Quando o Futebol Portenho foi criado, em 2009, a elite argentina já completava dez anos sem ver um Platense x Argentinos Jrs, rixa que hoje reaparece na primeira divisão após 22 anos – mesmo tempo que levou para o Everton voltar a vencer o Liverpool na casa vermelha, ontem. Em um fim de semana marcado também por um Milan x Internazionale valendo liderança na Serie A, vale rememorar também o retrospecto de um clássico esquecido por toda uma geração. Não só o dérbi dessa segunda rodada volta como marca ainda a própria reestreia do Tense na elite, após o adiamento de seu compromisso pela rodada inaugural.
Como surgiu?
“Clássico? Mas o Argentinos Jrs teve Maradona, tem uma Libertadores e três troféus de primeira divisão contra nada desse outro time”. Correto. E com isso é sempre bom lembrar que as rivalidades argentinas não nascem necessariamente por oposição de times de mesmo patamar e sim pelas vizinhanças (embora distantes geograficamente há quase cem anos, Boca x River eram rivais no bairro de La Boca, a ponto de travarem o Clásico Boquense – que só nos anos 30 passou a ser o Superclásico): Huracán x San Lorenzo e Estudiantes x Gimnasia estão aí para não nos deixar forçar a barra.
E, no duelo entre Tense e Bicho, há um lado favorável para uma das raríssimas torcidas marrons do mundo: é ela quem, a despeito do contraste de títulos expressivos, conta vantagem no confronto direto. Um Re-Pa argentino, grosso modo. O próprio site Pasión Paternal reconhece: “no total, se enfrentaram em 80 ocasiões e quem se posiciona na frente é o recentemente ascendido. Os de La Paternal ganharam em 21 ocasiões, caíram em 28 e as 31 restantes foram empates. Platense tem uma diferença de sete vitórias”. São estatísticas que computam também o amadorismo; considerando só jogos da era profissional, a supremacia marrom se mantém do mesmo jeito: 25 contra 20, além de 29 empates.
O Platense já foi um clube de Buenos Aires, com estádios no extremo norte da capital, ora no bairro de Núñez, ora no de Saavedra, até radicar-se na cidade vizinha de Vicente López. As andanças sempre por aquela região fomentaram contra o Tigre o Clásico de la Zona Norte, o dérbi tradicional do Calamar. Os rubroazuis, contudo, praticamente sumiram da elite entre os anos 50 e 2007, salvo reaparições-relâmpago em 1968 e em 1980. O Platense, em contraste, se notabilizou por arrancar salvações milagrosas contra o rebaixamento ao longo dos anos 80.
Isso fez com que os tigrenses passassem a alimentar uma rivalidade paralela com outro quadro sediado nas redondezas nortistas e mais frequente nas divisões inferiores desde os anos 70, o Chacarita – que, apesar do nome, nunca sediou-se no bairro de La Chacarita, onde residiam seus fundadores: seu endereço em Buenos Aires era no vizinho Villa Crespo (daí o Clásico de Villa Crespo com o Atlanta), mas ainda nos anos 40 mudou-se para a cidade de San Martín.
E o Argentinos Jrs, que por vizinhança tinha no All Boys o mais perto de um clássico (pois, além do Atlanta já “ter o Chacarita”, os também próximos Vélez e Ferro Carril Oeste já fazem entre si um dérbi próprio, o Clásico del Oeste), mesmo com a torcida do Albo detestando mais o Nueva Chicago (no Clásico del Ascenso), viu esse encontro com os alvinegros desaparecer da elite entre 1980 e 2010. E como outros clubes geograficamente próximos do Platense já tinham similarmente um dérbi próprio entre si – Excursionistas x Defensores de Belgrano -, sobrou-lhe o Argentinos. E vice-versa.
Uma coluna de opinião no site Argentinos Pasión preferiu garantir haver mais confusões contra o Vélez mesmo ou até com o San Lorenzo (“foram 19 anos de enfrentamentos, onde a violência foi mais importante que o futebol em si. Só 19 anos em 117 anos de história, muito pouco para transformar-se em clássico. Não há proximidade nem disputa de torneios, só a necessidade de ter um clássico”), mas explica como o próprio Maradona ajudou a fomentar a pica – calma, é gíria argentina para rixa – com o Tense.
