Mais velho das Copas, Mondragón foi ídolo na Argentina
Um recorde de vinte anos caiu hoje: não é mais o camaronês Roger Milla e sim o colombiano Faryd Mondragón o mais velho jogador das Copas do Mundo. Mondragón que estava vinte anos atrás na última Copa de Milla, em 1994, embora não tivesse jogado – o titular foi Oscar Córdoba, outro de brilho na Argentina (goleiro do Boca bi na Libertadores em 2000-01) -, mas que lhe permite outro recorde, pois é o único a participar de Copas separadas por tanto tempo. Ele ainda conseguiu outra marca: a de mais tempo entre um jogo e outro, pois seu último havia sido em 1998, dezesseis anos atrás, na última vez que sua Colômbia havia jogado o mundial até então.
O campeão Barthez foi eleito o melhor goleiro, Taffarel e o argentino Roa brilharam em decisões por pênaltis, Schmeichel ajudou na campanha mais longe de sua Dinamarca, Chilavert brilhou em trajetória digna do Paraguai e o mundial da França ainda teve estrelas na posição como Köpke, Van der Sar e Zubizarreta. Mas ninguém fez tantas defesas quanto o arqueiro do Independiente: foram 24 (veja-as no vídeo mais abaixo), mas elas não bastaram para os cafeteros avançarem de fase após derrotas para Romênia e Inglaterra. Não à toa, ele não segurou o choro na eliminação contra os ingleses, sendo consolado até pelo goleiro oponente, Seaman, e sendo o único poupado nas narrações colombianas.
Com o sucesso individual, Mondragón iniciou em 1999 uma carreira na Europa, mas ainda naquele ano voltou ao Independiente. Foi no Rojo de Avellaneda que fez grande sucesso na Argentina. Chegou ao país em 1993 para defender no Argentinos Jrs e por este clube foi convocado à Copa de 1994. Mesmo reserva para Córdoba nos EUA, foi contratado depois do mundial pelo Independiente, então campeão argentino com um belo futebol. Mondragón inicialmente foi reserva de Islas, goleiro titular da Argentina na Copa. Nessa situação, obteve a Supercopa 1994 e a Recopa 1995.
Apesar dos títulos internacionais, o bom futebol do Independiente, tão exigido pelos torcedores (quem tradicionalmente aprecia mais garra e esforço é o rival Racing), ia desaparecendo. Alguns expoentes da última fase de taças contínuas do clube saíram: o artilheiro Rambert foi com à Internazionale, o meia Hugo Pérez (outro na Copa 1994) ao Sporting Gijón-ESP, o ídolo também colombiano Usuriaga ao Necaxa-MEX. O técnico Brindisi, nada menos que ao Racing. Islas, o goleiro titular, também foi embora, ao Newell’s. Foi assim que Mondragón assumiu a posição.
No Apertura 1995, o Independiente, que já vinha de dois 11º lugares seguidos, caiu para 13º. Mas, paralelamente, ia avançando novamente na Supercopa, torneio que existiu entre 1988 e 1997 e reunia só campeões da Libertadores, sendo uma valorizada taça de consolação na época. O Rojo não foi exatamente brilhante e aí Mondragón brilhou: os de Avellaneda chegaram à final com só uma vitória em seis jogos, em casa, contra o Atlético Nacional. Empataram demais e o caminho exigiu duas decisões por pênaltis. Foi assim que se eliminou Santos e River, com o colombiano defendendo as cobranças de Jamelli e Amato, respectivamente.
Na final, um adversário de campanha oposta: o Flamengo do “melhor ataque do mundo”, com Sávio, Romário e Edmundo, fracassava no Brasileirão mas ia muito bem naquela Supercopa. Vencera todos os seus seis jogos, incluindo um 3-2 fora de casa sobre o Vélez de Carlos Bianchi recém bi seguido na Argentina (até hoje a única vez que o clube, embora vencedor constante, conseguiu isso) seguido por um 3-0 no recordado jogo em que Edmundo provocou Zandoná, foi nocauteado por ele e originou briga generalizada. O Mengo passou depois fora e dentro de casa pelos supercopeiros Nacional-URU e Cruzeiro e via na Supercopa a chance de enfim ser campeão de algo em seu centenário.
Não deu. Em Avellaneda, o Independiente venceu por 2-0 e Romário foi bem anulado. Mesmo assim, 110 mil lotaram o Maracanã na volta, em 6 de dezembro. Mondragón só não salvou um lance, o único em que o Flamengo conseguiu, a muito custo, marcar: o colombiano espalmou cabeceio de Aloísio, o rebote de Sávio foi salvo em cima da linha por Bustos e só no rebote do rebote é que Romário marcou, aos 17 do segundo tempo. Mondragón e os argentinos souberam administrar a meia hora restante e, apesar da derrota, deram mais uma taça internacional ao Rey de Copas, com ares até de Maracanazo.
Depois daquilo, o time demoraria quinze anos para ser campeão internacional de novo (na Sul-Americana 2010), seu maior marasmo fora do país. Dentro, aquele Independiente ainda teve bons momentos, sendo vice no Apertura 1996 e quarto no Clausura 1997. No Apertura 1997, o goleiro se tornou o primeiro na posição a marcar um gol pelo clube, de pênalti justo sobre o goleiro-artilheiro Chilavert. Com Mondragón de volta em 2000, o time ainda foi vice no Clausura. Em 2001, o jogador voltou à Europa. Pensava em se aposentar nos EUA, em 2011. Aceitou voltar ao Deportivo Cali, onde começara e que se reorganizava. Demonstrou boa forma e acabou voltando à seleção.
O técnico argentino José Pekerman deixou claro que pensava em Mondragón apenas como um reserva experiente para Ospina. O veterano, que já havia jogado com o pai de James Rodríguez, aceitou, chegou a ser usado em amistosos contra a poderosa Holanda e a festejada Bélgica e não levou gols. Em entrevista à revista argentina El Gráfico no início desse ano, garantiu que os recordes lhe seriam algo secundário e que não pediria uns minutos a Pekerman caso a Colômbia estivesse classificada, que preferiria uma campanha histórica sem limites ao país. Fez 43 anos sábado passado e terminou premiado com os cinco minutos finais e os acréscimos no jogo de hoje contra o Japão.
httpv://www.youtube.com/watch?v=xYvXQ96iSlc
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