A famosa bicicleta de Francescoli sobre a Polônia, seu mais célebre gol
Ontem o River, que hoje jogará a final da Copa Argentina (com transmissão pela ESPN), festejou os trinta anos do seu único título mundial. Analisando-se o que o time viveu em 1986, constata-se facilmente que foi um dos anos mais dourados que qualquer clube poderia ter. Mas quão? Parâmetros objetivos permitem uma comparação com o Santos de Pelé – mais especificamente, com o de 1962.
Expliquemos. Tanto aquele River como aquele Santos venceram a tríplice coroa: títulos máximos a nível nacional, continental e mundial. Cenário por si só dos sonhos, mas não tão incomum: Peñarol (1961 e 1982), Internazionale (1965 e 2010), Nacional (1971 e 1980), Ajax (1972 e 1995), Olimpia (1979), Estrela Vermelha (1991), Manchester United (1999 e 2008), Boca (2000 e 2003), Bayern Munique (2001 e 2013), Porto (2004) e Barcelona (2009, 2011 e 2015) também conseguiram.
De todos esses, quais obtiveram os títulos mundiais pela primeira vez – ou, para não sermos tão rigorosos, após uma geração (25 anos)? Além daquele Santos e daquele River, também o Peñarol de 1961, as duas Internazionales, o Nacional de 1971, o Ajax de 1972, o Olimpia de 1979, o Estrela Vermelha de 1991, o Manchester United de 1999, o Bayern de 2001 e o Barcelona de 2009.
O corte final que faz restar apenas Santos e River é que seus países venceram no mesmo ano a Copa do Mundo. Quem mais esteve perto foi o Olimpia, cujo Paraguai sagrou-se campeão continental em 1979. Naturalmente, santistas (Gylmar, Mauro, Zito, Coutinho, Pelé, Pepe e Mengálvio) e millonarios (Pumpido, Ruggeri e Héctor Enrique) foram os mais representados nas respectivas seleções – o Independiente, derrotado naquele 1986 por 4-1, também teve três convocados, mas por ironia o melhor deles, Bochini, era reserva, ao contrário de Giusti, Burruchaga e do trio riverplatense.
Vale a curiosidade de que além de Santos e River, só a torcida do Boca também festejou título mundial do clube e de seleção no mesmo ano. Só que de um jeito particular: primeiro, a Argentina ganhou, no fim de junho, e sem nenhum jogador do Boca – Tarantini, que seria o único, havia se desvinculado do time ainda em 1977. Quase um mês depois, no início de agosto, veio o título mundial boquense, válido ainda pela edição de 1977 (“a seleção nacional venceu a Copa do Mundo de 1978 sem jogadores do Boca. Mas o Boca, cavalheiro, venceu a Copa do Mundo sem jogadores da seleção. Agora, eles estão quites”, ironizou o jornalista Diego “Chavo” Fucks).
Só depois, em novembro, veio a Libertadores de 1978 do Boca – o Mundial propriamente daquele ano terminou não realizado. Mas faltou a taça doméstica, mesmo sem desfalques para a seleção, que drenou os demais clubes ao concentrar os convocados desde fevereiro até junho. O título argentino ficou com o Quilmes, campeão do Metropolitano – o Nacional, ganho pelo Independiente, só seria finalizado em 1979. E entre Santos de 1962 e River de 1986, quem teria sido mais feliz? Há argumentos fortes para ambos, já adentrando em um terreno subjetivo.
O Santos tinha “apenas” Pelé e, fora a tríplice coroa, ganhou também o Paulistão com direito em assegurá-lo em sensacional clássico contra o São Paulo, que vencia por 2-0 e terminou derrotado por 5-2. No Estadual, venceu por 5-2 também o Corinthians, por 4-1 a Portuguesa e por 4-2 e 3-0 o Palmeiras. De outros jogos além das finais (5-0 no Botafogo, 3-0 no Peñarol, 5-2 no Benfica), destacam-se o amistoso de 8-3 sobre o Racing (campeão argentino do ano anterior, La Academia perdia de 3-0 com 11 minutos de jogo), o 9-1 na semifinal continental com o Cerro Porteño (estava 1-1 até Pelé, poupado por lesão, entrar aos 32 do primeiro tempo), o 4-2 para inglês ver em amistoso com o Sheffield Wednesday em Hillsborough.
O River, por outro lado, teve um senhor desengasgo pois rivais já tinham títulos internacionais (como o Nacional de 1971. A nível exclusivamente mundial, também a Inter de 1965, o Ajax de 1972 e o Barcelona de 2009): além do maior deles, o Boca, também o Independiente e o já superdecadente Racing – além do nanico Argentinos Jrs no ano anterior, a nível continental.
