O maldito ego argentino pode deixar sua seleção fora da Copa
Existem momentos na vida em que é necessário repensar a sua trajetória. Talvez pelo orgulho argentino, eles não fazem isso há 24 anos no que se refere o futebol. Desde a conquista da Copa América de 1993, naquele 4 de julho, no Estádio Monumental de Guayaquil – curiosamente no mesmo país em que a Seleção conquistou seu último título – a Argentina contou com inúmeros problemas, seja internamente na AFA, como também na escolha dos treinadores ou a troca deles. Ao todo, foram DEZ trocas desde a saída de Alfio Basile após a Copa do Mundo de 1994.
O último momento de erro e egocentrismo pode culminar com a eliminação da Argentina na Copa do Mundo. Gerardo Martino ainda era o treinador da Seleção à época. Havia perdido a Copa América do Centenário para o Chile e estava há quase um ano com os salários atrasados devido à crise institucional. Só decidiu sair do comando após o desafeto Jorge Sampaoli acertar sua vida na Europa. Tudo para que Sampaoli não assumisse ao cargo. Mais ridículo, impossível.
No momento de sua renúncia, a Argentina havia disputado seis partidas: derrota para Equador, empates contra Paraguai e Brasil, além de vitórias contra Colômbia, Chile e Bolívia, o suficiente para a terceira colocação, com 11 pontos, e um caminho bem andado. Após a sua saída, que culminou com o terceiro vice-campeonato em três torneios distintos, tudo degringolou.
Edgardo Bauza assumiu a Seleção após ser a enésima opção do diretivo interino da AFA – sim, a Associação de Futebol Argentino estava sem comando e correndo o risco de ficar de fora da Copa do Mundo por decisões administrativas. Considerando apenas a classificação com Bauza, foram oito rodadas e o mesmo número de pontos conquistados por Martino: vitórias sobre o Uruguai, Colômbia e Chile, empate com a Venezuela e Peru, derrotas para Paraguai, Brasil e Bolívia, este último, o suficiente para tirá-lo do cargo técnico da Seleção. Curiosamente, Bauza estará na Copa do Mundo, já que dirige a Arábia Saudita.
Enfim, chegou a vez de Jorge Sampaoli. Foi uma novela enorme a vinda do treinador. Esperava-se que poderia resolver os problemas da Argentina. Mas a cota de milagres já havia sido cumprida, com a chegada de Tite na Seleção Brasileira. Sem contar que há uma diferença enorme entre os dois treinadores. O brasileiro decidiu encontrar, inicialmente, um 11 inicial para chamar de seu e tirar o Brasil da situação do limbo.
Sampaoli parece não saber o que quer. Tem alguns dos melhores jogadores a sua disposição, mas quer fazer milagre com jogadores medianos. Talvez, por ter sido assim na Espanha, quando dirigiu o hoje modesto Sevilla, ou por ter um elenco limitado de escolhas quando treinava o Chile. A questão é que não se pode, em um momento de crise, mudar, mudar, mudar e não ir a lugar nenhum. Seria o momento de repensar, por um raro instante, que é necessário achar um time. Um 11 ideal para jogar ao lado do Messi – que tem tudo para ser o grande culpado por muitos.
Há indícios, segundo a imprensa argentina, que Sampaoli começou a fazer isso. Mas, após o último treino, já pensou em armar um time diferente para enfrentar o Equador. Sim, é possível que o técnico argentino escale uma equipe totalmente distinta daquela que ele treinou nos últimos quatro dias. E isso, na última rodada das Eliminatórias, que pode tirar a Argentina de uma Copa do Mundo pela primeira vez desde 1970 (as outras vezes que ficou fora do Mundial foi por questões geopolíticas).
O fato é que a Argentina não sabe o que é vitória nas Eliminatórias com Sampaoli no cargo, com três empates contra Uruguai, Venezuela e Peru, sendo esses últimos dois em casa. Com direito a uma pataquada sem fim, colocando o jogo na Bombonera, como se estádio vencesse jogo. Repetiu um erro de Maradona, pondo o jogo em Rosário contra o Brasil e recebeu de volta um chocolate. Mesmo se for ao Mundial, é necessário repensar. Talvez até seja mais fácil, pois terá apenas 23 jogadores a escolher para ir à Rússia. Falar no condicional no futebol é um tanto quanto difícil, mas se Sampaoli houvesse assumido a Seleção na sétima rodada, a situação hoje poderia ser diferente. O maldito ego argentino pode deixar a Seleção fora da Copa.
Combinações para a Argentina se classificar
A Argentina pode até perder para ir à Copa do Mundo. E é provável que isso aconteça, já que a equipe não sabe marcar gols. Claro que há a necessidade de uma combinação de resultados para que isso aconteça, como a derrota do Peru por uma diferença maior de gols do que a Argentina e o Paraguai perca ou empate com a Venezuela. Em ambos os casos, jogaria a repescagem.
Em caso de empate, o que é provável de acontecer, a Argentina garante-se na repescagem contra a Nova Zelândia caso o Peru vença e o Paraguai empate. E pode ir direto se a Colômbia triunfar ou perder por dois gols de diferença, o Brasil vença por dois ou mais gols de diferença e o Paraguai vença ou empate seu jogo ante os venezuelanos.
Por fim, uma vitória garante, ao menos a vaga na repescagem. Se o Chile não vencer, já é meio caminho andado, independentemente dos outros resultados. Caso os chilenos batam o Brasil, a Argentina só vai direto para a Copa se Peru e Colômbia ficarem no empate ou o Peru vença por uma diferença menor de gols em relação ao jogo da Argentina.
Treinadores desde o último título da Argentina
Desde a perda do Mundial de 1994, assumiram a Argentina: Daniel Passarella (1994-1998), com a estupida ideia de não convocar jogadores com cabelos longos; Marcelo Bielsa (1999-2004), que não colocava Hernán Crespo e Gabriel Batistuta juntos, mesmo sendo necessário, perdendo, assim, uma Copa do Mundo; José Pekerman (2004-2006), responsável por tirar Riquelme aos 30 minutos do segundo tempo, quando vencia a Alemanha por 1×0, para colocar Júlio Cruz e deixar Messi no banco.
A partir dali, iniciou-se uma verdadeira regressão. Trouxeram Alfio Basile (2006-2008), pensando que o passado poderia resolver. A derrota para o Brasil C, na Copa América de 2007, além de uma estreia patética contra o mesmo Brasil, foram o retrato daquela seleção. Mas, poderia ficar pior. Diego Maradona (2008-2010), assumiu a Seleção e quis levar para si os holofotes. Conseguiu. Foram xingamentos à imprensa – sempre a culpada por tudo nos momentos mais difíceis – e uma escalação medonha contra a Alemanha, na derrota por 4×0 nas quartas de final da Copa. Depois, Sérgio Batista (2010-2011), que conseguiu perder uma Copa América em casa.
Um acerto, ao menos, foi Alejandro Sabella. Por mais defensivo que seja, conseguiu arrumar a defesa da Argentina, algo que hoje voltou a ser questionada. Os atacantes não fluíram muito na Copa do Mundo, devido uma série de circunstâncias pessoais e físicas dos jogadores (lembre-se que Aguero estava se divorciando e que Messi perdeu um grande amigo no Mundial, o jornalista Jorge López). Decidiu deixar a seleção após o vice-mundial, talvez por questões de saúde, que só pioraram após o Mundial.
Por fim, Gerardo Martino, Edgardo Bauza e Jorge Sampaoli, todos com uma parcela de responsabilidade na atual crise dentro de campo da Argentina, como você pode ler anteriormente.