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Muito além do PSG: os outros clubes de Paris, através de seus argentinos

Racing de 1955: Bolek Ugorenko, o argentino Carlos Sosa, André Pivois, o célebre austríaco Ernst Happel, Abderrahman Mahjoub e Roger Marche: Joël Pillard, Roger Gabet, Thadée Cisowski, Antoine Dalla Cieca e Jean Guillot

A cardíaca virada sobre a Atalanta foi o presente em alto estilo que o Paris Saint-Germain se deu hoje, pois esse 12 de agosto de 2020 marca exatamente o 50º aniversário do clube. Ame-o ou deixe-o, o PSG já cumpriu seu propósito: representar fortemente a capital nacional e, mesmo antes dos petrodólares árabes, enraizar uma paixão inflamada na cena parisiense por um clube local no futebol, algo pouco comum até então. “Até então”, pois o futebol de Paris estava longe de ser desértico. Era, inegavelmente, sem maior apelo, mas contava (e ainda conta) com diversos times à disposição. E, tal como ocorreu com o PSG, argentinos tiveram sua importância nessa história.

Embora se considere que o campeonato francês tenha surgido apenas a partir da temporada 1932-33, a primeira da Ligue 1, já havia antes competições à parte da Copa da França para fazer as vezes de campeonato. Em dado momento, pelo menos quatro ligas diferentes organizavam seus próprios torneios: o mais tradicional era o da União das Sociedades Francesas de Esportes Atléticos (USFSA, espécie de CBD local), a organizar ininterruptamente um entre 1893 e 1914. A competição foi inicialmente dominada pelo Standard, o clube parisiense da comunidade britânica. Outra força desses primórdios era o Club Français, campeão em 1896 e trivice entre 1898 e 1900.

Àquela altura, também já existiam o Racing e o Stade Français, que já àquela época eram mais potentes no rúgbi, tal como hoje. Com a bola redonda, o Racing foi bivice em 1902 e 1903, ano da fundação em Avellaneda do gigante argentino de mesmo nome, inspirado no time parisiense a partir da sugestão de um fundador de origem francesa, Germán Vidaillac. Em 1904, o vice foi o Suisse, o (ainda existente, mas obscuro) clube parisiense da comunidade suíça. A capital retomou a taça em 1905 através do Gallia, que viria a se extinguir com a Segunda Guerra. Em 1906, um novo representante na decisão do torneio foi o Cercle Athlétique – futuro time de Lucien Laurent, autor do primeiro gol das Copas do Mundo.

O Racing conseguiu seu primeiro título no futebol da USFSA em 1907 e seria vice em 1908 e em 1911; o Cercle foi outra vez finalista em 1909. Em paralelo, a Federação Ginasta e Esportiva de Patrocínios organizou seu campeonato ininterruptamente de 1904 a 1914. As grandes forças foram parisienses; naquele decênio, o Patronage Olier ganhou duas vezes e a Étoile des Deux Lacs, seis vezes, fornecendo dois argentinos à seleção francesa na época: os irmãos Paul Romano e Félix Romano. Félix, inclusive, também defenderia a italiana, após transferir-se ao Torino no fim dos anos 10. É o único argentino a defender duas seleções europeias oficiais.

A Federação Ciclista e Atlética da França organizou seu torneio entre 1905 e 1914, com a Jeunesse Athlétique do subúrbio de Saint-Ouen sendo a principal força da capital. E em 1910 surgiu a Liga de Football Association (LFA), presidida por Jules Rimet. Foi criada pelo seu clube, o Red Star, acompanhado do Cercle e do Suisse, dentre outros, que se rebelaram com a USFSA. O Cercle foi campeão em 1911 e 1913 e o Red Star, em 1912.

Stábile, de terno, como técnico do Red Star no fim dos anos 30; o artilheiro venceu a segunda divisão. O clube venceu em 1942 sua última Copa da França – o argentino Helenio Herrera é o último em pé

Chegou mesmo a haver o Troféu da França, que reunia os campeões de cada campeonato para apontar moralmente o melhor time do país. A Étoile ganhou-o em 1907 e em 1912 (ali, em final com o Red Star) e foi vice em 1911 e 1916; o Patronage Olier venceu em 1908 e em 1910 e a Jeunesse, em 1909; o Cercle ganhou em 1911 e em 1913; e já em plena Primeira Guerra Mundial, a descontinuar todos aqueles campeonatos, o Olympique de Paris bateu a Étoile na decisão de 1916. Durante o conflito, o campeonato foi preenchido com outros torneios-tampão como a Copa dos Aliados e troféus regionais. A USFSA e a LFA (com título do Red Star) ainda retomaram seus respectivos campeonatos para a temporada 1918-19.

