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Nostalgia da Copa – Argentina 2×3 Suécia – 1934

Normalmente, quando pensamos em vexame argentino em Copas do Mundo logo falamos em 1990, 1982 ou, até mesmo, 1958. No entanto, um vexame primeiro aconteceu: a derrota e eliminação na primeira fase da Copa do Mundo de 1934, quando a Albiceleste defendia seu vice-campeonato mundial.

1934 foi um ano negro para o esporte argentino. As corridas automobilísticas foram banidas das rodovias de Buenos Aires por causa dos acidentes no ano anterior. Algumas aconteceram no interior, mas sem o mesmo brilho.

Em 1934, também, o futebol amador via seu último ano de independência. Desde 1931, os clubes de maior expressão se debandaram para o futebol profissional (Liga Argentina de Football), deixando a principal associação (Asociación Argentina de Football) com equipes amadoras e, tal como foi se comprovando, mais fracas.

Além disso, em 1934, Uruguai, Bolívia e Paraguai se recusaram a participar da Copa do Mundo por causa da desfeita dos europeus com a Copa de 1930. Os brasileiros enfrentariam os peruanos, mas esses desistiram também de última hora.

Restava a última vaga para o confronto entre argentinos e chilenos. No entanto, as duas equipes queriam desistir. De olho em um possível rodízio que lhe garantiria a sede da Copa de 1938, a Argentina resolveu participar da Copa junto com o Brasil.

No entanto, os jogadores que foram não eram os mesmos de 1930, que agora atuavam na Liga profissional, mas sim os membros da Asociación, amadores. Com isso, a Argentina foi para a Itália sem estar com 100% de seu potencial.

Com 16 seleções, a Copa foi disputada no mata-mata. Na primeira fase, a Argentina pegou a Suécia em Bologna no dia 27 de maio de 1934 sob o olhar do juiz Erwin Braun, da Áustria.

O onze albiceleste era: Freschi (Sarmiento de Resistencia); Belis (Defensores de Belgrano) e Pedevilla (Estudantil Porteño); López (Sportivo Buenos Aires), Urbieta Sosa (Godoy Cruz) e nehim (Desamparados)  ; Galateo (Unión de Santa Fe), Devincenzi (Estudantil Porteño), Wilde (Unión de Santa Fe), Rua (Dock Sud) e Iraneta (Gimnasia y Esgrima de Mendoza).

Essa equipe, um misto de jogadores de equipes amadoras de Buenos Aires (Asociación Argentina de Football) e das ligas regionais, pegou uma Suécia que não era uma boba do futebol. Treinada pelo húngaro József Nagy, a Suécia estreiava em copas mas possuia um jeito de jogar próprio que vinha desde 1870.

No entanto, não foi isso que a Argentina acreditou deparar. Principalmente devido ao fato de que fez o primeiro gol. O zagueiro Belis marcou aos 4 minutos de jogo, deixando a Argentina rapidamente na frente.

Só que a vantagem pouco durou. Aos 9 minutos, o sueco Sven Jonasson empatou a partida. 1 a 1, placar do intervalo. O segundo tempo começou com a Argentina voltando à liderança: Galateo fez aos 3 minutos da etapa complementar.

Mas a virada – e a vitória – foi sueca: Jonasson novamente aos 22 minutos do 2º tempo e Kroon aos 34 minutos. A Argentina voltava para Buenos Aires no anonimato, sem nenhuma capa da El Gráfico na ida, muito menos na volta.

O vexame da Asociacíon Argentina de Football foi tão grande que ele resolveu se juntar com a Liga em novembro de 1934.  Era o fim do amadorismo e a consolidação da Asociación del Fútbol Argentino tal conhecemos.

O vexame na Copa de 1934 foi trágico – principalmente porque ele não garantiu nem a sede em 1938, com os europeus desrespeitando o rodízio e dando a sede para a França – mas foi decisivo para a Argentina ser a potência futebolística que é.

Rafael Duarte Oliveira Venancio

Em 2010, na primeira versão desse texto, Rafael Duarte Oliveira Venancio escrevia para o Futebol Portenho, era professor do Senac e doutorando na USP. Em 2014, era professor doutor da Universidade Federal de Uberlândia e mantinha o blog Lupa Esportiva no Correio de Uberlândia. Agora, em 2020, é pós-doutor pela ECA-USP, além de escritor e dramaturgo com peças encenadas em 3 países e em 3 línguas. Nestes 10 anos, sempre tem alguém comentando este texto com ele, seja rindo, seja injuriado...

3 thoughts on “Nostalgia da Copa – Argentina 2×3 Suécia – 1934

  • Interesante la lectura que hacés, Rafael, pero errónea. La fusión de la Asociación con la Liga ya estaba resuelta desde antes del vejamen del Mundial. Y ni habiendo servido para eso se puede decir que ese vejamen haya sido decisivo para que Argentina sea la potencia futbolística que es. Argentina ya era una gran potencia futbolística en la década del 20, y volvió a confirmarlo a partir de fines de los 30 (1937 más precisamente) en los sudamericanos. Lo del 34 realmente no sumó ni aportó nada a esa grandeza. Abrazo grande

  • Rafael Duarte Oliveira Venancio

    Muito obrigado pelo comentário, Esteban! É interessante perceber como 1934 é um ano que fica na margem entre o factual e a contingência para o esporte na Argentina. Nesse ano, os dois maiores esportes argentinos – futebol e automobilismo – tiveram muita influência do que aconteceu em um catastrófico 1933.

    Só que 1935, o ano posterior, se desenvolveu tal como não tivesse 1934. As corridas em Buenos Aires voltaram quase que do nada, o futebol passou como não tivesse acontecido os campeonatos anteriores.

    1934 decretou uma morte dura para o futebol amador e – factual ou contingente – a Copa de 1934 teve um papel decisivo para isso. Basta ver as capas da El Gráfico para perceber como a Copa de 34 não teve destaque algum e nem os jogadores da Asociación amadora apareciam, nem pelos seu clubes. Só apareciam os jogadores da Liga.

    Sem dúvida, a Argentina era uma potência futebolística desde os anos 1920. No entanto, entrando em consonância com o que você disse, é só com esses fatos e situações acontecidas na década de 1930 (inclusive a Copa de 34) que ela se manteve uma grande potência futebolística na era profissional do esporte, coisa que alguns europeus, como a Bélgica, não conseguiu.

    Abraço e muito obrigado novamente por prestigiar o meu texto!

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