A vitória da oposição nas últimas eleições presidenciais lançou o televisionamento do futebol argentino na incerteza. Após seis anos e meio o Futbol para Todos, parceria da AFA com o governo, parecia condenado a mudanças, cujos contornos eram desconhecidos. Agora as coisas começam a ficar mais claras.
Histórico
Até 2009 a situação era dominada por dois grupos de comunicação: o Clarín (maior do país) e a Torneos y Competencias. As partidas relevantes, envolvendo clubes grandes e postulantes ao títulos eram mostradas apenas no sistema Pey-Per-View comandado por uma associação dos dois grupos, atingindo cerca de 800 mil pessoas em um total de 40 milhões de habitantes (2% da população). As demais emissoras sequer podiam exibir qualquer lance das partidas até que fossem mostrados na noite de domingo no programa Futbol de Primera, que ia ao ar no canal 13, de propriedade do grupo Clarín.
Após o Clausura 2009 os clubes, insatisfeitos com o que recebiam dos dois conglomerados de mídia, resolveram se unir para reinvindicar mais verbas, o que foi negado. Aproveitando a situação, o governo federal se uniu à AFA, avalizou a quebra de contrato e comprou os direitos do campeonato argentino. As partidas eram exibidas pelos canais que concordassem em participar do programa Futbol para Todos, que incluía a cláusula de publicidade exclusivamente estatal.
Assim as coisas correram pelos 6 anos e meio que se seguiram. Os canais 2, 7, 9 e 26 concordaram com os termos e emitiram o sinal das partidas. Primeiramente da divisão de elite, e posteriormente da segunda divisão e da Copa Argentina. Ficaram de fora a Telefe, líder de audiência, e o 13, pertencente ao Clarín, que preferiram seguir com sua programação normal. Essa foi a situação encontrada pelo governo de Mauricio Macri.
Novidades
Não se sabia exatamente o rumo do Futbol para Todos, mas era certo que o programa seria direcionado no novo governo para um sistema guiado pelo mercado. Macri sempre deixou claro que lhe parecia absurdo pagar o 1,44 milhão de pesos (algo como 360 milhões de reais) aos clubes e à AFA para transmitir a primeira e segunda divisões, bem como a Copa Argentina. Era tido como certo que as coisas mudariam.
Os detalhes começaram a aparecer. Na prática o Futbol para Todos deve deixar de existir. Telefe e 13, os canais líderes de audiência, devem comprar os direitos sobre as partidas de River e Boca por 180 milhões de pesos anuais (algo como 45 milhões de reais) para transmitir de forma alternada as partidas dos gigantes. Racing e Independiente também seriam exibidos pelos canais principais. O quinto grande, o San Lorenzo, teve suas partidas oferecidas à TV America, canal 2, que não se interessou.
Quanto às demais equipes da primeira divisão, assim como as da B Nacional não há definição, assim como a Copa Argentina. O mais provável é que voltem às mãos da TyC, ou seja, à TV a cabo. Ou seja, os grandes grupos de comunicação do país escolheram os jogos que exibirão, e os demais ficarão nas mãos de um canal por assinatura.
Conclusão
A imprensa brasileira nunca se cansou de ridicularizar o modelo argentino, por achar que o mercado deveria tomar conta da situação do televisionamento. Um modelo que prioriza as grandes equipes em detrimento das menores, como ocorre no Brasil. O governo Macri claramente tem em mente esse modelo e dá passos largos em sua implantação. Certamente veremos elogios às mudanças por aqui. Afinal, a satisfação dos telespectadores e a garantia que os pequenos não receberão muito menos que os grandes importa pouco. O que vale é apenas o que um punhado de grandes terá em mãos, pagos por gigantescos conglomerados de comunicação. Em suma, a Argentina se brasiliza. O que estranhamente agrada e muito a uma certa imprensa esquerdista brasileira, que pensa que o modelo global só é ruim quando aplicado ao Brasil.
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