Nesta semana o Principado de Mônaco relembra os 890 anos de sua independência. Bom gatilho para relembrarmos os argentinos que desfilaram pelo clube local, alguns deles fundamentais para as conquistas bissextas dos Rouge et Blancs. O maior artilheiro do futebol monegasco foi importado dos gramados portenhos.
O primeiro hermano em Monte Carlo foi Raúl Conti. Esteve de 1951 e 1956, participando das três primeiras campanhas do Monaco na elite francesa, de 1953 a 1956 – quando o clube foi terceiro lugar, seu primeiro destaque na Ligue 1. Esse ex-meia sem destaque por Racing e River iria ao Torino e terminou no Principado, onde acumulou 44 gols em 101 jogos. Dali voltou a Turim, mas para defender a Juventus. Mas até os anos 70 a seleção não convocava quem atuasse no exterior.
Em meados dos anos 60, o Monaco teve três argentinos na sequência: Eduardo Gianella (1964-65), o atacante Miguel Ángel Pérez (1966-67) e José Cammameri (1967-68), nenhum com maior transcendência – Pérez veio e voltou ao Real Madrid enquanto Gianella já estava na França, sendo ex-Reims (indo depois ao Nîmes). O time, que vinha de conquistar no início da década seus primeiros títulos, fez campanhas abaixo do 10º lugar e assim houve um lapso de importações platinas.
Mas em 1973, com a equipe recém-repromovida à elite após o rebaixamento de 1971, surgiu a primeira colônia argentina no Stade Louis II. Do Independiente recém-campeão da Libertadores, veio o volante José Omar Pastoriza. Outro ídolo Rojo, o ponta Aníbal Tarabini estava no futebol mexicano. O técnico era Rubén Bravo, ex-jogador de Rosario Central, Racing e Botafogo que havia feito boa carreira na França (ainda jogador, fez dupla com Just Fontaine na época dourada do Nice).
Já Delio Onnis era um italiano crescido na Argentina, lançado pelo Almagro e brilhante no Gimnasia LP. Já estava na França, conseguindo artilharia pelo Reims. Era considerado argentino pela própria France Football, que jamais o incluiu nas votações da Bola de Ouro, ainda restrita a só jogadores europeus. Foi ignorado também pelas seleções argentina e italiana, ainda em tempos de “bairrismo” delas. Um desperdício. Onnis não era técnico, mas era um goleador impressionante.
El Tano virou o maior artilheiro do Monaco e da Ligue 1, ainda que tenha vivenciado de tudo: rebaixado em 1976, emendou um raro bicampeonato da segundona de 1977 (em que foi artilheiro, claro) com a primeira de 1978, único título rouge et blanc na elite nos anos 70. Onnis foi cinco vezes artilheiro do campeonato (recorde compartilhado com outro argentino, o contemporâneo Carlos Bianchi), pelos mais diversos clubes, incluindo aí também Tours e Toulon, quando já beirava os 40 anos. Mesmo assim, só ganhou também a Copa da França de 1980 – ainda pelo Monaco. Onnis é um capítulo à parte e já dedicamos a ele este outro especial.
Com Tarabini e Pastoriza, os súditos de Rainier III, apesar de Onnis, fizeram campanhas de péssimas para regulares no campeonato, mas foram vices da Copa da França em 1974. O título de 1978 veio com outros colegas importados da Argentina: o meia Raúl Noguès (presente também na Copa da França de 1980), ex-Chacarita que já estava rodado na França por Lille e Olympique de Marselha (ainda iria a Nice, Saint-Étienne, Racing de Paris e menores); e o lateral Heriberto Correa, um paraguaio de carreira em gramados portenhos e que defendera a seleção argentina nas eliminatórias à Copa de 1974.
Víctor Trossero, ex-Unión e outro argentino com rodagem na França (com títulos pelo Nantes), esteve no quarto lugar da temporada 1980-81. O zagueiro Juan Simón, que jogaria todos os minutos da seleção na Copa de 1990, ficou de 1983 a 1986. A melhor temporada, em 1984, foi agridoce, vice no campeonato (só nos critérios de desempate para o Bordeaux) como na Copa da França. Já rodado na França, o meia Omar da Fonseca, ex-Vélez, Tours e Paris Saint-Germain, ficou de 1986 a 1988. Foi campeão de 1988 na Ligue 1, mas sem ser titular, indo em seguida ao Toulouse.
