Steven Gerrard, o ídolo do Liverpool. Frank Lampard, craque do Chelsea. Wayne Rooney, artilheiro do Manchester United. A seleção inglesa reúne jogadores que literalmente representam o futebol do país, pois são alguns dos melhores presentes da Premier League.
Entretanto, nem mesmo sob a batota de Fábio Capello, o English Team consegue constituir uma equipe de nível mundial. Sem domínio de posse de bola, sem criatividade, sem chances de gol e sem graça, a Inglaterra não só decepciona diante da Argélia, como também enxerga a antes segura classificação às oitavas como uma complicada possibilidade.
Na escalação desta noite, na Cidade do Cabo, ambas as equipes decidiram trocar de goleiros, no intuito de evitar novas falhas (James no lugar de Green, Mbolhi no lugar de Chaouchi). Temendo pela Inglaterra que todos consideram favorita, Rabah Saadane decidiu por um esquema mais cauteloso, que consistia em três zagueiros fixos (Yahia, Bougherra e Halliche) e dois alas (Kadir e Belhadj) formando uma linha de cinco defensores, embora os laterais apoiassem também nos contragolpes. Para completar a proteção à área, Lacen e Yebda de volantes.
Tal mudança teve sua parcela de mérito por segurar o English Team. Todavia, mais determinante ainda para o empate sem gols foi a falta de inspiração dos armadores ingleses. Lampard, pela segunda vez seguida, esteve irreconhecível, e neste jogo do Green Point não pode mais culpar a ausência de Barry, que o obrigava a marcar mais. Para piorar, ele ainda desperdiçou a melhor penetração inglesa na área adversária, chutando em cima de Mbolhi. Lennon e Ashley Cole poderiam oferecer alternativas pelos lados, aproveitando as subidas de Belhadj e Kadir, mas nenhum dos dois buscou jogadas de linha de fundo.
O capitão Gerrard se esforçava, mas não poderia fazer tudo sozinho, e o fato de Emile Heskey ainda entrar junto dos 11 iniciais não permitiu que ele ousaesse com passes em profundidade. Nem sequer o domínio da posse de bola os ingleses conseguiram (47% x 53% da Argélia). A soma destas atuações lamentáveis resultou na inesperada superioridade dos argelinos no primeiro tempo. Mesmo ofensivamente, pois se lançavam a contra-atacar com a velocidade e o toque de bola que faziam inveja a Fábio Capello. Talvez só naõ tenham aberto o placar por não terem escalado atacantes natos (Matmour joga originalmente de meia).
Na etapa complementar, com o cansaço dos alas e dos meias, aliada ao aumento da pressão dos ingleses na marcação, a Argélia reduziu gradativamente o volume de ataque. Afinal, o empate em si já significaria um resultado memorável. Capello, munido de toda a experiência vitoriosa que adquiriu na carreira, percebeu que sua equipe precisava, então, de velocidade para vencer a recuada Argélia. Sacou Heskey e Lennon para introduzir Defoe e Wright-Phillips na partida. Alterações que, de fato, aproximaram a Inglaterra do gol. Só que o meio-campo continuou sem inspiração para abastecer estes jogadores de ataque, de modo que não houve sequer um ensaio de reação.
Contra a Eslovênia, líder do grupo C, não resta outra alternativa se não reencontrar o futebol que elevou o English Team ao posto de queridinho dos críticos. Se ainda estiver pensando em percorrer a volta olímpica no Soccer City, no dia 11 de julho, terá de igualar a ressurreição feita apenas pela Itália. Na Espanha, em 82, a Azzurra também empatou nos dois primeiros jogos (Polônia e Perú), mas se recuperou na 2ª fase a tempo de buscar o Tri. Com um italiano no comando, talvez seja esta a inspiração que alimente os sonos ingleses de agora em diante.
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