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Além de lançar Redondo e Batistuta, José Yudica foi o Midas dos pequenos argentinos

Apenas dois treinadores venceram a primeira divisão argentina trabalhando em mais de dois clubes. Em 2004, o ex-volante Américo Gallego (titular da Argentina de 1978), ao vencer o Apertura com seu Newell’s após já ter levantado o Apertura 2002 com o Independiente e o Apertura 1994 e o Clausura 2000 com o River, igualou-se a José Antonio Yudica. Ainda assim, Yudica podia gabar-se muito mais: se Gallego esteve em dois gigantes nesse processo, Yudica conseguiu tudo em quadros chicos ou médios, como o próprio Newell’s (o de 1988), após taças por Quilmes e Argentinos Jrs; se Gallego triunfou em torneios de turno único, El Piojo (“O Piolho”) se consagrou em campeonatos longos. Como outro desempate, foi campeão nacionalmente também no San Lorenzo, tirando-o imediatamente da segunda divisão, em 1982. E ainda venceu uma Libertadores. Hoje ele faria 85 anos.

Como bem apontou a El Gráfico em nota na verdade voltada a dois pupilos de Yudica – ninguém menos que Gerardo “Tata” Martino e Marcelo Bielsa, com quem conviveu no Newell’s -, “El Piojo se converteu em um especialista em espremer ao máximo o potencial de seus dirigidos, ainda quando estes eram sempre, a priori, inferiores a seus rivais. Foi assim que, como técnico, se consagrou campeão do futebol argentino com três equipes distintas, sem que nenhuma delas seja uma dos cinco grandes (o quinteto Boca, River, Racing, Independiente e San Lorenzo)”.

Não que fosse um comandante de trato fácil. À mesma El Gráfico, o goleiro Luis Islas (titular da Argentina na Copa de 1994) não escondeu, sobre desentendimentos que tivera com Yudica no Newell’s de 1995, que as coisas ficaram “mal. O respeito, embora seja um cara muito autoritário, seco, difícil de tratar. Alguém pode ser duro, mas com respeito, não com chicote. O assunto explodiu porque me queria obrigar a fazer a barreira como ele queria. Depois soube que havia tido o mesmo problema com Quique Vidallé [goleiro titular daquele timaço de 1984-85 do Argentinos Jrs], que o mandou à merda”.

Já um ex-pupilo naquele San Lorenzo campeão da segundona em 1982 foi na mesma linha, mas revelando uma faceta mais digna, ao ser indagado se já saíra na mão com algum companheiro: “com técnicos também. Com Yudica, no San Lorenzo x Los Andes, na série B, eu era um garoto, nos empataram em 1-1 no fim do primeiro tempo e ao entrar nos diz que éramos uns cagões. Eu vinha jogando com uma lesão e lhe respondi e nos agarramos. Em dois dias, me mostrou sua grandeza: fui na segunda-feira ao consultório me tratar e aí estava ele, sentado na sala. Me disse que foi ver como estava. ‘O que passou, passou’, me disse. Um fora de série”. As palavras são de Jorge Rinaldi, raro homem a jogar no trio de ferro da capital argentina, pois ainda defenderia a dupla Boca & River também.

Yudica jogador

Fato é que Yudica (seu sobrenome é uma provável corruptela do italiano Giudica, adaptada à grafia castelhana para a mesma pronúncia, “Djudíca” – embora um sotaque rio-pratense mais carregado possa ler Yudica como “Xudíca” também) nasceu em Rosario em 7 de dezembro de 1936 – embora só tenha sido registrado em cartório mais de um mês depois, propiciando divulgações corriqueiras de que teria vindo ao mundo em fevereiro de 1937, como em Wikipédias da vida. E que, antes de ser um técnico histórico, foi um decente ponta-esquerda. A ponto de ser um dos mais jovens estreantes da seleção argentina adulta.

Imagem colorida pelo @cunadeases com o ataque do Newell’s de 1955: Bernabé Carranza, Ramón Carranza, Eduardo Bernardo, Ernesto Picot (ex-Santos) e José Yudica

Sua primeira glória foi no Morning Star, virtual time de rua que ganhou o Torneio Evita (tradicional competição juvenil nacional) de 1951 – o que rendeu como prêmio à garotada uma viagem governamental para presenciarem as Olimpíadas de 1952. Para Yudica, foi também um trampolim para chegar às divisões de base do Newell’s, na volta dos Jogos de Helsinque. Ainda com 17 anos, estreou no time adulto do clube em maio de 1954. “Veloz e movediço, com bom arranque e grande capacidade para assistências a seus companheiros, converteu seu primeiro gol um mês mais tarde”, explicaria seu perfil na edição especial em que a revista El Gráfico escolheu em 2012 os maiores ídolos da Lepra.