“Em 1980, começaria essa marcada rivalidade; o Metropolitano desse ano encontraria ambos os clubes brigando pelas primeiras posições. O Argentinos consegue o vice-campeonato, com 42 pontos, e o Platense termina em terceiro, com 41; o campeão foi o River. Lembro de voltar do campo do Tigre nos ônibus, festejando o primeiro vice-campeonato da nossa história, e ao passar pelo campo do Platense, sobre [a Avenida] General Paz, sermos agasalhados por uma chuva de pedras”.
O vice-campeonato foi a grande campanha de Maradona como andorinha no clube de formação, ofuscando uma das melhores campanhas dos marrons. Em paralelo, o All Boys era rebaixado. Após o Metropolitano, seria disputado o Torneio Nacional, que não incluía os recém-rebaixados. Ao longo dos anos 70, virou costume haver a “rodada dos clássicos”, e nessas ocasiões o embate do Argentinos era sempre com o Albo. Sem os alvinegros, aquele Nacional de 1980 colocaria nessa rodada o embate com o Calamar. E, novamente, o fator Maradona pesou. Assim como uma suposta mala preta do River. “Nesse dia vimos Maradona fazer cera para beneficiar o River, imagine”, jurou um torcedor ainda indignado em nota de ontem do Clarín.
“Jogamos a última rodada a partida interzonal, ou ‘clássico’: o Argentinos estava na zona B, já classificado, e o Platense na zona D, igual ao River, com quem brigava pela classificação à fase seguinte. Foi vitória do Argentinos por 2-1, resultado que privou o Platense de avançar. “a partida terminou em escândalo; lembro de ver a torcida do Platense invadindo o campo de jogo por uma abertura que fizeram no alambrado, e a torcida do Argentinos também ingressando no terreno por uma porta que estava na esquina; desde aí, até o descenso do Marrón em 1999, todas as partidas foram catalogadas de ‘alto risco’ pela polícia, e em todas houve incidentes de violência”.
Aquele 2-1 seria, inclusive, a última partida oficial de Dieguito como colorado: ele precisou desfalcar seu time para defender a seleção em amistosos e, sem o astro, o Argentinos foi presa fácil para um Racing de Córdoba em fase dourada (seria o vice-campeão) logo no primeiro mata-mata. Diego ainda jogaria um punhado de amistosos, e o último deles fez precisamente 40 anos ontem: simbolizando sua transferência, ele atuou o primeiro tempo pelo time de origem e o segundo já pelo Boca.
Sem sua joia, o vice-campeão do Metropolitano de 1980 quase foi rebaixado no Metropolitano de 1981, livrando-se apenas ao vencer na rodada final o confronto direto com o San Lorenzo – decretando o primeiro rebaixamento de um gigante no futebol argentino. Mas o dinheiro em caixa com a venda maradoniana ao Barcelona em 1982 logo catapultou o Bicho para sua melhor fase. É nesse contexto que a Seven Up prefere patrocinar os dois lados. E que surge um primeiro vira-casaca de verdade na rivalidade, e o mais benquisto de forma equilibrada entre as duas torcidas.
Antes, uma observação: mesmo ao longo daqueles 19 anos até o rebaixamento marrom, vale dizer que no período compreendido entre 1980-99 a vantagem continuou do lado do Tense, que venceu 12 vezes contra 10 do Bicho. A torcida colorada finge que não, mas se incomoda: naquela nota, o Clarín também registrou declaração de um torcedor que buscava minimizar o duelo com um “nós não temos clássico. Daqui saiu o Diego, ganhamos a Libertadores e fizemos nosso melhor jogo contra a Juventus”, em referência ao emocionante Mundial de 1985, ao mesmo tempo em que conclui que “a única coisa boa de Saavedra é Goyeneche”.