Mas a retomada dupla foi efêmera com a criação da Federação Francesa de Futebol naquela época, ainda que ela inicialmente focasse com a nascente Copa da França, criada em 1918. E o novo torneio foi inicialmente dominado pela cena parisiense: o Olympique de Paris ganhou a edição inaugural e foi vice na seguinte para a equipe do banco Société Generale, conhecida pela sigla CASG. O Cercle ganhou em 1920, o Red Star obteve um tri seguido entre 1921 (vencendo o Olympique nessa decisão) e 1923 e o CASG retomou o troféu em 1925.

A Federação retomou então para a temporada 1926-27 um campeonato nos moldes ao que a USFSA e a LFA organizavam e a taça ficou com o Cercle naquela temporada e com o Stade Français na seguinte – foram as únicas conquistas que tiveram na primeira divisão. Em paralelo, o Red Star (que absorveu em 1927 o Olympique) bateu o Cercle na final da Copa da França de 1927-28. Na temporada de 1928-29, o Club Français foi vice do campeonato, que foi então descontinuado. A Copa da França remanesceu como competição mais importante e viu o Racing ser vice na prorrogação da temporada 1929-30 e o Club Français vencer a edição seguinte.

Finalmente, a Ligue 1 então foi programada para a temporada 1932-33, tendo consigo quatro clubes parisienses fundadores: Club Français, Cercle, Racing e Red Star. O torneio nunca mais voltaria a ter tantos times da capital juntos. E já naqueles primórdios haviam astros argentinos: artilheiro da primeira Copa do Mundo, Guillermo Stábile chegara com pompa ao maior campeão italiano de então, o Genoa, mas uma precoce fratura impediu que triunfasse na Itália à altura de sua estrela. El Filtrador foi contratado já como jogador-treinador pelo Red Star em 1935, fugindo do clima belicoso na Itália, que naquele ano invadiu a Etiópia recrutando para o exército fascista também ítalo-argentinos como o veterano artilheiro.

Stábile foi decisivo para impedir naquela temporada 1935-36 um rebaixamento só evitado nos critérios de desempate: fez 10 gols em 14 jogos e seu clube ainda pôde chegar às semifinais da Copa da França. O cartão de visitas dele deu-se ainda em novembro de 1935, em um duelo entre combinados de Paris e de Viena, ainda um grande centro de futebol na Europa com o Wunderteam da seleção austríaca. Stábile venceu Matthias Sindelar no individual e no coletivo. O argentino marcou quatro gols na vitória por 6-5. O jogo repercutiu para além dos dois países, com o diário espanhol As estampando “a ressurreição de Stábile em Paris”.

Em fevereiro de 1950, o campeão argentino de 1949 enfrentou o campeão da Copa da França: o duelo com o Racing de Paris inspirou o de Avellaneda, cujo nome já era inspirado no parisiense, na criação da camisa reserva (foto direita) consagrada no título de 1951

Duas temporadas depois, a queda do Red Star foi sacramentada, mas Stábile logo devolveu os alviverdes à elite com o título da segundona de 1938-39 – em um elenco com os hermanos Alejandro Scopelli, seu ex-colega na Copa de 1930, e Oscar Tarrío, ambos recém-campeões da Copa América de 1937; mas, com o estouro da Segunda Guerra Mundial em seguida, Stábile não ficou para a glória: ainda antes do fim da temporada, tratou de voltar à Argentina para seguir uma carreira de treinador ainda mais consagradora, lutando já em 1939 pelo título com uma campanha marcante do seu Huracán – seguindo de imediato para o cargo de técnico da seleção, seu por quase 20 anos. Scopelli e Tarrío foram ao neutro Portugal brilhar no ainda poderoso Belenenses. Os alviverdes improvisaram Augustin Chantrel como jogador-treinador na reta final do título.