Mais brilho teve o veterano atacante Ramón Díaz, campeão da Copa da França de 1991. El Pelado vinha de um título italiano com a Internazionale (o último da Inter até 2006) e só não foi à Copa de 1990 por desavenças com Maradona: foi o argentino mais goleador nas principais ligas europeias na temporada 1989-90 (quando foi terceiro colocado na liga e semifinalista da Recopa Europeia), quinze contra os oito de Caniggia, por exemplo. A taça de 1991 é hoje o último título monegasco na Copa.
Ainda na temporada de 1990-91, Díaz foi também vice-campeão da Ligue 1. Foi sua despedida europeia do atacante, que resolveu voltar a seu River. Desde então, o Monaco só ganhou mais dois títulos expressivos, os campeonatos franceses de 1997 e 2000. David Trezeguet esteve presente em ambos. Como Onnis, nascera no estrangeiro para ser criado na Argentina. Chegou só no fim da adolescência a Monte Carlo, após menos de dez jogos no futebol argentino adulto (no Platense). Iria originalmente ao Paris Saint-Germain, onde jogou amistosos mas sem fechar.
Trezeguet ficou de 1996 a 2000 no Mediterrâneo, onde iniciou a dupla mortal com Thierry Henry depois transportada com sucesso à seleção francesa. Trezegol também foi semifinalista da Copa da UEFA em 1997 e da Liga dos Campeões em 1998. Outro colega de Trezegol foi o meia Marcelo Gallardo. El Muñeco foi fundamental na última conquista na Ligue 1, sendo eleito o melhor jogador da vitoriosa temporada 1999-2000 (quando os monegascos tornaram-se na ocasião os terceiros maiores campeões franceses), mantendo a aura de “novo Maradona” dos tempos prévios de River.
Gallardo ficou de 1999 a 2003. Foi o primeiro que a seleção argentina convocou do Monaco e esteve também no último troféu rouge et blanc, a Copa da Liga de 2003, ano de vice no campeonato francês. Um de seus colegas foi Lucas Bernardi. Desde 2001 no Principado, o meia ex-Newell’s (para onde voltaria para ser símbolo da ótima fase rojinegra de 2012-13) ficou por sete temporadas lá. A melhor delas, é claro, foi a de 2004. O Monaco chegou à final da Liga dos Campeões após eliminar Real Madrid e Chelsea, incluindo no time titular Bernardi e outro hermano, o lateral Hugo Ibarra.
Membro do Boca três vezes campeão da Libertadores entre 2000 e 2003, Ibarra havia sido dispensado por José Mourinho no Porto. Não conseguiu a revanche pessoal, mas foi importante na classificação à final: na semi, o Chelsea havia aberto 2-0 em Stamford Bridge, placar que o classificava após ter sofrido 3-1 no Louis II. El Negro diminuiu para 2-1 no minuto seguinte ao segundo gol inglês. Ficaria no 2-2. Não foi o suficiente para devolvê-lo à seleção em tempos em que Javier Zanetti era intocável no posto. Já Bernardi teve testes esporádicos, incluindo a Copa das Confederações de 2005.
Depois de Bernardi, nenhum argentino chegou a ter destaque duradouro em Monte Carlo. Sergio Almirón (2007-08), Alejandro Alonso (2008-10), Lucas Ocampos (2012-14), Sergio Romero (2013-14) e Guido Carrillo (desde 2015) foram os seguintes. Desses, o melhor foi Alonso, capitão do vice da Copa da França em 2010. Ocampos esteve no título da segundona de 2013. Já Romero, que estava emprestado pela Sampdoria, não saiu da reserva do croata Danijel Subašić, inclusive atraindo críticas contra o técnico Alejandro Sabella pela persistente titularidade na seleção que foi à Copa do Mundo. Abaixo, mais especiais franco-argentinos:
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