graças xeneizes, embora tenha integrado (como reserva) o elenco maradoniano campeão. Morete retomou a forma e o lado carrasco do Boca primeiramente no Talleres, onde chegou a marcar um hat trick no “freguês pessoal”. Embora assumido torcedor do Racing, jamais o defendeu e seguiu carreira justamente no Independiente. Obteve nova artilharia no campeonato pelo Rojo, em 1982, voltando à seleção após nove anos de hiato. Mas já era reserva quando o poderoso clube dos anos 70 quebrou em 1983 um jejum de cinco anos. Mas ainda tinha renome para integrar o Argentinos Jrs bi de 1984-85 e campeão da Libertadores em 1985. Falamos aqui do atacante. Ufa!
Miguel Ángel López: defensor formado no Estudiantes, despontou no Ferro Carril Oeste a ponto de ser usado pela seleção e então ascendido ao River em 1968. Esteve nos diversos campeonatos perdidos nos detalhes entre aquele ano e 1970: foram nada menos que quatro traumáticos vices, incluindo um diante do Boca dentro do Monumental, em 1969. El Zurdo López chegou em 1971 ao Independiente, tal como Francisco Sá. E, como ele, estaria em todo o tetra seguido do Rojo na Libertadores. Ao fim da década, já era técnico, comandando o Argentinos Jrs maradoniano vice em 1980, voltando nessa função ao Independiente no biênio 1981-82. Como técnico apareceu entre 1983-84 em um Boca à deriva. Em 1995, conseguiu que uma campanha acidentada rendesse o título da Supercopa sobre o centenário Flamengo dentro do Maracanã. Dedicamos a López este Especial.
Gerardo Reinoso: o meia defendeu primeiramente o Independiente de 1983 a 1987, como reserva do time campeão de 1983 e vencedor da última Libertadores e do último Mundial do clube, em 1984. Foi obter a titularidade já na entressafra e terminou incluído em pacotão de renomados preparado pelo River para a temporada de 1988-89. O timaço de papel não rendeu. La Vieja Reinoso já era reserva no título de 1989-90 e foi repassado ao futebol chileno. Em 1991, o Boca lutaria em finais contra o Newell’s de Marcelo Bielsa para encerrar jejum nacional de dez anos, e estaria desfalcado da dupla ofensiva Diego Latorre e Gabriel Batistuta, ocupados com a Copa América pela seleção. O clube então buscou especialmente para as finais os empréstimos de Reinoso e do brasileiro Gaúcho, recém-artilheiro da Libertadores com o Flamengo. A nova dupla não funcionou, ainda que Reinoso tenha no fim marcado o gol que forçou a decisão por pênaltis – onde, mesmo em La Bombonera, o time perdeu. Ele ainda voltou ao Independiente em 1992 antes de integrar a Universidad Católica vice da Libertadores de 1993.
Ricardo Gareca: já dedicamos este Especial à carreira de jogador de El Tigre. O atual técnico do Peru surgiu no Boca em 1978, mas tardou até o segundo semestre de 1981 para firmar-se. Em um time em crise, destacava-se como seguido carrasco do River a ponto de integrar a seleção, inclusive encerrando jejum de treze anos sem vitórias contra o Brasil. A crise, porém, já era crítica em 1984, quando o clube brigou não só para não cair como também para não fechar as portas. Gareca então forçou uma transferência ao River, virando para sempre persona non grata nos xeneizes. Ficou só um semestre em Núñez, suficiente para integrar o início da campanha campeã de 1985-86. Foi ganhar dinheiro no narcofútbol colombiano como artilheiro do América de Cali trivice da Libertadores. No fim da carreira, teve uma passagem como opção útil de banco no Independiente entre 1993 e 1994, participando dos títulos do Clausura e da Supercopa antes de pendurar as chuteiras. No Rojo, também foi técnico em 1997, substituindo César Menotti, embora sem êxito.
Gabriel Amato: após passagens por Aldosivi e Gimnasia, chegou em 1991 ao clube do coração. Ganhou no Boca a Copa Master em 1992, mas saiu ainda antes do Apertura onde o time enfim encerraria o jejum pendente desde o maradoniano título de 1981 (até hoje, esses onze anos são a maior seca nacional xeneize). O ponta seguiu carreira no Independiente por uma temporada, sem êxito. Após um semestre interessante no Huracán, foi então contratado pelo River. Embora fosse no máximo um 12º jogador, apegou-se a Núñez a ponto de admitir que virou a casaca também no coração. Esteve no único título nacional vencido de modo invicto pelo Millo e também na Libertadores de 1996, sendo o primeiro campeão continental por Boca e River. Seguiu carreira na Espanha e estava bem no Rangers escocês quando chegou a ser contratado pela ISL ao Grêmio em 2000. No máximo esforçado, já admitiu sobre o currículo que “o futebol me deu mais do que eu lhe dei”.