É como se as gozações sofridas pelo San Lorenzo até dois anos atrás se estendessem a uma torcida muito mais numerosa. O River ainda havia batido na trave nas finais de 1966 e 1976, mas, em alto estilo, coube a ele conseguir a primeira tríplice coroa do futebol argentino. Tão bom era o time que os jejuns internacionais acabaram mesmo com o desfalque de Francescoli, artilheiro do vitorioso campeonato de 1985-86 e vendido ao futebol francês antes da Libertadores, e com os jovens Caniggia e Goycochea na reserva, promovidos paulatinamente pelo carismático técnico Veira. Além disso, o próprio título nacional não foi rotineiro apesar do clube ser o maior vencedor doméstico na Argentina.
Foi o único em uma enormidade de nove anos, entre 1981 e 1990. Os anos 80 foram no geral uma década perdida também para a equipe de Núñez, que pagava sobretudo pelo empréstimo em dólar de Kempes em 1981, em resposta à ida de Maradona ao Boca. Os desmandos econômicos da ditadura fizeram a moeda ianque logo se valorizar em 240%. O próprio jejum de 1981-86 foi na época o segundo maior do Millo vivenciado no profissionalismo (ultrapassado pelo de 1957-75 e depois, se não considerarmos a segundona de 2012, pelo de 2008-2014).
Entre 1981-86, as decepções do River variavam da penúltima colocação (já com Francescoli) em 1983, só não sendo rebaixado porque justamente naquele campeonato havia sido implantado o famigerado sistema de promedios, e a um vice em 1984 com a equipe levando de 3-0 (em 35 minutos) do nanico Ferro Carril Oeste em pleno Monumental: veja. A fome no torneio 1985-86 era tamanha que o título se assegurou ainda na 33ª das 38 rodadas. Por fim, o ano millonario de 1986 foi dourado também por outros capítulos à parte, cujos 30 anos foram relembrados por nós. Clique abaixo:
Uma histórica passagem de bastão: River 5-4 Argentinos Jrs: a primeira tríplice coroa do futebol argentino foi do River de 1986, mas por sete minutos não havia sido do Argentinos Jrs de 1985, que quase derrotara a Juventus de Platini em Tóquio (na decisão de mais alto nível de jogo de ambos os finalistas do Mundial Interclubes). Em janeiro de 1986, os vice-campeões mundiais, mesmo no Monumental, proporcionaram jogo eletrizante demonstrado pelo placar.
A bicicleta de Francescoli que virou para 5-4 jogo perdido por 4-2: Apenas duas semanas depois, o River conseguiu outra vitória pelo maluco placar de 5-4. Dessa vez em amistoso contra a forte seleção polonesa da época. Com roteiro épico (que nem Hollywood conseguiria fazer sem parecer inverossímil e piegas, mesmo se não fosse contra “malvados comunistas”) explicado no título – faltou dizer que o placar era 4-2 para os polacos até os últimos sete minutos e que a bicicleta, já nos acréscimos, completou o hat trick do ídolo Francescoli…
O Boca x River da bola laranja, vitória millonaria na Bombonera com gols do veterano Beto Alonso: campeão da Copa de 1978, o tal Alonso foi uma espécie de Zico canhoto e millonario, um habilidosíssimo camisa 10 (tirara uma das vagas de Maradona naquela Copa) que deslumbrou a torcida do início dos anos 70 a fins dos 80 – autor dos dois gols dessa partida, ele penduraria as chuteiras naquele 1986, como titular no jogo do título mundial. Esse Superclásico em abril teve direito a volta olímpica na Bombonera pelo já conquistado campeonato de 1985-86. Foi o único triunfo do River contra o Boca dentro do campo inimigo entre 1982 e 1994.
A conquista da primeira Libertadores de América: nota de 2011, quando ela fez 25 anos. Além do título em si, a campanha rendeu classificações sobre o rival Boca (eliminado na primeira fase, em agosto) e, nas semifinais, um novo tira-teima contra aquele timaço do Argentinos Jrs. Um detalhe menos lembrado é que o título veio após eliminar não um, mas dois Maradonas. Dieguito tinha irmãos em cada rival doméstico daquela trajetória, conforme contamos aqui.
Títulos argentinos no Mundial Interclubes (VII): River Plate 1986: nota de 2012 sobre a glória máxima que fez aniversário ontem, conquistada sobre a equipe romena que mesmo ainda sem Gheorghe Hagi fora campeã europeia sobre o Barcelona dentro da Espanha.
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