Para as estatísticas oficiais, a Ligue 1 foi interrompida pela Segunda Guerra, embora as duas Franças estabelecidas pelo conflito (a parte norte ocupada diretamente pela Alemanha, abrangendo Paris; e fantoche “França de Vichy”, ao sul) tenham formado seus próprios campeonatos. O torneio que seguiu oficialmente para a Federação Francesa de Futebol foi a Copa da França. E houve argentino seguindo no Red Star nesse período para contar histórias, alguém que seria um treinador ainda mais renomado: filho de espanhóis, o zagueiro Helenio Herrera deixara Buenos Aires ainda na infância e cresceu no Marrocos, colônia francesa de forte comunidade espanhola.

Herrera chegou a Paris inicialmente através do CASG, em 1932, e já havia passado pelo Stade Français (ambos de fora até da segunda divisão) antes de chegar em 1940 ao time de Jules Rimet. Embora envolvido na resistência, o clube foi o campeão do campeonato da França ocupada na temporada 1940-41 e vencedor (pela última vez) da Copa da França na seguinte. O argentino voltou ao Stade Français em seguida e lá começou sua vitoriosíssima carreira de treinador: sob ele, os rubroazuis obteram o acesso da segunda divisão na retomada da liga após a Guerra, enfim estreando tardiamente na Ligue 1 e logo trilhando suas melhores campanhas na elite profissional – dois quinto lugares seguidos; Herrera chegaria a conciliar o cargo de treinador do clube com a mesma função na própria seleção francesa.

O brilho do Stade Français não tardou a apagar-se com o desmanche generalizado: o treinador, o goleiro Marcel Domingo e o craque Larbi Benbarek foram brilhar no futebol espanhol e o húngaro István Nyers foi ser artilheiro na Itália. Assim, historicamente a grande força parisiense pré-PSG na Ligue 1 foi o Racing. Seu primeiro argentino na nova era foi o zagueiro André Chardar, que já vinha desenvolvendo sua carreira na França: integrara o Cercle nos anos 20 e chegara à própria seleção francesa em 1930 a serviço da equipe da cidade de Sète (campeã da Copa da França naquele ano sobre o próprio Racing). Chardar veio já no fim da carreira ao Racing. Quase foi campeão da temporada 1936-37 e pendurou as chuteiras na seguinte. Como treinador, trabalhou sem alarde no Cercle e no Métro, clube poliesportivo que nos anos 90 teria seu departamento de rúgbi incorporado pelo Racing.

No fim daquela década, chegou ao Racing o atacante José Pérez Filgueiras, contratado junto ao San Lorenzo. Mas ele não pagou para ver a Segunda Guerra: já em 1941 estava de volta à Argentina para defender o Ferro Carril Oeste, embora fizesse mais história como o técnico do San Lorenzo que promoveu ao time adulto o maior artilheiro do clube, José Sanfilippo. Durante a guerra, quem esteve no estádio de Colombes foi o rodado atacante Hugo Lamanna, vice-artilheiro da liga argentina de 1932 pelo Talleres de Escalada e campeão carioca de 1934 por um Vasco de colônia argentina. Lamanna já havia defendido o Stade Français nos anos 30, mas veio do Vélez. Permaneceu no Racing entre 1939 e 1941 e seguiu para o futebol italiano – por sinal, justamente para a Atalanta.

Stade Français de 1960-61. O argentino Eduardo Salladare é o antepenúltimo agachado

Um primeiro argentino no Racing ao fim da guerra foi Rodolfo Cisneros, que permaneceu de 1947 a 1949 sem sobressair-se (ainda que integrasse o elenco vencedor da Copa da França de 1949, a última dos pingouins, que em 2 de fevereiro de 1950 fizeram um tira-teima com o xará de Avellaneda, por sua vez o campeão argentino de 1949), rumando ao time homônimo de Estrasburgo. Ex-Independiente, o zagueiro Arnaldo Vázquez chegou para a temporada 1951-52 e tampouco triunfou; na seguinte, já reforçava o Red Star na segundona.

Por vezes considerado o maior lateral-direito do Boca e do próprio futebol argentino, Carlos “Lucho” Sosa (bicampeão da Copa América em 1945-46) veio dos auriazuis já veteraníssimo em 1952, aos 33 anos, para permanecer por longevas seis temporadas. Começou sendo rebaixado logo de cara, mas voltou imediatamente com o clube e ao fim integrou campanhas de disputa pelo título – especialmente em 1956 e em 1957.

