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MESSIas vs D10s

Mesmo com a desconfiança do povo argentino, Lionel Messi pode terminar a Copa do Mundo como o heroí do Bicentenário Argentino em caso da conquista do Mundial. Caso contrário, a fúria de seus compatriotas só tende a aumentar.

José de San Martin, general responsável pelo libertação da terra que viria a se chamar República da Argentina das garras dos colonizadores espanhois em 1810. Arriscou a vida pela pátria livre. Contudo, 200 anos depois, um pequeno guerreiro de apenas 22 anos talvez carregue nos ombros uma pressão muito maior. Ao lado de apenas dez soldados, lutará não só contra o mundo na Copa, mas contra a desconfiança do próprio país.

Lionel “La Pulga” Messi é o nome cotado para ser “o herói do Bicentenário argentino”. Possui um talento que prontamente silencia os críticos, tanto com números quanto com lances de individualidade única, e o mais importante, com voltas olímpicas. É o artilheiro da Espanha com 25 gols, e da Europa com 34. Rodada após rodada, encanta o mundo com dribles estonteantes, característicos nas conquistas nacionais, continentais e mundiais do Barcelona.

Mas a capital catalã está a 10.460 km de Buenos Aires. Aos hinchas albicelestes, doi no peito ver um gênio pela TV e um jogador comum nas terras da América. Em 18 jogos das eliminatórias, apenas quatro gols saíram dos pés da Pulga. Por conta disso, recai sobre Messi a culpa da seleção jogar abaixo do que a tradição pede. Na Argentina, ele tem popularidade comparável a de clubes pequenos, sendo chamado até de El Catalán, por ter ido para Barcelona aos 13 anos.

Contudo, uma simples análise técnica e tática constata o que parece óbvio: não se pode cobrar que Messi jogue como no Barça, pois a Argentina não é o Barça. Ele já jogou num posicionamento similar em alguns jogos: na ponta-direita ao lado de outro ponta e um centro-avante.

Entretanto, num esquema sem meias de passe criativo, acaba desabastecido, precisando voltar para buscar a bola e armar jogadas. Já no Barcelona, Xavi e Iniesta tanto marcam quanto atacam, munindo Messi da liberdade que um gênio gosta para brilhar. Além disso, a pressão psicológica e a falta de entrosamento não devem ser ignoradas.

Só que La Pulga não para de maravilhar e assombrar o mundo com seu talento. O mesmo que pode mostrar na seleção, apesar do esquema. E o mesmo que já comparam ao de Diego Armando Maradona. Baixinhos, canhotos, artistas da bola com a camisa do Barça e, lógico, argentinos. Impossível fugir da mesma comparação da qual Ortega, Riquelme, D’Alessandro e Aimar não se mostraram dignos.

Quando tinha a idade de Messi, Dieguito já tinha disputado, e falhado, no Mundial de 82. Era novidade no Barça, mas na Argentina começou a construir sua lenda com um título nacional pelo Boca Juniors e sendo artilheiro por cinco campeonatos seguidos.

La Pulga também já passou por uma Copa, mas marcou menos vezes (veja quadro abaixo). No entanto, fez o que fez na Europa, ganhando Liga dos Campeões se sagrando melhor do

mundo pela Fifa. A proximidade se mostra forte outra vez, já que as comparações são feitas princpalmente por torcedores, jogadores e dirigentes catalães.

Ainda assim, por mais óbvio que pareça, Messi não é Maradona. É um guerreiro suficientemente capaz de emancipar o próprio nome. Ainda que não se torne herói no Bicentenário, já que nem El Diez ganhou em 86 sem uma equipe forte como alicerce, ainda que também esteja cercado por jogadores top de linha, como Higuain, Tevez e Verón. Mas se existe alguém no mundo próximo da imortalidade de uma conquista de Copa, é ele.

PALAVRA DO ESPECIALISTA

Elias Perugino, editor da “El Grafico”, revista de maior prestígio internacional na Argentina

FP:Messi já pode ser comparado a Maradona?

EP:As conquistas de Messi parecem ter maior peso que as de Maradona. Ele conquistou a Espanha, a Europa e o Mundo pelo Barça, enquanto, na mesma idade, Dieguito só tinha feito grandes campanhas pelo Argentinos Juniors e pelo Boca, chegando ao auge no Napoli e na Copa 86 só depois. Na questão do estilo de jogo e pela magia em campo, de fato um lembra o outro. Mas é preciso esperar até que a carreira da Pulga acabe. Vocês mesmos tiveram o exemplo do Ronaldinho, que há 4 anos era o melhor, e hoje pode nem ir para a África.

FP:E como se explica a mágoa dos argentinos com ele na seleção?

EP:Os grandes momentos de Messi com a albiceleste foram nas categorias de base, nas Olimpíadas. Nas Eliminatórias, ficou devendo, talvez porque renda mais num time que saiba ter mais controle da bola. Para a Copa, a esperança é de que se entrose com o grupo nos dias de preparação, pois quando fez isso para a Copa América 2007, se saiu bem.

NÚMEROS: MESSI x MARADONA

Messi – 232 jogos, 127 gols; campeão espanhol (2004/05, 05/06, 08/09), da Copa do Rey (2008/09), da Supercopa da Espanha (2004/05, 05/06, 08/09), da Liga dos Campeões (2005/06, 08/09), do Mundial (2009), das Olimpiadas (2008), e melhor do mundo Fifa (2009). jogador canhoto, ponta-direita, onde pode aproveitar sua velocidade, aliada a habilidade para driblar, chutar e armar jogadas

Maradona –  179 gols em 270 jogos; Campeão Argentino (Boca, 1981); Copa do Rey (1982/83); Copa de La Liga (extinta, 1982/83) canhoto, jogador que serve tanto como meia quanto como ponta de ambos os lados. além de bom armador, driblador e chutador, era rápido e cobrava bem tiros livres.

Rodrigo Vasconcelos

Rodrigo Vasconcelos entrou para o site Futebol Portenho no início de julho 2009. Nascido em Buenos Aires e torcedor do Boca Juniors, acompanha o futebol argentino desde o fim da década passada, e escreve regularmente sobre o Apertura, o Clausura e a seleção albiceleste

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