“A Batalha de Rosário”. Assim ficou lembrada (ao menos no Brasil) a partida sem gols que Brasil e Argentina disputaram pelo mundial de 1978 no estádio Gigante de Arroyto. Na memória coletiva, a partida é lembrada como sendo um capítulo especial da rivalidade entre os gigantes sul-americanos. Nessa versão, a violenta partida seria de lembrança ainda mais controversa devido à polêmica goleada sobre os peruanos que classificaria os argentinos para a grande decisão na partida seguinte.
Aquela partida era evidentemente decisiva para as duas equipes. Naquele tempo, a Copa do Mundo tinha 16 equipes, divididas em quatro grupos. Os dois primeiros se classificavam, e as oito seleções classificadas eram reagrupadas em dois grupos de 4 equipes. Os campeões fariam a grande final, e o segundo colocado seria enviado para a decisão de terceiro lugar. Brasil e Argentina se enfrentavam ali pela segunda rodada dessa fase, em um grupo que também tinha peruanos e poloneses.
Curiosamente aquele grupo seria dominado por Brasil e Argentina, que haviam ficado em segundo lugar em seus grupos na primeira fase. O Brasil havia tido grande dificuldade para empatar com Suécia e Espanha, garantindo a vaga com um salvador gol de Roberto Dinamite contra a Áustria. Os argentinos bateram franceses e húngaros, mas foram derrotadas por uma bela seleção da Itália, gol de Paolo Rossi. Com isso, as duas equipes teriam de disputar a segunda fase em Rosário.
No entanto, na estréia da segunda etapa as duas seleções fizeram valer sua força. O Brasil atropelou o Peru por 3 a 0. Enquanto isso os argentinos viam nascer a estrela daquele mundial, Mario Kempes, autor dos dois gols da vitoria contra a forte seleção polonesa. O confronto de Rosário era, portanto, decisivo. Uma vitória praticamente asseguraria presença na grande decisão. E a vantagem a princípio era dos argentinos.
Não apenas por serem os donos da casa, mas por terem chegado ao mundial como uma equipe já estruturada. Cesar Menotti não tinha à disposição a melhor geração de jogadores de seu país, mas havia bons jogadores. No sistema defensivo se destacavam o goleiro Ubaldo Fillol e o grande zagueiro Daniel Passarella, ambos do River Plate. No meio de campo, despontavam dois jogadores que atuavam no exterior: o formiguinha Osvaldo Ardiles (Tottenham, ex-Huracán) e Mario Kempes (Valencia, ex-Rosario Central). Na frente, três talentosos ponteiros (René Houseman, do Huracán, Oscar Ortiz, do River, e Daniel Bertoni, do Independiente) disputavam posição para abastecer o tosco mas valente centroavante Leopoldo Luque, do River.
Já o Brasil tinha problemas. O controvertido técnico Claudio Coutinho havia deixado em casa o craque Falcão, cortado o centroavante Nunes, do Santa Cruz (comentava-se que a pedido de Heleno Nunes, presidente da CBD, que preferia Roberto, do seu Vasco) e improvisado o zagueiro Edinho na lateral esquerda. Logo na primeira fase os grandes astros da equipe, Zico e Rivelino, se contundiram, e assistiram ao resto do mundial do banco de reservas. Para o jogo contra a Argentina, Coutinho também não tinha o lesionado Cerezo e já havia se decidido a por fim à improvisação de Edinho, lançando Rodrigues Neto na lateral. A equipe ainda estava desacreditada.
O jogo começou nervoso, com as duas equipes cometendo faltas duríssimas. Quando a poeira assentou, a Argentina esteve melhor no início, e Kempes perdeu a melhor chance do primeiro tempo. O Brasil também teve suas oportunidades, mas as duas equipes tinham dificuldade para furar o bloqueio adversário. O respeito mútuo era grande, e as equipes tinham goleiros excepcionais. No segundo tempo, o Brasil melhorou com a entrada de Zico. Roberto Dinamite teve oportunidades de ouro para decidir a partida para o Brasil, mas parou em Fillol. O 0 a 0 acabou sendo um anticlímax, já que a partida não decidiu o classificado para a grande decisão.
