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Promédios: quando o feitiço se volta contra o feiticeiro

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Uma das características do futebol argentino que mais intriga os brasileiros é o sistema de promédios, utilizado para definir as equipes que serão rebaixadas. Qualquer brasileiro fã de futebol argentino sabe a dificuldade de explicar o funcionamento do sistema. Criado para proteger os grandes, a regra pode rebaixar um gigante pela segunda vez em três anos, mostrando que não funciona nem para a finalidade para a qual foi criada.

Em sua versão moderna, o rebaixamento por promédios chegou à Argentina no ano de 1983. A ideia era simples: utilizar a média dos dois anos anteriores – atualmente, são três – para definir os rebaixados. Com isso se esperava, após o rebaixamento do San Lorenzo em 1981, que os clubes grandes (na Argentina, são considerados cinco: além do San Lorenzo, também Boca, River, Racing e Independiente) ficassem mais protegidos – uma temporada ruim seria compensada por outra boa. A medida surtiu efeito já em seu primeiro ano, quando, a despeito da péssima campanha, o River Plate se salvou do descenso. Mas já houve um “problema”: o Racing foi rebaixado em seu lugar.

Os anos se passaram, e o futebol se vingou. Em 2011, o River Plate foi rebaixado em uma temporada em que fez 57 pontos. Uma pontuação que deixou o Millo entre as cinco melhores equipes de 2010/11. Mas as duas péssimas temporadas anteriores levaram o gigante de forma até então impensável para a segunda divisão.

E a situação pode se repetir. Se a temporada 2012/13 terminasse agora, cairiam Independiente, San Martín e Unión. Com 19 pontos, o Tatengue seria rebaixado mesmo sem os promédios. Mas os outros dois piores da temporada são Argentinos Jrs. (26) e Tigre (29). Com 31 pontos, o San Martín se salvaria. E com 33, os Rojos de Avellaneda estariam muito mais seguros. Hoje, o Rey de Copas seria rebaixado exatamente pelos promédios.

Os promédios desafiam o mérito esportivo. Se propõem a premiar a estabilidade, mas no fundo sempre pretenderam proteger os grandes. Os casos de Racing, River Plate e Independiente mostram que o sistema sequer consegue mais realizar aquilo que se propôs a fazer. Por que continuar, então?

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

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