Também em 1954, Yudica participou da primeira competição mundial juvenil promovida pela FIFA, embora aquele certame tenha caído no esquecimento. E ele estava lá junto com os futuros craques feitos Francisco Loiácono e Norberto Menéndez, em campanha que incluiu um 8-0 na Holanda, um 2-0 na Alemanha Ocidental e um 3-1 na França, embora ficassem no vice para a Espanha (vencedora por 1-0). Em 1955, ainda não formalmente profissionalizado, ele serviu a seleção na segunda edição dos Jogos Pan-Americanos; técnico da seleção principal, Guillermo Stábile levou à Cidade do México também Humberto Maschio e José Sanfilippo, além de Menéndez e Yudica, que até deixou dois gols (ambos sobre as Antilhas Holandesas) na campanha campeã invicta.

Ao todo, foram onze partidas e três gols de Yudica pelas seleções de base. A estreia na adulta veio em 28 de fevereiro de 1956, com cerca de 19 anos e dois meses de idade, o que fazia dele o terceiro mais jovem estreante nela até então: estava abaixo apenas dos 17 anos de Ernesto Brown e de Jorge Howard, ambos dos amadores primórdios da seleção, nos anos 1900 (o primeiro a tira-lo de vez do pódio nessa marca? Maradona e seus 16 anos e alguns meses, já em 1977…). Foi no Torneio Pan-Americano – não confundir com os Jogos; foi uma competição que a cada quatro anos na década de 50 tentou mesclar a Copa América com a Concacaf. Formado por uma virtual seleção gaúcha, o Brasil terminou campeão em empate de 2-2 no clássico, precisamente a partida em que Yudica registrou seu único gol pela seleção principal. O ponta se limitaria a quatro aparições oficiais pela Albiceleste: a estreia, contra o Peru (0-0), um 1-0 amistoso sobre a Itália em Buenos Aires em 24 de junho e o 2-1 sobre o Uruguai pela Taça do Atlântico em 1º de julho.

O livro Quién es Quién en la Selección Argentina o reconhece como “hábil, encarador, rápido e perigoso no começo. Cerebral, inteligente, preciso nos passes após a passagem de tempo. Essas foram suas características”. Se não teve ainda assim espaço posterior na seleção, ausentando-se da Copa do Mundo de 1958, essas qualidades terminaram naquele ano reconhecidas pelo Boca. Pior para o ex-clube, que, em uma década nada brilhante, decaiu ainda mais a ponto de sofrer em 1960 seu único rebaixamento. A separação também não fez tão bem ao ponta.

Seleção que venceu a Itália em 1956: Juan Carlos Giménez, o técnico Guillermo Stábile, Adolfo Benegas, Rogelio Domínguez, Pedro Dellacha, Hector Guidi, Federico Vairo e fisioterapeuta Toddei; Ernesto Sansone, Norberto Conde, Humberto Maschio, Ángel Labruna e José Yudica

Yudica calhou de defender a camisa azul y oro em tempos de entressafra: o clube viveu sentido jejum entre 1954 e 1962, ano em que o rosarino despediu-se da equipe ainda antes da temporada, sem espaço ante o sucesso do reforço Alberto González. Não virou ídolo, mas o site estatístico Historia de Boca teve sensibilidade: “chegou desde o Newell’s com antecedentes de ser um canhoto driblador, encarador malandro, de grande arremate. Foi muito bem nos clássicos com o River, metendo dois em um 5-1, um em um 3-2 (que era derrota de 2-0) e outro em um 3-1”.

Ao todo, somando amistosos, foram 136 partidas (121 como titular), com apenas 30 derrotas, e 28 gols de Yudica pelo Boca. Ele seguiu carreira em tempos modestos do Vélez (34 partidas e cinco gols em dois anos) e do Estudiantes. E, para quem tanto se associaria ao Argentinos Jrs, reforçaria como futura ironia histórica o Platense que em 1966 voltou à primeira divisão após dez anos. Já em 1967, porém, ele começou uma histórica relação com o Quilmes. Não pelo que fez como jogador, pois não demorou muito e foi arranjar pé de meia no Deportivo Cali.

