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Nostalgia da Copa – Argentina x Inglaterra – 1998-2002

Nas Copas de 1998 e 2002, dois confrontos entre ingleses e argentinos consolidaram de vez a rivalidade entre as duas seleções, e mesmo entre os países, sempre presente graças à disputa pelas Ilhas Malvinas/Falklands. Naqueles dois mundiais, cada um obteve a melhor em um dos confrontos, em duas partidas memoráveis.

Em 1998 o confronto aconteceu logo nas oitavas-de-final. Ambas as equipes tinham ótimos atletas. A Argentina de Daniel Passarella teve naquele dia Roa, Zanetti, Ayala, Vivas e Chamot; Almeyda, Simeone (Berti) e Verón; Ortega, Batistuta (Crespo) e Claudio Lopez (Gallardo). Já os ingleses de Glenn Hoodle vieram com Seaman, Neville, Adams, Campbell e Le Saux (Southgate); Ince, Scholes (Merson), Anderton (Batty) e Beckham;Owen e Shearer.

O jogo foi de arrepiar. Logo no início os artilheiros Batistuta e Shearer marcaram em cobranças de pênalti. O Golden Boy Michael Owen viraria o jogo para os ingleses aos 16 minutos, após uma jogada espetacular em que deixou todo o sistema defensivo argentino para trás. Mas no último lance do primeiro tempo, Zanetti, aproveitou uma bola espetacularmente rolada por Verón para empatar.

No início da segunda etapa ocorreu o lance que faria daquele dia uma partida tão controvertida. Simeone derrubou Beckham por trás. O inglês revidou ainda no chão. O árbitro, para total desespero dos ingleses, botou o talentoso inglês para fora, enquanto premiava Cholo Simeone com um amarelo. A Inglaterra jogaria, portanto, grande parte do jogo com um a menos.

O restante da partida foi muito emocionante, com as duas equipes desperdiçando oportunidades de marcar o gol da vitória, mas o placar não se mexeu mais. Nos pênaltis, Ince e Batty perderam para a Inglaterra, enquanto apenas Crespo desperdiçou sua cobrança pela albiceleste. A Argentina avançava para as quartas de final, onde seria derrotada pela Holanda. Os ingleses, Beckham em especial, voltaram para casa mais cedo, mas com sede de vingança. Quatro anos depois chegaria a hora.

Quis o destino que quatro anos depois, as duas seleções voltassem a se encontrar, desta vez já na primeira fase. Faziam parte do chamado “grupo da morte”, junto com Suécia e Nigéria. A albiceleste, com Marcelo Bielsa, havia feito campanha espetacular nos quatro anos anteriores, e chegava com status de favorita. Os ingleses vinham novamente com uma bela geração.

Na primeira rodada a Argentina venceu a Nigéria por 1 a 0, gol de Batistuta. Os ingleses ficaram no 1 a 1 com os suecos. E os velhos inimigos se enfrentariam na segunda rodada. E com Beckham e Simeone novamente frente a frente.

A Argentina teve em campo Caballero, Pocchetino, Samuel e Placente; Simeone, Zanetti, Sorín e Verón (Aimar); Ortega, Batistuta (Crespo) e Kily Gonzalez (Claudio Lopez). Pelos ingleses jogaram: Seaman, Mills, Ferdinand, Campbell e Cole; Butt, Scholes, Beckham e Hargreaves (Sinclair); Owen (Bridge) e Heskey (Sheringham).

A partida foi duríssima. Embora os ingleses tenham tomado a iniciativa, a partida foi disputada centímetro a centímetro, minuto a minuto. Qualquer descuido seria fatal. A partida acabou definida em um lance ocorrido no primeiro tempo. Uma bola sobrou no lado esquerdo da área para Owen, que foi derrubado por Pocchetino. Pênalti para a Inglaterra. E o cobrador oficial era… David Beckham! Os deuses do futebol haviam elaborado um enredo que fazia com que todo o planeta aguardasse o desfecho do lance.

O meia ingles estava evidentemente nervoso. E tomou uma decisão inesperada: contrariando seu estilo, optou por uma cobrança violenta, rasteira, no meio do gol. E com isso venceu Cavallero. No segundo tempo os argentinos buscaram o empate, e quase conseguiram quando Crespo cabeceou livre para Seaman defender no puro reflexo.

Mas logo após o lance a partida acabou. Os ingleses avançaram até as quartas, quando foram triturados por Ronaldinho Gaucho. Já os argentinos ficaram no 1 a 1 com a Suécia na rodada seguinte e foram eliminados na primeira fase. A vingança de Beckham foi completa.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

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  • Aproveito o espaço e o idioma para comentar:

    1. Sou brasileiro, de Recife-PE, gosto muito do tutebol argentino pela tradição dos clubes que é
    ótima. Não me envolvo na rivalidade que existe entre torcedores.

    2. Conheço via web todos os clubes argentinos. Se fosse torcedor local seria do Boca.

    3. Já estive em Buenos Aires por duas vezes. Simplesmente amei a cidade. Sei de um fato.
    Quando estou circulando no centro da cidade: Florida, Corrientes e etc. sempre me sinto
    imensamente feliz. Preciso falar mais ?.

    Saludos Buenos Aires

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