Quando Maradona defendeu o Racing
Apesar da imagem de torcedor fervoroso do Boca, Maradona se dizia torcedor do Independiente nos anos 70, algo pouco reverberado fora da Argentina. Há exatos 20 anos, porém, ele estreava no comando do arquirrival, estreando justo em clássico de Avellaneda – ainda que em um 0-0 amistoso por torneio de verão naquele 14 de janeiro de 1995. No embalo da contratação de impacto, era divulgado que a filha Giannina já simpatizava com o Racing.
Talvez o jogo mais marcante da estadia maradoniana por lá tenha sido outro com o Independiente, também em 0-0, cerca de dois meses depois. Isto porque Dieguito adicionou mais uma polêmica no currículo, ao ser expulso pelo árbitro Juan Bava por jogar água no bandeirinha. Maradona chegou a ameaçar demitir-se, mas o presidente que lhe trouxera, Juan De Stéfano, negou-se a aceitar.
Maradona havia sido suspenso por um ano e três meses pela FIFA após ser pego no antidoping da Copa do Mundo de 1994. A punição não o impedia de treinar clubes e assim ele trabalhara no Deportivo Mandiyú, emergente clube na época que começou sua derrocada exatamente pelo projeto megalomaníaco com o craque. O Algodolero terminaria rebaixado ao fim daquela temporada 1994-95. Com Maradona (o goleiro Goycochea também veio ao clube de Corrientes: confira aqui), só venceu uma vez no Apertura, onde foi penúltimo. O que não impediu que o Racing chamasse Diego.
O desempenho da Academia no Clausura 1995 foi um enganoso sexto lugar: na Argentina, aquele foi o último torneio em que as vitórias valiam apenas 2 pontos e não 3. Apesar de só vencer duas vezes, além de perder três, o Racing maradoniano empatou seis. O ponto mais alto foi uma irônica vitória sobre o Boca na Bombonera, onde o Racing não vencia os auriazuis havia vinte anos.
O último jogo sob Maradona, que fazia dupla com Carlos Fren (ex-colega seu nos tempos de Argentinos Jrs e, ironicamente, ídolo do Independiente como jogador. Aquele Racing tinha ainda outro vira-casaca ídolo no rival, o lateral-direito Néstor Clausen) foi outro empate, um 0-0 com o Gimnasia de Jujuy. Eis a campanha toda: 0-1 Ferro Carril Oeste, 1-0 Platense, 0-0 Independiente, 2-2 Huracán, 1-2 San Lorenzo, 2-2 Talleres, 1-1 Belgrano, 1-0 Boca, 1-3 River, 1-1 Vélez e 0-0 Gimnasia Jujuy.
Declarando-se leal ao presidente De Stéfano, não reeleito em 1995, Maradona deixou o clube ainda durante a suspensão para jogar – o craque havia sido contratado como arma eleitoral, uma cortina de fumaça à crise econômica do clube e cada vez mais falha ante os resultados nada empolgantes: como mostraria na seleção, primava mais o motivacional que o tático e mesmo assim se atropelava (como sugerir que o jovem meia Ricardo Ramírez pudesse ser seu sucessor).
Ao fim da suspensão, El Diez voltaria ao seu Boca mesmo, retomando a carreira de jogador em setembro daquele 1995. E os auriazuis, embalados, davam pinta de conquistar o torneio seguinte, o Apertura da temporada 1995-96. Caniggia havia chegado também e os boquenses lideravam, invictos, até a antepenúltima rodada, quando levaram em um único jogo a mesma quantidade de gols que haviam sofrido até então.
Em plena La Bombonera, o Boca foi derrotado por um maluco 6-4, desgringolou e ficou só em quarto. A derrota foi para o… Racing. Que assim conseguiu duas vezes no ano a vitória na casa boquense que não vinha desde 1975. O detalhe é que dessa vez estava embalado e quase foi campeão também (a taça ficaria com o Vélez). Será que a história seria mais feliz em Avellaneda se aquele técnico sofrível ficasse mais um tempo para se efetivar jogando?
Isso porque, quando o Racing contratou Maradona para técnico, havia a expectativa que, passada a suspensão, ele se convertesse em jogador da Academia. E o lado menos conhecido dos dias racinguistas do craque é que isso de fato aconteceu, uma vez. Obviamente, foi em jogo não-oficial, em amistoso beneficente com o Estudiantes de Buenos Aires, no estádio deste clube.
Destaques de outros times também jogaram pelo Racing, como o goleiro boquense Carlos Navarro Montoya (que anos depois jogaria no Independiente) e integrantes do Vélez recém-campeão da Libertadores e Mundial, casos do lateral Héctor Almandoz e do atacante Omar Asad (que marcaria naquelas finais internacionais contra São Paulo e Milan). Foi 2-2. Com dois gols de Dieguito…
Já escrevemos sobre estadias rápidas e também pouco gloriosas de Maradona em outros clubes que não aqueles onde se consagrou. Clique aqui para ler sobre ele no Sevilla (1992-93), aqui sobre ele no Newell’s (1993-94) e aqui sobre sua passagem como técnico do Mandiyú (1994).
Pingback: Há 20 anos, acabava o jejum de 35 do Racing
Pingback: Vida e obra de Omar "El Turco" Asad, 50 anos
Pingback: Néstor Clausen, o único titular do Independiente campeão continental nos 80 e 90