Outro argentino a migrar a Paris em 1952 foi o atacante José Arias, ex-Banfield e Platense. Seu clube foi o Stade Français, que, recém-promovido de volta, brigou para não cair também. Após a degola ao fim da segunda temporada, Arias seguiu na França como jogador do Troyes. O Stade reapareceu na elite para a temporada 1959-60 e o rosarino Eduardo Salladare defendeu-o esporadicamente dali até 1962, ano em que Paris recebeu mais dois hermanos: o atacante Rubén Muñoz chegou do Newell’s, então na segundona, para defender o Red Star na segunda divisão – ele participaria do acesso à elite em 1965, embora caísse como lanterna outra temporada depois, seguindo a carreira no Racing de Estrasburgo.

Além de Muñoz, o centroavante José Farías, com passagens prévias por Boca e Gimnasia LP, estava credenciado como goleador do primeiro acesso do nanico Los Andes à elite argentina. Havia acabado de saltar ao Huracán quando então foi atraído por um Racing que continuamente vinha disputando o título francês. Ele de início não se saiu bem na capital e foi repassado ao time homônimo de Estrasburgo, onde vingou: foi o goleador do elenco vencedor da Copa da Liga em 1964 e da Copa da França em 1965.

O Stade Français fez sua participação final na elite na temporada 1966-67, tendo Mario Giordano como único argentino. Com o rebaixamento, ele optou por extinguir seu departamento de futebol profissional. A crise não era exclusividade dos rubroazuis: seus vizinhos se viram obrigados a recorrer a parcerias com times de fora da capital. Nisso, o Racing se fundiu com o Sedan e o Red Star, com o Toulouse. Os dois projetos vigoram até 1970 e nesse período o mesmo José Farías voltou a Paris, agora no Red Star. Sempre na briga contra o foice, contribuiu com 26 gols em 94 jogos antes de seguir como jogador do Toulouse uma vez encerrada a parceria.

O Red Star de 1970, onde o argentino José Farías (ex-Racing de Paris) é o penúltimo agachado. À direita, o veterano Néstor Combín, importante na última subida do clube à elite

O Racing, por sua vez, trouxe para a temporada 1969-70 o veterano ponta Héctor de Bourgoing, formado por Tigre e River. Consagrado na década por Nice e Bordeaux a ponto de ser naturalizado pela seleção francesa, De Bourgoing pendurou as chuteiras ao fim de sua única temporada na capital. Em paralelo, entusiastas do futebol na Cidade Luz descrentes da capacidade alheia fundaram em 1969 o Paris FC. A empreitada não colheu logo o sucesso e em 12 de agosto de 1970 eles também combinaram uma fusão, com o Stade Saint-Germain – estruturado desde o início do século mas nunca nos holofotes da elite.

O novo clube pareceu certeiro ao vencer já na temporada inaugural a segunda divisão, não sem contrair dívidas ainda maiores que a ambição do projeto: a temporada de estreia na Ligue 1 foi um fiasco. A prefeitura parisiense propôs ajuda desde que o time adotasse o nome Paris FC de volta, mais atrativo comercialmente como símbolo óbvio de futebol na capital. A mudança não foi unânime; o clube então dividiu-se, com a vaga na elite permanecendo com o Paris enquanto dissidentes, mantendo o nome PSG, recomeçaram na terceira divisão.

Assim, com a ausência de uma força sólida na capital, o Red Star ainda comportou-se no início dos anos 70 como principal time de Paris – já havia atraído Garrincha em 1971 (mesmo decadente, o astro era caro demais para assinar contrato e só durou alguns treinos) e pôde buscar para o estádio Bauer os últimos argentinos mais renomados. O ponta-esquerda Antonio García Ameijenda na verdade era espanhol de nascimento, mas crescera desde os 7 meses de vida em Buenos Aires, defendera a seleção argentina juvenil e vinha de um San Lorenzo campeão do Metropolitano de 1972. Mas, com o rebaixamento do Red Star naquela temporada 1972-73, logo voltou aos azulgranas.

Para voltar à elite, a diretoria alviverde recorreu ao veterano atacante Néstor Combín, colega de Héctor de Bourgoing na seleção francesa que fora à Copa do Mundo de 1966. Ele crescera na França, brilhando por Lyon antes de conseguir troféus por Juventus, Torino e Milan (sendo protagonista involuntário do Mundial Interclubes de 1969, ao voltar à Argentina para enfrentar o Estudiantes), embora já estivesse no Metz em 1973. Outro reforço foi o zagueiro Víctor Hugo Jara, do Newell’s. O acesso na temporada 1973-74 veio de imediato, curiosamente junto do PSG – que soubera emendar o acesso na terceirona de 1972-73 com aquele.

