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O código de Vélez Sarsfield

Os hinchas do Vélez Sarsfield, na ânsia de comemorarem o centenário do clube no 1º de janeiro deste ano, esquecem normalmente de uma data mais oculta no calendário argentino. Em 25 de setembro de 1869, foi aprovado o Código Civil da Argentina. No entanto, o que isso tem a ver com El Fortín? Simplesmente foi nesta data que o autor do código foi alçado ao panteão dos heróis argentinos. Seu nome: Dalmacio Vélez Sarsfield.

Nascido em 1800, o pequeno Dalmacio, nascido Dámaso, recebeu o seu sobrenome que ficaria famoso enquanto clube de futebol. Em um país onde parece normal fazer agremiações com nome em espanglês (Boca Juniors, Argentinos Juniors, Chacarita Juniors, etc), Dalmacio ganhou Vélez de seu pai – na tradição espanhola, o nome do pai vem primeiro, logo após o nome próprio – e Sarsfield da sua mãe, de pai de origem irlandesa.

Virou advogado, deputado e professor universitário, mas apenas na luta pela autonomia do Estado de Buenos Aires (1852) foi que Dalmacio começou a ganhar um protagonismo na vida pública. Para o estado autônomo escreveu o Código Comercial em 1859. Logo após a unificação argentina, em 1862, é convidado pelo presidente Bartolomeu Mitre a escrever o Código Civil, um dos estandartes da consolidação da República Argentina.

Utilizando como base as influências do Direito Continental e do Liberalismo do século XVII, Vélez Sarsfield utiliza o código napoleônico, o Direito romano e escritos do movimento legal sul-americano da época (em especial o Esboço de um Código Civil para o Brasil, de Teixeira de Freitas) para escrever o seu Código, promulgado pela Lei nº 340 no 25 de setembro de 1869.

Durante a redação do código, Dalmacio atuava como ministro do Interior, cargo que ocupa até 1872. Em 1875, ele falece. Treze anos mais tarde, a estação de trem Floresta é rebatizada em sua homenagem.

É graças a essa estação que, em 1910, o Vélez Sarsfield tem o seu nome. Foi nessa estação que Julio Guglielmone, Martín Portillo e Nicolás Martín Moreno se abrigaram de uma chuva de verão e decidiram fundar uma equipe de futebol. Surgia o Club Atlético Argentinos de Vélez Sarsfield, que mais tarde viraria apenas o Club Atlético Vélez Sarsfield que conhecemos.

Esse é apenas mais um caso onde um pedacinho da memória fundadora da Argentina permanece, ressignificada, em uma camisa de futebol dentro de uma cancha.

Rafael Duarte Oliveira Venancio

Em 2010, na primeira versão desse texto, Rafael Duarte Oliveira Venancio escrevia para o Futebol Portenho, era professor do Senac e doutorando na USP. Em 2014, era professor doutor da Universidade Federal de Uberlândia e mantinha o blog Lupa Esportiva no Correio de Uberlândia. Agora, em 2020, é pós-doutor pela ECA-USP, além de escritor e dramaturgo com peças encenadas em 3 países e em 3 línguas. Nestes 10 anos, sempre tem alguém comentando este texto com ele, seja rindo, seja injuriado...

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