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Qualquer um pode falar de Messi?

De um lado um craque, do outro uma beldade: no centro, a polêmica

Mais ou menos. Nem todos podem. E mesmo dentre àqueles que podem há um número restrito que por certo tem todo o direito do mundo de ficar com a boca fechada. De se colocar no seu devido lugar e não colocar o pezinho no terreno movediço das asneiras. Investiguemos então alguns casos. E vamos dar nome ao incentivador de nossa reflexão: Vanessa Sabella, a filha imbecil do Pachorra.

A condição de imbecil não necessariamente elimina da pessoa o seu coração afetuoso, grande e doador. Assim é Vanessita, “la hija” de Sabella. Motivados pelas inundações que assolam La Plata, e que já vitimaram mais de 50 pessoas, os filhos do técnico argentino abriram as portas de sua casa para os desabrigados. Diariamente servem-lhes comida, feita por eles mesmos; doam roupa, carinho e esperança. Ao falar sobre o assunto, a bela Vanessa também se mostrou diferente: culta, crítica e humana; filosofou e soube equilibrar sua fala na medida política ideal para uma pessoa com certa fama.

Até aí tudo bem. Mas ela resolveu falar sobre futebol. Foi então que entrou na categoria daqueles que opinam sobre o craque. A maioria dos quais solta bobagens aos montes: sejam eles do grupo que elogia, sejam eles do grupo que critica. Então, fica a pergunta: ela pode falar sobre Messi? Por certo que sim. Lógico! Mas em que condição?

Todos os mortais têm o direito de falar o que pensa e na hora que bem entender. Só que precisam consideram o veículo, interlocutor e público. Há de não se esquecer a posição que ocupam e a influência que dela decorrem as suas falas e opiniões. Um ser humano “mortal” vai dar pouca importância para o que pensa uma pessoa, como eu, por exemplo. Menos ainda para uma outra com uma publicidade menor que a minha. Muitas vezes, não vai nem ouvir o que fala um “pobre miserável” com a mesma estatura que a sua.

No entanto, se a pessoa que opina importa de alguma forma, sua fala será considerada e terá o poder de gerar danos os mais diversos e desconhecidos. Vez ou outra, esses danos estarão bem além do previsto pelo “falador”. Vanessa é um caso de quem não prever. Seu erro não está em manifestar sua visão sobre Messi, mas em não considerar sua influência para o público, bem como em colocar o seu pai num caixote. Agora, para Sabella, criticar a filha é arrumar problema na família, além de jogar a pá de cal sobre a cova que muitos já estão abrindo para Vanessa. Por outro lado, se omitir quanto à fala da pequena, sobre “La Pulga”, é potencializar o surgimento de problemas na Seleção.

Mas o que disse a menina? Que “falta um pouco de sangue ao jogador, que lhe falta coração e disposição para finalmente ser o cara”. Não convém perguntar quem é ela ou se entende ou não de futebol: sem preconceitos aqui. Medidos fatores como noção sobre influência de suas palavras, veículo, interlocutor e público, Vanessa cometeu um erro bastante comum àqueles que se colocam na condição de defender ou atacar o atual craque do Barcelona: os seus argumentos. No caso da “pequena”, sequer eles existem, pois ela só faz declarações, além de defender cada uma delas com a outra. Contudo, ainda que com argumentos, muitas outras personalidades incorrem no mesmo erro.

O principal aqui no Brasil é Pelé. “Messi não é o ‘cara’, porque não usa o pé direito”. “Messi é uma cópia de Maradona; Neymar tem condição para ser melhor que eles”. Os motivos para isso não importam. Para o Rei, o que vale é dizer o que ele pensa e não percebe que nas suas declarações há uma notória preocupação com os números do argentino. Xavi, para o Rei da Vila, estaria acima de Messi e seria o corpo em quem ele gostaria de reencarnar.

Pelé, que se preocupa tanto com os números, e os utiliza para se colocar acima dos argentinos, não utiliza o mesmo critério quando coloca o craque do Peixe acima de “La Pulga. Suas declarações agradam a muitos pachecos, mas não agrada ao inteligente atleta santista, que já deve intuir que os elogios do Rei do Futebol, a seu desempenho, só devem continuar até o dia em que ele, Neymar, começar, aqui no Brasil, a ser considerado uma ameaça a Pelé. Como o seu sucesso parece sem fim, ele mesmo, Neymar, já começa a saborear as mesmas críticas empobrecidas do ídolo histórico da Vila Belmiro. Portanto, Pelé também pode e deve falar sobre Messi, mas precisa melhorar seus argumentos.

Na linha do Rei da Vila, e na Argentina, está o ex-guardametas Hugo “el Loco” Gatti. O antigo dono da camisa 1 do Boca Juniors já disse que Pelé foi o melhor da história. Não argumentou, mais vai lá. Só que afirmou também que “na época de Pelé, Cruyff e Maradona, Messi iria para o banco de reservas”. A crítica de Gatti é ridícula porque é acima de tudo reacionária. Ela nega o presente para afirmar apenas os valores dos passado. E danifica ainda um dos alicerces de quem tenta valorizar os craques de hoje ao dizer que o futebol atual é carregado de uma marcação pouco vista na época de Pelé. Basta ver “R7” ou “La Pulga” atuarem para se dar conta disso.

Pulemos o grupo daqueles que elogiam o craque argentino e que por vezes falam besteiras também. Vamos diretamente para aqueles “metem sua colher no fubá”, mas com estilo. E em contraposição a Gatti vamos eleger Chilavert. “Ele é o melhor da história”, disse o polêmico ex-porteiro do Vélez Sarsfield. “Antes não tinha, ‘nem de longe’, a pressão de hoje em dia. Quando Messi está com a bola, ele tem três jogadores pressionando-o”. E continuou: “ele tem a faculdade de resolver um problema em milésimo de segundos”, disse Chilavert, insinuando que, no passado, o tempo para as mesmas soluções era maior, assim como a liberdade dos craques para desfilar seu talento dentro da cancha. Podemos até não concordar com os argumentos de Chilavert, mas eles estão aí, e são bons.

Tostão vai além. Disse que Messi está reinventando o futebol e que sua arte está entre o virtual e o real. Considera que “La Pulga” já superou Maradona e que está abaixo apenas de Pelé. Em favor do Rei, Tostão argumenta com o aspecto físico, a habilidade do craque em fazer muitos gols de cabeça etc. Só que em favor do craque argentino, o comentarista argumenta de maneira simples e objetiva: duvida se Messi já chegou ao seu auge. Assim, Tostão traz à tona um argumento pouco esquecido nessa onda infindável de comparações: a carreira de um jogador. Só podemos fechar essa questão de quem realmente foi melhor quando o craque do Barça pendurar as chuteiras.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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