Yudica ainda reluziu nas divisões de acesso argentinas: integrou o Talleres de Remedios de Escalada que subiu da terceira divisão em 1970 e, após uma temporada na segundona a serviço dos alvirrubros, pendurou as chuteiras em 1972 no San Telmo, então também da Primera B.

Um técnico histórico

A primeira empreitada na nova função não tardou: em 1973, era o treinador do Altos Hornos Zapla que enfrentou a própria seleção argentina em amistoso não-oficial, preparatório para a missão da Albiceleste na Bolívia pelas eliminatórias. E os comandados souberam segurar um 1-1 que rendeu muitas vaias à chamada “seleção fantasma”. O clube foi seguidamente campeão da liga de Jujuy entre 1972 e 1974, ano em que também foi um dos vencedores do Torneio do Interior – a seletiva que classificava ao Torneio Nacional os times campeões regionais pelo país adentro. Naquele 1974, o Altos Hornos soube fazer barulho no Nacional: ficou a um ponto da classificação ao octogonal final e terminou em seu grupo acima de River, Argentinos Jrs e Colón. Esse clube foi o próximo destino de Yudica.

As comemorações com o Quilmes em 1978 – à direita, com o cartola José María Argañaraz

Em Santa Fe, ele não reluziu. E nem em um primeiro ciclo de técnico no Newell’s. O toque de Midas fez-se sentir primeiramente ao salvar o Quilmes da degola em 1977. Para então fazer história no ano seguinte, com um trabalho silencioso para a grande imprensa até o momento em que o clube simplesmente manteve-se na liderança do Metropolitano. A ponto da direção não ter dinheiro para segurar a permanência do treinador, que acertou uma volta ao Newell’s ainda antes do histórico final do campeonato – ainda que pudesse permanecer no cargo em Quilmes até a rodada final de um certame inesquecível.

Recém-campeão mundial em agosto de 1978 e em breve bicampeão seguido da Libertadores, o Boca não terminou páreo para evitar a consagração quilmenha em setembro. O troféu ainda é o único do Quilmes na elite profissional, e quebrou um jejum de 66 anos desde o outro único comemorado pelo clube na primeira divisão – ainda em tempos “britânicos” da equipe, em 1912. A empolgação foi bem retratada pelo próprio Yudica: ele não se conteve em invadir o campo, achando que o jogo final estava encerrado quando o gesto da arbitragem na verdade apenas ordenava um minuto de acréscimo – “os sessenta segundos mais demorados do campeonato”, nas palavras da El Gráfico.

Em 1979, seu Newell’s triscou vagas nas fases decisivas do Metropolitano (faltou um ponto) e do Nacional (faltaram dois). Dentre os pupilos, o outro único argentino além de Messi a ser premiado com a Chuteira de Ouro na Europa, Héctor Yazalde, a declarar em 1980 que El Piojo foi “o melhor técnico que conheci na Argentina, muito boa pessoa, excelente profissional” e que “quando saiu do clube dizia que lhe dava chateação porque a equipe estava para ser campeã neste ano. E tinha razão”.

O Estudiantes apostou naquele técnico promissor em 1980. Não se deu tão bem, com um 12º lugar no Metropolitano enquanto seu antigo Quilmes não se mostrava sustentável: mesmo ainda retendo diversos nomes de 1978, terminou rebaixado. E recorreu ao messianismo de Yudica para voltar imediatamente em 1981, corroborando-o como o maior técnico da história cervecera. Em 1982, então, Yudica faturou um raro bicampeonato seguido de um treinador na segunda divisão. Dessa vez, a cargo de um gigante adormecido: o San Lorenzo, que em 1981 havia se torando o primeiro grande a terminar rebaixado.

Deslocado no San Lorenzo campeão da segunda divisão de 1982: é o homem mais à direita

Ele assumiu o Ciclón a três rodadas do fim do primeiro turno de 1982, substituindo um nome local histórico feito Juan Carlos Lorenzo (que dez anos antes levantara com os azulgranas tanto o Metropolitano como o Nacional e regressara como bombeiro na luta contra a queda em 1981), que acertara com o Vélez. O acesso pôde se confirmar sem sobressaltos sob o novo treinador, mas ele não desceu no paladar da torcida cuerva. Em 2008, ano do centenário sanlorencista, publicou-se o Diccionario Azulgrana, cujo verbete sobre o rosarino o retratou assim:

“Nunca obteve o respaldo nem o reconhecimento da galera. Nem antes, nem durante, nem depois da consagração. ‘Creio que tive a ver com o acesso, mas nunca me reconheceram. Ainda estou esperando que me reconheçam’, se queixou vinte anos depois, ainda com a ferida aberta. (…) Durante o primeiro tramo de sua gestão, o rumo da equipe era o adequado e não o questionaram muito. Até que um par de derrotas e seu bravo caráter o levaram a enfrentar-se várias vezes com o setor pesado da barra”.