Mas, mesmo com os dois argentinos permanecendo, o Red Star logo caiu. Já o PSG soube se segurar e se faz presente desde então na elite, ainda que passasse o resto dos anos 70 ainda realizando campanhas medíocres (mesmo desfrutando dos gols do superartilheiro argentino Carlos Bianchi) antes de praticamente monopolizar as atenções parisienes consigo a partir dos anos 80. Eis, mais abaixo, a trajetória mediana do futebol da capital na era Ligue 1 até a afirmação do aniversariante de hoje:

O Paris FC pela última vez na elite, na temporada 1978-79: Daniel Alberto é o penúltimo em pé e Humberto Bravo é o antepenúltimo agachado

1932-33: na temporada inaugural, o Red Star cai assim como o Club Français (ambos como antepenúltimos em seus grupos), que não voltará mais à elite. O Racing e o Cercle ficam no meio da tabela dos seus respectivos grupo, ambos em 5º.
1933-34: o Racing fica a cinco pontos da queda e o Cercle é o lanterna, que não voltará mais à Ligue 1 – embora ainda vá contar no fim da década com o futuro ídolo flamenguista Carlos Volante, o ex-vascaíno Hugo Lamanna e também Russo, ídolo do Fluminense nascido na Argentina, embora naturalizado brasileiro (todos entre 1937 e 1938). O Red Star volta como terceiro na segundona. Na segunda divisão, o Suisse compete pela única vez na liga profissional, fazendo W.O. nos seus cinco jogos finais; sua pontuação é zerada e o time, obviamente rebaixado.
1934-35: o Racing foi 3º e o Red Star, 12º, a cinco pontos da degola. Na segunda divisão, o Club Français compete pela última vez, rebaixado como vice-lanterna, e se dissolverá com a Segunda Guerra.
1935-36: o Racing é campeão tanto da Ligue 1 (pela única vez) como da Copa da França, dobradinha que demorará até 2015 para o PSG igualar. Com Stábile decisivo, o Red Star escapa da degola pelos critérios de desempate.
1936-37: o Racing é 3º, a um ponto do título. O Red Star termina no meio da tabela, em 9º.
1937-38: o Racing despenca para 13º e o Red Star cai como penúltimo.
1938-39: o Racing volta a ser 3º, a quatro pontos do título, e vence a Copa da França. Treinado por Stábile e reforçado com Scopelli e Tarrío, o Red Star volta imediatamente como campeão da segundona.
1939-40: no primeiro campeonato da França ocupada (não reconhecido oficialmente com o fim da guerra), os parisienses sofrem. 13º da segunda divisão anterior, o Cercle é incluído na elite desse torneio e o termina em 6º. Racing (que, com Lamanna entre os reservas, vence a Copa da França) e Red Star ficam em 8º e 9º, respectivamente.
1940-41: com o zagueiro Helenio Herrera, o Red Star vence o campeonato da França ocupada, disputado por sete times. Em contrapartida, Racing e Cercle ficam nas duas últimas posições, respectivamente.
1941-42:
com Herrera, o Red Star fica a dois pontos do bicampeonato da França ocupada (disputado por nove clubes, onde o Racing é o 4º e o Cercle é o 6º) e vence sua última Copa da França.
1942-43:
os participantes da liga da França ocupada saltam para dezesseis. O Racing é 7º, o Red Star despenca para 10º e uma fusão do Cercle com o Stade Français é o 14º.
1943-44:
os campeonatos das duas Franças dão lugar a um torneio disputado por dezesseis combinados regionais. Paris é representada por um e sua região metropolitana, por outro. Terminam respectivamente em 3º e 4º.
1944-45:
Paris é libertada ainda em agosto de 1944, mas o campeonato de duas Franças ainda subsiste. No torneio da parte norte, o Red Star é o 3º de doze clubes, o Racing (que vence a Copa da França na antevéspera do fim da guerra na Europa) é o 6º e a fusão entre Stade Français e Cercle é o 9º.
1945-46: a Ligue 1 é retomada apenas com Racing e Red Star (finalista pela última vez da Copa da França) representando a capital. Eles terminam respectivamente em 8º e em 11º, enquanto o Stade Français, treinado por Herrera, sobe como vice-campeão do Grupo Norte da segundona.
1946-47: estreia do Stade Français na Ligue 1. Treinado por Herrera, terminou em 5º, a três pontos do vice. O Red Star ficou no meio da tabela a o Racing livrou-se por dois pontos da queda.
1947-48: última temporada em que Paris teve três representantes juntos na elite. Ainda com Herrera, o Stade Français repetiu o 5º lugar. Racing foi 7º e o Red Star, o lanterna.
1948-49: o Stade Français se funde brevemente com o Red Star. Mas, desmanchado, despencou para décimo. O Racing foi 6º e venceu pela última vez a Copa da França.