César Luis Menotti: meia-armador daqueles refinados para os fãs e lento para os críticos, ia bem no seu Rosario Central a ponto de chegar à seleção e cavar uma transferência em 1964 ao Racing. Teve desempenho interessante na Academia, que embora não terminasse no pódio tivera o melhor ataque. Passou então ao Boca, onde já não foi tão bem entre 1965-66, rumando ao incipiente futebol dos EUA. Já como técnico consagrado, El Flaco teve duas passagens pelo Boca, sempre gerando saltos imediatos de desempenho: na temporada 1986-87, chegou a tirar o time do 14º lugar à liderança provisória, mas ruiu na reta final. Algo parecido se viu na temporada 1993-94, onde ainda chegou à final da Supercopa. Entre essas duas passagens, foi contratado com pompa pelo River, mas jamais engrenou em um Millo bastante reforçado. Chegou ao Independiente em 1996 e, como no Boca, ficou marcado por um bom futebol e ótimo aproveitamento provisório, especialmente nas passagens de 1996-97 e de 1998-99. Ficou apenas em dois vices antes de ter uma terceira e mal sucedida estadia em 2005. Ainda trabalhou no Rojo como gerente. Consagrado no Huracán campeão de 1973, só lhe faltou o San Lorenzo, pois até no Newell’s (como assistente, em 1970) também trabalhou! Detalhamos neste Especial do ano passado.
Sebastián Rambert: filho de ex-jogador da seleção francesa (Ángel Rambert, dos primeiros títulos do Lyon) e sobrinho de outro que defendeu Racing e Independiente nos anos 60 (Néstor Rambert, primeiro técnico juvenil de Sergio Agüero), o atacante foi revelado no Rojo em 1991. Destacou-se sobretudo em 1994, com o título do Clausura e com o golaço do título da Supercopa sobre o Boca de Menotti. Pascualito apareceu então brevemente na seleção e foi contratado pela Internazionale junto com Javier Zanetti, mas a concorrência no ataque e as lesões atrapalharam. Veio ao Boca para a temporada 1996-97, só crescendo de produção justamente na reta final. Sem renovar contrato, foi ao River, ainda sendo a última transferência direta entre os dois rivais: falamos disso aqui. De imediato venceu em Núñez o Apertura e a Supercopa 1997, mas não tardou a perder a titularidade, ficando esquecido no Millo até sair em 2000 para uma segunda passagem pelo Independiente, sem êxito. Bichado, pendurou as chuteiras no Arsenal. Embora a gramática francesa ordenasse a pronúncia “Rambér”, os argentinos se referem a ele ao modo castelhano, “Râmberti”.
Julio César Toresani: revelado no Unión, o meia Toresani aportou no River em 1991 para uma estadia que durou até meados de 1995. Levantou três títulos argentinos, com destaque ao de 1993, quando marcou o gol de um título que parecia destinado ao Racing, e ao de 1994, o único vencido de modo invicto pelo clube. A primeira “traição” foi voltar em 1995 a Santa Fe para defender o Colón, rival do Unión. Em 1996, então, foi ao Boca. Não virou ídolo eterno, mas soube conquistar a confiança xeneize e inclusive marcou na vitória de virada no Superclásico histórico que marcou a despedida de Maradona, no Apertura 1997. Apesar do feito, o rival terminou campeão por um ponto a mais e El Huevo Toresani seguiu carreira no Independiente por uma temporada esquecível antes de novas passagens pelo Colón.
Atualização em 22 de abril de 2019: embora conhecido pela raça em campo e coragem até em virar tanto a casaca, Toresani não pôde contra a depressão e deu cabo da própria vida, sendo relembrado nesse Especial.
Jorge Martínez: veloz lateral revelado no cascudo Deportivo Mandiyú do início dos anos 90, La Rana chegou em 1995 ao Independiente para vencer aquela acidentada Supercopa sobre o Flamengo sob o comando do Zurdo López. E, sob o comando de Menotti, esteve na recordada campanha do Clausura 1997: a quatro rodadas do fim, o Rojo sapecou um 6-0 no então líder Colón para virar o novo líder, mas as rodadas finais ficaram para depois da Copa América – que Martínez disputou como titular. Nisso, Menotti iniciou contrato com a Sampdoria e o ímpeto esfriou e murchou, sem nem ficar no pódio. Martínez foi então ao River para a temporada 1998-99, onde o eficiente Boca de Carlos Bianchi não teve concorrentes em seu bicampeonato. Ainda assim, o lateral conseguiu transferência ao futebol espanhol, sem êxito: na temporada 2000-01, voltava ao Rojo e na seguinte era emprestado ao Boca recém-bi da Libertadores, mas não triunfou. Ainda teve novo passo pelo Independiente na temporada 2004-05.