Com os jogadores, a relação foi melhor. Yudica preocupou-se em manter churrascos semanais desde que assumira o clube, pontuaria a El Gráfico pós-título. O título e acesso vieram com boa antecipação, a ponto de a torcida não se importar muito com a derrota na rodada final, contra o Banfield, para comemorar. O problema é que os hinchas foram carregar na volta olímpica justamente o então treinador adversário – Héctor Veira, figura queridíssima como jogador no bairro de Boedo nos anos 60. Veira acabaria mesmo recontratado como treinador cuervo em 1983 e Yudica nunca perdoou o que considerou uma “armação”.

Ele rumou ao Belgrano, trazendo consigo antigos pupilos de Quilmes (Jorge Gáspari, Horacio Milozzi) e San Lorenzo (Pablo Comelles) para encerrar relativo jejum de cinco anos de La B no campeonato cordobês, ainda valorizado. Permaneceu no bairro de Alberdi até janeiro de 1984, vencendo trinta de 41 partidas ao todo. Quando começou o Torneio Nacional, já estava à frente do Unión. A volta a Santa Fe foi pouco frutífera, tal como o trabalho no rival Colón anos antes. Ainda assim, seria contratado pelo campeão do Metropolitano de 1984: o Argentinos Jrs, que não continuaria com o treinador Roberto Saporiti.

O Argentinos Jrs antes do embarque a Tóquio. Há dois José Yudica legendados: o treinador está sentado ao centro da fila inferior, junto com o troféu da Libertadores. O outro é seu filho, de mesmo nome e seu auxiliar técnico, penúltimo homem na fila do meio

A peteca não caiu com o novo comandante: o clube do bairro de La Paternal faturou seu único bicampeonato seguido, ao erguer o Torneio Nacional de 1985 enquanto já dava andamento à campanha histórica na Libertadores daquele mesmo ano. O grande mérito foi fazer de titular o diamante Claudio Borghi, de participação nula na campanha campeã de 1984. Borghi se tornaria justamente a única pessoa capaz de rivalizar com Maradona na história colorada, mas, ironicamente, teria seus atritos com os comandantes, a ponto de dizer que a esposa de Yudica saberia mais de futebol do que o próprio. Coisa de tapas e beijos: “eu me irritava com José porque queria jogar, mas a verdade é que me bancou à morte na época em que faziam fila para me xingar”, admitiria El Bichi em 2008.

Não era mesmo um mar de rosas. A El Gráfico até apontou em plena comemoração pela Libertadores ser “um caso estranho o do Argentinos Jrs, como para romper todas as teorias: o técnico e os jogadores não se dão bem, alguns canais de comunicação estão fechados, mas ainda assim a campanha é notável. Possivelmente Yudica tenha mais adeptos entre os jovens, à exceção de [Sergio] Batista, mas soube formalizar um status quo com os demais; ao fim e ao cabo, o plantel reconhece suas convicções”. Por sete minutos, não veio também o Mundial, onde a Juventus arrancou um empate sob muito sufoco para então levar nos pênaltis uma partida das de mais alto nível já vistas em Tóquio. Ainda houve o mérito de acelerar a estreia de Fernando Redondo no futebol adulto, em jogos da liga argentina de 1985-86 travados em meio à reta final da Libertadores; Fernando Cáceres, Carlos Mac Allister e Hugo Maradona apareceram no mesmo contexto.

O Vélez, vice-campeão daquele Argentinos no Nacional de 1985, lhe abrigou em 1986. Yudica ficou pouco tempo, mas ninguém menos que Roberto Pompei, o sujeito que converteu o pênalti do título velezano na Libertadores já em 1994, vê respingos do trabalho do Piojo: “os processos são resultado das boas decisões e gestões. Entre 1993 e 1994, o Vélez ganhou um título local, a Libertadores e o Mundial porque a direção havia contratado em 1986 o Piojo Yudica para dirigir os adultos, Hugo Tocalli para tomar cargo da peneira e Alberto Fanesi [ambos ex-jogadores dele naquele Quilmes de 1978, por sinal] para treinar os juvenis. Depois, chegou Bianchi, que somou Carlos Ischia e o preparador Santella”.