Roberto El Polaco Goyeneche (a pronúncia é “Godjenêtche”, ou “Gochenêtche” se você quiser bancar um sotaque portenho) trata-se de um cultuado cantor de tango que é o torcedor mais famoso dos marrons na Argentina (no Brasil, esse posto caberia ao saudoso atacante Narciso Doval), e faleceu em agosto de 1994, ao fim da última boa campanha do seu clube. O Clarín relembrou inclusive que Maradona teria prometido ao filho do cantor jogar um amistoso pelo Platense caso o pai se salvasse da internação. A heresia histórica terminou não acontecendo, mas torcedores marrons foram autorizados a prestar suas homenagens fúnebres a Dieguito no estádio rival. Traições extras não faltam e vamos a elas.
Doblecamisetas
Até o início dos anos 30, as maiores torcidas na Argentina eram as de Boca e Racing – não por acaso, a dupla mais vencedora até então dentre os clubes ativos (seis Argentinões e nove, respectivamente). O River tinha uma única conquista e catapultou sua popularidade ao estabelecer um recorde com a contratação de Bernabé Ferreyra, superartilheiro vindo, por sinal, do Tigre. La Fiera justificaria a dinheirama ao conseguir mais de um gol por jogo (187 em 185) e três títulos argentinos pelos millonarios, apelido que pegou muito por conta daquele recorde. Só isso justificaria que Luis María Rongo pudesse ser seu reserva.
É que Rongo é justamente o único ser humano com média ainda melhor de gols do que Bernabé no River, aproveitando muito as chances que eram dadas nas ausências do ídolo: foram 58 gols em apenas 49 jogos. Buscando mais minutos, no decorrer do torneio de 1937 ele foi emprestado ao Argentinos Jrs. Era o primeiro campeonato da era profissional (inaugurada oficialmente em 1931) a prever rebaixamento. E nem Rongo salvou o Bicho, que teve, ao lado do Quilmes, a desonra de ser o primeiro descendido no novo formato. Curiosamente, para as estatísticas Rongo integrou naquele 1937 simultaneamente uma campanha campeã, a do River, e uma rebaixada.
Continuando sem espaço em Núñez, ele passou ainda pelo Peñarol antes de vir fazer história no Brasil e no Fluminense, onde retomou a média superior a um gol por jogo. Em 1942, então, reforçou o Platense. Foram “só” 38 gols em 51 jogos pelo Calamar, ficando a dois da artilharia do campeonato daquele ano mesmo defendendo o 11º colocado. Mas naqueles anos, o Tense mostrava-se o mais sólido dentre os clubes pequenos da capital federal e arredores, com seu setor defensivo contando com futuras estrelas do Millonarios de Di Stéfano no Eldorado Colombiano (o goleiro Julio Cozzi e o beque Carlos Aldabe).
Em tempos onde o Huracán era visto legitimamente como “o sexto grande” agregado ao quinteto formado por Boca, River, Independiente, Racing e San Lorenzo, os marrons seriam precisamente os últimos dentre os chicos da Grande Buenos Aires a amargarem uma queda: gente do naipe de Chacarita e Vélez (ambos 1940), Gimnasia (1943, 1945 e 1951), Banfield (1944 e 1954), Ferro Carril Oeste (1946), Lanús (1949), Quilmes de novo (1951) e Estudiantes (1953), todos campeões da primeira divisão antes ou depois, viveram o descenso antes da inédita queda calamar em 1955.
O rival Tigre já havia caído em 1942 e em 1950, por sinal ano da segunda queda da história também de uma força feito o Rosario Central (rebaixado também em 1941). Depois do Tense, só sobrou a outra força rosarina, o Newell’s (em 1960), e o Huracán (que iniciou em 1986 sua infeliz rotina ioiô) dentre os não-grandes ainda incaíveis. O meia Martín Pando foi promovido ao time adulto marrom exatamente em 1955 e inicialmente seguiu em Núñez, que ainda era o bairro do time. Mas em 1958 ele rumou ao Argentinos para fazer história.
É que enquanto os marrons caíam, o ano de 1955 marcou justamente o reacesso do Argentinos à elite, após dezoito anos. Em 1960, com Pando no grupo, fez sua primeira grande campanha na elite – onde brigou mais seriamente pelo título do que na própria trajetória maradoniana de 1980, embora ficasse em terceiro (a campanha renderia a Pando uma transferência ao River e uma vaga na Copa de 1962). E só voltaria a ser rebaixado em 1996, tendo novas quedas à segundona em 2002 e em 2014.