1949-50: Racing foi 7º e vice da Copa da França e o Stade Français-Red Star, o último entre os não-rebaixados.
1950-51: briga dupla para não cair. O Stade Français, com a parceria desfeita com o Red Star (que precisa recomeçar na quinta divisão), foi lanterna e o Racing terminou a cinco pontos da queda.
1951-52: Racing foi 14º de 18 clubes, embora o rebaixamento não fosse uma ameaça. Stade Français venceu a segundona.
1952-53: briga dupla para não cair. Embora em 9º, o Stade Français ficou a cinco pontos da queda, que atingiu o vice-lanterna Racing.
1953-54: Stade Français cai como antepenúltimo e o Racing, com Sosa, volta como terceiro colocado na Ligue 2.
1954-55: Racing no meio da tabela, em 8º
1955-56: Racing em 6º, mas a quatro pontos do título.
1956-57: Racing em 4º.
1957-58: Racing no meio da tabela, em 9º.
1958-59: Racing em 3º e o Stade Français sobe da segundona como vice-campeão.
1959-60: Racing em 3º e Stade Français em ligeira briga para não cair, em 14º de 20 clubes.
1960-61: Racing vice-campeão por um ponto. Stade Français escapa da degola também por um ponto.
1961-62: Racing vice nos critérios de desempate. Stade Français em 10º, em ligeira briga para não cair.
1962-63: Racing em 10º e Stade Français, a quatro pontos da queda, em 15º. Por terminar acima do vizinho, se qualificou à Copa das Feiras (cairia no primeiro duelo, com o Rapid Viena). Precursor da Liga Europa, o torneio dava vaga ao melhor representante das cidades que abrigassem feiras internacionais. O Cercle, após décadas na segunda divisão emendando campanhas medíocres, desativa seu time profissional e se funde com o Charentonnais para sobreviver, mas o chamado Paris-Charenton emendará três rebaixamentos consecutivos nas temporadas seguintes.
1963-64: briga dupla para não cair. O Racing cai como antepenúltimo e o Stade Français se salva com um ponto e uma colocação acima – o bastante para ir à Copa das Feiras (passa pelo Real Betis e cai em seguida por honroso 1-0 agregado para a Juventus).
1964-65: Stade Français em 15º, embora sem maior briga para não cair. Como único time de Paris, se qualifica novamente à Copa das Feiras (cai no primeiro duelo, no 1-0 agregado para o Porto). Red Star volta como vice da Ligue 2.
1965-66: Red Star cai como lanterna. Stade Français termina outra vez em 15º, mas as feiras abertas em Bordeaux, Toulouse e Nice levam os times dessas cidades, melhores colocados, à Copa das Feiras. Ao fim da temporada, o Sedan, 9º colocado, absorve os profissionais do Racing (que caíram à terceira divisão; o Racing a disputará normalmente, mas com amadores).
1966-67: a fusão Racing-Sedan termina em 5º, enquanto os amadores do Racing caem para a quarta divisão. O Stade Français, lanterna, não voltará mais à elite. Ao fim da temporada, é a vez do Red Star ser resgatado à elite por uma fusão, com o Toulouse, o último entre os não-rebaixados.
1967-68: briga dupla para não cair. Racing foi 10º e Red Star, o 13º, escapando da queda respectivamente por quatro e dois pontos.
1968-69: briga dupla para não cair. O Red Star se salva por dois pontos, em 15º. O Racing se salva por quatro, em 11º.
1969-70: a fusão do Racing com o Sedan termina, apesar do bronze – o Sedan seguirá sozinho na elite, para ser lanterna da temporada seguinte. O Red Star briga para não cair, em 13º. Teria terminando a quatro pontos da queda, mas os três últimos terminam salvos pela expansão da Ligue 1. Ta
1970-71: o Red Star se salva por dois pontos, em 15º. Na mesma temporada, o novato Paris Saint-Germain vence a Ligue 2.
1971-72: briga dupla para não cair. PSG e Red Star são justamente os últimos entre os não-rebaixados, com os mesmos 30 pontos, a quatro da degola. A vaga do PSG na elite segue com o Paris FC, sujeitando os defensores do PSG ao recomeço na terceirona.
1972-73: o Red Star cai como vice-lanterna. O Paris termina em 12º. Os dissidentes do PSG conseguem o acesso na terceira divisão.
1973-74: o Paris FC cai como vice-lanterna enquanto o Red Star (com Combín e Jara) e o PSG sobem juntos da Ligue 2, como vice e terceiro colocado, respectivamente.
1974-75: PSG se salva da queda por quatro pontos, em 15º. O Red Star é o lanterna e não voltará mais à elite, embora tenha tentado até uma fusão com o Stade Français entre 1981 e 1985.

