Categories: Primeira Divisão

Marchesín opera milagres e garante vaga do Lanús nas oitavas de final

Foi partida daquelas. Tensa, cheia de briga, confusão e vontade de ganhar. Cancha pequena, lotada e acalentada por uma torcida incansável. Eis o cenário para o jogo final do Lanús na fase de grupos da Libertadores. Além disso, havia o O´Higgins, a ótima equipe de Rancágua, trinada com maestria por Eduardo Berizzo. E havia um árbitro horrível e sem cancha para apitar uma decisão. Porém, havia um jogador estupendo dentro de campo. Marchesín. O porteiro granate fez uma partida dos sonhos e salvou o Lanús da eliminação. Foi uma espécie de anjo protetor, que retirou o Granate de um pesadelo e o trouxe de volta para a realidade da Copa. Agora, é o conjunto do Sul que pode ser o pesadelo. Mas para os brasileiros, nas oitavas de final da Libertadores.

Assim que a partida começou o Lanús se apresentou no ataque e disse logo o que queria: “estou aqui para mandar nesse jogo”. Problema é que ninguém da Celeste acreditou. E passados os primeiros cinco minutos a equipe de Berizzo assumiu o controle da peleja. Nada de primor de técnica, nada daquela beleza do futebol de habilidade; nada disso. Mas sobrou briga, garra e disposição. E nisto a Celeste foi melhor que o Granate. Mas não somente por isso.

Fato é que o Melizzo assegurava que sua equipe iria ao Chile para vencer. Por certo que ele estabeleceu um padrão de jogo e ficou confiante. Mas se de fato foi assim, convém dizer que tudo o que fez foi errado. É clássico abrir um avante pelo flanco do campo de maneira a favorecer a profundidade e o lançamento de bola para uma área habitada por Silva. Porém, se a pelota não chega na ponta fica claro que tem algo de errado. E tinha.

Schelotto abriu justamente Ayala pelo lado do campo. Assim, a criatividade do Granate pelo setor, que já não é grande coisa, ficou ainda mais comprometida. Então a pelota deixou de passar pelo meio. Não dava. E à medida que os granates constatavam isso, entendiam que a forma pela qual a pelota chegaria ao campo de defesa rival seria pela ligação direta da defesa para o ataque. De forma que a transição do jogo granate foi uma piada e foi um presente para o conjunto dirigido por Eduardo Berizzo.

Percebendo os equívocos do rival, o O’Higgins tratou de aproximar suas linhas junto à área de Gárcez. Assim, a medida que pelota chegava lá atrás, ficava fácil sua recuperação. Assim, bastava sair correndo para o ataque num bloco de até quatro homens centralizados. E as chances surgiam uma a uma, mas nada de gol. Por quê? Por causa de Marchesín. O que tinha o Lanús de pequeno tinha o seu guardametas de gigante.

Segundo tempo foi outro. Ou quase. O Granate de fato voltou diferente. Mas seguiu se ressentindo de gente boa no meio-campo. O jeito foi desprezar o plano de dispor de dois homens abertos no ataque. Ayala ficou onde estava, mas Benítez recuou para qualificar o trabalho no setor. A bola passou a girar por ali e finalmente foi possível ver o Lanús atuando na frente com a personalidade que seu técnico espera. Uma chance aqui outra lá. Contudo, a garra e determinação do O’Higgins seguiam em alta. As jogadas saíam porque era difícil para a desfalcada zaga granate dar conta do quarteto ofensivo celeste.

Marchesín tinha salvado a equipe no primeiro tempo. No segundo, a despeito da melhor disposição em campo de sua equipe, o porteiro argentino operou verdadeiros milagres. Foi um após o outro; cada um mais surpreendente, mais incrível. Foi mais uma atuação de um guadametas argentino que mostra que a opção por Romero trata-se de uma demência de Alejandro Sabella.

Por mais que o Granate tentava se impor mais era vítima de suas opções táticas erradas no jogo, de seus desfalques em todos os setores e principalmente no meio. Por mais que o sangue se acelerava nas veias granates, mais o jogo assumia um teor de drama e loucura que ultrapassavam as boas intenções do conjunto do Sul. Mas, vamos lá, não era só isso. Havia também um grande rival do outro lado. Um time muito bem treinado por Eduardo Berizzo. Uma equipe de toque de bola, de organização e fidelidade ao esquema do técnico dentro de campo. Uma bela equipe.

Já no final da partida, o péssimo árbitro brasileiro apitou um controverso pênalti para o O´Higgins. Por alguns minutos pareceu a todos que o Lanús deixaria a Libertadores, após erros e certa recuperação na competição. Contudo, no arco estava “São Marchesín”. E não deu outra: voou baixo para pegar o pênalti pessimamente cobrado por Calandria. Santiago Silva quase bateu no árbitro e foi expulso. Mas o fato é que o Lanús estava salvo. Estava classificado e agora é mais um argentino para assombrar os “três” brasileiros nas oitavas de final da Libertadores de América de 2014.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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