Oscar Ruggeri: revelado pelo Boca em 1980, foi xerife já na conquista maradoniana de 1981 como também nos subsequentes anos de crise financeira, virando ídolo e conseguindo jogar na seleção a despeito da situação do clube. Nisso, protagonizou junto com o amigo Ruggeri a famosa traição de 1985, indo ambos ao River. El Cabezón, porém, ficou muito mais odiado. Afinal, não só ficou mais tempo no rival (até 1988) como foi titularíssimo do mágico ano de 1986 millonario, com a tríplice coroa então inédita no país: título argentino e as primeiras Libertadores e Mundial da Banda Roja. Naquele ano, também ganhou a Copa do Mundo, ápice de uma carreira vencedora que passaria ainda por Vélez e San Lorenzo seguindo como jogador de seleção – inclusive, como capitão na suspensão drogadicta de Maradona. Como treinador não teve tanto sucesso, mas chegou a dirigir o Independiente em 2003 e foi ele quem promoveu a estreia de Sergio Agüero, ainda com 15 anos, no time adulto. Dedicamos-lhe este Especial.
Fernando Cáceres: no mês passado relembramos esse zagueiro, desde 2009 confinado a uma cadeira de rodas e à cegueira de um olho após ser baleado em assalto. O incidente criou solidariedade à sua pessoa entre as três torcidas rivais. El Negro Cáceres foi revelado no fortíssimo Argentinos Jrs de meados dos anos 80, chegando então ao River em 1991. Chegou à seleção como millonario e após vencer a Copa do Rei e conseguir ainda um terceiro lugar na liga espanhola com o Real Zaragoza de 1993-94, foi titular na Copa do Mundo. Ainda levantaria a Recopa Europeia com o Zaragoza em 1995, mas a entressafra que se seguiu prejudicou-lhe e, apesar de torcedor do River, acertou uma passagem pelo Boca no segundo semestre de 1996. Até jogou uma vez na seleção como xeneize, mas não se deu bem. Após consagrar-se também pelo Celta a ponto de ser o estrangeiro com mais jogos na Espanha, Cáceres voltou à Argentina para defender dignamente o Independiente entre 2004 e 2005.
Claudio Borghi: uma ironia é que, embora tenha passado pelo Independiente como jogador e como técnico, Borghi é outro torcedor do Racing, onde nunca esteve, assim como Morete. Era exatamente o grande craque daquele Argentinos Jrs de meados dos anos 80 que contou com Morete e o jovem Cáceres. El Bichi era um fenômeno e deslumbrou a tempo de cavar seu lugar na Copa do Mundo de 1986, embora perdesse titularidade no decorrer do torneio. Conseguiu ainda assim vaga no Milan, mas a estrela já não era a mesma, ainda que pudesse inicialmente rodar entre grandes clubes: era outro nome no pacotão de reforços do River de Menotti em 1988-89, seguindo por passos esquecíveis no Flamengo em 1989 e no Independiente em 1990 até se restringir a times menores (incluindo, heresia, o Platense, com quem o Argentinos Jrs construíra rivalidade). Então relançou-se como ídolo no Chile, sobretudo no Colo Colo.
Como treinador, El Bichi Borghi reforçou-se como ídolo colocolino, com um tetra seguido nos dois campeonatos nacionais de 2006 com os dois de 2007, sequência inédita na liga chilena que lhe credenciou a uma chance no Independiente em 2008. Sem novamente vingar em Avellaneda, especialmente ao não esconder que sempre foi torcedor racinguista, Borghi reencontrou-se na velha casa: Em 2010, então, foi técnico do Argentinos Jrs campeão do Clausura, virando o único homem presente em todos os títulos expressivos do clube (junto com o bi argentino de 1984-85 e a Libertadores de 1985) e único capaz de rivalizar com Maradona em idolatria ali. Por conta dessa conquista, apareceu no segundo semestre como técnico do Boca. Mas não conseguir impor seu sistema e sequer durou até o fim do Apertura, perdendo metade dos parcos quinze jogos à frente dos xeneizes.
Jesús Méndez: volante surgido no River em 2004, calhou de viver a entressafra sem títulos que vigorou dali até 2008, em quatro anos multiplicados por dois campeonatos anuais. Dispensado em 2006, Méndez se reencontrou no Rosario Central. No início de 2010 apareceu no Boca, mas nunca se consolidou: preferiu ser seguidamente emprestado ao Central mesmo com os canallas na segunda divisão, vencida enfim em 2013. Após o acesso com os rosarinos, parecia voltar em definitivo ao Boca, defendendo-o em um punhado de jogos no segundo semestre de 2013. Mas já em 2014 estava de volta à segundona, agora para defender o Independiente. Esteve no acesso e na boa campanha imediata no retorno à elite, ainda que a taça ficasse com o rival Racing – chegou a deixar seu gol em 3-0 no Clásico de Avellaneda. Ficou no Rojo até 2016 e seguia atualmente no Vélez.
Por fim, outros elementos em comum entre as três únicas camisas jamais rebaixadas no século XX na Argentina são os anos de 1977 e 2017, os únicos alusivos a campeonatos vencidos pelo trio. Há cerca de 40 anos, deu River no Metropolitano, Boca na Libertadores e Independiente no Nacional – finalizado só em janeiro de 1978, é verdade, assim como o Mundial Interclubes de 1977 (também ganho pelo Boca) só teve jogos em março e em agosto de 1978. Mais literal foi o ano retrasado: Boca no campeonato argentino, River na Copa e Independiente na Sul-Americana.
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