Quando o Racing tentou rivalizar com o PSG, não buscou argentinos e sim uruguaios: Rubén Paz logo trocou de Racing para triunfar no xará de Avellaneda, enquanto Francescoli carregou o projeto até onde deu

Desde então, o PSG sedimentou-se como único representante parisiense na Ligue 1, salvo raríssimas aparições de vizinhos. Uma primeira deu-se na temporada 1978-79, a contar com a efêmera volta do Paris FC, que subira como terceiro colocado na Ligue 2. O “clube-mãe” reforçou-se com dois argentinos: um foi atacante Humberto Bravo, artilheiro do Talleres e vice do Nacional de 1977 (até hoje a mais alta colocação de todo o futebol cordobês), ficaria conhecido como um dos que acompanharam Maradona no corte final da seleção de 1978 (o outro fora Víctor Bottaniz). O outro foi o defensor Daniel Enzo Alberto, reserva do Independiente campeão exatamente sobre aquele Talleres.

Mesmo com a qualidade dos reforços, o Paris caiu como vice-lanterna da elite de 1978-79 e não voltou mais, embora a injeção recente de dinheiro do Bahrein o credencie a reaparecer em curto prazo. Daniel Alberto seguiu na França, firmando-se por Lens e Rouen; e Bravo voltou ao clube de origem, participando da campanha tallarin terceira colocada no Metropolitano de 1980. O trio Racing, Red Star e Stade Français chega a descer nos anos 70 às últimas divisões, seja no campo ou como punição financeira, mas consegue saltar divisões na virada para os anos 80: a temporada 1982-83 da Ligue 2 contém os três, com o Racing tendo inclusive absorvido os profissionais do Paris FC, cujo time amador recomeça na quinta divisão.

Naquela temporada, o Racing inclusive triscou o acesso com o argentino Raúl Noguès (foi 4º na Ligue 2), de longa rodagem na França após deixar o Chacarita em 1972. O clube de Colombes enfim reapareceu na elite em 1984-85 – enquanto, em contraste, o Stade Français opta novamente por retirar-se do profissionalismo e passar à inatividade total. O Racing foi logo rebaixado em seu retorno, mas ao fim da temporada 1985-86 pôde voltar de imediato à Ligue 1. As apostas da ambiciosa patrocinadora Matra foram em dois uruguaios históricos na Argentina, Francescoli, já um ídolo no River, e Rubén Paz – que dali veio brilhar no Racing de Avellaneda. Enquanto o Racing reaparece na elite para a temporada 1986-87, nela o Red Star desce à terceira divisão.

Os resultados esperados pela Matra não vieram e ela deixou o Racing ao fim da temporada 1988-89, que conta com o Red Star voltando à segunda e o Paris subindo à quarta. Na temporada 1989-90, o Paris emendou novo acesso, para a terceira, enquanto o Racing simultaneamente voltou após quarenta anos à final da Copa da França (perdendo-a para o Montpellier) e caiu da Ligue 1 para não mais voltar. O clube toma a drástica decisão de sair do futebol profissional, despencando diretamente para a quinta divisão na temporada 1990-91 – na qual o atacante argentino Omar da Fonseca, ex-reserva do PSG campeão francês pela primeira vez (na temporada 1985-86), compete pelo Paris.

