O dia em que Cachito Ramírez fez a Argentina chorar
Houve um dia em que o peruano Cachito Ramírez impôs um grande sofrimento à torcida argentina. Mas o jogador em questão não é o que atualmente atua pela Corinthians. Quem fez os argentinos chorarem foi Oswaldo “Cachito” Ramírez, grande jogador peruano dos anos 60/70. Graças a ele, a Argentina ficou de fora da copa do México.
Veloz e habilidoso, Oswaldo “Cachito” Ramírez não era um craque. Não se comparava a Teófilo Cubillas, o grande jogador daquela seleção peruana. Talvez não tivesse o mesmo nível de outros belos jogadores daquela que foi a melhor geração de jogadores peruanos, tais como Baylón, Gallardo, Sotil e Chumpitaz. Mas, naquele 31 de agosto de 1969, Ramírez seria o grande herói da classificação de sua seleção ao mundial do ano seguinte. Seus dois gols entraram para a história do futebol peruano.
A história começa na segunda metade dos anos 1960, quando o ditador Juan Carlos Onganía fez uma intervenção na AFA, colocando o racinguista Armando Ruiz na presidência. Ruiz escolheu o ídolo histórico de seu clube, Humberto Maschio, como treinador da seleção. Maschio jamais havia sido treinador, mas era ídolo em seu país. Havia se destacado no time de Avellaneda e teve sucesso na Itália, jogando em clubes como Bologna, Atalanta, Milan e Fiorentina. Graças a seu bom desempenho, Maschio havia chegado a disputar o mundial de 1962 pela seleção italiana, ao lado do também argentino Sívori.
Já veterano, Maschio voltou ao Racing, onde integrou a equipe campeã nacional em 1966 e da Libertadores e mundial de 1967. Quando chegou ao comando técnico da seleção, acreditava que o tradicional futebol argentino não tinha condições de enfrentar o futebol pragmático e físico dos europeus. Resolveu empregar esse conceito ao selecionado nacional. Deixou de fora craques como “La Bruja” Verón, pai de Juan Sebastian Verón, e também um ídolo do Estudiantes, que vinha dominando a Libertadores na época. Em sua opinião, o jogo coletivo deveria predominar.
Mas Maschio não contava com outra intervenção de Onganía na AFA, expulsando seu presidente e nomeando Aldo Porri como novo comandante máximo do futebol argentino. O novo presidente resolveu mudar o treinador, convocando Adolfo Pedernera, membro da máquina do River Plate nos anos 40 e treinador experiente. Contratado já às vésperas das eliminatórias, Pedernera achou melhor não mudar a equipe.
O resultado não foi bom. A Argentina precisava passar por Peru e Bolívia em uma chave em que apenas uma equipe se classificaria para o mundial do México. Depois de duas derrotas fora de casa e uma vitória por 1 a 0 sobre a Bolívia em casa, os argentinos precisavam vencer os peruanos, comandados pelo brasileiro Didi, caso quisessem participar da copa de 1970.
Os argentinos resolveram marcar o jogo decisivo para a Bombonera, onde imaginavam que poderiam exercer maior pressão sobre o inimigo. Naquele dia, a albiceleste entrou em campo com Cejas, Gallo, Perfumo, Albrecht e Marzolini; Rulli, Brindisi, Pachamé e Marcos; Yazalde e Tarabini. Os onze peruanos que tinham a missão de enfrentar uma Bombonera lotada eram Rubiños, Campos, Latorre, Chumpitaz e Risco; Challe, Cruzado, Baylón e León; Cubillas e Ramírez.
Desde o início, os argentinos partiram para cima. Mas pouco adiantou: no primeiro tempo, a boa equipe peruana aguentou firme as investidas argentinas, contando com uma jornada inspirada de Rubiños, que para muitos fazia ali a melhor partida de sua carreira. E o segundo tempo seria ainda mais dificil.
Logo aos 7 minutos, Cachito abriu o placar para os peruanos em um contra-ataque, complicando de vez as coisas para os argentinos. Aos 33 minutos, um pênalti convertido por Albrecht devolveu as esperanças ao time da casa. Que foram arrasadas dois minutos depois, quando Cachito arrancou em outro contra ataque e bateu Cejas. A dez minutos do fim, Ramírez conseguia pôr um freio à possível reação argentina e colocava os peruanos na copa.
O gol de empate marcado por Rendo aos 42 minutos não foi capaz de mudar a história. Os peruanos calaram a Bombonera e foram ao mundial de 1970, onde chegariam às quartas-de-final, eliminados pelo Brasil. Para os argentinos, ficou a humilhação. Para Cachito, era o dia de glória: seria eternamente conhecido, com toda a justiça, como “Verdugo de la Bombonera” (o carrasco da Bombonera).
Para meu pai nas palavras dele “o dia que ele e o resto puderam de fato sonhar com um futebol peruano”. Adorei
a frase do seu pai foi perfeita. foi a melhor seleção peruana da historia
Esse site é sensacional com essas histórias do futebol. Bom demais!
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