Em 26 de julho de 1952, a Argentina “foi às ruas” e os hermanos “foram capa de todos os jornais do mundo” em função “da morte de uma atriz chamada Eva Perón”, “que decepcionou seu povo”: “esperava-se dela que fosse imortal”, pois “era o que queriam e não era pedir muito” – para usarmos os versos traduzidos de “Oh What a Circus”, uma das canções do musical Evita. Sua figura não deixou de se atrelar no futebol, desde o fomento de torneios infantis até mudança de nome nos rivais Estudiantes e Gimnasia LP. Vale adaptar este outro Especial, focado no marido Juan Domingo Perón.
Uma última homenagem em vida a Evita veio em 1951, com a inclusão do Sarmiento na Associação do Futebol Argentino. A AFA, apesar do nome, era restrita a clubes da Grande Buenos Aires e às cidades de La Plata, Rosario e Santa Fe. O Sarmiento é da cidade de Junín, bem afastada da capital federal embora seja da Província de Buenos Aires. O clube deixou as ligas regionais para ser incluído na segunda divisão e até hoje está diretamente afiliado, chegando à elite em 1981 e em 2014. Não se sabe onde Evita nasceu, mas havia sido em Junín que ela crescera e onde casou-se com Juan.
Já a homenagem póstuma que mais repercutiu no futebol foi renomear La Plata como Ciudad Eva Perón. Isso ocorreu nos dias seguintes ao falecimento, no circo de culto à personalidade, como ironizado pelo personagem de Antonio Banderas na citada “Oh What a Circus” (vídeo ao fim). A mudança afetou a dupla futebolística platense. O Estudiantes de La Plata virou “Estudiantes de Eva Perón”, assim como o Gimnasia y Esgrima La Plata virou “Gimnasia y Esgrima Eva Perón”.
O Estudiantes se deu mal. Alinhava-se com a oposição: um mês antes da morte de Evita, o Pincha havia sido alvo de protestos por não distribuir os dois mil exemplares que recebera do livro autobiográfico dela, Razón de mi Vida. Sofreu intervenção governamental e seus melhores jogadores foram embora, como os artilheiros Pellegrina e Ricardo Infante. Com a sigla E. de E.P. no distintivo ao invés da clássica E. de L.P., os alvirrubros sofreram no ano seguinte seu primeiro rebaixamento. Já o Gimnasia, com a nova denominação, fez o caminho inverso, vencendo a segunda divisão daquele 1952.
Juan Domingo Perón precisou exilar-se na Espanha em 1955, ano em que foi tirado da Casa Rosada sob bombardeios, até poder regressar à terra natal em 1972. Afinal, o casal Perón tinha boas relações com esse país (o filme Evita também retrata o grande sucesso da visita da primeira-dama na Espanha), a ponto de haver uma “Copa Eva Duarte” a ser decidida o campeão espanhol e da Copa do Rei, tal como a Supercopa faz hoje. Duarte era o sobrenome de solteira de Eva Perón.
Já na Argentina, resquícios do peronismo foram imediatamente suprimidos, a ponto de a seleção de basquete campeã da primeira Copa do Mundo, em 1950, ser desmanchada e seus jogadores, boicotados; a delegação olímpica foi reduzida de 134 pessoas em 1952 para 37 em 1956, suprimindo o corredor Osvaldo Suárez, três vezes campeão da São Silvestre (“me tiraram a possibilidade de ser campeão olímpico. Estava fazendo em 2h23 e me proibiram de ir faltando cinco dias. Teria triunfado porque estava terminando dois minutos a menos que o que ganhou. Sofri e no dia de hoje sigo sentindo. Foi uma ferida muito profunda”).
No futebol, por sua vez, La Plata voltou a ser La Plata. O que não acabou foram os chamados Torneos Evita. Quem já assistiu o filme estrelado por Madonna talvez não tenha notado a sequência que mostra a imagem que abre a matéria, em cena de fato bastante rápida. Mas que reproduz atos verídicos: a mais famosa primeira-dama argentina (talvez, do mundo) chegou a emprestar sua alcunha a torneios infantis de futebol. Que chegaram ser jogados por um Maradona pré-adolescente.
José Sanfilippo, o maior artilheiro da história do San Lorenzo e que passou no Brasil por Bangu e Bahia, também participou. Ali, chegou a ser colega do jornalista Enrique Macaya Márquez, mais ou menos a versão argentina de Léo Baptista. Ele cobriu todas as Copas do Mundo desde a de 1958 e, indagado sobre o que o Torneo Evita representava, declarou que “para mim, foi entrar em um campo de verdade, com traves e gramado, porque na várzea não existia o gramado, era vestir-se com uniforme, ser um mini jogador. Também te dava a chance de detectar doenças, porque se fazia uma revisão médica”.
Dentre outros argentinos presentes em Copas do Mundo, jogadores de épocas díspares como o lateral Silvio Marzolini (eleito o melhor de sua posição no mundial de 1966) e o zagueiro Pedro Monzón (mais lembrado pela primeira expulsão em uma final, em 1990) também jogaram a competição. Assim como Jorge Griffa, ex-beque do Newell’s e do Atlético de Madrid nos anos 50 e 60 posteriormente celebrizado como olheiro de sucesso a captar diversas revelações do Newell’s na virada dos anos 80 para os 90, e depois do Boca desde meados dos anos 90.
O país da política e do futebol
Menottismo x Bilardismo: duas escolas de futebol argentino (I)
Menottismo x Bilardismo: duas escolas de futebol argentino (II)
"Porque isto é algo mais do que uma simples partida, bastante maior do que uma…
As apostas no futebol estão em franco crescimento no Brasil, impulsionadas pelo aumento das casas…
A seleção de 1978 teve como principal celeiro o River Plate: foram cinco convocados e…
Originalmente publicada pelo aniversário de 60 anos, em 15-07-2014 Segundo diversos sites estrangeiros sobre origens…
Originalmente publicado em 12 de julho de 2021, focado na inédita artilharia de Messi em…
A Copa do Mundo de Futebol é um dos eventos esportivos mais aguardados e assistidos…
This website uses cookies.