Paris e Red Star desde então passaram a dividir a maior parte das migalhas dos holofotes parisienses, diante do estado vegetativo do futebol do Racing e principalmente do Stade Français, que só volta a ter um time adulto em 2009. Os alvicelestes, embora seguissem representados entre a sexta e quarta divisões, passaram os anos 90 focando no basquete (com direito até a fusão com o departamento do PSG nesse esporte) e, no novo século, o rúgbi, abrigando diversos membros da grande geração dos Pumas na década: Agustín Pichot, Patricio Albacete, Manuel Carizza, Juan Pablo Orlandi, Juan Imhoff, Ramiro Herrera e Juan Martín Hernández – sobrinho de Patricio Hernández, componente da seleção de futebol chamada à Copa de 1982. Mais recentemente, contou com um argentino da seleção italiana, o pilar Martín Castrogiovanni.

Já o argentino mais célebre dos tempos decadentes do futebol do Racing veio a ser o meia Alberto “Tino” Costa, que construiu uma carreira de ascensão das mais alternativas: no auge da crise econômica da virada do século, ele arriscou-se com uma oferta do Racing da colônia francesa de Guadalupe (!), de onde saltou para o da capital na temporada 2004-05. Gradualmente ascendeu a equipes francesas de maior porte até chegar à Ligue 1 com o Montpellier, saltando dali à idolatria no Valencia e à seleção argentina. O Red Star, por sua vez, registrou entre 2013 e 2014 o meia Rodrigo Castro, emprestado pelo Bordeaux, clube que profissionalizara. Nunca decolou na França e desde 2015 transitou entre as divisões de acesso da Argentina e do Chile.

Voltando à bola oval, o clube parisiense que melhor aproveitou hermanos foi o Stade Français mesmo, renascido a partir dos anos 90 com Diego Domínguez (outro da seleção italiana, pelo qual é o maior pontuador da história e carrasco da própria Argentina no Mundial de 1999) e Patricio Noriega (que adotara a seleção australiana, campeã daquele mesmo Mundial) e depois com diversos pumas históricos: os próprios Pichot e Hernández e também Gonzalo Quesada, Felipe Contepomi, Ignacio Corleto, Juan Manuel Leguizamón, Martín Rodríguez, Rodrigo Roncero, Gonzalo Tiesi e Nahuel Tetaz Chaparro – além de Sergio Parisse, outro a adotar a seleção italiana. Recordista de jogos dela, em 2019 igualou-se ao samoano Brian Lima como únicos jogadores presentes em cinco Copas do Mundo.

Além desses clubes, a Grande Paris conta ainda com equipes que jamais saborearam a presença na Ligue 1: são os casos do Poissy, presente uma única vez na segundona (na temporada 1978-79) e hoje na quarta divisão junto do Créteil-Lusitanos, do Lusitanos Saint-Maur (ambos times da comunidade portuguesa, como os nomes indicam; o Créteil formou Blaise Matuidi, de origem angolana) e de Bobigny, Boulogne (clube formador de N’Golo Kanté), Drancy, Fleury-Mérogis, L’Entente, Mantois e Sainte-Geneviève. Na quinta divisão, o outrora expressivo Racing, embora ainda tenha formado Steven N’Zonzi nos infantis, jaz ao lado de Aubervilles, Blanc-Mesnil, Brétigny, Gobelins, Le Mée, Les Mureaux, Les Ulis, Meaux-Academy, Noisy-le-Sec, Versailles e Viry-Châtillon. Abaixo da quinta há inúmeros outros em níveis regionais da pirâmide francesa, incluindo os amadores do Stade Français e do Paris-Charenton.

Na temporada 2019-20, Paris FC e Red Star foram os representantes únicos da capital na segunda e terceira divisões, respectivamente. E os argentinos do PSG? Já foram contemplados há meia década (nos 45 anos do clube) com este Especial próprio; após a matéria, chegaram ainda Giovani Lo Celso (2016-18), Leandro Paredes (desde 2018) e Mauro Icardi (desde 2019).

À exceção do treinador Helenio Herrera, o Stade Français não colheu tanto sucesso com argentinos no futebol. No rúgbi, a história é outra, ainda que os dois da imagem (Juan Martín Hernández e Agustín Pichot) também tenham defendido o rival Racing

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

2 thoughts on “Muito além do PSG: os outros clubes de Paris, através de seus argentinos

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