Sediado na elegante zona norte portenha, a alcunha de “Millionario” sempre caiu muito bem ao River Plate. No entanto, há 46 anos um anônimo torcedor do Banfield soltava uma galinha em campo numa partida contra o Millo, como gozação à inacreditável derrota sofrida na final da Libertadores contra o Peñarol. Nascia ali uma tradição que segue muito viva.
No dia 20 de junho de 1966 o River vencia o Peñarol no desempate da final da Libertadores por 2 a 0. Os uruguaios conseguiram o empate no 2o tempo. Ao fim do jogo, o treinador Renato Cesarini fez modificações que descaracterizaram a equipe, e na prorrogação Abbadie e Pedro Rocha marcaram os gols que deram a vitória ao Manya. Já falamos a respeito desta partida em outro especial, aqui.
A derrota era inacreditável. O título que parecia ganho foi para Montevidéu. Ermindo Onega declararia depois: “Foi incrível perder esse jogo. Pensar que se ganhássemos do Peñarol seríamos a primeira equipe argentina campeã do mundo, pois éramos melhores que o Real Madrid. Quando levamos o terceiro gol, Abbadie me disse: “só vocês mesmos para perder uma partida desse jeito”.
Nove dias depois, o River Plate entrou novamente em campo. A equipe visitou o Banfield, pela 13a rodada do campeonato argentino daquele ano. O encontro terminou empatado em 1 a 1, mas o resultado não teve nenhuma importância. O que realmente entrou para a história foi o ato de um anônimo torcedor do Taladro, que soltou em campo uma galinha branca com uma faixa vermelha pintada, clara alusão à derrota sofrida pelo River na semana anterior.
A torcida local delirou, e começou a bradar “gallinas” para a hinchada rival. A ação seria repetida por outras torcidas, até que o River passasse a ser definitivamente conhecido por essa alcunha pelos inimigos. E, de tão arraigada, o termo, que era originalmente depreciativo, lentamente começa a ser adotado pela própria torcida riverplatense (a foto que ilustra esta matéria foi tirada de um site de torcedores do clube), um pouco como ocorreu com o porco palmeirense e o urubu flamenguista.
E tudo foi uma simples e inocente brincadeira. Ao menos a se acreditar em seu autor, que deu uma entrevista a um veículo do Banfield: “armamos tudo numa discoteca em que ia com meus amigos, e cujo dono era meu amigo. Quando nos reunimos na quinta-feira, falamos sobre o River e nos ocorreu fazer alguma gozação com eles. Foi aí que surgiu a ideia. Nos pareceu algo perfeito para o momento que eles viviam”.
Um punhado de torcedores anônimos se divertindo em um clube noturno, falando do clube de seu coração e resolvendo fazer uma gozação com o rival do próximo fim de semana. Numa cena como essa, deliciosamente simples, nascia um novo termo para o vocabulário futebolístico argentino. Os Milionários se transformavam em Galinhas.
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Simplesmente histórico, Tiago... O pior que ao contraponto das inúmeras glórias do time, há também derrotas inacreditaveis, como essa do Peñarol de 1966...