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Quando os grandes não têm vez

Estudiantes e Vélez Sarsfield são as inquestionáveis forças do futebol argentino atual. Quando se fala no título do Apertura, não se imagina uma disputa sem que os dois sejam candidatos e favoritos. Pareciam imbatíveis, até que chegou a 7ª rodada. Ambos estiveram irreconhecíveis e perderam suas invencibilidades no campeonato. Argentinos e Boca Juniors agradecem.

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É bem verdade que o Argentinos Juniors contemporâneo poderia perfeitamente vencer o Estudiantes de La Plata sem causar espanto, ainda que o adversário seja o campeão da América. Mas a surpresa esteve na forma com que triunfaram.

Não jogaram um futebol bonito, mas foram tremendamente eficientes. Tiveram suas boas jogadas de velocidade principalmente com Gabriel Hauche, mas primaram mesmo pelo poder de marcação. Canuto, Caruzzo (autor do gol) e Scotti mostraram a força de uma das melhores zagas do campeonato. Enquanto o meio-campo asfixiava os armadores de Sabella. Veron foi presa facil para Mercier.

Uma vitória por uma margem maior de gols seria mais justa, porém os atacantes não estiveram tão inspirados quanto a defesa do Bicho de Bichi Borghi. Seguem invictos e na cola do ainda líder Estudiantes e, cada dia mais, vão deixando de surpreender pela posição que ocupam na tabela.

Nos últimos anos, também não dava pra chamar de estranha uma vitória do Boca Juniors contra o Velez em La Bombonera. Contudo, a atual conjuntura da realidade das duas equipes não permitia que se imaginasse um triunfo Xeneize. Muito menos com Riquelme como nome do jogo.

O começo do confronto caminhava nesse sentido lógico, com a zaga do Boca permitindo um cabezazo tranquilo do ex-Godoy Cruz Leandro Caruso. Roman, Insua e Gaitan estavam no lapso de criatividade costumeiro, e seus cruzamentos quase nunca achavam o solitário Palermo. Só que o Fortin permitiu a insistência dos anfitriões, até que ela rendeu frutos no peixinho de Battaglia.

Eis que veio a etapa final, e outra insinuação de derrota auriazul, graças a outro gol do artilheiro Caruso. Mas foi nessa hora que Riquelme teve lampejos de genialidade. Começou a dar passes precisos para chances de gol. Foi o autor do belíssimo gol de empate e fez um belo lançamento para Gaitan, que terminou na falha de Montoya e no gol de Palermo, numa cabeçada a 35 metros das redes.

Três pontos conquistados mais na base do heroísmo do que na qualidade. E pelo fato do Velez ter se arriscado muito menos do que deveria. Cai uma invencibillidade de 11 jogos dos comandados de Ricardo Gareca, enquanto o Boca Juniors vinga-se pela eliminação na Sulamericana.

Outro beneficiado pela fraca rodada de Fortineros e Pinchas foi o Newell’s Old Boys. Muito além de uma vitória para se acercar dos líderes, foi uma afirmação de um bom time que andava bem de visitante, mas fraquejava na sua própria casa.

Pois se os Leprosos estavam em dívida com seu torcedor, trataram de paga-la com juros e correção monetária. Deram uma aula de futebol no Coloso del Parque e arrasaram o Atlético Tucuman por 3×0. Gols de Insaurralde, o zagueiro artilheiro, Achucarro e Mauro Formica.

Olho nos comandados de Roberto Sensini. Assim como Banfield e Argentinos, eles vão deixando de lado o status de zebra a cada rodada.

Deixando de lado a disputa pelo caneco, hora de falar mais sobre o calvário Millonário, que nesta fecha fez uma vítima: o cargo de Nestor Gorosito.

Na minha visão, ele pagou o pato por um mau momento que não é inteiramente culpa dele. É mais por conta da falta de dinheiro na conta do River Plate, e pela incapacidade dos dirigentes de trabalhar com essa realidade. O time foi pouco reforçado, não tem uma zaga de valor, vendeu o principal artilheiro e aposta suas fichas nos inconstantes Ortega e Fabbiani.

Hoje o Burrito não jogou, mas o Ogro ajudou a jogar uma vitória num clássico no lixo numa ridícula tentativa de gol de letra. Desperdiçou as belas atuações dos jovens Buonanotte, Villalva e Bou. Romagnoli, sem nada a ver com isso, aproveitou para comandar a virada do San Lorenzo no jogo final de Gorosito. Ainda não existem candidatos para sua vaga, mas quem chegar terá um senhor trabalho pela frente.

Rodrigo Vasconcelos

Rodrigo Vasconcelos entrou para o site Futebol Portenho no início de julho 2009. Nascido em Buenos Aires e torcedor do Boca Juniors, acompanha o futebol argentino desde o fim da década passada, e escreve regularmente sobre o Apertura, o Clausura e a seleção albiceleste

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