Prosseguindo com a minissérie iniciada ontem (veja aqui), as animosidades entre San Lorenzo e Independiente nem são das maiores nas rivalidades entre os cinco grandes clubes argentinos, grupelho que reúne ambos com Boca, River e Racing. Mas o Ciclón tem seus motivos de satisfação por terminar como carrasco do Rojo, rebaixado pela primeira vez.
O Club Atlético San Lorenzo de Almagro é comumente referido pela sigla CASLA, satirizada pelos rivais como Club Atlético Sin (“Sem”) Libertadores de América. Trata-se exatamente do único dos cinco grandes que ainda não obteve o torneio, já levantado até por Estudiantes, Argentinos Jrs (que também pode cair nesta temporada e quem rebaixara o San Lorenzo em 1981) e Vélez, clubes de grande reconhecimento externo mas de expressão média ou pequena na Argentina.
O rebaixado no último sábado, do seu lado, é justamente o maior vencedor da competição: sete vezes. Foi ainda o primeiro argentino a obtê-la (1964), a conseguir um bi seguido (1964-65) e um tetra seguido (1972-75), recorde ainda só seu também. Justamente para realçar este orgulho e cutucar os rivais, o Independiente, ao construir seu novo estádio no lugar da antiga Doble Visera, batizou-o de exatamente de Libertadores de América.
De certa forma, todos os trocos que o San Lorenzo devolveu no sábado têm alguma relação com o torneio. O Independiente entrou na vitoriosa edição de 1964 após ter sido campeão argentino de 1963, título disputado contra o River. Este título nacional, a completar meio século ao fim deste 2013, foi garantido exatamente sobre o CASLA. O grande problema foi como isso ocorreu…
Um empate já daria o título ao Rojo, já com dois pontos (valor de uma vitória na época) de diferença para o River. O líder jogaria em casa contra um San Lorenzo que terminaria apenas em oitavo. Mas os visitantes abriram o placar, aos 20 minutos, com o jovem Héctor Veira, não perdoado pelo adversário Rubén Navarro: El Hacha Brava, célebre pela truculência, pouco depois entrou forte numa dividida com Veira, que não teve como prosseguir em campo.
Como não haviam substituições na época (com exceção ao goleiro), o San Lorenzo passou a jogar com um a menos. Raúl Savoy decretou a virada com gols aos 30 (em lance originado de pênalti para o San Lorenzo não marcado) e aos 44 minutos da primeira etapa – por reclamação, Rafael Albrecht foi expulso logo depois pelo árbitro Manuel Velarde. Nem bem começou o segundo tempo, e os azulgranas ficaram com três a menos: Roberto Telch, como Veira, saiu lesionado após falta de Tomás Rolán, e não pôde ser substituído. Mas Velarde sequer advertia os rojos.
Com oito jogadores em campo, os cuervos não puderam resistir por muito tempo e resolveram simplesmente não se opor às jogadas do adversário, especialmente após Raúl Bernao marcar os 3-1, aos 19 minutos. A partir dali, repunham a bola e praticamente cruzavam os braços: Savoy marcou aos 29, Jorge Vázquez no minuto seguinte, Mario Rodríguez aos 35, Bernao aos 38, Savoy fez seu quarto aos 41…
Aos 43, veio o último gol, o mais emblemático: o sanlorencista Oscar Rossi simplesmente caminhou à própria grande área com a bola e chutou contra o gol que o colega Agustín Irusta deveria proteger, mas assistiu estático. Independiente 9, San Lorenzo 1. O árbitro Velarde admitiu que a partida escandalosa prejudicou sua carreira (ele foi suspenso por seis meses), encerrada quatro anos depois. Mas nada afetou as comemorações rojas.
O rebaixamento do Independiente contra o San Lorenzo também desengasgaria outros reveses a completar anos redondos em 2013. Em 1973, o Rojo obteve seu quarto título na Libertadores, tornando-se ali o recordista isolado de títulos na competição; comentamos recentemente, aqui. Um dos adversários deixados para trás foi o CASLA, que vivia a melhor fase de sua história – em 1972, tornara-se o primeiro clube do país a obter os dois títulos anuais da elite, o Metropolitano e o Nacional; falamos aqui.
O melhor desempenho que o San Lorenzo conseguiu na Libertadores foi chegar três vezes às semifinais, e uma delas foi naquela edição. Os cuervos chegaram bem perto da decisão: eram os líderes do grupo (formato na época da semifinal) e tinham que arrancar um empate em Avellaneda. Podiam até terem se classificado uma rodada antes, se vencessem o Independiente em casa, mas ficaram no 2-2 no Gasómetro. Na Doble Visera, os detentores do título não perdoaram: 1-0. Miguel Giachello, a marcar nos dois jogos, foi o carrasco maior.
Em 1981, o San Lorenzo tornou-se o primeiro grande a ser rebaixado, mancha que agora pôde colocar no rival. Logo em 1982, o CASLA foi campeão da segunda divisão, e manteve o embalo para 1983: o clube poderia ter um raríssimo bicampeonato seguido com segundona + elite. A torcida azulgrana foi a campeã de ingressos na elite de 1983, impulsionando o clube a disputar o título até a última rodada. Os concorrentes eram o Ferro Carril Oeste e o… Independiente, que chegou a ser derrotado em casa pelos cuervos por 0-2.
Mas os de Avellaneda acabaram campeões, por 1 ponto, a despeito do San Lorenzo (treinado pelo mesmo Veira) ter emendado quatro vitórias nos quatro últimos jogos. E foi a partir deste título que o Rojo chegou à Libertadores de 1984, a última que conseguiria conquistar. Foi também pelas ditas Libertadores de 1973 e 1984 que o clube conseguiu seus dois títulos na Intercontinental.
Por fim, no dia do rebaixamento, o Independiente contou com dois ídolos que haviam se destacado também no maior arquirrival sanlorencista, o Huracán: o técnico Miguel Brindisi era uma das estrelas do campeão argentino em 1973 (enquanto o San Lorenzo caía na Libertadores), ainda hoje o único título da Quema na elite profissional – iria à Copa de 1974, inclusive marcando contra o Brasil. Já o meia Daniel Montenegro foi um dos pilares de quando os quemeros venceram a segunda divisão, em 2000.
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