O Platense, por sua vez, voltou à elite em 1964, teve em sua temporada de reestreia, em 1965, o reforço de José Yudica (guarde esse nome). E já em 1967 esteve muito perto de fazer história como primeiro clube campeão argentino fora dos cinco grandes desde 1930. Treinado por uma lenda feita Ángel Labruna, ele próprio ex-jogador marrom, o Calamar liderou seu grupo no Metropolitano e, nas semifinais, abriu 3-1 sobre o Estudiantes. O time de La Plata, com um lesionado em tempos onde não se permitiam substituições, teria que se superar com um a menos. E conseguiu: em uma das maiores reviravoltas do futebol, o oponente virou para 4-3 em espaço de quinze minutos e seria ele quem faria a história de furar o oligopólio dos cinco.
Labruna cairia para cima, partindo para o River do seu coração, ainda que para uma primeira passagem agridoce, sem títulos. Mas, de 1975 a 1981, emendou taças pelo Millo, ainda que os fracassos seguidos na Libertadores causassem sua queda. Em 1983, com a rivalidade com o Platense já acesa, Don Ángel foi então abrigado pelo Argentinos Jrs. Seus pupilos só pararam nas semifinais do Torneio Nacional e sempre reconheceram que o elenco multicampeão de 1984-85 foi germinado ali. Labruna não pôde seguir adiante por um infarto a mata-lo ainda naquele 1983, como treinador colorado. Em 2015, escolhemos ele e Rongo para o time dos sonhos do Platense.
Daquele time que ganhou os dois primeiros títulos do Bicho na primeira divisão, no bicampeonato do Metropolitano de 1984 com o Nacional de 1985, além da Libertadores no mesmo 1985, dois símbolos virariam a casaca: o capitão Adrián Domenech, volante formado em La Paternal e presente de 1978-87, partira sem êxito ao Boca e ao obscuro futebol turco da época para pendurar as chuteiras com cinco partidas pelos rivais em 1990. Nada que pesasse contra, portanto, sua eleição pelo Futebol Portenho para o time dos sonhos do Argentinos, escalado em 2014. Detalhes: o técnico campeão dos títulos de 1985 havia sido justamente o citado José Yudica, outrora jogador do Platense vinte anos antes. Apesar dos feitos, em 1986 ele rumou ao Vélez.
Outro prata-da-casa do Argentinos, Claudio Borghi foi o primeiro “novo Maradona” e, lançado em 1981, conseguiu em cima da hora uma vaga com o próprio Diego na Copa de 1986. Deixou o clube também em 1987 para não se firmar em lugar nenhum, o que incluiu uma passagem de doze partidas pelos marrons na temporada 1992-93 – onde foi treinado justamente por um Yudica de regresso à torcida marrom após um rápido retorno no próprio Argentinos na temporada 1991-92. Eles não se queimaram tanto em longo prazo em La Paternal. Ao contrário: Borghi, por exemplo, é o único capaz de rivalizar com Maradona em idolatria por lá, pois foi o messias que treinou o terceiro e último título do clube na elite (só Borghi esteve nos três), em 2010, enquanto o Tense caía para a terceirona.
Dentre os comandados por Borghi em 2010, havia um ex-Platense. O volante Juan Mercier havia logrado o título da terceirona à Primera B Nacional com os marrons em 2006, quase emendado com outro seguido, agora à elite, em 2007 – quando justamente o Tigre levou a melhor. Essas quedas e estadias marrons na terceira divisão (2002-06 e 2010-18) também impediam, por sinal, que o clássico com o Argentinos pudesse ser revivido na segundona. Raro campeão na dupla, Mercier foi até testado pela seleção em 2010 e faria história também no San Lorenzo tardiamente campeão da Libertadores, em 2014.
No início dos anos 90, contudo, o Tense era o lado mais forte da rivalidade, após toda uma década de desafogos seguidos. No Clausura 1992, o time foi 6º e teve em Darío Scotto o artilheiro do torneio. Colocação repetida no Clausura 1994, onde tanto o artilheiro como o vice eram da equipe de Vicente López: Marcelo Espina e Claudio Spontón. Espina seria justamente o primeiro camisa 10 da seleção pós-Maradona. E por conta dele, o clube não usava quem terminaria por ser sua maior revelação: o ainda adolescente David Trezeguet, que só durou cinco partidas no time adulto antes de rumar ao futebol francês.