Se não vingou de imediato no bairro de Liniers, Yudica enfim conseguiu a glória que tanto lhe escapava na cidade natal. O Newell’s vinha de decepções seguidas em 1986 (perdeu a liguilla para o Boca de virada por 4-1 em casa tendo um homem a mais, após ter vencido por 2-0 na Bombonera) e em 1987 (vice justamente para o rival Rosario Central), despedindo o treinador Jorge Solari. Usando basicamente o mesmo plantel tão achincalhado pela própria torcida, os leprosos enfim voltaram a se coroar campeões argentinos após quatorze anos, no torneio de 1987-88. Foi um verdadeiro feito: apenas 16 jogadores usados ao longo de 36 rodadas, e todos provenientes das categorias de base.

Em 2005, nos vinte anos do título da Libertadores do seu Argentinos Jrs. É o segundo da esquerda para a direita

Yudica ainda se emocionava a respeito, na época do centenário rojinegro, em 2013: “desses cem anos que completa o Newell’s, eu vivi cinquenta. Desde 1953 até agora, estive no Newell’s. É muito difícil explicar o que sinto”. De fato: na ocasião do acerto contratual, respondeu à pergunta sobre o prêmio que desejava caso fosse campeão com a frase “que prêmio pode ser melhor que ser campeão com o Newell’s?”. O centenário ainda rendeu um livro especial do Clarín, a conter a descrição do próprio Yudica sobre o feito:

“Havia jogadores técnicos no meio de campo, um grande goleiro como El Gringo Scoponi, a defesa era firme e na frente éramos implacáveis. Metíamos muitos gols [68] e recebíamos muito poucos [22, em 38 rodadas]. (…) O primeiro turno foi mais difícil, nos custou um pouco mais [empate em casa com Deportivo Español e Banfield, derrota por 0-1 no clásico rosarino]. Mas, a partir do segundo, (…) ganhamos com folga. Inclusive, festejamos muitas goleadas [5-1 no Boca em plena Bombonera, 3-1 no Racing, 4-0 no Boca, 4-0 no Racing de Córdoba e 6-1 no jogo que garantiu o título, contra o Independiente]”. A imagem que abre a matéria o mostra carregado por Fabián Basualdo e Sergio Almirón naquela volta olímpica redentora.

Ainda em 1988, Yudica levou o Ñuls e a cidade de Rosario a uma primeira final de Libertadores, promovendo no caminho a estreia adulta do garoto Gabriel Batistuta. Todavia, nas duas temporadas seguintes, seu grupo ficou apenas na 12ª colocação na liga argentina. Os dirigentes entenderam que uma renovação precisava ser feita e recorreram ao técnico juvenil, Marcelo Bielsa, quem vinha sugerindo muitos dos garotos testados pelo antecessor. Mas que foi humilde quando pôde ser também campeão, já em 1991: “Yudica pôs nos adultos [Julio César] Saldaña, [Eduardo] Berizzo, [Mauricio] Pochettino, [Fernando] Gamboa, [Darío] Franco. O Piojo semeou e a mim calhou colher”.

A glória de 1988 pareceu marcar mesmo um ponto final, em altíssimo estilo, dos trabalhos de relevo de Yudica. Ao menos em seu país. Ele não tardou a ter nova oportunidade no Argentinos Jrs, na morna temporada 1991-92, e até cometeu a heresia de rumar diretamente ao rival Platense na temporada seguinte (dentre os comandados, o próprio Claudio Borghi), onde os marrons não arredaram dos últimos lugares. O mesmo se viu no pobre Newell’s na temporada 1995-96, na qual terminou campeão, mas já na liga mexicana pelo Pachuca. Nada que impedisse que Batistuta sintetizasse tudo na perda do velho mestre, em 23 de agosto desse 2021: “obrigado por sua dedicação ao trabalho, pelas suas contribuições futebolísticas, pela minha estreia em Tucumán, por me secundar no começo da minha carreira. Obrigado por tudo, José Yudica”.

Homenagem póstuma do Quilmes, em setembro de 2021, a seu maior técnico

https://twitter.com/Newells/status/1429793971019165696?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1429793971019165696%7Ctwgr%5E%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.elgrafico.com.ar%2Farticulo%2F1038%2F43405%2Fdolor-en-el-futbol-fallecio-jose-yudica

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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