O que veio a seguir é bem conhecido. Os brasileiros venceram os poloneses por 3 a 1, e esperaram o resultado do jogo da Argentina contra o Peru, absurdamente marcado para depois do jogo brasileiro. O 6 a 0 deu a vantagem no saldo de gols aos donos da casa e levou-os a final contra a Holanda, quando foram campeões. Até hoje no Brasil, Argentina e Peru se comenta sobre a possibilidade de aquela partida ter sido entregue por jogadores peruanos. Fala-se de um grande empréstimo da ditadura argentina para o governo peruano, de uma visita do general Videla ao vestiário do adversário, do fato de o goleiro Quiroga ser argentino de nascimento… Mas nunca se provou nada. A Argentina estava na final.
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Belo relato... só notei umas passagens confusas: afirma-se que Zico e Rivelino viram o resto da Copa no banco, após lesões na primeira fase. Pode deixar a impressão de que eles não entraram mais em campo, mas não foi bem assim.
Embora tenha sido titular apenas nas duas primeiras partidas, o Galinho entrou em todos os jogos até o último da segunda fase de grupos, quando contundiu-se seriamente, em disputa de bola com Boniek, ficando desde já fora da partida seguinte do Brasil - a final ou, como acabou sendo o caso, o terceiro lugar.
Já Rivelino jogou três vezes: como titular, a estreia; como reserva, os dois últimos jogos - contra Polônia na segunda fase e o terceiro lugar contra a Itália.
Outros dois equívocos: Ardiles ainda era do Huracán (pode até ter sua venda sido acertada antes da Copa, mas só foi jogar na Inglaterra depois do mundial) e o gol italiano contra a Argentina foi de Bettega.
Caio
Muito obrigado pela leitura cuidadosa, ler comentários assim apenas fortalece nosso desejo de ser sempre melhores, uma vez que há leitores que conhecem tanto o assunto. Sobre suas objeções vamos lá:
1) Eu realmente tinha que o gol dos italianos contra os argentinos havia sido do Paolo Rossi. Pesquisei de novo, e vi que de fato foi do Bettega. Era um dado menor e não chequei, falha minha.
2) Todos os lugares que pesquisei colocam o Ardiles no Tottenham já em 1977. Mas se tiveres aí um link para contestar esse dado, ficarei grato em corrigir esse eventual erro.
3) Supus que como o texto mais à frente cita a participação do Zico no jogo, ficaria claro que eles nao ficaram de fora do resto da copa. Mas de fato a redação poderia ter sido mais cuidadosa.
Que isso, Tiago! Tudo na buena? :)
Bem, achei esses. Os dois primeiros são meras fichas, mas o último é um perfil dele no site do Tottenham... o texto menciona que ele e Villa foram para os Spurs justamente após a boa impressão que deixaram na Copa de 78
http://www.planetworldcup.com/CUPS/1978/squad_arg78.html
http://www.national-football-teams.com/v2/player.php?id=19328
http://www.tottenhamhotspur.com/history/hall_of_fame/ossieardiles.html
Estamos aí, qualquer coisa. Bom ano novo à equipe do site!
Caio
Após algumas semanas de férias, me deparei com sua resposta, e vejo que de fato a internet é complicada. A própria enciclopedia do Huracán o dá como jogador do Tottenham na copa de 78. Vi vários links que apontam nesse sentido. Mas de fato voce apresenta alguns indicios que dão o que pensar. Mas note que o segundo link nao atribui nenhuma partida a ele com a camisa do Huracán no ano de 1978, e 38 jogos pelo Tottenham, marca que dificilmente ele alcançaria em apenas seis meses no clube. De fato taí algo que precisamos pesquisar mais. abraços