Aquele elenco tinha ainda os jovens Raúl Cascini e Eduardo Coudet, mas quem era mesmo estrela internacional naquele Platense era o boliviano Ramiro Castillo, chamado à Copa de 1994 como jogador marrom. El Chocolatín é o último que o Calamar forneceu a uma Copa, ainda que só durasse em Vicente López naquela boa temporada 1993-94. Ele tivera passado em La Paternal entre 1988-90. O citado Scotto, por sua vez, foi um dos últimos calamares na seleção, estreando em 1992, o último de seus cinco anos no time adulto. No fim da carreira, ele defendeu o Argentinos Jrs entre 1998-2000, prometendo amor à camisa.
Já o volante Norberto Ortega Sánchez preencheu todo um pacote: formado no Tigre (1982-85), defendeu sem glória o Platense na temporada 1996-97 após já ter passado bem pelo Argentinos Jrs na de 1993-94. Tão bem que cavou, mesmo veterano, uma volta ao San Lorenzo, integrando o histórico elenco que encerrou em 1995 o pior jejum azulgrana (ah, sim: Ortega Sánchez já havia defendido o Vélez naquela década…).
Os anos 2000, por sua vez, viram as “traições” sobretudo dos atacantes Darío Gandín (formado no Platense em 2000, esteve no Argentinos em 2005) e Facundo Bonvín (Argentinos 2003-04, Platense 2007); e a recente ascensão marrom resultou em mais dois: o goleiro Luis Ojeda esteve de 2009 a 2015 em La Paternal – e, embora não fosse o titular na maior parte da campanha campeã de 2010, esteve nas partidas da reta final e na foto do título, beneficiado pela lesão do chileno Nicolás Perić. Nesse 2021, acertou sua vinda a Vicente López para fazer companhia ao volante Mauro Bogado, que chegara em 2020 após idas e vindas entre 2008 e 2011 pelos colorados (não integrou a campanha de 2010 por estar emprestado ao Everton de Viña del Mar).
Clássicos recordados
Mesmo tomando como ponto de partida aquele 2-1 do Argentinos na rodada final da fase de grupos do Nacional de 1981, vale recordar que o encontro anterior foi um movimentado 3-3 com gol de Diego. O encontro seguinte, por sua vez, ainda era condimentada pelo boato da mala preta do River. Ficou no 2-2 e a polêmica foi revivida no returno. O Argentinos Jrs concorria contra a queda com o San Lorenzo e houve no Platense quem dissesse que abertamente que jogariam sob estímulo extra bancado pelos azulgranas. Não funcionou: o Bicho venceu por 3-1 e se oxigenou para manter-se no retrovisor sanlorencista.
No Nacional de 1982, os marrons foram enfim à desforra, pelo placar mínimo. Os dois jogos seguintes (pelo Nacional e pelo primeiro turno do Metropolitano daquele ano) ficaram no 1-1. No segundo turno, Argentinos 2-1, dentro de Vicente López, com Pedro Pasculli (futuro reserva talismã da seleção de 1986) assinalando o da vitória. Eles não se cruzaram no Nacional de 1983, realizado no primeiro semestre; no Metropolitano, as viúvas de Labruna foram duas vezes derrotadas: 1-0 e 2-1, fundamentais para o Calamar ser o último colocado salvo da degola nos promedios – o time já havia ficado um ponto acima da queda em 1982.
O ano de 1984 veria o Platense ficar duas posições acima da queda enquanto o Argentinos era campeão pela primeira vez. Mas, no nascente clássico, se equivaliam: 2-2 e 1-1 pelo Metropolitano – no Nacional, novamente não se cruzaram, nem no de 1985. Novo encontro veio pela temporada 1985-86, a primeira em calendário europeu. Conciliando-a com as fases finais da Libertadores, o Argentinos usou reservas que seguraram o 0-0 no primeiro turno. No segundo, não tiveram dó: 2-0 em Vicente López, gols de Hugo Maradona (sim, irmão de Diego) e Emilio Commisso. Novamente, o Tense ficou a duas posições da queda.
