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Maradona homenageia ascenso histórico do Riestra; Villa Dálmine chega à B Nacional

Torcedores do Villa Dálmine tomam a cancha para comemorar o acesso
Torcedores do Villa Dálmine tomam a cancha para comemorar o acesso

Duas pequenas equipes do ascenso argentino. De um lado, o Club Riestra, que em 2013 ainda jogava pela quinta divisão; de outro o Villa Dálmine, que duas temporadas atrás estava na quarta. Ambas chegam ao final de 2014 com resultados expressivos e, no caso do Riestra, pulando duas categorias em apenas um ano. Los Malevos venceram ao Dock Sud na final do Torneio Reducido e chegaram à B Metro pela primeira vez na sua história. Já o Violeta, mantém-se como exemplo de gestão no ascenso e chega à B Nacional ao bater no Tristán Suárez, do técnico falastrão Caruso Lombardi. Dois grandes feitos. O do Riestra teve até uma pequena homenagem de Maradona.

Club Villa Dálmine

O clube é novo para padrões argentinos, já que foi fundado em 1957, por funcionários de uma empresa chamada Dálmine Safta. Começou a jogar a Liga municipal em 1960 e tanto nesta temporada, como em várias outras, atuou com a maioria de seus jogadores sendo operários da empresa. Treinavam, claro, nos horários de folga, nos intervalos do almoço ou depois do expediente. Desta forma, seus primeiros torcedores foram os filhos e esposas desses operários. Isto porque segui-los era uma forma de atenuar a ausência deles dentro de no seio familiar, já que dedicavam a maior parte de seu tempo para a modesta equipe de futebol amadora. Em 1961, chega à Primeira D; no ano seguinte, a C e, para assombro de todos, mais um ano e a equipe chegava a B Metro, após uma campanha histórica, na qual ficou empatada com o All Boys, na pontuação final.

A festa do Violeta se estende às ruas de Campana
A festa do Violeta se estende às ruas de Campana

Era assustador para todos o fato de uma equipe ser formada por uma grande parte de empregados de uma única empresa e ainda assim conseguir aqueles feitos. Na década de 70, volta a se recuperar de uma queda e torna-se campeão da quarta divisão. É apelidada de Holanda do ascenso, já que goleava impiedosamente aos seus rivais. Subiu a escada novamente e por muito pouco não chegou na elite argentina por duas vezes. Dos anos 80 a 90 teve altos e baixos até em função de sua desvinculação com a fábrica que o inspirou. Apenas no início de 2000 é que o clube apresenta uma gestão completamente livre de qualquer pessoa ligada a fábrica. Começa então um projeto de reestruturação que deveria fazer do Violeta o orgulho de Campana.

Pouco a pouco volta aos títulos até que em 2012 consegue ascender à B Metro, de onde sai agora para retornar à B Nacional, após 20 anos.

O Violeta de Campana é uma equipe das mais organizadas do ascenso. Tanto é assim que há muito tempo vem se estruturando para chegar em categorias maiores do futebol argentino. Duas temporadas atrás e estava na Primeira C, a quarta divisão do futebol local. O clube tem um belo estádio, sempre lotado por sua fanática torcida. Neste caso, estamos falando de uma pequena instituição do futebol que, raro caso, trata muito bem aos seus torcedores.

Após retornarem à Campana, o elenco do Dálmine foi para a cancha comemorar com a comunidade
Após retornarem à Campana, o elenco do Dálmine foi para a cancha comemorar com a comunidade

Acesso à B Nacional

Após uma excelente campanha na temporada, o Dámine ficou em quarto lugar, atrás do Estudiants Caseros, Tristán Suárez e o ascendido Chacarita Juniors. Então, se juntou ao segundo e terceiro e também a mais três equipes do zonal B para as disputas do Torneio Reducido. Eliminou o Barracas Central e Estudiantes Caseros e avançou à final do Torneio, justamente contra o Tristán, do técnico Caroso Lombardi. Na partida de ida, em Campana, o Viola foi surpreendido e perdeu por 1×0. Desta forma, precisava reverter o resultado em Ezeiza, Isto aconteceu na noite de ontem.

O Dálmine venceu por 2×0, com gols de Javier Rossi e Ezequiel Cerica. Um triunfo para mais um clube argentino que enxerga o óbvio: para lidar com as dificuldades no mundo do futebol apenas a organização institucional pode salvar uma equipe. Como as demais instituições não se deram conta disso, chegou a um ponto em que apenas esta postura voltada à organização já é suficiente não apenas para manter o clube saneado e estável, as também para fazê-la chegar a logos históricos incríveis. Enquanto isso, Atlanta, Paltense, Ferro Carril Oeste e tantos outros vão desaparecendo nas categorias do ascenso argentino.

Deportivo Riestra

O Riestra é uma daquelas equipes mais simpáticas do ascenso. Tem nas costas a marca da ditadura argentina, que lhe tirou o estádio onde nascera sob os mesmos pretextos que também tirou o San Lorenzo do Viejo Gasómetro. Esta situação quase levou Los Malejos ao desaparecimento. Não fossem pelos seus poucos e fiéis sócios isto teria acontecido. Basta imaginar o que foi para o San Lorenzo ter de jogar em outro local. Agora, considere que o pequeno Riestra não tem torcedores espalhados por toda Buenos Aires, mas somente pelo bairro onde nasceu. Mesmo assim, após quase perder a filiação da AFA por várias oportunidades, o Blanquinegro conseguiu se reerguer.

Para sair da quinta divisão foi um sofrimento só. Após deixar de frequentar as partes de baixo da tabela, o clube pleiteou por várias vezes chegar à Primeira C, mas sem sucesso. Sempre faltava algo, talvez um pouco de sorte; talvez um pouco de ajuda. Em 2013, Victor Stinfale, advogado de Maradona, e apaixonado pelo Riestra, se acercou definitivamente da gestão do Blanquinegro. Ficou acertdo que “El Díez” seria treinador da equipe por um dia, o que de fato aconteceu, e que também daria uma palestra motivacional, um pouco antes do início da temporada.

Elenco e comissão técnica do Verdinegro comemoram o feito histórico
Elenco e comissão técnica do Verdinegro comemoram o feito histórico

Pareceu o suficiente para que finalmente Los Malevos conseguissem deixar a quinta divisão para trás. O Riestra foi campeão e retornou à Primeira C, no final da temporada, em 2014. Em virtude da reformulação do futebol argentino, a temporada atual foi encurtada, jogada somente no segundo semestre. E foi justamente desta campanha que a equipe saiu campeã e ascende agora à B Metropolitana. Para tanto, fez uma campanha dos sonhos. Vinha triturando seus rivais até que foi derrotada na “final” para o campeão, Defensores de Belgrano, na cancha do Dragão, e restando apenas três rodadas para o fim.

Hinchada do Blaquinegro comemora enlouquecida
Hinchada do Blaquinegro comemora enlouquecida

No Reducido simplificado, passou pelo Excursionistas de Bajo Belgrano e chegou à final contra o Dock Sud, que vinha do trauma de eliminar o rival San Telmo em baixo de uma tremenda pancadaria. Na partida de ida, na cancha dos “Inundados”, Los Malevos venceram por 2×0 e levaram uma grande vantagem para a volta, em Villa Soldati. Só que neste jogo, logo aos nove minutos, o Dock abriu o marcador e se assenhorou da cancha dos Malevos. Apenas aos 25 e 35 da etapa final o conjunto local virou a partida e chegou pela primeira vez na sua história à terceira divisão do futebol argentino.

No vídeo abaixo, Maradona homenageia o Riestra pelo acesso inédito:

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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