Ainda no auge, o Argentinos manteve invencibilidade por mais três duelos: 2-2 e, fora de casa, 2-1 na temporada 1986-87 e 2-0 no primeiro turno da de 1987-88, ambas sempre com fugas marrons dramáticas contra a segundona. No segundo turno, Carlos Alfaro Moreno marcou o gol do triunfo mínimo para o Calamar (em tarde marcada pelas barricadas marrons para impedir que a torcida rival comparecesse no estádio de Vicente López), cavando uma transferência para integrar o Independiente campeão da temporada seguinte. Nela, cada um venceu o outro fora de casa: Platense 1-0 e Argentinos 2-0.
Na de 1989-90, nem Fernando Redondo impediu derrotas coloradas nos dois encontros: 2-1 e 1-0, este assegurado como visitante no nome de Marcelo Espina. No Apertura da temporada 1990-91, os doblecamisetas Ortega Sánchez e Scotto deixaram os deles na terceira vitória seguida do Tense. No Clausura, a invencibilidade se manteve com um 1-1 e foi estendida com o 0-0 no Apertura 1991. E com o 1-0 no Clausura 1992. Autor do gol no minuto final, Raúl Cascini classificaria aquele momento como ainda mais emocionante ao pênalti que converteu para dar o Mundial de 2003 ao Boca sobre o Milan, por ter “sido em um clássico”.
O tabu impressionante foi se mantendo: 1-1 no Apertura 1992; 0-0 no Clausura e no Apertura em 1993; e por fim 1-1 no Clausura 1994, curiosamente disputado em Mendoza, onde o Argentinos vinha mandando seus jogos enquanto demorava anos e anos para erguer o estádio Diego Armando Maradona. No Apertura 1994, Christian Dollberg encerrou mesmo dentro de Vicente López o jejum de vitórias coloradas. No Clausura 1995, foi a vez do Argentinos usar o campo do Atlanta e ficar no 1-1 com o Tense.
A temporada 1995-96 não rendeu à toa o primeiro rebaixamento do Argentinos Jrs em quase seis décadas. O campo do Atlanta viu um emotivo 3-2 marrom: Leonel Gancedo abriu o placar para o Bicho, Esteban Fuertes e Pablo Erbín viraram e Fernando Batista, já aos 20 do segundo tempo, reigualou. Mas aos 44 um oportunista Sebastián Pena aproveitou um cruzamento para assegurar uma vitória das mais lembradas. No Clausura, o caixão do rival foi pregado com um 3-0 em parcelas: Fernando Calcaterra abriu o placar antes do clássico ser suspenso por fortes chuvas e retomado três dias depois, quando Marcelo Romagnoli e Adrián Coria completaram.
O Argentinos voltou imediatamente da segundona como flamante campeão da Primera B de 1996-97. E tratou de chegar com cartaz no primeiro clássico, no Apertura 1997: venceu por 3-1 dentro de Vicente López. No Clausura 1998, ficaram no 1-1 antes da temporada final, onde cada um teve seus sorrisos: no Apertura 1998, Erbín marcou o único gol em vitória com emoção extra, dedicada ao treinador Daniel Córdoba – que não ocupou o banco de reservas para velar um filho.
No Clausura 1999, o estádio do Vélez foi o campo alugado pela vez pelo Argentinos. Jorge Quinteros marcou o último gol de um clássico em que a torcida colorada, em gozação (já era 15ª das 19 rodadas do torneio), tripudiou com camisas e balões negros em luto de crocodilo pelo rival. Tanto tempo de ausência contribuiu para certa diplomacia: o tardio acesso marrom rendeu felicitações oficiais do twitter do Bicho. Nada que merecesse compreensão dos novatos: em pleno Diego Armando Maradona (sendo a foto que abre a matéria das mais poéticas, com o número 10 desenhado nas poltronas vazias), Jorge Pereyra Díaz assinalou de cabeça, já aos 38 minutos do segundo tempo, o único gol do reencontro!
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